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20 de dezembro de 2018
Quadra Natalícia
16 de dezembro de 2018
“Casino da Praia” em Cascais
O “Casino da Praia” localizava-se em Cascais, na Praça Miguel Bombarda, a que corresponde o actual Passeio D. Luís I. Propriedade da “Comissão de Propaganda de Cascais”, teve origem no “Club de Cascaes”, também referenciado como “Casino de Cascaes”, cuja abertura terá ocorrido em 1873.
Nota prévia: a designação ‘casino’ não possuía o significado actual. Casino era então um estabelecimento de âmbito recreativo e privado, no qual, entre as muitas actividades de lazer que se podiam realizar, tais como leitura, organização de bailes, concertos, casamentos, jantares e outros, também se jogava. Como curiosidade faz-se referência a um Acórdão do Tribunal Administrativo que, em 21 de Dezembro de 1904, considerou que os casinos estavam equiparados a “casas de recreio” e como tal também «sujeitos (também) a taxas de imposto municipal, quer seja ou não permitido neles o jogo de azar».
A construção do edifício do “Club” da Praia terá sido iniciada em 1873, sobre uma muralha que ligava os dois baluartes da, então, "Praia da Ribeira", numa área onde anteriormente se encontravam uns armazéns e um terraço do Ministério da Guerra. Terá sido José Joaquim de Freitas, Presidente da Câmara de Cascais e proprietário dos armazéns, que veio a comprar o terraço e a construir o edifício.
“Club da Praia” provavelmente ainda nos anos 70 do século XIX
“Club da Praia” com o Chalet Ornelas à direita na foto e mais próximo do club
A referência mais antiga, a um Casino em Cascais aparece, no livro “Apontamentos para a Historia da Villa e Concelho de Cascaes” de Pedro Lourenço de Seixas Borges Barruncho, editado em 1873, pelo que se pressupõe que este tenha sido o primeiro estabelecimento do género: «A villa carecia d'este logar de distracção, e veiu proporcionar-lh'o o sr. José de Freitas Reis, fazendo construir, para aquelle fim, uma bella casa, ainda por concluir, com quarenta e sete metros de comprido e doze de largo. Está situada, com a frente para o mar, junto á praia, na foz do rio que atravessa a villa.»
É de 10 de Outubro de 1874 uma pequena notícia publicada no jornal “Diario Illustrado” que faz referência a este Casino/Club, e que publico de seguida. Refira-se que, período de veraneio nesta estância era entre Setembro e a segunda quinzena de Outubro pois era nesta, altura do ano em que a família Real portuguesa o fazia, desde que em 1870 o Rei D. Luiz I tinha transformado a “Cidadella de Cascaes”, na sua residência oficial de Verão, (razão pela qual era também apelidada, de “Paço Real de Cascaes”). A presença regular da Família Real, trazia então muita gente a Cascais, tendo contribuído para o acelerar do desenvolvimento desta zona. A esse propósito destaca-se o facto de ter sido Cascais a primeira localidade portuguesa a ter iluminação pública eléctrica, em 28 de Setembro 1878, na “Cidadella de Cascaes”, por ocasião das festas de aniversário do príncipe D. Carlos.
10 de Outubro de 1874
7 de Outubro de 1875
5 de Setembro de 1876 7 de Setembro de 1877
Também Ramalho Ortigão, no seu livro “As Praias de Portugal; guia do banhista e do viajante” (1876) se referiu ao Casino: «- Se é verdade que se está dançando o fado no club de Cascaes!»
Entretanto, a 15 de Outubro de 1879 era fundada, também em Cascais, a “Companhia do Sporting-Club de Cascais”, com recintos para a prática de foot-ball, lawn tennis e soft-ball nos terrenos da antiga Parada da Cidadela e salão de bailes na Praça Serpa Pinto. Acerca deste Club pode ler-se na revista “Gazeta dos Caminhos de Ferro” de 16 de Setembro de 1895:
«Bem próximo encontra-se o ridente parque, a praça Serpa Pinto, moderno jardim embelezado por um largo artístico, um coreto, canteiros de flores, grandes tapetes de gazon, tendo ao centro o elegante Sporting-Club, centro de reunião da sociedade mais elegante que frequenta Cascais.
Esta bonita construção é do mais moderno estilo. A sala de baile, em octógono, espaçosa e de largo tecto de madeira escura, iluminada durante o dia através das largas e altas vidraças que a circundam, ou por um lustre e grande número de candelabros à noite, cheia de senhoras ostentando luxuosas toilettes, é de um belo efeito»
E acerca do “Casino da Praia”, prosseguia o artigo… «Além deste clube (Sporting-Club de Cascais), Cascais possuía o antigo Casino, que a nossa gravura apresenta debruçando a sua larga varanda sobre a praia.
