Restos de Colecção: julho 2024

28 de julho de 2024

"Café Madrid" em Lisboa

O "Café Madrid" abriu a s suas portas, pela primeira vez, no ano de 1879 na Rua do Outeiro, 2 a 16 junto à Praça do Loreto ao Chiado, em Lisboa. Foi seu primeiro proprietário José Pinheiro Louza. 


"Café Madrid" do nº 2 ao nº16

Em 4 de Janeiro de 1880 o "Diario Illustrado" noticiava: 

«Está sendo muito frequentado o café Madrid, estabelecido na Praça do Loreto.O seu proprietario o sr. José Pinheiro Louza conseguiu com bastante trabalho e dispendio elevar aquelle estabelecimento ao grau de prosperidade em que já está o seu outro café denominado Trindade.No café Madrid ha agora um excellente serviço, ceias magnificas porque para isso ha ali um cosinheiro dos mais sabedores na sua arte, e creados bem educados, que é uma das condições essenciais para attrair frequencia.Se continuar assim ha de fazer fortuna, porque o local é excellente.»

Na mesma Rua do Outeiro, nº 1, 1º andar, já se tinha estabelecido, em Julho de 1817, uma nova casa de pasto, com anúncio no jornal "Gazeta de Lisboa". Não foi feliz este estabelecimento. Passados menos de quatro meses, anunciava-se o trespasse do estabelecimento, no mesmo jornal de 3 de Novembro de 1817.


Na "Gazeta de Lisboa" de 17 de Julho de 1817


Na "Gazeta de Lisboa" de 4 de Novembro de 1817


E, por curiosidade este nº 4-1ª andar, em 25 de Novembro de 1877 era inaugurado o "Restaurante Sousa" ...


25 de Novembro de 1877

Voltando ao "Café Madrid", não quis começar (se seguisse à risca a cronologia histórica) com um acontecimento negativo, também relatado pelo mesmo jornal "Diario Illustrado", ocorrido no ano anterior, em 19 de Dezembro de 1879:

«Na noite de ante-hontem para hontem houve uma grave desordem no café Madrid. Aos toques de apites appareceram muitos policias, algumas patrulhas de infantaria e cavallaria da guarda municipal.Dizem que forma prezos dois individuos.»

O "Café Madrid" estava estrategicamente localizado, perto de três dos mais importantes teatros de Lisboa: o "Real Theatro de S. Carlos" (a Rua do Outeiro dava directamente com o Largo de S. Carlos); o "Theatro do Gymnasio"; e o "Theatro da Trindade". Pelo que «Este café está sempre aberto até às 2 horas da noite porque muitos frequentadores de S. Carlos, da Trindade e Gymnasio concorrem ali depois dos espectaculos, tornando bastante animado o estabelecimento até essa hora.»


Foto de má qualidade mas que dá para ver ao fundo o "Café Madrid" com as suas tabuletas

E em 23 de Dezembro de 1883, continuam no mesmo jornal "Diario Illustrado" ...

«E, aos que forem aos theatros, aos bailes da Trindade, a toda a parte enfim onde é costume ir n'este tempo, recommendamos particularmente que passem pela rua do Outeiro, que entrem no café de Madrid e que joguem uma partida de bilhar em quanto se lhes prepara a ceia mais deliciosa d'este mundo ... e do outro.
Uma ultima recommendação. Se por qualquer motivo, que não vem para aqui, não quizerdes ser visto ou que dsejardes saborear mais tranquillamente a excellente ceia, entrae pela portinha pequena e lá encontrareis uns confortaveis gabinetes onde sereis servidos como n'um conto de fadas, a sós com o objecto d'elles.» 

Este café aparecia como uma hipotética «troca de galhardetes», com a capital espanhola Madrid, já que, em 4 de Novembro de 1875, tinha sido inaugurado naquela cidade o "Café Lisboa", sito na Calle Mayor, sendo seu proprietário Santiago Menéndez. Manteve-se a funcionar, sempre com o mesmo nome, até ao final dos anos 50 do século XX, altura em que encerrou definitivamente.


