Na primeira metade do século XX em Portugal, o cartaz era o principal veículo publicitário. Estes eram esculpidos ou moldados nas pedras e chapas litogràficas e depois impressos numa prensa. Muitos artistas encontravam na publicidade uma fonte extra de rendimento. por esta razão as agências de publicidade recorriam a pintores e escultores para o desenho dos cartazes.
Quatro empresas importantes do início do século XX nesta área foram: A "Lithografia de Portugal", fundada em 1893 em Lisboa; a "Litografia Nacional", fundada em 1894 no Porto; a "ETP - Empreza Tècnica de Publicidade" fundada em 1910 no Porto por Raul Caldevilla e que foi a introdutora em Portugal de cartazes impressos de grande formato para publicidade exterior; e a "Empreza Gráfica do Bolhão" fundada também no Porto.
Cartaz de 1921 da "Lithografia Portugal"
Cartaz de 1920 da "Litografia Nacional" e anúncio alusivo ao cinquentenário da mesma
Cartaz de 1916 da "ETP" Cartaz de 1920 da "Empreza Grafica do Bolhão"
Em 1933, é criado o "Secretariado de Propaganda Nacional (SPN)" sob a direcção de António Ferro. Este recruta vários dos melhores artistas modernos e, juntos, modernizam a informação relativa ao turismo e elevam o gosto português com surpreendentes participações nas exposições internacionais de Paris em 1937, e na de Nova Iorque em 1939, impulsionando a área da publicidade.
As campanhas publicitárias multiplicaram-se, não descurando a autorização do Estado, e produtos como o vinho, a fruta e as conservas de peixe começaram a ser anunciados ajudando na protecção da agricultura e da pesca. Também passou a ser publicitado e incentivado à compra de produtos nacionais, para apoio à indústria, e o cuidado com higiene, para precaver as doenças, bem como a praia como local de terapia e de lazer.
1936 1937 1944
1938
1947 1952 1955
O "ETP - Estúdio Técnico de Publicidade" foi fundado em 1936 pelo designer José Rocha, contando com a colaboração dos artistas gráficos Fred Kradolfer, Maria Keil, Bernardo Marques, Ofélia Marques, Carlos Botelho, Thomaz de Mello, Emérico Nunes, Stuart Carvalhais, Carlos Rocha, José Feio, Paulo Ferreira, Jorge Matos Chaves, Carlos Ribeiro, Carlos Rafael, Eduardo Anahory.
Além de campanhas publicitárias para empresas privadas, esta empresa foi responsável pelos pavilhões de Portugal, na Exposição Internacional de Paris de 1937 (com o arquitecto Francisco Keil do Amaral), na Exposição Internacional de São Francisco e de Nova Iorque em 1939, (com o arquitecto Jorge Segurado). Este grupo integrou ainda também as equipas da Exposição do Mundo Português, em 1940, da Exposição História Colonial e da Exposição Mundial de Bruxelas, em 1958.
Thomaz de Mello, Fred Kradolfer, Emmérico Nunes, Bernardo Marques, Carlos Botelho e José Rocha
António Ferro, pelo "SNI - Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo" (desde 1945), apoia incessantemente as artes gráficas, estimulando o desenvolvimento de vários modernistas, que trabalham tanto para o Estado como para publicidade comercial. As ruas passam a apresentar-se cheias de cores e formas e em 1942, o "ETP", pela mão de José Rocha e Fred Kradolfer, utiliza os tapumes das obras, enchendo-os com cartazes pintados e em relevo iluminado.
Obras de ampliação da “Pompadour” da Rua Augusta, com cartazes de José Rocha
Loja “Armazéns Reunidos, Lda.”, na Rua Primeiro de Dezembro, com cartazes de Fred Kradolfer
Loja do “Diário de Notícias”, no Rossio com cartazes de Fred Kradolfer
Carlos Rocha, com 29 anos de idade, sobrinho de José Rocha, funda em 1972 a "Letra - Estúdio Técnico de Comunicação Visual". Em 1982 José Rocha e Carlos Rocha fundem os ateliers "ETP" e "Letra" passando a designar-se a nova empresa por "Letra - ETP". Carlos Rocha faleceria no mesmo ano de 1982.
A seguir fotos de uma exposição no "Teatro da Trindade" em 1938, com cartazes da "ETP" da autoria de Fred Kradolfer e José Rocha. Lembro que foi neste ano que este Teatro foi equipado com um moderno sistema de projecção de cinema, tornando-o também numa sala de cinema.
Salão de Exposição (nota acerca do automóvel exposto no final do artigo)
Cartazes de Fred Kradolfer
Cartazes de José Rocha
Já agora, e por curiosidade, como se pode observar na foto anterior do salão de exposição, estava exposto também um automóvel britânico «LLoyd» 350 . Anunciava um consumo de 5,5 lts/100 Kms. e era equipado com motor de 2 cilindros «Villiers» com 347cc montado na traseira e com transmissão à roda traseira através de uma correia. Tinha suspensão independente às quatro rodas e era capaz de atingir a velocidade máxima de 80 Km/h. A produção deste automóvel iniciada em 1936 foi interrompida durante a II Guerra Mundial e foi retomada em 1946 mas já com um motor de 654 cc.
Outra área de intervenção da "ETP" era nos panos de cena publicitários dos teatros e cinemas de Lisboa.
Em 1975 comemoraram-se os 300 anos do cartaz em Portugal, tendo sido editado um cartaz pela Tipografia "Casa Portuguesa" alusivo à efeméride.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca Nacional de Portugal, Ephemera