Restos de Colecção: abril 2011

29 de abril de 2011

Gramophone em Portugal

O precursor do gramofone foi o fonógrafo inventado pelo americano Thomas Edison em 1877. De facto, foi neste aparelho que Edison realizou a primeira gravação sonora de sempre. A máquina consistia num cilindro de cera que rodava, permitindo que uma agulha transmitisse as vibrações mecânicas traduzidas pela superfície impressa do cilindro a um amplificador em forma de cone metálico. A duração da gravação neste cilindros era muito limitada, de tal forma que a utilização inicial deste aparelho, tal com o concebera Edison, era como máquina de ditar em escritórios.

                            Fonógrafo de Thomas Edison                                             Modelo comercial

          

Mais tarde, em 1887, foi inventado, pelo alemão Emile Berliner, o disco plano. Para a sua reprodução, este inventor desenvolveu uma máquina que se designou por gramofone. Com bastante maior duração e capacidade de gravação que o cilindro de Edison, o disco foi utilizado para gravação e reprodução de músicas. Estes discos, impressos com um pista magnética em forma de espiral, eram colocados sobre um prato que girava a uma velocidade de 78 rotações por minuto (só bastante mais tarde se produziram os sistemas de 33 ou de 45 rotações por minuto).

                                                                                  em 1904

   

A agulha que permitia ler a informação contida no disco, através de vibrações, estava aplicada num braço que se movia ao longo da espiral inscrita na sua superfície. O sistema motor era originalmente mecânico, acionado por uma corda metálica. Por isso os gramofones estavam dotados de uma manivela que permitia esticar as cordas manualmente (um sistema semelhante aos dos relógios da época). Sobre o limite do braço da agulha, num dos cantos da caixa do gramofone encontrava-se um dos seus elementos fundamentais e mais característicos, o amplificador metálico em forma cónica.

                                Gramophone de Emile Berliner                       Modelo comercial

                              

O sucesso deste aparelho foi quase imediato e a partir desse momento, grande número de discos foram gravados e difundidos por todo o mundo, garantindo e consolidando a presença e liderança comercial do gramofone. Em simultâneo verifica-se o interesse de vários países na produção deste aparelho, procedendo muitas vezes à reelaboração do sistema base, o que impediu a definição de uma solução estandardizada. É testemunho desta dispersão de processos o gramofone francês que tocava a uma velocidade de 90 rotações por minuto e invertia o sentido de leitura do disco, iniciando no centro e terminando no perímetro.

                                  1903 …                                                                       … 1904 …

   

                                                                          … 1905 …                                                                          

 

                                    … 1906 …                                                                         … 1910

  

A partir de 1920 o motor eléctrico substituiu o anterior motor de corda e um amplificador eletromagnético destrona o característico e icónico corno, inaugurando uma nova fase para este produto que culminaria, após o período da alta-fidelidade, no processo de gravação e reprodução digital associada às conquistas da alta tecnologia informática.

28 de abril de 2011

Grande Prémio da Curia

Em 30 de Junho de 1927 teve lugar na estância termal da Curia o “Grande Prémio de Turismo”, em automóvel.

 

O percurso era circular começando na Curia, passando pela Mealhada, Luso, Anadia e terminando na Curia. Isto realizado em 4 vezes o que perfazia um total de 105 quilómetros de distância percorrida. Diga-se que esta competição neste trajeto em estrada de terra batida, mais se assemelhava ao tipo de competição automobilística que anos mais tarde, se chamaria de “Rally”.

 

Esta prova na “Categoria Sport” teve a particularidade de só haver um piloto inscrito, pelo que Carlos Moniz Pereira, director do Automóvel Clube de Portugal, abandonou a sua função de júri e alinhou no seu FN (na 1ª foto e na próxima ao lado do vencedor) para partir um minuto após o primeiro. No final foi batido por, Alfredo Marinho Júnior num Bugatti, por 13 minutos e 31 segundos.

                                                 O vencedor: Alfredo Marinho Júnior em “Bugatti”

                                    

                                      fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

nota: texto baseado nas notas postadas por “Pfalfa” na página de onde foram retiradas as fotos.

27 de abril de 2011

Perfumaria da Moda

Provavelmente, e por muitos considerada a perfumaria mais famosa e luxuosa de Lisboa, foi inaugurada no ano de 1909. Construída pelo construtor civil José de Passos Mesquita (inscrito na CML com o nº 187) e ricamente decorada em talha por Jorge Pereira, pertenceu à família Pinto de Lima dona de “A Pompadour” sendo a firma proprietária a "Aires de Carvalho e Cª.". 