Interior do "Café Lisboa" em Madrid


Exterior do "Café Lisboa" em Madrid aquando da "Guerra Civil Espanhola" (1936-1939)

Em 1890 o "Café Madrid" já tinha outro proprietário: Antonio Crespo. Entre 1904 e 1907 encerra para reforma do espaço, ao que, o jornal "Vanguarda" noticia a sua reabertura em 5 de Janeiro de 1907:

«Reabre hoje as suas portas ao publico, depois de uma reforma completa, este antigo e bem acreditado café-restaurante, um dos melhor frequentados de Lisboa, installado na rua Paiva d'Andrada, 4 a 16.
O novo estabelecimento agora ampliado, comporta um grandioso salão-restaurante, uma magnifica sala de jantar para 30 pessoas, sete explendidos gabinetes reservados e um salão com seis bilhares. Os tres corpos do café são todos decorados em estilo arte-nova, tendo sido os trabalhos dirigidos pelo já notavel constructor sr. Jose Rodrigues Prieto, que nos dá mais uma affirmação brilhante do seu talento.
O salão do restaurante comporta 20 mezas pequenas com tampos de marmore e 80 cadeiras. Nas paredes ostentam-se magnificos espelhos emmoldurados a "pitchpine", madeira de que tambem se compõem os lambris, balcões do bufete, mobiliario, etc.
Os lambris são aureolados de lindos azulejos allemães, em relevo. Quatro explendidos lustres e vistosas placas, muito originaes, desenhos de Prieto, executados em Barcelona. Illuminam a luz electrica, o vasto salão, cujo pavimento é revestido de mosaico. No tecto admiram-se lindos "panneaux" (arte nova tambem), devidos ao pincel do distincto pintor-decorador Domingos Costa.
Dos trabalhos de polimento de armação e do mobiliario foi encarregado o considerado artista sr. Arnaldo Correia Graça.»


14 de Maio de 1890, com o intervalo dos nos. das portas errados. Deveria estar impresso  2- ...-16

Depois de um período de encerramento, ao mudar de proprietários, o "Café Madrid" reabre, em 13 de Maio de 1909, com novos proprietários, a firma "François Porcio & C.ª ", e «novo e excellente pessoal», além de uma «reforma em todos os serviços».


1900


1908


13 de Maio de 1909

Mas ... viria a encerrar menos de um ano depois, e reabriria com novo proprietário e «completamente reformado» em 5 de Março de 1910. A propósito uma pequena nota no jornal "Portugal":

«Reabriu este velho estabelecimento com novo proprietario e completamente reformado.
Sucursal do Restaurant Roma na Rua d'Assumpção 106, onde recebe comensaes».


5 de Março de 1910

Já agora uma referência publicitária ao "Café Madrid", da cidade do Porto, que nada tinha a ver com o de Lisboa.


1904

Em 1913 já a firma "Garage Central" de Eduardo de Fontes, e representante para Portugal da marca de automóveis "George Roy", ocupava as portas 14 e 16 (extremo norte), que tinham pertencido ao "Café Madrid".


1913

Depois de desaparecido este "Café Madrid" da Rua Paiva de Andrada, abriria outro "Café Madrid", nos anos trinta do século XX, desta vez na Rua 1º de Dezembro, no edifício do "Hotel Americano". Veio  veio substituir o "Grande Café d'Italia" (ex-Brasserie Principe) que ali tinha estado instalado desde  1922.


"Hotel Americano" e "Brasserie Principe"


"Grande Café d'Italia"


23 de Setembro de 1939

No artigo publicado na revista "O Século Ilustrado", nº 90 de 23 de Setembro de 1939, por altura da instalação de um novo balcão frigorífico neste estabelecimento, exaltava as suas qualidades.:

