Restos de Colecção: maio 2023

29 de maio de 2023

Sociedade Portuguesa de Petroquímica

As instalações fabris da "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L." foram inauguradas em 7 de Março de 1963, em Cabo Ruivo - junto à "Fábrica de Gás da Matinha" e bem perto da refinaria da "Sacor".


O jornal "Diario de Lisbôa" noticiava, com bastante pormenor, este evento:

«O início das comemorações das "bodas de prata" da Sacor foi hoje solenemente assinalado com a inauguração das instalações fabris da sua associada - Sociedade Portuguesa de Petroquímica - localizadas em Cabo Ruivo, acto que teve a presença do Chefe de Estado, do cardeal-patriarca, de sete membros do Governo e de muitas outras individualidades.

O novo centro industrial encontra-se montado nuns terrenos adjacentes à fábrica da Matinha, das C.R.G.E., e a cerca de quinhentos metros da refinaria da Sacor. A esta se encontra ligada por uma rede de tubos condutores, que permitem o fácil abastecimento de gasolina, fuel e gás de refinaria, e mais tarde o transporte de hidrogénio puro. Um "pipe-line" com cerca de dezoito quilómetros, liga a estação de bombagem de amoníaco á fábrica de Nitratos de Portugal, em Alverca, principal consumidor daquele produto. Dispositivos de enchimento de batelões (no cais da Matinha) e de camiões-cisternas, permitem o abastecimento desse produto á União Fabril do Azouto e á Sapec.

"Fábrica de Gás da Matinha" inaugurada em 8 de Janeiro de 1944


Refinaria da "Sacor" inaugurada em 11 de Novembro de 1940


"Nitratos de Portugal" inaugurada em 7 de Março de 1961

Tão complexo e importante conjunto fabril pode utilizar como matéria-prima qualquer fracção de petróleo bruto, tendo capacidade para gaseificar 200 a 240 toneladas diárias de gasolina pesada, em três unidades "Texaco", para produção de gás bruto, mistura gasosa essencialmente constituída por óxido de carbono e hidrogénio, que se envia por duas linhas de conversão - sob pressão e por meio de vapor de água em presença de um catalizador - de óxido de carbono em anidrido carbónico e hidrogénio.

O gás da cidade, com produção média de cerca de 300 mil m3  por dia, é constituído por mistura de componentes gasosos, provenientes das diversas fases do processo, com gás rico (gás de refinaria, propano ou butano) vindo da refinaria da Sacor, sendo o gás resultante purificado e continuamente enviado para as instalações da C.R.G.E., que efectuam a sua distribuição.


Secção de produção de Hidrogénio, em 1961


1963


Como instalações auxiliares, existem uma subestação eléctrica com três transformadores, uma torre de arrefecimento de água e também instalações de tratamento de águas e de produção de vapor. O consumo de energia eléctrica em toda a fábrica, pode atingir cerca de 300 mil kWh/diários.

Na fábrica, onde há ainda várias edificações para a direcção e serviços técnicos e administrativos, serviços médico-sociais e outros, trabalham cerca de 360 operários, dos quais 180 em turnos, elevando-se o numero de engenheiros e agentes técnicos ao total de vinte. 

Na construção e montagem de todas as instalações intervieram vinte e sete firmas, nacionais e estrangeiras, entre as quais a Sorefame, a C.U.F. e H. Vaultier, entre as empresas portuguesas.»





À data da inauguração, o presidente do conselho de administração da "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L." era o professor João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), e como administradores: engenheiros Elisiário Luís Faria Monteiro, Leitão da Cruz e Dr. Jorge Koromzay.

