Restos de Colecção: junho 2022

29 de junho de 2022

"Citröen" na Avenida Praia da Vitória

As novas instalações das oficinas da francesa "Citröen" representada em Portugal pela  "Automoveis Citröen S.A.P.R.,Limitada.". e localizadas na Avenida Praia da Vitória, 9 em Lisboa, foram inauguradas em 13 de Junho de 1932, com a presença do chefe do Estado, general Óscar Fragoso de Carmona.



A inauguração teve lugar durante a "Semana Citröen" que ocorreu entre 12 e 19 de Junho de 1932 no seu stand da Avenida da Liberdade, 46 em Lisboa, e promovida pela firma importadora, para Portugal, a  "Automoveis Citröen S.A.P.R.,Limitada.".


A propósito da inauguração o "Diario de Lisbôa" noticiava, no mesmo dia:

«Com a presença do chefe do Estado, presidente do ministerio, encarregado dos negocios da França, governador militar de Lisboa, brigadeiro Silvas Bastos, coronel Mardel Ferreira, tenente-coronel Costa Marques e representantes da Camara de Comercio Francesa, União dos Combatentes Franceses, Associação Industrial Portuguesa, e outras entidades oficiais e particulares, realizou-se hoje, pelas 15 horas, a inauguração das novas instalações de automóveis 'Citröen', na avenida Praia da Vitoria.
O Chefe de Estado foi recebido pelos srs. Conde di Carrodio e Eduardo Roza, respectivamente administrador-delegado e gerente da Casa 'Citröen', tendo em seguida percorrido todas as instalações.
No final, foi servida uma taça de 'champagne' tendo o sr. Eduardo Rosa agradecido ao sr. general Carmona a visita. O chefe do Estado manifestou, por sua vez, o agrado que lhe causaram as excelentes instalações que acabara de visitar.»









Inauguração do refeitório em 24 de Março de 1933

A "Citröen"começou a ser representada em Portugal em 1919, pela "Casa Victoria" de "Armando Crespo & C.ª", na Rua do Crucifixo, 10 em Lisboa. Em 1923, é substituída, como agente da marca, pela empresa "Eduardo Roza, Limitada.", que inaugura o seu novo stand de vendas na Avenida da Liberdade, 44 a 48 (anteriormente nos 84 a 90) em 1 de Junho de 1926, mantendo uma filial na Rua Sá da Bandeira, 335 no Porto. Por sua vez, tinha sub-agentes espalhados pelo país. 


"Casa Victoria", na Rua do Crucifixo



Stand da "Eduardo Roza, Lda" no "I Salão Automóvel de Lisboa" no "Coliseu dos Recreios" entre 4 e 13 de Julho de 1925

Por imposição de Andre Citröen, a marca toma a posição e o stand da Avenida da Liberdade a partir de 1 de Outubro de 1927 e passa a ser a "Automoveis Citröen, S.A.P.R.,Limitada", ficando Eduardo Roza como gerente, e o Conde di Carrodio como administrador-delegado. No número 90 da mesma Avenida, abria uma secção de peças, e na Avenida António Serpa são montadas as oficinas "Citröen".

Avenida Liberdade, 44 a 48 em 1926


Oficinas na Rua António Serpa, em 1927


16 de Abril de 1927

 1 de Novembro de 1927

Os automóveis, carros de entrega e camionetes, eram entregues no depósito e oficinas da marca, para Portugal e Espanha, instalado em Irún (fronteira de Espanha com a França, no País Basco) desde Março de 1927. O anúncio que a seguir publico explica os procedimentos de entrega.


1 de Abril de 1927


Depósito "Citröen" em Irún, em fotos de 1929




Exposição de Gazogénios em 1942

Gazogénios distribuídos pela "Automóveis Citröen S.A.P.R. Lda., mas fabricados por José Ferreirinha.


24 de Dezembro de 1942


1 de Janeiro de 1948

Por volta de 1962, era inaugurada a estação de serviço na frente para a Avenida Defensores de Chaves (fotos seguintes).




Nota: últimas 4 fotos gentilmente cedidas por "Clube Citröen Clássico de Portugal"



Abril de 1956

26 de junho de 2022

Paraíso Piscina-Praia do Palace Hotel Curia

O "Palace Hotel da Curia", projecto do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962), e propriedade do empresário hoteleiro Alexandre d'Almeida, era inaugurado em 25 de Julho de 1926, na estância termal da Curia.

Em 1934, é inaugurada uma piscina desportiva e de lazer nos jardins do Palace Hotel, de seu nome "Paraíso Piscina-Praia" e concebida numa arquitectura modernista e numa arrojada forma de convés dum navio, que se viria a tornar o centro de animação das termas nas décadas seguintes. A sua concepção foi da responsabilidade do arquitecto Raúl Martins (1892-1934) e a sua construção do engenheiro José Belard da Fonseca (1889-1969).