«Lisboa, que é hoje uma das capitais da Europa que conta maior numero de cafés, pode e deve envaidecer-se de ter, no «Café Madrid», um dos mais modernos, mais confortáveis e, sob todos os . pontos de vista, um dos mais convidativos.
O «Café Madrid», instalado desafogadamente, com uma arquitectura de linhas sóbrias e imponentes, na rua 1° de  Dezembro, nº 67, é hoje, e sem exagero, aquele que apresenta maior e mais escolhida frequêncía, reunindo-se ali os nossos mais conhecidos artistas, escritores, actores, industriais e comerciantes.
Isto se explica, por um lado, pelas condições de confôrto que a inteligente gerência proporciona à sua numerosa clientela, e, por outro, pela modicidade dos seus preços, pois, enquanto nos outros «cafés» se vende a chávena de café a oitenta centavos, no «café Madrid» custa apenas setenta centavos, e o mesmo sucede com a cerveja ao copo, que ali é tirada como em nenhuma outra parte, e que é vendida sómente a 1$50.
Desde a sua fundação até agora o «Café Madrid, cujo pessoal é tão numeroso quanto habilitado e correcto, tem seguído sempre uma marcha de forte desenvolvimento, e, tornando-se digno da preferência que o público lhe dá, de época para época, vem apresentando consideráveís melhoramentos, Queremos destacar, muito especialmente, a instalação frígorífíca do «Café Madrid», há dias inaugurada, cuja originalidade e vantagem são das mais completas, o que torna essa casa a melhor do Pais. Essa instalação frigorifica foi primorosamente executada pela firma especializada, R. Oyarzun, Lda., da rua da Misericordia, 57 - 59. De maravilhosa concepção técníca, o balcão-frígoríríco, marca Oyarzun do «Café Madrid» é dos mais completos da Europa, obedecendo a sua confecção aos mais modernos processos da técnica do frio. Além das díversas camares e vitrine, com diferentes temperaturas, possui ainda êsse novo balcão um serviço de refrígeração ínstantânea de cerveja, água e soda, por processo inteiramente novo introduzido em Portugal, pela firma R. Oyarzun, Lda., que não se poupa a esforços para apresentar as últimas novidades do ramo de Refrigeração Electro-Automatica a que com tanto êxito se vem dedicando. O exterior do balcão apresenta-se impecável em moderna pintura a celu1ose, com diversas aplicações em aço espelhado, honrando sobremaneira a indústria nacional e a firma construtora.


1 de Setembro de 1939


12 de Julho de 1941

Quanto ao espaço, outrora ocupado pelo "Café Madrid", na Rua Paiva Andrada, fica aqui foto de 1970.


Rua Paiva d'Andrada em 1970

23 de julho de 2024

Sapataria Garrett

A "Sapataria Garrett", foi fundada por Serafim Castella em 1920, na Rua Garrett, 94, em Lisboa. Tinha na altura como vizinha, à sua direita e fazendo esquina com a Rua Serpa Pinto, a prestigiada "Camisaria Carneiro", que tinha aberto pela primeira vez ainda no século XIX, e que em 1916 «bastante antiga e acreditada, sentiu ha pouco, como todas as casas com larga existencia, a necessidade fatal de remodelar por completo as suas instalações». Viria anos mais tarde, em 1924, a ser substituída pela "Sapataria Chiado" e, por sua vez, adquirida pela "Sapataria Garrett" ampliando deste modo as suas instalações. Vizinho à sua esquerda era a "Farmácia Durão".




Ainda com a "Camisaria Carneiro" como vizinha na esquina. Na esquina de cá a "Maison Benard"


 Já com a "Sapataria Chiado", do mesmo dono da "Sapataria Garrett" ("Castella, Lda.") no lugar da "Camisaria Carneiro"


1940

Do livro "A Praça de Lisboa" de 1946, retirei o seguinte texto relativo à "Sapataria Garrett":

«Com o aparecimento da Sapataria Garrett em 1920, quiseram os seus fundadores desenvolver e aperfeiçoar o fabrico manual de calçado de luxo no nosso País que, até então, muito havia decaído.
A sua actuação, durante o quarto de século da sua existência, tem sido sempre guiada pelo desejo de estimular a arte dêste ramo de indústria que tão apreciado é não só em Portugal como até no estrangeiro onde os nossos calçados chegam, principalmente nos principais países da Europa, que os recebem e distinguem com as mais elogiosas referências.
Orientada com superior critério, tendo ao seu serviço pessoal escrupulosamente escolhido, a Sapataria Garrett alcançou com lisonjeiro êxito o objectivo que se propôs á sua actividade e assim, desde há muitos anos que a sua posição no mercado nacional é de apreciável prestígio, justificando com a quantidade da sua manufactura e com os modelos de sua criação a acentuada preferência que lhe dispensa uma clientela numerosa e seleccionada.
Tendo concorrido a diversas competições internacionais ao lado das mais reputadas casas do género, a Sapataria Garrett sempre honrou o seu nome, conquistando para o País os mais honrosos galardões, tais como:
1922 - Grande Prémio, da Exposição Internacional do Rio de Janeiro;
1929 - Medalha de Ouro, da Exposição Internacional de Barcelona;
1930 - Grande Prémio, da Exposição Internacional de Sevilha, e ainda
1932 - Membro de Júri, da Grande Exposição Internacional Portuguesa. »


