Em 1 de Julho de 1837, Francisco Fortunato de Assis, um dos farmacêuticos mais conceituados do seu tempo, inaugurou um estabelecimento pharmacêutico (à época "botica") na Rua do Alecrim, nº 52, em Lisboa. Foi o primeiro estabelecimento do ramo a utilizar o sistema de esterilização de Pasteur. Em 1855 ainda se mantinha neste estabelecimento.
Anos mais tarde a famosa Maria Rattazzi no seu não menos famoso livro "Portugal de Relançe" de 1880, quanto a pharmacias ...
«Se os armazéns de modas se encontram a cada passo em Lisboa, as pharmacias pullulam : deparam-se-nos em todas as ruas, á direita, á esquerda, na frente, na rectaguarda. Terá este paiz mais doentes do que outro qualquer? Não. E uma necessidade do território. Se eu fosse portugueza e os meus instinctos me chamassem á vida industrial, preferiria sem hesitar a arte de Diafoirus: n'este paiz pode-se ter a certeza de enriquecer envenenando o próximo. Imaginem que rendoso commercio ! Um sujeito compra por 2$400 réis um barril de 50 kilos de magnésia purgativa, que vende, a rasão de 10 réis cada gramma, n'uma elegante caixinha de cartão pintado. De uma parte 4$800 réis de despeza, metade na magnesia, metade nas caixas; da outra 50,000 grammas a 10 réis; receita: 500$000 réis. Não ha nada melhor!»
Em 1880, a pharmacia de Francisco Fortunato de Assis, já funcionava nos números 123 e 125 da mesma Rua do Alecrim, no edifício de esquina com a Praça Luís de Camões.
Porém, a 1 de Janeiro de 1885, passou a ser propriedade de Francisco Freire de Andrade, (que faleceria em 30 de Abril do mesmo ano), e de seu irmão Albino António Freire de Andrade (1857-1957), que teve como cooperador outro irmão, José Freire de Andrade, falecido em 19 de Outubro de 1914. O estabelecimento passou a denominar-se "Pharmacia Freire de Andrade & Irmão". De referir que Albino Antonio Freire de Andrade viria a ser, também, Secretário da Direcção do "Montepio Geral" em 1901, administrador das águas das "Termas das Caldas da Felgueira" em 1902, e Vice-Presidente da "Gaz e Electricidade (Reunidas)", em 1904.
No ano de 1887 (ano do falecimento, em Novembro, do fundador Francisco Fortunato de Assis), o estabelecimento sofreu grandes obras da transformação, tornando-se desde essa data um dos mais completos de Lisboa. Tal reforma foi operada em consequência dos proprietários pretenderem corresponder ao acolhimento que lhe era dispensado pela clientela, cuja afluência crescia dia a dia. Por isso, em 1894, a "Pharmacia Freire de Andrade & Irmão" teve de ser submetida a nova ampliação, criando-se nas suas dependências do andar superior laboratórios de análises químicas, bacteriológicas, microscópicas, clínicas, industriais e agrícolas, laboratórios para esterilização pelos métodos de Pasteur de material cirúrgico e artigos de penso e ainda laboratórios para a preparação de todos os solutos injectáveis.
Aos laboratórios da "Farmácia Freire de Andrade & Irmão" deve-se o início, em Portugal, da preparação de medicamentos injectáveis em ampolas de vidro, para o que foi necessário criar uma oficina de fabrico das ampolas e de todo o material de vidro. Obteve a Medalha de Ouro para Produtos Farmacêuticos, na "Exposição Internacional do Centenário da Independência", realizada em 1922, no Rio de Janeiro.
Farmácia de viagem
A seguir um excerto de catálogo da "Pharmacia Freire de Andrade & Irmão" de 1917:
Entretanto, António Nunes, competente técnico que na casa iniciara a sua carreira farmacêutica em 1894, foi em 1906 admitido como sócio, sendo em 1945, ainda, um dos seus proprietários.
Em 4 de Setembro de 1928 o pacto social da "Farmácia Freire de Andrade & Irmão" foi alterado, - assim com a sua razão social para "Farmácia Andrade, Lda." - pela saída de Albino António Freire de Andrade, que fez cessão da sua cota a Júlio Pinto Barata, e em 3 de Junho de 1930 alterado de novo, pela saída deste último, que cedeu a sua cota a António Baião Pereira Falcão, chefe dos serviços farmacêuticos desta casa desde 1910. Em 1945 a firma "Farmácia Andrade, Lda." era constituída por António Nunes, António Baião Pereira Falcão e Dr. António Borges de Amorim Silva. Em virtude de motivos de doença conservarem o primeiro afastado da actividade, a gerência da casa era exercida por António Falcão, competindo ao ilustre clínico Dr. Amorim Silva a superintendência técnica.
A lista das especialidades preparadas pela Farmácia Andrade, Lda., que não receiam confronto com as similares de origem estrangeira, é longa e dispõe de um receituário que prevê os mais variados casos de doença. O «Dextrocálcio», gluconato de cálcio puríssimo em soluto esterilizado a dez por cento, possuïdor de tôdas as propriedades do ião cálcio; «Hemohepatina», conjunto dos princípios activos do fígado e baço, com fósforo, magnésio e manganez orgânico; o «Lisococil », para quimioterapia sulfamidada, em ampolas, comprimidos e óvulos; a «Neopulmina», solução, em azeite puro e neutro, de quinina, cânfora e essências antisépticas, - são, entre outras, especialidades cuja reputação desde há muito se consolidou no mercado nacional e que têm dado sobejas provas do superior critério que dirige os trabalhos realizados nos laboratórios da Farmácia Andrade, Lda.» in: "Praça de Lisboa" - (1945).
2 comentários:
Belíssimo espaço, acho que nunca lá entrei. Bom dia!
Existe outra farmácia bem perto desta, na Rua do Loreto, A "Farmácia Barreto" que também é muito bonita e já vem dos anos 40 do século XIX.
Grato pelo seu comentário e um bom dia também para si.
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