Numa terra onde o grande atractivo é o mar que a banha, e onde esse mar se abriga numa maravilhosa bacia que permite os exercícios do sport náutico, um clube com uma vasta galeria sobre as águas á acessório indispensável. E o terraço do Casino de Cascais satisfaz a este requisito completamente, sendo de um belo efeito quando, em dia de regata, uma população imensa o enche em toda a sua grande extensão.»
Maria Rattazzi, no seu livro “Portugal de Relance” de 1880 escrevia acerca de Cascais:
«É um pequeno porto sem passeios, sem arvores, sem hospedarias, n'uma palavra, sem commodidades de espécie alguma. Entretanto, goza-se alli uma vista magnifica
do oceano e da barra ; mas mais nada ! Tudo está ainda por fazer. Seria necessário um especulador francez para tirar partido d'esse deserto.
«Vá ver o
Casino,» disse-me não sei quem. O Casino estava fechado, servindo o pavimento inferior de armazém de retém a um carvoeiro, mascarrado e hediondo, que
me informou que era escusado ir ver as curiosidades de Cascaes n'aquella estação e que alem disso o Casino era mais o tempo que estava fechado do que
aberto.»
Por outro lado, em 1899, num artigo publicado por Guilherme Rodrigues, no “Correio de Cascaes” pode ler-se:
«O casino de Cascaes. Existiam naquelle logar uns barracões e o terraço contíguo, tudo pertencente ao ministerio da
guerra. José de Freitas Reis comprou os barracões, edificou o club, ficando o terraço independente. Ha
poucos meses é que o referido ministerio o vendeu em hasta publica, sendo arrematado pelo senhor José
Joaquim de Freitas, filho do já falecido José de Freitas Reis, e actual proprietario do club»
Até à inauguração da linha de comboio entre Pedrouços e Cascais, em 30 de Setembro de 1889, mais tarde prolongada a Alcântara-Mar em 6 de Dezembro de 1890, e ao Cais do Sodré em 4 de Setembro de 1895, os transportes entre Lisboa e Cascais, no século XIX, eram maioritariamente asseguradas por vapores da “Parceria dos Vapores Lisbonenses”.
23 de Agosto de 1873 18 de Setembro de 1875
Vapor “Luzitano”
Por decisão camarária de 24 de Maio de 1860, e por sugestão de Joaquim António Velez Barreiros, Visconde da Luz, o Presidente da Câmara Municipal de Cascais, João de Freitas Reis, criava a nova estrada entre Cascais e Oeiras, obra fulcral no facilitar das comunicações entre Cascais e Lisboa, e que ficaria concluída em 1864. Por esta estrada se circulavam trens e omnibus que mudavam consoante a época do ano, pertencentes ao Augusto Sem-Pescoço, puxados por cavalos e muares guiados por afamados cocheiros. Estas viagens efectuavam-se duas vezes ao dia, uma de manhã e outra à uma hora da madrugada, com início na actual Praça da Câmara Municipal de Cascais e términus na Praça do Pelourinho, actual Praça do Município, em Lisboa.
Entretanto a 4 de Agosto de 1898, tinha sido inaugurado o “Casino Bahia de Cascaes”, localizado na Praça Costa Pinto de que eram proprietários de José António
Machado, José Coelho da Silva, e José Nunes Freie, tendo o “Diario Illustrado”
de 30 de Setembro de 1898, noticiava assim a inauguração do restaurante, e posterior
inauguração do Casino no dia 4 de Agosto:
«A direcção do Casino que é composta dos srs. José Antonio Machado, José Nunes Ereira e José Coelho da Silva teve a amabilidade de offerecer a todas as pessoas que se achavam no casino, um jantar deveras delicioso.
No restaurant serviu-se gratuitamente durante toda a noite uma grande variedade de deliciosas bebidas e toda a qualidade de eguarias.
O sextetto Matta Junior executou um escolhido e primoroso reportorio das mais apreciadas composições musicaes.»
Inauguração do “Casino Bahia de Cascaes” ou “Casino de Cascaes” numa sequência de anùncios de Agosto de 1898
30 de Setembro de 1898 3 de Agosto de 1898 4 de Agosto de 1898
O “Club da Praia”, que também era apelidado de “Casino”, viria a ser adquirido por José Nunes Ereira e Joaquim Pedada, que depois de construírem um edifício anexo com três andares, o reinaugurariam por volta de 1899/1900, com a mesma designação.