Na Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1923


1926


1927

Não consegui saber da constituição original da sociedade "Castella, Lda.", além da participação do seu sócio fundador Serafim Castella. No entanto esta s sociedade foi alterada em escritura de 21 de Setembro de 1961 e ficou constituída pelos seguintes sócios: Serafim Castela Júnior, João Rodrigues Seixas, Adriano Cardoso Mendes, António Anjos Veríssimo, e João Ribeiro Vaz. Em 25 de Julho de 1977, e segundo nova escritura pública, saíram da sociedade os dois últimos, ficando constituída a mesma por: Serafim Castela Júnior, João Rodrigues Seixas, Adriano Cardoso Mendes, ficando o valor do capital social em 1.500.000$00, distribuído por 3 cotas iguais de 500.000$00. A sede da firma na Rua Garrett 96 a 98, em Lisboa.

"Sapataria Garrett" e "Sapataria Chiado", em foto de 1970

Por esta altura a "Sapataria Garrett" acaba com a vizinha "Sapataria Chiado" (nº 98), que era do mesmo proprietário - firma "Castella, Lda." -  ampliando, desse modo, as instalações da primeira.

Foto do lado da Rua Serpa Pinto, no fatídico dia do incêndio no Chiado em  25 de Agosto de 1988 




Segundo o "Arquivo Histórico da Presidência da República", Armando Ferreira, o operário da oficina da "Sapataria Garrett", foi proposto, em 1926 para a condecoração de Cavaleiro da Classe de Mérito Industrial. Não viria a ser contemplado ...

A "Sapataria Garrett" participou, em 23 de Janeiro de 1928, na iniciativa "Semana dos Artistas", promovida pela primeira vez em Portugal, e pelo jornal "Diario de Lisbôa", e que  teve lugar entre 22 e 29 de Janeiro de 1928. Este evento, ao qual aderiram dezenas de estabelecimentos comerciais da baixa lisboeta, teve como finalidade a angariação de fundos para o "Cofre de Beneficência do Grémio dos Artistas Teatrais", e no qual as e os artistas de teatro encarnaram o papel de “Caixeiros Comerciais”.



Rosalina Sayal e Alda de Sousa "atendendo" clientes na "Sapataria Garrett", com o actor Armando de Vasconcelos "supervisionando" ...

«Na Sapataria Garrett estão Alda de Sousa e Rosalina Sayal.
Armando de Vasconcelos não consegue descalçar um freguês a quem está provando botas, e grita atrapalhadíssimo: 
- Como hei-de eu descalçar esta bota! »

Quando Vieira da Silva e Arpad chegaram a Lisboa, em Setembro de 1939, quando muitos artistas estavam a ser convidados a colaborar nos preparativos dos festejos centenários, culminando com a "Exposição do Mundo Português em 1940. O "SPN - Secretariado da Propaganda Nacional", na pessoa de seu dirigente António Ferro, propôs um concurso denominado Exposição de montras do Chiado, que pretendia ornamentar tantas vitrines quantas existissem na Rua Garrett, unindo o espírito e o bom gosto. Participaram entre eles Milly Possoz, Lino António, Maria Keil e Vieira da Silva que concorreu com as vitrines: "Luva com Flores" para a casa "Luva Verde", "Sapatos de Sete Léguas" para a "Sapataria Garrett" e, ainda, "Bailado de Tesouras" para a "Sheffield House" (vizinha da loja "Ao Último Figurino"), com a qual foi premiada. 

Terá encerrado, definitivamente nos anos 90 do século XX. No seu espaço original, nº 94, já passaram alguns estabelecimentos de modas, sendo actualmente uma óptica do grupo "André Ópticas", desde Março de 2023. Quanto à antiga loja nºs: 96 e 98, esquina com a Rua Serpa Pinto, já foi uma loja da cadeia "Guess".



