João Garrido, foi pioneiro na indústria automóvel em Portugal e principalmente na cidade do Porto, tendo sido um dos primeiros importadores de automóveis para o nosso país. Iniciou a sua actividade, em 1891, com o seu estabelecimento de motociclos e triciclos a motor na Rua de Passos Manuel, 16,18 e 20 na cidade do Porto.
O jornal «O Velocipedista», de 1 de Agosto de 1895 anunciava:
João Garrido desenvolveu infra-estruturas próprias, para dar assistência aos automóveis vendidos no seu estabelecimento e também os que eram importados directamente pelos clientes. Para tal, no início de 1904 inaugura a “Auto-Palace do Porto” localizada na confluência das ruas Duque de Saldanha e S. Lázaro, sendo anunciado como um «edifício expressamente construído para este fim.»
Essas instalações mantiveram-se como o núcleo central da actividade dos "Estabelecimentos João Garrido" enquanto o sector administrativo mantinha-se na Rua Passos Manuel. As oficinas eram chefiadas por Benedicto Ferreirinha, que foi um dos técnicos mais importantes de motores no princípio do século XX em Portugal.
João Garrido e Benedicto Ferreirinha chegaram a construir um protótipo, com motor da marca francesa "Aster", em 1899. Veio a servir como publicidade à sua garagem e possívelmente teria sido o seu sucesso comercial, senão aparecessem marcas estrangeiras feitas em série. Uma delas, a "Charron (C.G.V. - Charron, Girardot et Voigt)", viria a ser representada no Porto por este estabelecimento, a partir de 1901.
Porém, Benedicto Ferreirinha, em finais de 1904 resolve criar a sua própria
empresa de representação, denominada “Empreza Automobilista do Porto”, e para tal adquiriu a agência da "Empreza Automobilistica Portugueza" (sedeada em Lisboa) na Rua de S. Lázaro, 199 que já ali existia desde 1903, continuando a garantir as representações da “Mercedes”,
“Richard-Brazier” e “Darracq”, bem como das motos FN, que foi, aliás, a marca
onde mais investiu.
Outra iniciativa pioneira de João Garrido aparece em 1906, havendo referências sobre a existência de uma viatura de aluguer, um "Decauville", fruto da iniciativa da sua empresa que, em 1910, disponibiliza um "Charron" de 12 cv equipado com taxímetro, ano em que em Lisboa também deverão ter sido adoptados.
Houve uma discussão acerca da primeira viatura motorizada a entrar em Portugal, se o "Panhard et Levassor" importado pelo Conde de Avilez - marca que viria ser importada e comercializada pela "Garage Panhard-Palace", em Lisboa - ou uma "bicicleta com motor" importada por João Garrido em Julho de 1895. pelo que vou transcrever o seguinte texto elucidativo acerca do assunto:
«Embora seja interessante perceber se este veículo foi importado antes do Panhard et Levassor do Conde de Avilez, é fundamental integrá-lo, desde já, na história do automobilismo nacional. Uma conhecida intelectual de Viana do Castelo, Maria Emília Sena de Vasconcelos, publicou um pequeno trabalho sobre o automobilismo naquela cidade e embora aborde a actividade de Sebastião das Neves na área dos transportes não se refere nunca ao tipo de viaturas por ele utilizadas. Pouco se sabe sobre este automóvel a vapor que ter-se-á instalado em Viana do Castelo, pelo que até prova em contrário, o primeiro veículo motorizado que entrou no nosso país foi a motocicleta importada por João Garrido em 1895, ainda antes do Panhard et Levassor do Conde de Avilez.
Um "Panhard et Levassor" na Estrada da Circunvalação, no Porto
Os Estabelecimentos João Garrido terão induzido involuntariamente nesta história alguma “névoa” pois no seu famoso catálogo de 1903 escreveram que esta ”bicicleta com motor” tinha sido importada em 1894. Mas o filho de João Garrido, em 1929, consultando os seus arquivos, esclarece em definitivo a data de importação desse veículo histórico: Julho de 1895. A imprensa desportiva do Porto deu alguma cobertura a este veículo e a notícia da sua importação pode ser confirmada pelo periódico “O Velocipedista” que se referiu assim à “bicicleta com motor a petróleo”:
«O conhecido industrial e comerciante portuense, o nosso amigo João Garrido, despachou no dia 29 do mês findo, na Alfândega de Lisboa, uma bicicleta com motor a petróleo e que chegou ao Porto no dia seguinte, anteontem. O Sr. Garrido vai fazer uma experiência pública deste aparelho em um dos velódromos do Porto. A bicicleta em questão tem estado exposta no estabelecimento que o Sr. João Garrido possui à rua Passos Manuel.
A dita demonstração pública foi efectivamente efectuada,189 mas de acordo com as afirmações de João Garrido Filho, a bicicleta a motor nunca chegou a ser vendida. Há igualmente registo de que a empresa Santos Beirão & Henriques, Lda, conhecida como Casa Memória, também terá importado veículos com motor ainda no século XIX, o primeiro dos quais terá chegado pouco tempo depois do Panhard do Conde de Avilez.
Em 1895, na imprensa lisboeta divulgava-se a seguinte notícia, sob o título “Bicicleta a vapor”:
«Chegou ontem de tarde a biciclete movida a petróleo para o nosso amigo Santos Beirão. É uma magnífica máquina de 1,5 metros de comprimento, tendo o motor, lâmpadas, válvula de segurança, tubos de respiração, registo, travões, etc., colocados na frente do selim. Tem a força de 2 e meio cavalos, sendo de grande vantagem para os velocipedistas pois que vence quase todas as subidas. Acha-se em exposição na Casa Memória, ao Rossio, da qual é proprietário o conhecido comerciante Sr. Santos Beirão. Brevemente far-se-ão experiências.» texto retirado da fonte indicada em Nota, no fim do artigo.
Em 1908, João Garrido já «Depositários em Portugal» dos pneus franceses "Michelin". Não sei quando esta casa cessou as suas actividades, em definito, mas em 1929 ainda existia, como "João Garrido & Irmão, Lda." como atesta o seguinte anúncio publicitário publicado revista portuense "Guiauto".
fotos in: Foto-Porto, Hemeroteca Digital de Lisboa, Rodas de Viriato
2 comentários:
Olá caro José Leite, depois de ler este post renovei as minhas energias, gostei em particular da referencia ao Ed. Ferreirinha, fez-me reviver muita coisa. A Ed. Ferreirinha não só pelos carros EDFOR feitos pelo pai mas também pelas máquinas, motores e acessórios feitas pelos filhos. Os motores Diesel, os pistões e segmentos. Os tornos mecânicos de precisão, que equiparam quase todas as nossas escolas técnicas e uma grande parte das empresas de metalomecânica de Portugal e estrageiro. As máquinas de furar, tão conceituadas que a Boeing construtora de aeronáutica adquiriu dezenas delas para funcionarem nas sua linha de fabrico em Seattle, e os teares usados na nossa industria têxtil. Muita tecnologia, muita precisão e sobretudo muita qualidade.
A Ed. Ferreirinha merecia passar neste Blog.
Um Abraço.
Bom dia caro Luciano Canelas
Seja bem aparecido! Grato pelo seu comentário e pelas notas adicionais.
Se eu conseguir informação mais robusta, e documentação sobre essa empresa, quem sabe ...
Abraço
José Leite
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