Na revista "Ilustração Portuguesa" de 17 de Agosto de 1914


Instalada nos números 5 e 7 da Rua do Carmo , foi inaugurada com o nome de “Au Bonheur des Dames”, título do romance do escritor francês Émile Zola, publicado em 1883.

(foto da autoria de Marina Tavares Dias)

Serviu também de cenário ao célebre filme de António Lopes Ribeiro, de 1941, “O Pai Tirano”.

O realizador Arthur Duarte, aqui como actor em “O Pai Tirano”,  no balcão da “Perfumaria da Moda”

 
foto in: Os anos de Ouro do Cinema Português

Em 1917 o nome de “Au Bonheur des Dames” deste estabelecimento é mudado para “Perfumaria da Moda”

Ainda com a antiga designação, em 1914

Neste anuncio de 1917, pode-se ficar com uma ideia dos produtos comercializados

 

   Infelizmente no incêndio do Chiado de 25 de Agosto de 1988 este estabelecimento foi consumido pelas chamas assim como: na rua do Carmo, os “Armazéns Grandella” de 1891 e “Grandes Armazéns do Chiado” de 1894, a charcutaria de luxo “Martins e Costa” de 1914; na rua Garrett, as casas “Antiga Casa José Alexandre” de 1833,"  “Eduardo Martins” de 1889 e “Estabelecimentos Jerónimo Martins”, esta última em actividade desde 1792; e na rua Nova do Almada, a “Valentim de Carvalho” de 1920, a “Pastelaria Ferrari”, fundada em 1827, e principalmente a “Casa Batalha” de 1635, o estabelecimento comercial mais antigo da cidade e do país. Isto só para referir as mais icónicas.

Depois de funcionar provisóriamente na “Pompadour” na rua Garrett, até à reconstrução do edifício original, já não reabriu como perfumaria mas sim como loja de vestuário de seu nome “Empório Chiado”.

Mantendo a traça exterior e nome originais

  
foto in: Ruas de Lisboa com Alguma História

26 de abril de 2011

A Emigração Portuguesa e o “Sud-Express”

                      

As más condições de vida no país de origem, foram a principal causa da emigração portuguesa a partir dos anos 50 do século XX. Contudo, importa assinalar que também algumas circunstâncias de natureza política determinaram a necessidade de emigrar como por exemplo, a perseguições de natureza política,  falta de liberdade expressão,  guerra nas antigas colónias e as práticas sociais dominantes que levaram à fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.

                       

Nas fotos seguintes (em Paris) pode-se ficar com uma ideia da vida muito dura de grande coragem e espírito de sacrifício, que esperava pelos emigrantes, que viviam em “bidonvilles” bairros de barracas (vulgo “bairro da lata”) semelhantes aos que também existiam em Portugal. As imagens falam por si.

                   Gare de Austerlitz em Paris, em 1965                                       “Bidonville”  em Paris (1967)

   

              Quarto e casal de emigrantes, em 1956                       Família de emigrantes, em 1964

           

              Fila para a água no “bidonville”                  (1964)                              Corte de cabelo

 

A importância destas saídas foi bastante acentuada nas regiões densamente povoadas do norte e do centro do país, assim como nas Ilhas Atlânticas dos Açores e da Madeira.Da mesma forma, este fenómeno afectou as regiões do Minho, de Trás-os-Montes e da Beira - Alta, de onde partiram os maiores contingentes de emigrantes não só em direcção ao Brasil mas também, já durante a segunda metade do século XX, para os países industrializados da Europa Ocidental: França, Alemanha, Luxemburgo e mais recentemente para a Suíça.

Breve cronologia da emigração portuguesa para França.

1917
Inauguração da ‘Avenue des Portuguais’, em homenagem ao corpo expedicionário de 80.000 homens enviado por Portugal na 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918).

1918-1939 
Instalam-se em França cerca de 50.000 portugueses desmobilizados ou imigrados.

1955
Início da construção do “bidonville” de Champigny-sur-Marne.

1956 
Acordo de mão-de-obra franco- português.  A maioria dos portugueses imigrantes entraria com contrato de trabalho e outros com "passeport de lapin", como clandestinos.

1961
Início da guerra colonial nas colónias portuguesas de Angola, Moçambique, e Guinée-Bissau. Partida para França dos fugidos à tropa.

1961-1964
Duplicação de entradas de emigrantes em França.

