O filme português "A Revolução de Maio", foi realizado por António Lopes Ribeiro (1908-1995) e estreado em 6 de Junho de 1937, no "Cine-Teatro Tivoli", em Lisboa. A rodagem do filme tinha sido iniciada em 25 de Março de 1936, no Forte da Almada. A sua produção foi do "SPN - Secretariado da Propaganda Nacional", que tinha sido criado em 26 de Outubro de 1933, e dirigido por António Ferro (1895-1956).
O argumento do filme foi escrito por Jorge Afonso e Baltazar Fernandes, que não eram mais que os pseudónimos de António Ferro e de António Lopes Ribeiro respectivamente.
Sinopse:
César Valente, membro da resistência clandestina ao regime de Salazar, regressa do exílio para desencadear uma revolução em 28 de Maio de 1936, o dia exato em que a ditadura celebraria o seu décimo aniversário. No entanto, através do contato direto com a "
Obra do Estado Novo" e depois de se apaixonar por Maria Clara, uma enfermeira da
"Maternidade Dr. Alfredo da Costa", Valente irá pouco a pouco converter-se à ideologia do regime - quando contempla, extático, a bandeira nacional no alto do Castelo de São Jorge, chega mesmo a amarrotar a sua bandeira vermelha. No final do filme, a polícia política que vigiara todos os movimentos dos
«agitadores bolcheviques», já nem sequer considera necessário prendê-lo: o regime conta agora com mais um fervoroso adepto.
Os actores Maria Clara (Maria Clara) e César Valente (António Martinez)
O realizador, António Lopes Ribeiro:
Realizador, crítico, jornalista e produtor de cinema, António Lopes Ribeiro (1908-1995) foi um nome central na história do cinema português na primeira metade do século XX. Pioneiro da crítica de cinema em Portugal, desde meados dos anos 1920, defendeu as vanguardas cinematográficas europeias e a renovação estética e técnica do cinema português. Realizou o seu primeiro filme, "Bailando ao Sol", em 1928, e participou nas rodagens dos filmes de José Leitão de Barros (1896-1967) "Nazaré, Praia de Pescadores" de 1929, "Lisboa, Crónica Anedótica" de 1930 e "Maria do Mar" de 1930.
António Lopes Ribeiro e Isy Goldberger durante a rodagem de "A Revolução de Maio"
Antes disso, faz uma célebre viagem pelos grandes estúdios de cinema de Paris, Berlim e Moscovo, onde atualizou conhecimentos, reuniu influências e conheceu Clair, Renoir, Lang, Pabst, Eisenstein e Vertov. O seu primeiro filme sonoro foi "
Gado Bravo" em 1934, que reuniu vários técnicos e atores judeus fugidos da Alemanha de Hitler. Assinou o primeiro grande filme de propaganda do Estado Novo em 1937,
"A Revolução de Maio", escrevendo o argumento com António Ferro, fundador e diretor do
"Secretariado da Propaganda Nacional" - SPN. Acerca deste grande cineasta consultar neste
blog o seguinte
link: António Lopes Ribeiro
Olavo d'Eça Leal, Isy Golberger e António Lopes Ribeiro
Artigos no "Cine-Jornal" de 17 de Fevereiro e 24 de Março de 1936
Na revista "Animatógrafo" de Outubro de 1941
Imagens da rodagem do filme "A Revolução de Outubro"
«Primeira volta da manivela», no Forte de Almada
«Num permanente ambiente de ovação e delírio!» ...
Quanto à estreia do filme, à qual assistiram o Chefe de Estado General Óscar Carmona e o Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar, deixo aqui o recorte da notícia e crítica à mesma, no jornal "Diario de Lisbôa", publicada no dia 7 de Junho de 1937.
O suplemento semanal de "O Século", Cinéfilo de 5 de Junho de 1937, considera que quatro pontos cardeais nortearam o filme:
«"servir o cinema português", "servir o público português" ("o público português, de Portugal, do Brasil, das Possessões Ultramarinas, da Europa, da América e da África", que "reclama filmes falados em língua portuguesa"), "servir a propaganda de Portugal" (filmando o "espectáculo formidável" que desfilou perante os "aparelhos de filmar": "as mais lindas paisagens, os nossos mais belos trajos, grandes artistas nossos, a obra formidável do Estado Novo, o nosso Exército, a nossa Marinha, a nossa Esquadra, a nossa Aviação") e, finalmente, "servir a política de Salazar" ("o exemplo singular do que pode fazer o cérebro aliado ao braço, o braço aliado ao coração").»