Na "Revista Portuguesa de Química", Volume 16, nº 2 de 1974, uma singela homenagem ao pessoal técnico da S.P.P e em especial ao Dr. Koromzay:

«Merece relevo especial o facto de que a acção zelosa e a competência de todo o pessoal técnico da S.P.P., desde os engenheiros aos operadores, operários, etc., teve influência decisiva no êxito da realização de um projecto industrial que constitui notável empreendimento, não somente à nossa escala mas à escala internacional, pelas suas dimensões, pela sua técnica de vanguarda e pela originalidade de certas soluções adoptadas.

Presta-se ainda saudosa homenagem à memória do Dr. Jorge Koromzay, o qual em grande parte concebeu e acompanhou a realização das instalações fabris da S.P.P., cuja "engenharia" foi especialmente da responsabilidade da firma Uhde e, na primeira fase, também da Stec.»

Ao monopólio da refinação de petróleo e à proteção na distribuição, faltava à "Sacor" juntar uma maior participação na indústria petroquímica, de utilização de derivados do petróleo. Em 1958, a "Sacor" inaugurou em Estarreja a unidade de adubos sintéticos, a "Amoníaco Português, S.A.R.L.", abastecida pela refinaria de Cabo Ruivo. O governo apoiou essa maior integração, embora tenha tentado colmatar alguns dos problemas decorrentes da posição favorável no mercado da petrolífera de que era acionista.


1966

1973

Pelo que, com o apoio do governo, foi criada, em 1957, "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L.", com capitais da "Sacor - Sociedade Anónima Concessionária da Refinação de Petróleos em Portugal, S.A.R.L." (55,1%), da CRGE - Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade, S.A.R.L." (15,2%) e da "UFA - União Fabril do Amoníaco" ("C.U.F.") (9,9%), sendo o restante distribuído entre outros acionistas menores. A empresa entrou em funcionamento com uma unidade de produção de gasogénio (ou gás de síntese), substituto do gás de hulha utilizado para produzir gás de cidade, para aproveitamento dos derivados da refinaria vizinha em Cabo Ruivo. 

No seu início, e no processo de concentração do sector dos adubos, entrou, também, a "Sociedade Portuguesa de Petroquímica", que posteriormente recebeu orientação no sentido de centrar a sua produção na actividade petroquímica e no gás.

Em resultado da entrada em funcionamento desta unidade fabril, deixou de se produzir gás de cidade a apartir do carvão, mas sim por via petrolífera, pelo que em 1964 a "Fábrica de Gás da Matinha" foi desactivada, e a "C.R.G.E." passou a distribuir gás, produzido pela "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L.".

Em 22 de Agosto de 1975, a empresa "Sociedade Portuguesa de Petroquímica, S.A.R.L." é nacionalizada juntamente com outras duas empresas do sector da produção de adubos: "Amoníaco Português, S.A.R.L." e a "Nitratos de Portugal, S.A.R.L."


Duas fotografias de Dezembro de 1973

Dois anos mais tarde, o Decreto-Lei 530/77 de 30 de Dezembro criava a "Quimigal" - «empresa única integrando patrimónios das empresas nacionalizadas CUF, Amoníaco Português e Nitratos de Portugal, ficando excluída da empresa única a Sociedade Portuguesa de Petroquímica, cujo relançamento se orientará para os ramos da produção de gás de cidade e de petroquímica». Pelo que foi instituída a empresa pública "Química de Portugal, E.P.", abreviadamente denominada por "Quimigal".

"Sociedade Portuguesa de Petroquímica" nos anos 80 do século XX

14 de maio de 2023

Hotel Embaixador

O "Hotel Embaixador", situado na Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, foi inaugurado em 21 de Junho de 1956. Propriedade de José Teodoro dos Santos - proprietário do "Casino Estoril" a partir de 1 de Julho de 1958 - foi projectado pelo arquitecto Raúl Tojal (que viria a projectar o "Hotel Estoril-Sol" para o mesmo proprietário) com a colaboração do arquitecto Manuel Coutinho de Carvalho.




