A "Companhia Cinematographica de Portugal" foi fundada em 17 de Dezembro de 1912, tendo a sua sede na Avenida da Liberdade, 18 em Lisboa. Foram seus principais fundadores, Raul Lopes Freire (dono do "Salão Central"), o alemão Arthur Gottschalk (engenheiro), o austríaco Carlos Stella, Leopoldo O'Donell (dono do "Olympia"), Salomão Levy, etc.
Em 20 de Dezembro de 1912 o jornal "A Capital" noticiava:
«Inaugura no dia 1 do proximo mez de janeiro as suas installacoes a Companhia Cinematographica de Portugal, successora da Empresa Portugueza Cinematographica e da União Cinematographica Limitada. Esta companhia, cujo capital realisado à de 400:000$000 réis, destina-se á compra, venda, fabrico e aluguer de fitas e apparelhos cinematographicos, bem como a exploração de todos os negocios que digam respeito a estas industrias. Fazem d'ella parte, como clientes e accionistas, quasi todos os animatographos de Lisboa, Porto, provincias, ilhas e colonias, o que garantira um futuro prospero a nova empreza, e e um penhor seguro da apresentacão de films, que, se não fosse a formacão da nova empreza, decerto não viriam a Lisboa pela sua elevação de precos.»
A 30 de Janeiro de 1913, a "Companhia Cinematográfica de Portugal" estreia, no "Chiado Terrasse", "Salão Central", "Salão da Trindade", "Olympia" (Lisboa), e no "Jardim Passos Manoel" (Porto), o film "Desastre do Monoplano 'Gnome' na Amadora", em reportagem da "Lusa Film" sobre a ocorrência em 26 de Janeiro; o piloto francês Sallé assistiu no "Salão da Trindade" e, a 6 de Fevereiro, viria a ser vítima de outro acidente em Belém, também filmado, com o aeroplano "Bleriot".
5 de Setembro de 1913
«Hoje, o mercado cinematográfico português é dominado, directa ou indirectamente, pelas grandes majors americanas. Mas nem sempre foi assim. Nas primeiras décadas de cinema, as salas eram dominadas pelos filmes das casas produtoras europeias, nomeadamente a Pathé, a Gaumont, a Films d’Art, a Italo Films, a Ambrosio e a Eclair, representadas pela Empresa Cinematográfica Portuguesa, fundada em 1908 pelo austríaco Karl Stella.
Em 1912, Stella associa-se ao luso-irlandês Leopoldo O’Donnell e ao alemão Arthur Gottschalk para criar a Companhia Cinematográfica de Portugal, uma distribuidora ainda mais forte. Nas salas nacionais, o cinema americano era então escasso e pouco conhecido, resumindo-se essencialmente a alguns filmes de Edison, sendo dominantes as produções francesas, italianas, alemãs e escandinavas.» in blog: "À pala de Walsh" por Paulo Cunha (2019)
Principal actividade profissional de Arthur Gottschalk, desde 1903, em anuncio de 1908
Leopoldo O'Donnell e Raul Lopes Freire
Devido à entrada de Portugal na Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), foram expulsos de Portugal dois nomes então influentes nos sectores da exibição e distribuição, o alemão Arthur Gottschalk e o austríaco Carlos Stella. Este último, fora uma figura particularmente importante nos primeiros tempos da actividade de distribuição cinematográfica em Portugal e ambos, como já foi referido, ocupavam lugar de destaque entre os sócios fundadores da "Companhia Cinematographica de Portugal", que, desde 1916, controlava o "Cinema Condes" (ex-"Theatro da Rua dos Condes" desde 1916), a mais recente sala de estreia da capital. Os destinos desta companhia ficariam depois nas mãos da família Levy.
Por outro lado numa passagem do livro "Praça de Lisboa", de 1945, na história da empresa "Salm Levy Junior & C.ª" (escrita pela própria empresa) pode-se ler:
«Começando a dedicar-se ao comércio de importação de fitas através da firma Salm Levy & C.ª, Salomão Levy, em 1912, formou um organismo distribuidor, a Companhia Cinematografica de Portugal, actualmente a mais antiga entidade similar, e fomentou a criação e desenvolvimento de novas casa de espectáculos. Assim financeou as instalações do cinema Olimpia, em Lisboa, e do Pró-Cine, em Santarém, vindo depois a explorar o Chiado-Terrasse, Odeon e Palácio, além de outros cinemas nesta capital e nos Açores. A exploração do Chiado-Terrasse ainda se conserva nas mãos de Salm Levy & C.ª.»
A firma "Salm Levy Junior & C.ª" fundada, em Lourenço Marques, Moçambique em 1905 por Salomão Levy Junior, tinha como seu sócios seu irmão Isaac Levy e Carlos Vicente Ribeiro, ambos residentes e comerciantes em Lourenço Marques. A sua entrada no mundo cinematográfico teve início com a compra «no estrangeiro um lote de fitas com destino a Lourenço Marques, furtando a colónia portuguesa a influência de estranhos. Se a transacção o não compensou financeiramente, deixou-lhe, pelo menos, a satisfação moral dum dever cumprido e o interesse pela sétima arte.»
