Em vinte anos, entre 1908 e 1927 são construídos dezasseis faróis no continente e ilhas adjacentes. Serreta (Ilha Terceira, 1908), Ponta das Lages (Ilha das Flores, 1910), Montedor (Viana do Castelo, 1910), Penedo da Saudade (São Pedro de Moel 1912), Ponta da Piedade (Lagos, 1913), Gibalta (1914) e Esteiro (Caxias, 1914), Cabo Sardão (entre Sines e S.Vicente, 1915), Ribeirinha (Faial, 1919), Alfanzina (Lagoa, 1920), Ponta do Pargo (Ilha da Madeira, 1922), Vila Real de Santo António (1923), Albarnaz (Ilha das Flores, 1924), Leça de Palmeira (1927), Ponta do Topo (Ilha de S.Jorge, 1927) e Gonçalo Velho (Ilha de Santa Maria, 1927).
Farol de Montedor (1910)
Farol de Montedor localiza-se num promontório no lugar de Montedor, a cerca de 4 milhas náuticas a Norte do foz do rio Lima e a 7 milhas a Sul da foz do rio Minho, na freguesia de Carreço, cidade e distrito de Viana do Castelo, em Portugal. É o farol mais setentrional do país e entrou em funcionamento em 20 de Março de 1910.
Farol da Ponta da Piedade (1913)
Foi erigido entre 1912 e 1913, no local das ruínas da ermida de Nossa Senhora da Piedade, entrando ao serviço neste último ano, com um aparelho óptico de quarta ordem que emitia cinco relâmpagos agrupados a cada dez segundos do alto de uma torre de cinco metros, a 51 metros de altitude. A fonte luminosa era um candeeiro de petróleo. Em Dezembro de 1923, a luz passa a ser de ocultações, com uma ocultação de 2,5 segundos a cada 69,5 segundos.
Em 1952, o farol é electrificado com energia da rede pública, sendo substituído o candeeiro de petróleo uma lâmpada eléctrica, com um alcance original de 15 milhas náuticas, posteriormente aumentado para 18 milhas náuticas. Quatro anos depois, é montado um novo aparelho de incandescência eléctrica. Foi automatizado em 1983.
«No estremo desta cadeia de rochedos, no fim destes caminhos estreitos no alto das escarpas, chegaremos à ponta da Piedade. Aqui houve uma velha ermida que 1755 destruiu, cortando mesmo a ligação com terra firme do rochedo onde se encontrava (…). A sul do actual farol nova ermida foi feita, com uma pequena cúpula e um corpo avançado como no-lo revelam os restos que se veem no chão. A necessidade da construção do farol aconselhou os que mandavam a destruí-la em 1916. Era local de devoção intensa à Senhora da Piedade.(…)». José Víctor Adragão in: “Algarve”
Farol do Cabo Sardão (1915)
Proposto pela primeira vez em 1883, o Farol do Cabo Sardão entrou em funcionamento apenas a 15 de Abril de 1915.
Em 1950, o farol foi electrificado com montagem de grupos electrogéneos. A fonte luminosa deixou de ser a gás de petróleo sendo substituída por uma lâmpada de 3000 watts.
Até aos anos cinquenta, o serviço de entrega e recepção de correio do farol era feito por uma estafeta, cujo vencimento era de 200$00 (1€) mensais, destinado a retribuir «16 viagens por mês, a pé, de mais de 20 quilómetros cada, e por péssimo caminho, parte dele quase intransitável no Inverno», viria pouco mais tarde a ser aumentada para 300$00 (1,5 €).
O farol foi ligado à rede eléctrica de distribuição pública em 1984. A potência da fonte luminosa foi reduzida, sendo instalada uma lâmpada de 1000 watts.
O Farol foi construído com a torre do lado de terra, ao contrário de todos os outros faróis com estruturas e localizações similares. Possivelmente o construtor terá usado a planta rodada de 180º
Selo dos CTT, 2008
«O lugar convida a passeios equestres, mas o automóvel dá bem conta do troço de estrada alcatroada que leva ao Cabo Sardão. Em se ultrapassando o casarão fantasmagórico do farol, respeito: temos a natureza em estado puro e bruto, com a rocha xistosa a despenhar-se quase a pique no oceano. Entre as garras do gigantesco sáurio adormecido, as águas formam um abismo verde salpicado por borbotões de espuma; é uma visão solene e esmagadora, que o pio das gaivotas sobrevoando os rochedos torna quase lancinante.» Regina Louro in: “Baixo Alentejo”.
Farol de Vila Real de Santo António (1923)
Tendo o Ministério da Marinha obtido em 1916 licença para se proceder á sua construção, eta foi iniciada segundo o projecto do engº José Joaquim Peres.
Segundo o Aviso aos Navegantes de 19 de Dezembro de 1922, tratava-se de uma torre circular de cimento armado, de cor branca, com listas horizontais escuras, dispondo de anexos de dois pavimentos, para habitação dos faroleiros, depósitos de material e demais fins. O Farol de Vila Real de Santo António entrou em funcionamento em Janeiro de 1923.
A torre, circular, tinha 40 metros de altura e assentava sobre fundações de betão armado. A luz lá instalada, de relâmpagos, era obtida por incandescência de vapor de petróleo e tinha um alcance de 33 milhas náuticas. Ainda hoje está equipado com o aparelho óptico lenticular de Fresnel de terceira ordem com 500 mm de distância focal original.