José Teodoro dos Santos (1906-1971)


Cerimónia da inauguração

Com a construção do edifício da responsabilidade do construtor Manuel Gaspar, a decoração do Hotel e dos seus 100 quartos ficou a cargo do decorador José Espinho, tendo todo o seu mobiliário sido fornecido pela empresa "Móveis Olaio".


«Constituiu um verdadeiro acontecimento citadino e mundano a inauguração do novo Hotel Embaixador, situado na Avenida Duque de Loulé, propriedade do sr. José Teodoro dos Santos e que constituiu um grande serviço ao desenvolvimento turístico em Portugal.
O autor do projecto foi o arquitecto Raul Tojal, com a colaboração do seu colega Manuel Coutinho de Carvalho, do decorador José Espinho, do construtor Manuel Gaspar e da Casa Olaio, que forneceu todo o mobiliário.
O novo hotel dispõe de cem quartos, com todo o conforto moderno, estando a sala de jantar e as cozinhas instaladas no 9º andar  e a "boite" e a pastelaria no 10º.
Deve-se o ter realizado esta obra em tão pouco tempo ás grandes facilidades dos serviços de Turismo do S.N.I. e da Cãmara Municipal.
à cerimónia inaugural, no decorrer da qual foi servido um excelente almoço volante, assistiram centenas de pessoas, entres as quais representantes e membros do governo, dr. António Gonçalves da Roda, pelo chefe do distrito, Saphera da Costa, pelo Município, engº Sá e Melo, director-geral dos Serviços de Urbanização, engº Duarte Ferreira, administrador da C.G.D.C.P., dr. Jorge Felner da Costa, chefe dos serviços de Turismo do S.N.I., dr. Afonso Marchueta, director-geral do Comércio, o industrial hoteleiro Alexandre de Almeida, etc.» in jornal "Diario de Lisbôa".


Programa de Setembro de 1968






     





«O majestoso edifício compõe-se de dois pisos subterrâneos e de loja e dez andares, no ultimo dos quais se encontram instaladas a "boite" e a pastelaria, rodeadas por um enorme terraço, de onde se desfruta uma soberba vista sobre Lisboa.
Os cem quartos do hotel, classificados de luxo, situam-se do primeiro ao oitavo andares, estando a acas de jantar e a cozinha instaladas no nono andar. Na cave e subcave, ficam a engomadoria, economato e máquinas de ar condicionado.» in jornal “Diário Popular”.


1957
                                                                                

  23 de Dezembro de 1961


Decoração antes da remodelação efectuada em 2012

 

 

 

Com Manuel Madeira Teles, bisneto do fundador Teodoro dos Santos, como Administrador do renomeado “Embaixador Hotel” , este foi totalmente renovado em 2012 «para um conceito minimal-chique, com design moderno e criativo, desde as áreas de alojamento - onde os quartos combinam mobiliário de autor com linhas de design contemporâneas e peças vintage; às áreas públicas, contando com o novo Sun Lounge 360º (brevemente) e um Restaurante com vista panorâmica sobre o Rio Tejo e o Castelo de S. Jorge.»

 

A nova imagem do “Embaixador Hotel” baseia-se na sua origem, em 1959, e, por isso, as peças dessa época que conseguiram aproveitar são orgulhosamente assumidas. “O seu design é realmente extraordinário e as pessoas reconhecem-nas imediatamente, quer seja pelo desing ou pela beleza das peças”, salienta Manuel Madeira Teles. A decoração do interior do hotel ficou a cargo do Atelier Filipa Lacerda que integrou peças em mobília desenhadas expressamente para o hotel, que lhe dá uma atmosfera moderna e urbana. “Creio que se identifica um pouco de Lisboa e daquela fusão tão especial entre o moderno e o antigo, que enobrece a cidade», adianta Manuel Madeira Teles in revista “Briefing - Os Negócios do Marketing”.

Interiores do actual “Embaixador Hotel”

 

 

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste GulbenkianDelcampe.net, Hemeroteca Digital, Embaixador Hotel