As más condições de vida no país de origem, foram a principal causa da emigração portuguesa a partir dos anos 50 do século XX. Contudo, importa assinalar que também algumas circunstâncias de natureza política determinaram a necessidade de emigrar como por exemplo, a perseguições de natureza política, falta de liberdade expressão, guerra nas antigas colónias e as práticas sociais dominantes que levaram à fuga de muitos jovens, antes ou durante o cumprimento do serviço militar.
Nas fotos seguintes (em Paris) pode-se ficar com uma ideia da vida muito dura de grande coragem e espírito de sacrifício, que esperava pelos emigrantes, que viviam em “bidonvilles” bairros de barracas (vulgo “bairro da lata”) semelhantes aos que também existiam em Portugal. As imagens falam por si.
Gare de Austerlitz em Paris, em 1965 “Bidonville” em Paris (1967)
Quarto e casal de emigrantes, em 1956 Família de emigrantes, em 1964
Fila para a água no “bidonville” (1964) Corte de cabelo
A importância destas saídas foi bastante acentuada nas regiões densamente povoadas do norte e do centro do país, assim como nas Ilhas Atlânticas dos Açores e da Madeira.Da mesma forma, este fenómeno afectou as regiões do Minho, de Trás-os-Montes e da Beira - Alta, de onde partiram os maiores contingentes de emigrantes não só em direcção ao Brasil mas também, já durante a segunda metade do século XX, para os países industrializados da Europa Ocidental: França, Alemanha, Luxemburgo e mais recentemente para a Suíça.
Breve cronologia da emigração portuguesa para França.
1917
Inauguração da ‘Avenue des Portuguais’, em homenagem ao corpo expedicionário de 80.000 homens enviado por Portugal na 1ª Grande Guerra Mundial (1914-1918).
1918-1939
Instalam-se em França cerca de 50.000 portugueses desmobilizados ou imigrados.
1955
Início da construção do “bidonville” de Champigny-sur-Marne.
1956
Acordo de mão-de-obra franco- português. A maioria dos portugueses imigrantes entraria com contrato de trabalho e outros com "passeport de lapin", como clandestinos.
1961
Início da guerra colonial nas colónias portuguesas de Angola, Moçambique, e Guinée-Bissau. Partida para França dos fugidos à tropa.
1961-1964
Duplicação de entradas de emigrantes em França.
1962
Primeiras regularizações dos imigrantes clandestinos.
1964
Descoberta pela imprensa francesa do “bidonville” de Champigny (10.000 a 15.000 habitantes), ampliado até 1970.
1969
Ano record de entrada de emigrantes portugueses em França: 80.000
1973
Fim da imigração legal em França. Em treze anos o numero de portugueses emigrados tinha-se multiplicado por quinze. Tinha passado de 50.000 a 760.000 pessoas.
Em 1992 os dados estatísticos franceses informavam que a colónia portuguesa em França era: 646.000 cidadãos portugueses (345.150 homens e 300.428 mulheres), 153.000 com dupla nacionalidade, e 200.00 à 300.000 franceses de origem portuguesa.
Cabeleireiro no “bidonville”, em 1964 Estendendo a roupa, em 1970
Trabalho nas docas de Austerlitz (1950) Emigrantes na construção da “Tour de Montparnasse” (1971)
fotos in: Photographies de Gerald Bloncourt , Sud-Express
Segundo dados de 1999 a emigração de portugueses no Mundo estava assim distribuída: 4.806.353 Europa: 1.386.292. Américas: 2.993.127 África: 342.264 Ásia: 29.211 Oceania: 55.459..
A grande maioria dos emigrantes utilizaram o comboio “Sud-Express” para se deslocarem para esses países, e regressarem ou de vez ou em férias.
O “Sud- Express”, inaugurado em 1887 era comboio de luxo, com carruagens cama e restaurante, primeira ligação rápida entre Inglaterra, França, Espanha e Portugal. Em Julho de 1895, o “Sud-Express” passa a circular na Linha da Beira Alta. e em 1900, altera o percurso passando a circular por Salamanca, concluindo-se a ligação Salamanca - Portugal.
“Sud-Express”, em França, (1896 ) … Nos anos 60 entre Vilar Formoso e Medina del Campo
Há 124 anos que este comboio liga Lisboa a Paris, embora, em rigor, só vá até à fronteira francesa de Hendaye, onde outra composição faz o resto do percurso devido à diferença de bitola (distância entre carris). Hoje o troço é assegurado pelo TGV, mas durante décadas foi um comboio de luxo que assegurou o segmento francês da viagem.
… nos anos 50, já com tracção a diesel, na Beira Alta
O “Sud-Express” realizava-se três vezes por semana e demorava 45 horas entre Lisboa e Paris, via Madrid. Foi um sucesso e passou a diário, tendo o seu percurso sido modificado: seguia directamente pela Beira Alta até Salamanca sem prestar vassalagem à capital do país vizinho. As grandes companhias marítimas alteraram os horários dos navios para fazer coincidir as suas partidas com a chegada do “Sud Express”. Desde o centro da Europa para a África e a América do Sul poupavam-se agora três dias de navegação e evitava-se a turbulenta travessia do golfo da Biscaia. E, graças ao caminho de ferro, Lisboa ganhava estatuto nas grandes rotas internacionais.
Partida do “Sud-Express” de Lisboa
Mudança de bitola de rodados, em Hendaye “Sud-Express” actual, com tracção eléctrica
O Sud ainda sobe vigorosamente a linha da Beira Alta. Outrora, precisava de mudar a locomotiva na Pampilhosa, mas agora já todo o percurso português é electrificado e a mesma máquina reboca a composição até Vilar Formoso. O traçado é sinuoso, mas a linha já foi modernizada. Santa Comba Dão, Nelas, Mangualde, Celorico, Vila Franca das Naves, Guarda - por que pára tantas vezes um comboio rápido? Porque esta
é uma região de emigrantes e, historicamente, este é o comboio que os levou para França. A tradição já não é o que era. Mas há ainda quem espere nas gares para fazer a longa viagem no Sud. Ele ainda é único.
Presentemente em pleno século XXI, Portugal volta a revelar que, não apresenta condições para manter uma grande parte da sua mão-de-obra no nosso território. Só na última década, 700 mil portugueses saíram do País para trabalhar. Em 2007 e 2008, emigraram mais de 200 mil. É a terceira vaga da emigração e com níveis próximos dos anos 60 e 70. E pelo que estamos a ver pelo presente, não vamos ficar por aqui …