Segundo João Bénard da Costa (Cinemateca 1995):
« (...) Mas a concepção dessas cenas, segundo Lopes Ribeiro sempre disse, pertenceram ao outro
pseudónimo da ficha técnica: Baltazar Fernandes = António Lopes Ribeiro. Do primeiro, terá
ficado, talvez, a divisa do duque de Guise que tanto gostava de invocar: “Tudo o que é nacional é nosso.” Do segundo, a divisa implícita, no que aprendera e vira, de que tudo quanto era
alheio (alemão, russo, ou americano, pois que muito dos filmes de gangsters foi igualmente
incorporado) podia também ser feito nosso, desde que convertido em nacional. E Salazar, que
assistiu à estreia, o que é que achou? Lopes Ribeiro contava que António Ferro lho perguntou
no dia seguinte: “Então, Senhor Presidente, gostou?” E Salazar respondeu-lhe: “Gostei, gostei muito. Mas aquilo acabou muito tarde e, esta noite, dormi muito mal. Olhe, não me leve
mais a ver essas fitas.” E foi a partir daí que passou a dizer que o cinema era uma indústria
horrivelmente cara.»
Na opinião de José Régio, numa crítica publicada na revista "Presença":
«O filme tem belos enquadramentos e belos ângulos, interessa tanto quanto possível o espectador, conta a anedota (sobretudo na parte digamos policial) com um à-vontade que mesmo relativo não encontramos muitas vezes, é regularmente representado..."
Elenco:
Maria Clara (Maria Clara)
Emília de Oliveira (A Mãe)
António Martinez (César Valente)
Francisco Ribeiro/"Ribeirinho" (Barata)
Alexandre de Azevedo (Chefe Moreira)
Clemente Pinto (Marques)
José Gamboa (O Silva Tipógrafo)
Luís de Campos (Agente Sobral)
Elieser Kamenesky (Dimoff)
Ricardo Malheiro (O motorista)
Imagens do filme "A Revolução de Outubro" por ordem cronológica das cenas
Abertura
No final dos genéricos do filme, uma nota da produção:
«As imagens documentárias incluidas nêste filme são autênticas reportagens cinematograficas, filmadas sem qualquer artifício de encenação. (Documentos filmados especialmente, fornecidos pelo Secretariado da Propaganda Nacional e pelo Ministério da Agricultura).»
Realização, diálogos, planificação e montagem:
António Lopes Ribeiro
Argumento:
Jorge Afonso e Baltazar Fernandes
Assistente do realizador:
Olavo d’Eça Leal
Assistente técnico:
F. Bernaldez y Eder
Assistente geral:
Pereira de Carvalho
Imagem e Fotografia:
Isy Golberger
Colaboração:
Octávio Bobone, Manuel Luís Vieira, José Nunes das Neves
Direção musical:
Pedro de Freitas Branco
Musica:
Wenceslau Pinto
Decorações:
António Soares
Registo sonoro:
Engº Paulo de Brito Aranha
Assistente de produção:
Augusto Soares
Produção:
Secretariado da Propaganda Nacional - SPN
Laboratório de imagem:
Lisboa Filme - Película Kodak
Estúdios:
Tobis Portuguesa - Sistema Tobis Klangfilm
Imagens de arquivo:
Secretariado da Propaganda Nacional e Ministério da Agricultura
Duração:
138 minutos
Estreia:
Cine-Teatro Tivoli (Lisboa) em 6 de Junho de 1937
Distribuição:
Sonoro Filme
Outro filme se seguiria: "O Feitiço do Império" realizado, também, por António Lopes Ribeiro em 1940, e que seria a apologia da colonização portuguesa e do nacionalismo no tempo da II Guerra Mundial (1939-1945). Trata-se de um filme de que apenas se pode ver a imagem e ler o guião, graças à sua publicação por José Matos-Cruz, dado que se perdeu a banda sonora do mesmo.
fotos in: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Hemeroteca Municipal de Lisboa
1 comentário:
Excelente publicação acompanhada de belíssimas imagens, desta feita sobre um grande filme que retrata a Revolução Nacional ocorrida em 28 de Maio de 1926.
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