Devido às suas dimensões seria a segunda piscina olímpica construída em Portugal, a seguir à do "Sport Algés e Dafundo" (consultar artigo neste blog), inaugurada em 13 de Julho de 1930.  De referir que, na época, o comprimento de uma piscina olímpica era de 33 metros. Campos de ténis e piscinas são equipamentos relativamente frequentes em hotéis desde o início do século XX. 

Piscina do "Sport Algés e Dafundo"

A sua criação, projetou o "Palace Hotel da Curia" como o primeiro hotel do País equipado com piscina para lazer aquático e para a realização de competições oficiais, quer de saltos quer de natação, além do pioneirismo de promover a sua utilização para aulas de natação aos hóspedes.




Aula de natação



A "Paraíso Piscina-Praia", era um pequeno complexo equipado com um vasto conjunto de serviços e equipamentos: torre de saltos, bancadas, solários, restaurante, bar, dancing, chuveiros, duches e banhos de imersão de água quente e fria, cabines para senhoras e cavalheiros, gabinetes privados para massagens, cabeleireiro, barbeiro, manicure e rouparia.

gentilmente cedido pelo blog "Garfadas On Line"


Notícia na revista "Stadium" de 20 de Agosto de 1947


Paraíso Piscina-Praia, actualmente

Na grande remodelação do "Palace Hotel da Curia" entre 2005 e 2006, a piscina também sofreu alterações, à que se adicionou um SPA com piscina interior de jatos, banho japonês, turco e sauna.

Após a renovação do hotel e a título de equipamentos instalados nos seus parques, a mencionar: piscina,  de espelho de água, courts de ténis, badminton, campo de futebol society, ping pong, quinta ecológica, parque de gamos, colecção de faisões e agricultura biológica, assim como um campo de golfe de nove buracos par trinta e quatro, contíguo.

fotos in:  Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian

19 de junho de 2022

Palace-Hotel de Coimbra

O "Palace-Hotel" de Coimbra, foi inaugurado em 17 de Novembro de 1912, na Avenida Emídio Navarro, em Coimbra, tendo como proprietárias D. Maria da Encarnação Alves de Souza Vieira e suas filhas. A mesma D. Maria Vieira já era proprietária do "Grande Hotel Universal", na Figueira da Foz. De referir que, o edifício foi mandado construir, e mantendo-se como proprietário, Julio da Cunha Pinto, que ali vivia e mantinha uma "Casa de Loterias", como veremos mais adiante.


"Palace Hotel", na Avenida Emídio Navarro



Publicidade ao estabelecimento do senhorio, em 1915

O jornal "Gazeta de Coimbra" de 20 de Novembro de 1912 noticiava a sua inauguração:

«Instalado no magnifico predio do sr. Julio da Cunha Pinto, uma das construções particulares mais grandiosas de Coimbra, sito na Avenida Navarro, inaugurou-se no domingo o Hotel Palace, de que são proprietarias as sras. D. Maria da Encarnação A. de S. Vieira & Filhas.
É incontestavelmente um dos melhores hoteis de Coimbra, não só pelo local em que está situado, mas ainda pelas ótimas condições em que se encontra, obedecendo aos mais recentes processos, ultimamente tratados nos congressos de turismo.
O mobiliario dos quartos é de primeira ordem e completamente novo, e honra bastante a industria conimbricense, pois é um magnifico trabalho confeccionado nas oficinas dos srs. João Crisostomo dos Santos & Irmão.
(...) Felicitamos a empresa exploradora do novo hotel, desejando-lhe as maiores prosperidades.
Igualmente felicitamos o nosso estimado amigo sr. Julio da Cunha Pinto, pelo aparatoso edificio com que dotou Coimbra e que honra os operarios desta terra que nele trabalharam.»


Na "Gazeta de Coimbra" de 16 de Novembro de 1912

Como sendo o mais luxuoso hotel da cidade no princípio do séc. XX, o "Palace-Hotel" foi construído de raiz e praticava preços, para os seus 18 quartos, que variavam entre os 1$200 e 2$000 réis. 

«(...) O mesmo era considerado um dos melhores de Coimbra no século XX pelo local, mas também por integrar as condições estabelecidas nos mais recentes congressos de turismo de 1912. Neste sentido, ao contrário da maioria dos hotéis em Coimbra, o Palace Hotel possuía casas de banho em todos os quartos, encontrando-se em linha com as novas teses higienistas.
Constituído por cerca de dezoito quartos, cada um equipado com mobiliário de primeira ordem, o hotel dispunha ainda de aquecimento a gás em todos os compartimentos e de um serviço de cozinha à francesa e à portuguesa.
(...) O mesmo, condicionado ao meio citadino, distanciava-se da tipologia do Palace Hotel Bussaco que privilegiava o contacto com a natureza ou da tipologia termal como o Palace Hotel Vidago. Numa ótima de diferenciação importa também salientar que as dimensões do mesmo se mostram, em comparação com os restantes Palaces nacionais, extremamente reduzidas, aproximando-o dos restantes hotéis existentes na cidade.
Face a esta característica dimensional, pode ser avançada a hipótese de que este foi concebido para ser um hotel de pequenas dimensões, justificando-se pelo facto de ser uma construção privada que envolvia um grande investimento financeiro. Neste sentido, pode ser comparado um hotel de pequenas dimensões, mas que recorreu a todo um conjunto de opções estéticas que o aproximavam, ainda que de modo ilusório, de um Palace, quer pela elegância quer pelo pendor clássico que lhe fora impresso.» (1)


