O “Maxime” Dancing, abriu as suas portas, na Praça da Alegria, 58-A em Lisboa, em 30 de Novembro de 1949, e propriedade de Carlos Cabeleira. Instalou-se num edifício que tinha acabado de ser construído, e projectado pelo arquitecto João Simões, na esquina com a Travessa do Salitre. No pequeno prédio ao seu lado, na Praça da Alegria, tinha acabado de encerrar nesse ano, a casa de fados “Solar da Alegria”.
Prédio acabado de ser construído, em 1949, onde se instalaria o “Maxime”
No dia da sua inauguração o jornal "Diario de Lisbôa", noticiava:
«Na Praça da Alegria, em edifício recentemente levantado, abriu um «dancing» que se apresenta com um moderno luxo, que lhe dá direito a ostentar o nome do célebre «cabaret» parisiense, e que foi também o dum sumptuoso clube lisboeta. No vasto salão inaugurado fazem-se ouvir duas orquestras em dois palcos e, na pista, exibem-se vários números coreográficos.»
Quanto ao «sumptuoso clube lisboeta» que a notícia lembrava, referia-se ao “Maxim’s - Club dos Restauradores” que tinha sido inaugurado em 1908 e encerrado em 1939, e cuja história pode ser consultada neste blog no seguinte link: “Maxim’s - Club dos Restauradores”. Quanto aos «números coreográficos», tratavam-se de actuação de grupos de dança, dançarinas e cantoras, maioritariamente espanholas… Bem comentava, no filme “Leão da Estrela” de 1947, a D.Tereza (Cremilde de Oliveira) para a D.Carlota (Maria Olguim): «Isto está pr’aí tudo cheio de espanholas! É um horror … », a propósito de um “passeio” nocturno dos maridos, que tinha terminado num bar-dancing (de espanholas), em Espinho.
Anastácio da Silva (António Silva) e Simão Barata (Erico Braga) saindo do “Espinho Dancing” com espanholas (fotograma)
Foi no “Maxime” que o actor Raúl Solnado se estreou profissionalmente, no espectáculo idealizado pelo actor José Viana, “O Sol da Meia-Noite”, estreado em 10 de Dezembro de 1952, para comemorar o 3º aniversário do “Maxime”. Tratava-se dum atípico espectáculo de variedades idealizado para aquele palco onde faziam parte cantores, bailarinos, actores e as alternadeiras espanholas, as "irmanitas".
Angelita Laderma Hermanas Bermejo Tina Baronni
Ballet Pastor
Recordava Raúl Solnado, num artigo de Jorge Fonte, no jornal “Expresso” :
«E lá estava eu, estreante, cómico dentro daquele universo. Vinte e dois aninhos completamente inebriados, catrapiscando as bailarinas, encostando-me às cantores e passando a mão no pêlo da equipa de alterne. Sete quintas».
Dos vários sketches em que entrava, havia um que causava sempre sensação. Era o número dos noivos em que aparecia com um cão ao colo e contracenava com a bela Gina Braga (mãe do actor Carlos Cunha). Não demorou muito tempo para que o dono do “Maxime”, lhe aumentasse o cachet de 50 para 60 escudos.
10 de Dezembro de 1952
Quanto à estreia deste espectáculo o jornal “Diario de Lisboa” comentava:
«Faltava, sem dúvida, um centro de reunião propício, pelos seus requintes de conforto, ao convívio das melhores famílias da alta sociedade.
De subito, surge uma iniciativa arrojada, aliás coroada de êxito, com a inauguração do "Maxime", que hoje festeja o seu 3º aniversário com a estreia de "Sol da Meia Noite": uma nova
modalidade de espectáculos em pista, concebido e realizado por Portugueses, com artistas nacionais, num conjunto em que participam alguns valores estrangeiros.
"O Sol da Meia Noite" - diz José Viana - não tem outras pretensões que não sejam as de constituir um espectáculo ligeiro e amável, limpo, diferente e sem responsabilidades de critica. Possui uma finalidade que deve conciliar a simpatia de todos, abrir um novo campo de acção, dentro dos «dancings» da capital, a artistas nacionais sem trabalho; restringir, dentro do possível, a vinda de elementos estrangeiros e acabar, de uma vez para sempre, com o deplorável processo de anunciar, ao microfone, as atracções que se exibem na pista. (…)»
7 de Dezembro de 1953
Para comemorar o 5º aniversário do “Maxime”, em 30 de Novembro de 1954 …
Nessa época o “Maxime” era de facto «o grande acontecimento na noite de Lisboa». A palavra "show" não existia, porque o termo "variedades" chegava para o consumo interno. Recentemente inaugurado, o botequim soava a luxo, com dois palcos para duas orquestras que alternadamente abrilhantavam o baile entre as 22h e as 5h da manhã. Baile, esse, que era interrompido por dois espectáculos, um à 1h da manhã e outro às 3h. Raúl Solnado conta que o esquema era o mesmo nos outros cabarets da cidade: o “Morocco” (do empresário teatral José Miguel) e o “Fontória”, também na Praça da Alegria, o “Ritz Club”, na Rua da Glória, o “Cristal”, na Avenida da Liberdade perto do “Parque Mayer”, ou o “Olímpia Club”, na Rua dos Condes.