Para o sucesso de Salomão Levy, na área cinematográfica muito contribuiu o facto de ter criado em Madrid, a "Companhia Cinematografica Hispano-Portuguesa" a fim de poder comprar directamente os direitos das fitas para Portugal, que anteriormente eram adquiridos por intermédio dos importadores espanhóis, os quais dispunham da sua concessão exclusiva para a Península Ibérica.
4 de Junho de 1932
A "Portugalia Film", fundada em 1909 por João Freire Correia e Manoel Cardoso, foi reconstituída em 17 de Março de 1921, e de cuja direcção faziam parte Salomão Levy Junior, Dr. Augusto de Castro, D. Jose Barahona, Dr. Alberto de Magalhães de Barros, Jorge Matos e Júlio Petra Viana. Tinha como director de propaganda José Maria Pinto Coelho e como diretor artístico e de exploração Leopoldo O'Donell.
Salomão Levi Junior financiaria alguns filmes portugueses, entre os quais "Lisboa Crónica Anedótica" dirigido por Leitão de Barros, em 1929, com a assistência de realização de António Lopes Ribeiro. Antes, e através da sua "Espectaculos de Arte, Lda.", tinha produzido os filmes de D. Virginia de Castro e Almeida, "Olhos da Alma" (1923) e "Sereia de Pedra" (1923)
23 de Junho de 1929
Ambos os anúncios de 29 de Dezembro de 1932
Terceiro andar do Palacio Povolide (Atheneu Comercial) onde funcionou a "Companhia Cinematográfica de Portugal", em foto de Maio de 1934
Salomão Levy Junior, através da firma "Salm Levy Junior & C.ª", ainda constituiria, em 1943, a firma "A Internacional - Sociedade de Cinematografia, Lda." ("Internacional Filmes"), e que em 16 de Novembro de 1950 procederia a um aumento de capital de 25.000$00 para 100.000$00 com a entrada dos novos sócios Abraham Joshua Levy e a "Sociedade União Industrial , Lda.". Já eram sócios as firmas "Salm Levy Júnior & C.ª", "Comptoir Universal de Cinematografia - James & C.ª", Joshua Levy, Isaac Levy, Miriam Sequerra e Moses Bensabat Amzalak.
17 de Abril de 1933
10 de Novembro de 1941
Para termos uma ideia da negociação de aluguer de films - neste caso para o cinema da Pampilhosa (ou Pampilhosa do Botão no município da Mealhada) na época 1931/1932, propriedade da "Empresa Cinematográfica Pampilhosense" (1924-1986) - transcrevo um parágrafo retirado da Tese de Doutoramento em História de Joaquim José Carvalhão Teixeira Santos intitulada "O Cinema no Entroncamento do Progresso - Contributo para a História do Espectáculo Cinematográfico em Portugal" - Vol I (FLUC - 2011):
«Na resposta da Companhia Cinematográfica de Portugal referia-se, por exemplo, a propósito das condições de contratação do filme Os Miseráveis, que a empresa dispunha de duas cópias, em bom estado, sendo debitada a todos os clientes da categoria deste cinema da Pampilhosa pelo preço de 300$00 por cada espectáculo, ou seja, de 600$00 por toda a fita. Comprovava-se, assim, a escassez de um número de cópias em circulação que só podia levar a um maior tempo de espera, de acordo com uma hierarquia de salas. Verificava-se, ainda, o sentido negocial mais amplo de que se podia revestir o acesso, em condições vantajosas, às produções de maior vulto: “Como Vª Sª nos promete marcar outras fitas, e tratar-se dum salão de poucos recursos, podemos fazer-lhe o preço excepcional de 25$00 por cada parte ou seja 450$00 pela fita completa”. O custo mais elevado do aluguer de certos filmes definia-se, como se compreende, desde a sua produção, passando pelas condições firmadas para efeitos da sua distribuição no nosso país: “A Hora Suprema não nos é possível alugá-la por menos de 400$00, em virtude de tratar-se dum filme que nos custou imensamente caro”. Esperando mais algum tempo, foi possível exibir essa longa metragem na Pampilhosa, a 4 e 5 de Janeiro de 1930, por um preço de aluguer de 300$00.»
A actual "Companhia Cinematografica de Portugal, S.A.", sediada na Rua Luciano Cordeiro, 80 -1º F, em Lisboa encontra-se inativa. A sua última actividade oficial era: «Distribuição de filmes, de vídeos e de programas de televisão».
E para terminar, foto dos actuais inquilinos da loja onde foi a primeira sede da "Companhia Cinematographica de Portugal", na Avenida da Liberdade, 18 em Lisboa. Para variar .... "Tabacaria e Turista".
Via Google Maps (2024)
2 comentários:
A tabacaria já existia há 60 anos e pertencia, como outras na região, aos irmãos Marmelada.
Não sei se, ainda, é da família ou foi vendida a indianos/chineses.
Cumpts.
Eu referia-me apenas ao pormenor da tabuleta .... Cumprimentos
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