1962
Primeiras regularizações dos imigrantes clandestinos.

1964
Descoberta pela imprensa francesa do “bidonville” de Champigny (10.000 a 15.000 habitantes), ampliado até 1970.

1969
Ano record de entrada de emigrantes portugueses em França: 80.000

1973
Fim da imigração legal em França. Em treze anos o numero de portugueses emigrados tinha-se multiplicado por quinze. Tinha passado de 50.000 a 760.000 pessoas.

Em 1992 os dados estatísticos franceses informavam que a colónia portuguesa em França era: 646.000 cidadãos portugueses (345.150 homens e 300.428 mulheres), 153.000 com dupla nacionalidade, e 200.00 à 300.000 franceses de origem portuguesa.

                  Cabeleireiro no “bidonville”, em 1964                                      Estendendo a roupa, em 1970

   

  Trabalho nas docas de Austerlitz (1950)           Emigrantes na construção da “Tour de Montparnasse” (1971)

   

fotos in: Photographies de Gerald Bloncourt , Sud-Express

Segundo dados de 1999 a emigração de portugueses no Mundo estava assim distribuída: 4.806.353 Europa: 1.386.292. Américas: 2.993.127 África: 342.264 Ásia: 29.211 Oceania: 55.459..

A grande maioria dos emigrantes utilizaram o comboio “Sud-Express” para se deslocarem para esses países, e regressarem ou de vez ou em férias.

O “Sud- Express”, inaugurado em 1887 era comboio de luxo, com carruagens cama e restaurante, primeira ligação rápida entre Inglaterra, França, Espanha e Portugal. Em Julho de 1895, o “Sud-Express” passa a circular na Linha da Beira Alta. e em 1900, altera o percurso passando a circular por Salamanca, concluindo-se a ligação Salamanca - Portugal.

             “Sud-Express”, em França, (1896 ) …                     Nos anos 60 entre Vilar Formoso e Medina del Campo

 

Há 124 anos que este comboio liga Lisboa a Paris, embora, em rigor, só vá até à fronteira francesa de Hendaye, onde outra composição faz o resto do percurso devido à diferença de bitola (distância entre carris). Hoje o troço é assegurado pelo TGV, mas durante décadas foi um comboio de luxo que assegurou o segmento francês da viagem.

                                          … nos anos 50, já com tracção a diesel, na Beira Alta

                           

O “Sud-Express” realizava-se três vezes por semana e demorava 45 horas entre Lisboa e Paris, via Madrid. Foi um sucesso e passou a diário, tendo o seu percurso sido modificado: seguia directamente pela Beira Alta até Salamanca sem prestar vassalagem à capital do país vizinho. As grandes companhias marítimas alteraram os horários dos navios para fazer coincidir as suas partidas com a chegada do “Sud Express”. Desde o centro da Europa para a África e a América do Sul poupavam-se agora três dias de navegação e evitava-se a turbulenta travessia do golfo da Biscaia. E, graças ao caminho de ferro, Lisboa ganhava estatuto nas grandes rotas internacionais.

                                                          Partida do “Sud-Express” de Lisboa

                                      

       Mudança de bitola de rodados, em Hendaye                         “Sud-Express” actual, com tracção eléctrica

 

O Sud ainda sobe vigorosamente a linha da Beira Alta. Outrora, precisava de mudar a locomotiva na Pampilhosa, mas agora já todo o percurso português é electrificado e a mesma máquina reboca a composição até Vilar Formoso. O traçado é sinuoso, mas a linha já foi modernizada. Santa Comba Dão, Nelas, Mangualde, Celorico, Vila Franca das Naves, Guarda - por que pára tantas vezes um comboio rápido? Porque esta
é uma região de emigrantes e, historicamente, este é o comboio que os levou para França. A tradição já não é o que era. Mas há ainda quem espere nas gares para fazer a longa viagem no Sud. Ele ainda é único.

                                    

Presentemente em pleno século XXI, Portugal volta a revelar que, não apresenta condições para manter uma grande parte da sua mão-de-obra no nosso território. Só na última década, 700 mil portugueses saíram do País para trabalhar. Em 2007 e 2008, emigraram mais de 200 mil. É a terceira vaga da emigração e com níveis próximos dos anos 60 e 70.  E pelo que estamos a ver pelo presente, não vamos ficar por aqui …

25 de abril de 2011

Jornais Políticos

Alguns exemplares de capas de alguns jornais de esquerda e de extrema-esquerda portugueses, na sua maioria fundados após 1974.

   

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fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital, Ephemera