Em 5 de Julho de 1925, era aprovado o projecto de construção do edifício promovido pela firma "Almeida Cunha, Lda." na Avenida das Nações Aliadas, nos 151-179, e que viria a ser apelidado de "Palacio Almeida Cunha". O projecto foi da autoria do arquitecto Michelangelo Soá (?-1935), que elegeu Portugal para viver depois de ir dar aulas para a "Escola Industrial Infante D. Henrique", no Porto. A aprovação do projecto e sua construção, tinha sido solicitada à Câmara Municipal do Porto em 18 de Maio de 1923, tendo começado a sua construção no mesmo ano da aprovação do mesmo em 1925. Os cálculos de engenharia civil ficaram à reponsabilidade do engenheiro civil João Teixeira de Queiroz.
Projecto do arquitecto Michelangelo Soá
Futura Avenida das Nações Aliadas em construção, assim como o edifício da Câmara Municipal do Porto
Ficaram para a história deste edifício, que passou a denominar-se "Palacio Almeida Cunha", três inquilinos: A "Pensão Monumental" e o "Monumental Café" e o famoso "Palacio Ford" da firma "Manoel Alves de Freitas & C.ª" de que falarei noutro artigo neste blog.
Quanto à "Pensão Monumental", foi fundada por Miguel Vaz - sendo a sua denominação oficial "Monumental Pensão Vaz" - e instalou-se nos 4º e 5º pisos do edifício, por volta de 1935, oferecendo 38 quartos. A sua entrada fazia-se pelo nº 151.
"Pensão Monumental nos últimos dois andares do edifício
Sobre a "Pensão Monumental", um anúncio publicitário de 1935, referia:
Magníficos quartos com água corrente quente e fria, telefone e chauffage, mobiliários modernos. Excelente serviço de mesa, salas próprias para casamentos e excursões, sala de televisão, etc.
Apartamentos com banho privativo. O mais central da cidade.»
No roteiro "Hotéis e Pensões de Portugal" de 1939, quanto à "Monumental Pensão Vaz" ...
Comodidade - Boa mesa - Higiene
«Por fineza» - Seja amigo do seu amigo ... Recomende-lhe a Monumental Pensão Vaz
Almoço: 7$50
Jantar: 9$00
Diária: entre 20$00 e 30$00 »
Em 1957 já a "Pensão Monumental" era propriedade de Eduardo Pinto da Cunha, como se pode verificar pelo postal que publico de seguida.
Em relação ao carimbo P a explicação seguinte, e não só, na mesma publicação:
Por sua vez, o "Monumental Café", propriedade da firma "Pinheiro, Coreeia & Portugal, Lda." foi inaugurado em 10 de Janeiro de 1930. O seu projecto foi da responsabilidade do arquitecto João Queiroz (1892-1982), o mesmo que tinha projectado o "Salão Olympia" (inaugurado em 18 de Maio de 1912) e o Café Majestic (inaugurado em 17 de Dezembro de 1921).
Repetindo a publicação desta foto, o "Monumental Café" estava no primeiro estabelecimento à direita na foto. Depois da entrada para o edifício, o outro estabelecimento era o "Palacio Ford" (com papeis nas janelas)
No dia seguinte à inauguração o "Jornal de Notícias" em notícia intitulada "Um Ar de Paris" afirmava: «A cidade tem, a partir de hoje, o maior e o mais luxuoso estabelecimento da Península, no seu género».
Era extremamente luxuoso e confortável, dividido em espaços diferenciados pelos três pisos, com lugar para bilhares, restaurante e café com orquestra. Diferenciava-se dos demais pela enorme dimensão das suas salas, pela diversidade e beleza das suas decorações e por ser, na altura, dos poucos que possuíam uma esplanada com a originalidade de as cadeiras serem de palhinha. O "Monumental Café" chegou a ser considerado um dos mais luxuosos da Península Ibérica e tendo chegado a oferecer, em permanência, duas orquestras, uma de jazz e outra de música clássica. Na cave, tinha serviço de restaurante e bar. No 1º andar tinha uma sala com 24 bilhares.