Lembro que o primeiro hotel projetado de raiz para o seu fim em Coimbra, tinha sido o "Hotel Bragança", localizado um pouco mais à frente, ao lado da estação de caminhos de ferro, e inaugurado em 2 de Abril de 1899, tendo nesta altura como proprietário de Guilherme Máximo. Vide artigo acerca deste hotel, neste blog, no seguinte linkHotel Bragança em Coimbra. Outros dois também o foram, como o "Hotel dos Caminhos de Ferro" - construído definitivamente na Praça 8 de Maio em 1900 e propriedade de José Gomes Ribeiro - e o "Hotel Avenida", ex-"Coimbra-Hotel" na  Avenida Emídio Navarro e propriedade de José Garcia.


Além do "Palace-Hotel", publicidade a alguma oferta hoteleira de Coimbra no ano de 1913

A juntar aos equipamentos hoteleiros publicitados em 1913, na imagem anterior ,os seguintes:

"Hotel Novo", na Rua Adelino Veiga - 700 a 800 réis
"Hospedaria Raposo", no Largo do João d'Aveiro - - 700 a 800 réis
"Hospedaria Francisco dos Santos", na Rua do Pateo da Inquisição - 600 réis
"Hospedaria Antonio d'Oliveira Barros", na Rua da Sophia
"Hospedaria Raposo", no Largo da Fornalhinha
"Estalagem Joaquim Marques Perdigão", na Rua da Louça

Nas lojas da ala lateral esquerda (Norte) do Hotel, que fazia esquina com o Largo das Ameias, - que se pode ver na 2ª foto deste artigo - estava instalada a casa de loterias "Júlio da Cunha Pinto" (proprietário do edifício): «Géneros alimentícios, bebidas engarrafadas, tabacaria, perfumaria, papelaria, artigos de novidade, artigos para caça, postais ilustrados, águas minerais e sortimento em bilhetes e fracções de loterias para todas as extrações» in: "Boletim da Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra" de 15 de Agosto de 1916.

27 de Dezembro de 1912


Publicidade no "Guia Oficial dos Caminhos de Ferro de Portugal" de 1913



Publicidade ao "Grande Hotel Universal" na Figueira da Foz, da mesma proprietária

A existência do "Palace-Hotel" seria efémera, pois viria a ser vítima de um grande incêndio, com origem no depósito de lenha na noite de 29 para 30 de Abril de 1919, que o destruiria em cerca de dois terços da sua área, deixando apenas intacta a ala lateral esquerda (Norte), ocupada pela mercearia e residência de Júlio da Cunha Pinto. Anos mais tarde, esta ala viria à sua função hoteleira, passando a designar-se "Pensão Internacional" .

O jornal "Gazeta de Coimbra", de 3 de Maio de 1919 noticiava o sucedido da seguinte forma:

«O incêndio teve o seu inicio no deposito de lenha do hotel junto á cosinha e com grande rapidez se propagou ás outras dependencias devido ao derramamento de gaz.
(...) O incendio na sua marcha devastadora destruiu quase todo o predio, que se encontrava seguro em 38 contos nas companhias Portugal Previdente, Futuro, Indemnisadora, Comercial, Segurança, Douro e Fidelidade.
A mobilia do hotel estava segura em 10 contos n'A Colonial.
Os prejuizos montam a mais de 100 contos.
O sr. Alberto Davim, proprietario duma casa de modas em Lisboa, perdeu o seu mostruario de peles e de outros artigos do seu comercio, na importancia de 12 contos.
A familia do sr. Nunes Geraldes, um cofre com joias no valor de 4 contos, etc.»


6 de Maio de 1919


10 de Maio de 1919

Depois das alas central e direita Sul do edifício do "Palace Hotel" serem demolidas, seria construído no mesmo lugar outro edifício, que albergou no seu primeiro andar, a "Academia de Música de Coimbra" onde as artes musicais e dança passaram a ser rainhas. A sua inauguração ocorreu a 10 de Fevereiro de 1929.

Anos mais tarde, neste mesmo edifício, viriam a instalar-se o "Pensão Internacional" e o "Café Internacional", muito frequentado pelos estudantes da época. Actualmente, só resta a "Residencial Internacional".


(1) - A "Hotelaria Coimbrã dos anos 20: dos pequenos hotéis à utopia do Grande Hotel" - Dissertação de Mestrado em Arte e Património, de Sara Filipa Baptista Gomes da Silva (2018) - Universidade de Coimbra.

fotos in:  Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca Nacional Digital, AlmaMater UCDigitalis