Romão Antonio Fernandes fundou, em 1778, nas Cruzes da Sé, em Lisboa, a oficina de ferraria e serralharia "Romão", ajudado pelo seu filho Ângelo Fernandes.
Do livro "Da Minha Terra: Figuras Gradas; Impressões de Arte." de José Queiroz e publicado em 1909 pela "Typographia Libanio da Silva", retirei as seguintes passagens:
Os netos de Nicolau, João António Fernandes e Romão Antonio Fernandes, são os actuaes proprietarios e gerentes da tradicional ferraria. (...)
Arte, só a tenho encontrado nos typos chamados Ordinaria e Romana.
As seis peças que as gravuras reproduzem, (...) attribuo parte a uma antiga serralharia, que ainda hoje trabalha em Lisboa, e de que ha noticia existir, no mesmo local, já no meado do século XVIII.
Refiro-me á officina do Romão, ás Cruzes da Sé.
Após várias sucessões foi em 1908 que o herdeiro de Romão António Fernandes procedeu a grandes reformas, mas foi Emílio Augusto Fernandes que estabelece um acordo com a empresa alemã "August Sauter", de Ebingen, detentora da patente das revolucionárias balanças de equilíbrio automático de leitura de cinco voltas do ponteiro, que continuam ainda hoje a ser copiadas e produzidas por múltiplos fabricantes. Assim, a "Romão & Comp.ª" voltou a ser pioneira em Portugal, à semelhança do que acontecera com a primeira balança romana centesimal, fabricada em 1850.
Do conjunto de fabricos da "Romão & Comp.ª", de realçar um braço balança da Real Casa da Índia, construído pelo filho de Romão António Fernandes, Matheus António, em 1803; as grades e portões do adro da Sé de Lisboa, hoje retiradas para dar passagem aos eléctricos; bem como o relógio da torre, construído em 1824, como já atrás mencionado. São múltiplos os exemplos de braços de balança de boa qualidade que ostentam a marca "Romão" e que ainda hoje estão impecáveis pela qualidade do aço e forjagem utilizados. Foi localizada uma balança "Romão" para pesagem de café num departamento da Alfândega no Brasil, assim como muitas balanças antigas da "Romão & Comp.ª" à venda em sites brasileiros.
No período de 1921 a 1968 e daí aos nossos dias, assiste-se a uma grande revolução tecnológica, primeiro com equipamento de leitura electro-óptica, depois com codificadores absolutos e incrementais, células de carga, cordas vibrantes, variação do campo magnético, etc. Muitas das balanças de rua para pesar pessoas, e que muitas davam um papelinho com o peso e a sina, eram fabrico da "Romão & Comp.ª".
Em 1963, a "Romão & Comp.ª" equipou a fábrica da "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L." básculas de funcionamento automático. Num apontamento publicitário à "Romão & Comp.ª", intitulado "182 anos ao Serviço da Indústria Nacional", publicado no jornal "Diario de Lisbôa" por ocasião da inauguração da fábrica da S.P.P., foi escrito o seguinte:
Diversifica-se no entanto a sua actividade e os vários sectores de produção a que dedica a sua atenção demonstram o alto grau de eficiência dos seus artífices.
Desde a balança de maior sensibilidade - a balança químico-analítica que pesa até 0.001 de miligrama - com amortecedor electromagnético e leitura directa do resultado da pesagem, a básculas capazes de pesar 200 toneladas, com 22 metros de ponte, registadoras munidas de dispositivo contra falsas pesagens e de controle a distância da ponte, de funcionamento automático por comando electrónico, para enchimento rápido de embalagens.
Toda esta vasta gama de produção da Romão & Comp.ª sustenta galharda competição com a produção estrangeira congénere, facto de que muito justamente se orgulha, pois, com efeito, não se produz melhor no estrangeiro, tanto sob o ponto de vista de acabamento, como de durabilidade ou precisão. (...)
Assim para a Sociedade Portuguesa de Petroquímica, forneceu básculas de funcionamento automático (não há intervenção ou qualquer acção ou movimento de homem, para conhecer o resultado da pesagem). O carregamento ou esvaziamento dos depósitos é acompanhado com a vista.
Essas básculas possuem um complexo electrónico, a fim de registarem os diversos elementos necessários ao controle de fabrico e saídas. Os reservatórios são acoplados às básculas, fazendo por assim dizer, parte integrante destas. (...)»
Balanças "Romão & Comp.ª" em três diferentes estabelecimentos
Tendo a "Romão & Comp.ª", o futuro como horizonte foram instalados os primeiros equipamentos electro-mecânicos nas "Rações Valouro, S.A." em 1978, mas foi no entanto em 1980 que foi instalada a primeira báscula totalmente electrónica em Portugal na empresa "Uniteca - União Industrial Textil e Química, S.A.", em Estarreja. Em 1993, foi abandonado o fabrico de básculas e balanças totalmente mecânicas, sendo substituídas exclusivamente por equipamento electrónico.
Em 2008, foi criada a empresa "Romão Ibérica - Sistemas de Pesagem e Automação, Lda.", sediada no Centro Empresarial Quinta da Bela Vista em Frielas, para garantir a continuidade de venda, instalação e assistência técnica a equipamentos fabricados, vendidos e ou instalados no mercado, pela fábrica familiar centenária "Romão & Comp.ª". Tendo João Romão Fernandes como gerente, a primeira prioridade foi a integração do quadro técnico qualificado das Balanças Romão como forma de incrementar a solidez da empresa garantindo a continuidade do apoio a equipamentos já instalados e integração de novos produtos.
Esta empresa , por elementos que consegui apurar, será a sexta empresa mais antiga do país, ainda em funcionamento. Aqui ficam:
1715 - "Quinta do Noval-Vinhos, S.A." - Vila Nova de Gaia
1756 - "Garland, S.A." - sucessora da "Garland Laidley" - Lisboa - Transportes
1775 - "Farmácia Azevedo" - Praça D. Pedro IV (Rossio) - Lisboa
1778 - "Romão Ibérica" - sucessora da "Romão & Comp.ª " - Lisboa - Balanças
fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Romão Ibérica