Modas "Jahel", antes da "André Ópticas" e os mui conhecidos "Tuc-Tuc"


Interior, de muito bom gosto, da nova loja da "André Ópticas", inaugurada em Março de 2023

19 de julho de 2024

XV Aniversário do "Restos de Colecção"


   Hoje, 19 de Julho de 2024, o blog “Restos de Colecção”, fundado e editado por José Augusto Leite, assinala o seu décimo quinto aniversário. 


   Foram publicados, até hoje e ao longo destes quinze anos 2.264 artigos/apontamentos históricos, versando inúmeros temas e localidades. Foram publicadas cerca de 20.000 fotos, documentos, anúncios publicitários, cartazes, etc. Foram publicados cerca 5.200 comentários de leitores.

    

Apresentação e formatação iniciais do blog

   Aos leitores, fiéis seguidores - alguns desde "a primeira hora" - e amigos, cumpre-me agradecer não só as suas visitas, como comentários, correcções, sugestões e informações adicionais, que sempre acrescentam mais valia aos artigos aqui publicados. Lembro que, todo o trabalho deste tipo não está, nem nunca estará, isento de erros, imprecisões e omissões, pelo que agradeço, mais uma vez, a vossa preciosa colaboração nas pertinentes e necessárias correcções.



"Um Barbeiro em Lisboa" - Primeira publicação do blog, em 19 de Julho de 2009

   Ao longo destes 10 anos foram muitas as inovações e alterações na apresentação e formato deste espaço, mas nunca desvirtuando ou alterando o seu modelo editorial. Tenho tentado tornar o blog o mais organizado, funcional, apelativo e acessível aos leitores, que me é possível. Foi criada a barra de menús onde tudo o que está publicado está rapidamente acessível, a partir de índices (alfabético e por assuntos), com links directos para os respectivos 2.264 artigos históricos. Na mesma barra de menús poderão encontrar listagens de Hotéis, Cinemas, Filmes Portugueses, Teatros, Instituições Bancárias, Companhias de Seguros, etc. 


   Em virtude destas alterações e da quantidade de informação publicada, está disponível na barra lateral, o "Guia do Blog" em formato "Google Slides" (equivalente ao "Microsoft PowerPoint" ), para que, ao consultar, possam tirar partido de todas as funcionalidades, disponibilizadas neste espaço



   Igualmente, três livros digitais (e-books) - Cinemas de Lisboa (1896-2011), Teatros de Lisboa (1591-1976) e Cinema Português (1896-1980) - da minha autoria, estão disponibilizados para consulta e download gratuito, em formato PDF, na barra de menús no título E-Books (RC). Nada de especial e profissional, mas foi de boa vontade ...                        


    

   Muito me apraz verificar, que ao longo destes quinze anos do "Restos de Colecção", o seu conteúdo tem auxiliado e "alimentado" variados polos de interesse, que vão desde estabelecimentos de ensino, associações culturais, trabalhos académicos, organismos e entidades oficiais, passando por jornais, revistas, televisões, blogs, páginas de Facebook, Instagram, etc. Além de que, dentro das minhas possibilidades e conhecimentos, vou diariamente auxiliando a quem a mim recorre, o que faço com todo o gosto.
  
   Para finalizar, queria expressar, mais uma vez, os meus agradecimentos, à disponibilidade de conteúdos das seguintes entidades: “Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian”; “Hemeroteca Digital" - Hemeroteca Municipal de Lisboa"; “Arquivo Municipal de Lisboa”; “Arquivo Municipal do Porto”; “Biblioteca Nacional Digital”; "Arquivo Nacional da Torre do Tombo"“Património Cultural" - Direcção Geral do Património; “SIPA" - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico; "Biblioteca da Universidade de Coimbra"; "Fundação Mário Soares" (Jornal "Diario de Lisbôa"), CETBase, entre outras Bibliotecas e Hemerotecas espalhadas pelo país, e igualmente importantes. Nada do que tenho vindo a desenvolver, seria possível sem o trabalho, dedicação e esforço dos funcionários, curadores e conservadores destas prestigiadas instituições. Igualmente, agradeço aos autores que disponibilizaram muitos valiosos trabalhos académicos,  científicos e históricos, publicados online, e de artigos e apontamentos em blogs de grande qualidade, que muito me auxiliam na vertente de pesquisa.