Uma das curiosidades neste café foi a uma novidade técnica para a época, o secador de mãos, que era anunciado: «mãos que se limpam sem toalhas», assim como um sistema sonoro com um aparelho "Klingsor" e altifalantes, que permitiam a audição da música nos três pisos.
«O Monumental dispunha ainda de 24 mesas de bilhar e ficou famoso por causa do jogo do quino (tômbola, como lhe chamavam) que se jogava numa ampla sala do primeiro andar. Era frequentado por um público muito heterogéneo: jornalistas, arquitetos, médicos, funcionários da Banca e dos seguros, caixeiros, comerciantes, mas, sobretudo, pelos jovens que lá iam atraídos pelos famosos concertos do Monumental. O café tinha efetivamente uma ampla sala de concertos onde, diariamente, tocavam duas orquestras ao vivo. Foi num desses concertos que um dia, quando o “cinema mudo” estava a desaparecer e começava a surgir o “ falado”, ou “sonoro”, que se cantou aquela célebre canção: “Teodoro não vás ao sonoro / Teodoro se tu fores eu choro”. Ainda há de haver por aí muita gente que trauteou esta cançoneta.» in: blog "Porte de Antanho".
Foi no "Monumental Café" que foi fundado o "Grupo de Xadrez do Porto" em 9 de Maio de 1940, e que ainda hoje existe. Fica a Acta da sua fundação ...
O "Monumental Café" teve uma existência curta, pois encerraria em 1940. No seu lugar instalar-se-ia um stand da "Fiat Portuguesa, S.A.", que por essa altura estava instalada na Rua de Santa Catarina, 122, e cujo processo se iniciou em 1941, com apresentação à Câmara Municipal do Porto, em 16 de Agosto de 1941, do respectivo projecto da autoria d o arquitecto Manuel da Silva Passos Júnior (1908-?).
18 de Agosto de 1941
Além do stand da "Fiat Portuguesa, S.A.", passaram por este edifício algumas empresas: na loja do nº 165 do mesmo edifício o mui conhecido "Palacio Ford" da firma "Manoel Alves de Freitas & C.ª"; no 2º piso a firma "S.L. Soares & Cª Lda.", fundada no Porto em 1938 (importação e distribuição de artigos de decoração) ; depois desta a filial da "Philips Portuguesa" no lado esquerdo e no lado direito do mesmo piso o consulado dos Países Baixos.
Após anos de praticamente abandono este edifício já desocupado, foi alvo de uma profunda recuperação com a finalidade de albergar um luxuoso hotel, o “Hotel Monumental Palace”, promovido pela "Mystic Invest" do empresário Mário Ferreira. O projecto da recuperação mencionado ficou a cargo dos arquitectos portuenses Audemaro Rocha e Pilar Paiva de Sousa, e representou um investimento de 30 milhões de euros.
Estado do edifício antes da sua recuperação e transformação em Hotel
As obras tiveram início em 2012, mas a promotora do empreendimento, enfrentou um conjunto de vicissitudes ao longo da construção do hotel, devidas essencialmente ao fato da obra estar a cargo da "Soares da Costa, S.A". O projeto conheceu diversos atrasos pelas dificuldades financeiras da construtora, tendo acabado por ser entregue à "ACA Engenharia & Construção", que finalizou a obra.
Quando foi inaugurado em 1 de Novembro de 2018, já Mário Ferreira ("Mystic Invest") tinha vendido o “Hotel Monumental Palace” à empresa "Maison Albar Hotels" que tinha feito «uma proposta aliciante» para comprar o hotel de 500 mil euros por quarto. Fazendo as contas … 500.000 x 76= 38 milhões de euros ... realmente aliciante! A denominação inicial foi mudada para: "Maison Albar - Le Monumental Palace".
O hotel conta com: 76 quartos dos quais 13 suítes; "Grand Bleau SPA"; Restaurantes "O Monumento", "Yakuza Porto por Olivier" e o "Mezanino"; "Bar América"; Biblioteca; Ginásio; Garagem; Salas para conferências; Limpeza a seco, etc.
2 comentários:
Excelente!
Muito grato pelo seu amável comentário
Os meus cumprimentos
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