O jornal “Correio de Cascaes” de 8 de Julho de 1900 a propósito deste Club: «os banhistas teem alli onde se podem distrair; pode mesmo dizer-se que é a unica distração que à noite se encontra em Cascaes. Passam alli duas horas muito agradavelmente».
No mesmo ano de 1900 e em 17 de Agosto …
Restaurante no terraço do “Club da Praia” e anúncio de 23 de Agosto de 1906
Lembro que José Nunes Ereira, se tinha-se estabelecido por volta de 1880, como proprietário de um armazém de vinhos, localizado por volta de 1880 na Rua do Arco, em Cascais, como proprietário de um armazém de vinhos. Segundo refere João Aníbal Henriques, à revista “Sábado” - «Mais tarde, uma irmã sua, Engrácia, terá casado com outro ilustre proto-comerciante, Joaquim Pedada, dono de uma das mais prósperas mercearias da vila, situada defronte do armazém dos Ereiras. Os Pedadas, naturais do Algarve, eram de origem muito humilde.» José Nunes Ereira depois de fazer fortuna, viria a ser co-proprietário do “Salão Foz” com Raúl Lopes Freire em 1908 e do “Maxim’s - Club dos Restauradores”, também em 1908 e ambos no “Palácio Castelo Melhor” em Lisboa, e do “Casino Internacional “ no Monte Estoril.
“Club da Praia” visto de terra Mercado de Cascais com o “Club da Praia” em fundo
Fotografia aérea da localização do “Casino da Praia” na baía de Cascais
Em 26 de Agosto de 1918 o jornal"A Capital" escrevia acerca deste Casino:
Entramos nas salas que se encontram inundadas de uma verdadeira orgia de luz e onde uma multidão compacta de veraneantes e de turistas se acotovellam, na ancia fremente de assistir aos espectaculos de variedades que a empreza do Casino da Praia, com uma mestria digna de applauso e de registro, sabe organizar e fazer impôr.
Que silhuetas de belleza e de sonho teem passado pelo graciosos tablado d'este Casino? E, ao fazermos esta pergunta, logo evocamos a gentilissima rainha dos bailados Dorita Caprano, que na atmosphera aristocratica do Salão da Trindade deixou uma impressão bem funda do enthusiasmo e de agrado. Tambem, nos espectaculos de variedades, se tem exhibido o magnifico duetto Sefrannn Moreno - artistas de grande reputação mundial.
As matinées-concertos - realisadas as quinta-feiras e domingos - constituem o rendez-vous da sociedade elegante, não só d'aquella que costuma veranear em Cascaes, como ainda da que acorre de Lisboa, propositadamente para esse fim.
É primoroso o buffete do Casino da Praia, que dispõe ainda de um restaurante com um vasto terraço onde são servidos magnificos jantares.»
Antes e depois da construção do “Palacete Seixas” iniciada em 1920 e concluída em 1932
Joaquim Pedada, cunhado e sócio de José Nunes Ereira, além de vinho, vendia "variado sortimento de géneros de mercearia", tabacos, cereais e lenhas, num estabelecimento contíguo ao “Hotel do Globo”, quase em frente ao “Club da Praia”.
Quanto ao Jogo (vulgo “jogo de azar”) o jornal “Folha de Lisboa”, em 8 de Julho de 1898, relatava:
«Aqui ha tempos levantou-se uma - poeirada enorme, na imprensa, permitta-se o termo, - porque uns estrangeiros quaesquer propozeram ao governo estabelecer um Casino em Cascaes ou no Estoril, para ahi darem jogo franco, offerecendo consideraveis vantagens ao Estado, não só n'um forte donativo pecuniario, mas em importantes melhoramentos locaes, aformosando o sitio onde estabelecessem o Casino.
Disseram-se - milesimas cousas urgicas - a esse respeito; disse-se que era indecente e immoral o processo; que o governo pretendia envergonhar o paiz perante a Europa; que era cimentar a ruina dos proprietarios e negociantes nacionaes e "muchas cosas mas".
Triumpharam os moralistas. O governo rejeitou a proposta, os proponentes retiraram e perdeu-se o negocio.
Passam alguns mezes e que se vê? - A moralidade despresada sem beneficio nem proveito para ninguem.
(...)
Por toda a parte do paiz, nas praias e nas feiras funccionam roletas e se dá francamente jogo prohibido. Em Lisboa ha nada menos de quatro estabelecimentos, auctorisados, onde se faz a mais desenfreiada "batota".
(...)