Vasco Santana no cartaz do “Maxime”
Foi no “Maxime” que o fadista Alfredo Marceneiro, fez a primeira apresentação do «miúdo da bica», o fadista Fernando Farinha, como profissional.
Raúl Solnado afirmava que, em todos eles, o estilo das "variedades" pouco mudava. «Um ilusionista foleirote, um ou outro cantor já em fim de estação, por vezes um artista de circo, uma atracção com um nome mais sonante para estimular o pessoal e as inefáveis espanholas que cantavam ou dançavam e que aqui chegavam sempre com as suas gordas “madres” que enquanto faziam variados crochés não tiravam os olhos das suas niñas». Já nessa altura, a maioria acumulava o seu baile ou canto com funções de alterne, ou seja, sentavam-se nas mesas dos clientes para os levar a beber, e elas a simularem o mesmo, aproveitando a distracção do cliente. «Enquanto a maninha pousava o copo cheio, na mesa vinha um empregado que despejava o espumante num guardanapo e ali colocava um novo já pronto para o serviço».
Depois dos seus tempos de glória, de uma lenta transformação com fado e folclores a horas próprias e meninas a despirem-se a horas impróprias, o “Maxime” acabou por fechar, e simultaneamente foi colocado «um pequeno, bastante pequeno até» anúncio num jornal que dizia simplesmente: «Cede-se exploração de Maxime.»
Em 12 de Janeiro de 2006, reabre o “Maxime”, onde o músico Manuel João Vieira, líder das bandas “Ena Pá 2000” e “Irmãos Catita” tentou recriar um novo cabaret português no “Maxime”, descolado do alterne. Foram, para o efeito, criadas a empresa “Companhia dos Milagres”, responsável pela gerência, e constituída por Bo Bäckström, Manuel João Vieira e Frank Coelho, e a firma “Joing”, inquilina do espaço no edifício, então, pertença do “Grupo Bernardino Gomes”.
Em 2006, José Cid e Vítor Espadinha foram responsáveis pelas maiores enchentes da casa. Desde então, José Cid actuou duas vezes por ano naquele palco. Foi o regresso em força do autor de grandes sucessos musicais dos anos 80. A par de António Calvário, Artur Garcia, Dina, Herman José, Lara Li, Lena D'Água, Phil Mendrix ou Simone de Oliveira, Cid e Espadinha fizeram parte da secção de artistas recuperados. Da programação diversificada, «embora nem sempre bem compreendida», considera o sueco Bo Bäckström, padrasto de Manuel João Vieira, também a Sétima Arte, esteve presente em Cinemaxime; O “Clube de Comédia” que juntou em palco o sexteto humorístico Aldo Lima, Bruno Nogueira, Eduardo Madeira, Francisco Meneses, Nilton e Óscar Branco.
Durante cinco anos o “Maxime” misturou concertos de artistas como Jorge Palma ou José Cid com números de burlesco para um público mais jovem e descontraído. O espaço acabou por fechar, em 29 de Janeiro de 2011, por sucessivas queixas de barulho do “Hotel Lisboa Plaza” (antigo “Hotel Condestável”), seu vizinho. Agora é propriedade de um grupo hoteleiro, que terá adquirido o edifício por cerca de dois milhões de euros e que inaugurará, neste ano de 2018, o “Real Maxime Hotel”, de quatro estrelas e 70 quartos.
Bibliografia:
- “Cabaré Maxime fecha no final de Janeiro”, no jornal “Expresso”, da autoria de Jorge Fonte, em 21 de Janeiro de 2011
- “A despedida do Cabaret Maxime” no “Visão Sete”, em 28 de Janeiro de 2011
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa
3 comentários:
Fabuloso post. Fabulosa colecção de imagens. Fabuloso testemunho.
Parabéns e Obrigado.
Caro Mário Marzagão
Eu que agradeço o seu fabuloso comentário ... :)
Os meus cumprimentos
De estranhar não haver uma única alusão nem um único cartaz das "Produções Banana", uma produtora independente que chegou a ser confundida com a própria casa - de tantos espectáculos que ali produziu, como são os exemplos de José Cid, António Calvário, Herman José, John Ventimiglia e Michael Imperioli (da série "Os Sopranos"), Lena d'Água, Ena Pá 2000, Irmãos Catita, Corações de Atum, Cais Sodré Cabaret (veriedades e burlesque), Smoky Joe, Lisa Doby, Phil Mendrix, Victor Gomes, e muitos outros. Fica a adenda.
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