   Com os meus sinceros agradecimentos e estima, os melhores cumprimentos a todos e até ao próximo artigo/apontamento histórico.

José Augusto Leite

13 de julho de 2024

"Grande Hotel de Portugal" em Viseu

O "Grande Hotel de Portugal", abriu as suas portas na Avenida Alberto Sampaio, em Viseu, pela primeira vez em 1910. Foi mandado construir expressamente para esse fim, pelo seu proprietário o famoso cavaleiro tauromáquico Manoel Cazimiro de Almeida (1854-1925).


1910

De referir que por esta altura só existia outro hotel em Viseu: o "Hotel Oliveira", na Rua do Carvalho e propriedade de Francisco José d'Oliveira.

1913

Manuel Casimiro de Almeida, monárquico convicto, foi o iniciador da dinastia e o primeiro cavaleiro a tomar a alternativa na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, em 21 de Agosto de 1892, apadrinhado por Alfredo Tinoco. Já se tinha estreado como cavaleiro tauromáquico em 1877, na Praça de São Pedro do Sul. Seu irmão, Fernando Cazimiro de Almeida, também foi cavaleiro, tal como seu filho José Casimiro de Almeida. Fundou a "Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Viseu" da qual foi comandante, até ser nomeado Inspector dos Serviços de Incêndios.

«Manoel Casimiro d'Almeida é apreciado sportman, como velocipedista, caçador, nadador, amador de música, e um dos mais notaveis cavalleiros, como mestre d'equitação e toureio.» in: jornal "A Trincheira".

Monárquico convicto, envolveu-se em lutas políticas, nomeadamente na tentativa de restauração da monarquia em Viseu e outras terras da Beira, em 1919, o que lhe causou alguns problemas.

1913

Classificado de 3ª classe, tinha 26 quartos oferecia «todas as commodidades necessarias para os forasteiros, gabinete de leitura, casa de banho, garage, etc.» Em 1913, os preços das diárias iam desde 1$200 réis, preços, que a fazer fé no anúncio publicitário que publico de seguida, se manteriam pelo menos até 1916 ... A gerência era exercida pelo próprio Manoel Cazimiro.


Sala de Jantar do Hotel, com Manoel Cazimiro sentado na mesa junto ao empregado

1916


"Grande Hotel de Portugal" num postal da época colorizado

Manoel Cazimiro retirou-se das lides tauromáquicas na Praça de Touros de Espinho, a 28 de Agosto de 1921 e morre em 1925. A gerência do Hotel passa a ser exercida pelo seu irmão Fernando Cazimiro de Almeida.

Segundo o roteiro "Hoteis e Pensões de Portugal", de 1939, as diárias variavam entre os 28$00 e os 40$00. O pequeno-almoço custava 3$00, o almoço 12$00 e o jantar 14$00. Neste ano a gerência ainda continuava a ser de Fernando Cazimiro.


1931


1934


1944


Cabecário de papel de carta em 1949


Etiqueta de bagagem

Em 1939, e também segundo o roteiro "Hoteis e Pensões de Portugal", existiam em Viseu os seguintes equipamentos hoteleiros:

Grande Hotel Avenida - Proprietário: João de Matos - Rua Miguel Bombarda (frente ao Rossio) - 40 quartos
Grande Hotel de Portugal - Gerência: Fernando Cazimiro - Avenida 28 de Maio esquina com a Rua Casimiros - 26 quartos
Hotel Regional - 49 quartos
Pensão André - Proprietário: António de Oliveira - Praça da República - 12 quartos
Casa de Hospedes Barreto - Proprietário: João Barreto - Rua Formosa - 17 quartos
Hospedaria Mário Bispo - Proprietário: Mário Francisco Bispo - Campo do Viriato - 12 quartos

Na década de 50 do século XX, o "Grande Hotel de Portugal" encerrou definitivamente, e no seu edifício instalou-se o "Colégio de Santo Agostinho", tendo como primeiro diretor o Dr. Francisco Sales Loureiro.

O "Colégio de Santo Agostinho" na, então, Avenida 28 de Maio actual Alberto Sampaio

No seu lugar, actualmente, um prédio de habitação e lojas, esquina com a Rua Casimiros

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian,  Delcampe.netHemeroteca Digital, Garfadas on line, PorViseu