E faz-se com pleno conhecimento da auctoridade, que bem sabe o que são essas academias de bilhar que ahi funccionam, na praça Luiz de Camões, rua do Alecrim, largo de S. Domingos e rua de S.Roque. (...)»
Mas em 12 de Fevereiro de 1899 eis que o jornal “A Lanterna” noticia …
Com o “Club da Praia” a mudar de designação para “Casino da Praia”, na segunda década do século XX, vários outros casinos já eram, ou viriam a ser, noticiados na Vila de Cascais, como: o “Casino de Cascaes” ou “Casino Bahia de Cascaes”, situado na Praça Costa Pinto (4 de Agosto de 1898); o “Casino Central” (1899), no nº 41 da Rua Visconde da Luz; o “Casino Club de Cascaes” (7 de Julho de 1900), na Rua do Arco, o “Riviera Palace” (1908)gerido por António do Carmo.
1924 20 de Agosto de 1931
Outros Casinos / Clubs em Cascais
14 de Agosto de 1899 5 de Julho de 1900
10 de Agosto de 1901 2 de Outubro de 1918
Em Agosto de 1930 o “Casino da Praia” era gerido firma “Freitas, Filhos” (fundada em 1770), dedicando-se a jogos lícitos, sessões cinematográficas às Terças, Quintas e ao fim-de- semana, chás dançantes à Quinta e ao Domingo, e serviço de baile, e almoços e jantares. O “Casino da Praia” acolhia, pontualmente, bailes de caridade (cujo produto revertia para a “Santa Casa da Misericórdia de Cascais”), e também conferências. Em 1932 fechou as suas portas, como Casino, mantendo apenas a actividade como “Cinema Casino da Praia”.
Desde os anos 20 e 30, do século XX, que o “Casino da Praia” exibia Cinema, num dos seus salões, que havia sido transformado para esse efeito. Até 1930 foi gerido, pela firma distribuidora de filmes “Castello Lopes, Lda.”, que em 1931 cede o lugar à firma “Freitas, Filhos”, que desde 1930 geria o Casino. a partir de 1931. Como curiosidade refere-se que a 2 de Novembro de 1932, o “Diario de Lisbôa” anunciava que, para celebrar o início da época de Inverno, o cinema do Casino da Praia passaria a sonoro.
Desde os anos 20 e 30 do século XX que o “Casino da Praia” exibia Cinema, num dos seus salões, que para tal tinha sido transformado, sendo gerido pela firma distribuidora de filmes “Castello Lopes, Lda.” até 1930, ano em que cede lugar à firma “Freitas, Filhos” que desde 1930 geria o Casino. Em 2 de Novembro de 1932 o “Diario de Lisbôa” anunciava que, para celebrar o início da época de Inverno, o cinema do “Casino da Praia” passaria a sonoro.
Em Cascais, já em 1911 tinha existido um animatógrafo, designado de “Baluarte Terrasse”, instalado onde viria a ser construída a casa do Conde de Monte Real, em 1920.
Por outro lado, o “Cine-Monte Estoril”, no Monte Estoril, era inaugurado em 17 de Março de 1935 no edifício do antigo “Stranger’s Casino” que já exibia «Grandes espectaculos animatográficos» em 1918.
“Baluarte Terrasse” na curva à esquerda na foto e publicidade em 1911
“Stranger’s Casino” no Mont’Estoril
«Grandes espectaculos animatográficos» em anúncio de 1918
Entretanto a actividade do “Casino da Praia”, com excepção da exibição cinematográfica, era intermitente e indiferenciada, como se poderá constatar pelo seguinte recorte do “Jornal de Cascais”.
10 de Março de 1934 1 de Julho de 1934
O “Casino da Praia”, viria a ser reaberto, pela sua proprietária a “Comissão de Propaganda de Cascais”, em Julho de 1934
5 de Agosto de 1934 22 de Agosto de 1934
Apesar do funcionamento intermitente, o “Casino da Praia”, reabriria a 27 de Julho de 1935 por Lopes Ferreira, empresário de Cascais, voltando a oferecer almoços e jantares, o usufruto da esplanada sobre a baía, bailes, espectáculos teatrais e conferências, e a projecção de filmes.
13 de Abril de 1935 15 de Junho de 1935
Pouco tempo antes da sua demolição …
O “Casino da Praia” viria a ser demolido durante os anos 40 do século XX.
Demolições, obras e arranjos na Praça Miguel Bombarda, e após as mesmas
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Arquivo Municipal de Cascais, Biblioteca Nacional Digital, Real Villa de Cascaes