Em 1927 é electrificado com motores geradores, e posteriormente, em 1947, ligado à rede pública de electricidade, ano em que a máquina de relojoaria que, até então, tinha assegurado o movimento do aparelho óptico foi também substituída por motores eléctricos e a lâmpada por uma outra de 3.000W. Em 1960, os dínamos foram substituídos por alternadores e foi instalado um elevador de acesso à torre. Em 1983, a lâmpada é substituída por uma de 1.000W. Seis anos depois, o farol é automatizado, estando, portanto, desprovido de faroleiros nos dias de hoje.
« A mata que o Marquês começou a plantar, careca aqui e além, reino do camaleão e todas as noites milhares de vezes coberta pela luz do seu farol (…) ainda é um bom conjunto de pinheiros, capazes de proporcionar belos momentos de lazer. Do alto do farol a vista ainda é soberba, desde a Andaluzia das ilhas ao castelo de Castro Marim, desde a serra ao mar profundo (…). Com a memória de Santo António de Arenilha, a barra oscilante do Guadiana, os areais sem fim para ocidente - areias de Portugal frente a terras de Espanha -, o farol é um bom sítio para se esperar a “nau catrineta”, a tal que tem muito que contar.» José Víctor Adragão in: “Algarve”
Farol de Leça (1927)
O Farol de Leça, também conhecido como Farol da Boa Nova é um farol português que fica localizado em Leça da Palmeira, cidade de Matosinhos, distrito do Porto. É o segundo maior farol do país com uma torre de 46 metros de altura, só superado pelo farol de Aveiro cuja torre mede 62 metros de altura.
O farol de Leça é edificado depois de uma série de desastres ter enlutado as praias vizinhas. Havia, aliás, quem comparasse o tenebroso local a Bell Rock, na Escócia, onde um temporal de três dias, em 1799, bastara para destruir setenta embarcações.
Encalhe do navio inglês “Veronese” ,em Janeiro de 1913, na Boa Nova
Depois de existir, uma estação semafórica junto à estação de passageiros de Leça da Palmeira, foi decidido construir em 1922 e junto à Capela do Oratório de São Clemente o Farol da Boa Nova. Tratava-se duma torre quadrangular branca com cerca de 12 metros, encimada por uma lanterna verde, emitindo luz branca fixa, a cerca de 380 metros a NW do actual farol. Ao fim de cinco anos foi desactivado e foi inaugurado o actual em 1927.
Estações semafórica e de passageiros de Leça Farol da Boa Nova
fotos gentilmente cedidas por: Navios e Navegadores (colecção particular do proprietário)
Farol de Leça, inaugurado em 1927
Este foi o último farol a ser construído em Portugal Continental, até o novo farol de Sagres ser inaugurado, trinta e três anos depois, a 1 de Abril de 1960, construído para substituir o anterior entretanto demolido. Entretanto na Ilhas Adjacentes o último farol a ser construído viria a ser o Farol de São Jorge, na Ilha da Madeira no ano de 1959.
Selo dos CTT, 2008
«(O farol muito branco, recortando-se no azul celeste foi, para gerações de gente pequena, quando ia à beira-mar, gigante fabuloso de magias eléctricas a desvendarem a noite, com luzes nervosas e rodopiantes. A ascensão era prémio cobiçado para os maiores, que não tinham medo das alturas. Mas as escadas assustavam e faziam vertigens …)
O velho farol da nossa infância permanece, alvo, distante, a evocar o sonho, agora rodeado pelas chaminés fumegantes e lumieiras da refinaria … » Hélder Pacheco in: “O Grande Porto”
Só em 8 de Julho de 1946, é que a Direcção de Faróis foi transferida para as instalações do extinto Grupo de Defesa Submarina da Costa, em Paço d’Arcos, local onde permanece até aos dias de hoje, complementadas em 25 de Agosto de 1961, com a inauguração do Edifício do Comando e da Escola de Faroleiros
Situada junto à Estrada Marginal, em Paço d’Arcos, nas antigas instalações do Grupo de Defesa Submarina da Costa, a Direcção de Faróis posiciona-se como sentinela vigilante da navegação que demanda as Barras do Porto de Lisboa, na confluência das águas do Tejo com as do Atlântico, tendo o Forte e Farol de S. Lourenço da Cabeça Seca (Bugio) no horizonte.
“Direcção de Faróis”, em Paço d’Arcos
Em 1979 é iniciado o processo de automatização dos faróis e, anos mais tarde é introduzido o aproveitamento de energia solar para abastecimento de energia eléctrica aos faróis.
Actualmente o património de ajudas á navegação é o seguinte:
- 50 faróis
- 338 farolins
- 148 boias
- 26 balizas
- 35 sinais sonoros
- 56 enfiamentos
- 4 estações DGPS (Differential Global Positioning System)
Faróis de Portugal Continental
«Acendem-se ao anoitecer e apagam-se ao raiar da manhã. Exactos como uma fórmula matemática, com os seus clarões, os seu relâmpagos, o seu ritmo luminoso inconfundível. Dir-se-ia pertencerem ao céu, às constelações do universo. Também podem lembrar espelhos mágicos. São simplesmente os faróis marítimos, postos nas costas e ilhas para guiarem os navegantes a bom porto, indicando-lhes os obstáculos e as aproximações perigosas de terra» Excerto retirado do excelente livro “Faróis de Portugal” de João Francisco Vilhena e Maria Regina Louro” - Gradiva - 1995
fotos antigas in: Leuchtturme Portugals auf historischen Postkarten, Prof 2000
Infografias de Carlos Esteves e Jaime Figueiredo in: Expresso
Citações e excertos in: Livro “Faróis de Portugal” de João Francisco Vilhena e Maria Regina Louro” - Gradiva - 1995