Restos de Colecção: Camisaria Moderna

9 de janeiro de 2019

Camisaria Moderna

A "Camisaria Moderna" que esteve instalada na Praça D. Pedro IV (Rossio), e propriedade da firma "Camisaria Moderna, Lda.", (fundada por António Regojo Rodriguez), terá tido origem na loja com o mesmo nome, fundada em 6 de Julho de 1876 no número 105, sendo na altura propriedade da firma "Pereira da Costa & C.ª".


6 de Julho de 1876


21 de Dezembro de 1879


1882


António Regojo Rodriguez (1904-2003), nascido em Fermoselle, Zamora, junto à Barragem da Bemposta e filho dum agricultor, veio para Portugal com 14 anos, tendo iniciado a sua vida de comerciante, na Baixa lisboeta a vender rendas. Depois, foi «muito trabalho e economia». «Não gastava dinheiro em rigorosamente nada» relatou o próprio.

António Regojo Rodriguez (1904-2003)


Em 1919 fundou a primeira empresa nacional de confecções, a “J. R. Rodriguez, Lda.”, situada na rua das Pedras Negras, onde se fabricavam camisas com a marca “Regojo”. A sua grande concorrente era  a já famosa Ramiro Leão & C.ª”, instalada na Rua Garrett.A fábrica funcionava em dois andares e tinha oito funcionários.

      

Mais tarde, a fábrica transferiu-se para a Rua de S. Lázaro e rapidamente a empresa entra em franca e próspera expansão, passando a confecionar, além das camisas, pijamas e polos. Em pouco tempo, o número de funcionários rondava os trezentos. Nos anos 40 do século XX, já esta estava instalada na Rua José António Serrano, ficando as instalações da Rua de S. Lázaro para escritórios.


Entretanto, em 1932, o castelhano António Regojo Rodriguez compra o trespasse da “Camisaria Moderna” por 165 contos (165.000$00). Só me faltou conseguir confirmar se, neste ano, este estabelecimento já estava instalado no número 110 ou ainda no número 105, onde tinha sido fundado.
                                   
                                          25 de Agosto de 1941                                                           10 de Novembro de 1941

 Factura gentilmente cedida por Carlos Caria 


“Camisaria Moderna” dentro da elipse desenhada e ao lado do “Café/Restaurante Irmãos Unidos”




A seguir publico uma série de fotos do interior da “Camisaria Moderna”, publicadas na revista “Século Ilustrado” de Dezembro de 1953 e gentilmente cedidas pelo blog “coisasdeantigamente.marr”. Nestas fotos os célebres pássaros que habitavam e voavam livremente dentro da loja. «Há aproximadamente um ano (1952) que um pintassilgo ferido procurou refúgio no meu estabelecimento. Sentiu-se bem e decidiu ficar e a docilidade da sua permanência fez-me pensar na possibilidade de manter um viveiro de pássaros em liberdade no interior da minha loja. E o que pensei aconteceu... claro que não os soltei aqui dentro todos de uma só vez! "

Interior da “Camisaria Moderna” e António Regojo

            
 
Imagens gentilmente cedidas pelo blog “
coisasdeantigamente.marr
                                            
                                              1953                                                                                         1955

            


Sucursal da “Camisaria Moderna” em Madrid e sus 110 pajaritos in completa libertad


Em 1970, a “Camisaria Moderna” adquire o trespasse da loja a seu lado, até então ocupada pelo café e restaurante Irmãos Unidos”, ampliando assim as suas instalações.

Em 1972, com o nascimento de uma nova empresa, a “Confecções Regojo Velasco”, consubstancia-se a entrada da segunda geração da família na administração das empresas do grupo. Fundada pelo genro do fundador, Jaime Velasco Regojo, a nova fábrica dedicava-se à produção de roupa de senhora com a marca “Dali”.

Em 1980, sob a direcção de Teresa Regojo, após o falecimento prematuro de seu marido Jaime Regojo, foi criada um outra unidade fabril, a “Aissela - Sociedade Europeia de Confecções”, que traz para Portugal a representação da marca “Pierre Cardin”. O ano de 1982 marca o início de uma nova época, o esboço do actual “Grupo Regojo”. A equipa de gestão é alargada à terceira geração da família. Os filhos mais velhos de Teresa e Jaime Regojo assumem responsabilidades na gestão das empresas, mantendo viva uma forte preocupação em acompanhar a evolução do mundo e dos mercados da moda. No seguimento desta nova fase, em 1984, inicia-se a comercialização de vestuário através da “DIMODA”. Esta empresa vai representar e distribuir marcas de prestígio internacional no nosso país.

      

No final da década, com o incremento da concorrência dos fabricantes do sudeste asiático, a perspectiva de quebra no comércio tradicional multimarca e o despoletar de fenómenos como o franchising de marcas com notoriedade internacional, a família Regojo decide investir na comercialização monomarca, através do regime de franquia e de marcas próprias.
Quanto à loja “Camisaria Moderna”, encerrou definitivamente em 2016.


gentilmente cedido por Carlos Caria

Para terminar, recordo uma passagem dum artigo, acerca da “Camisaria Moderna”, da autoria de Ricardo Dias Felner  e publicada no jornal “Público” em 14 de Janeiro de 2002, quando António Regojo já tinha 98 anos de idade:
«”Sempre trabalhei muito, nunca pelo dinheiro, sempre para poder ajudar os outros”, garante o comendador, ateu, apesar da educação religiosa, democrata, apesar de contar com condecorações de Franco e Salazar. Entre o rol interminável de benfeitorias, que levam "80 por cento do lucro da empresa", contam-se cerca de 50 ambulâncias doadas a bombeiros voluntários, três fundações (uma em Lisboa, duas em Espanha), várias bolsas concedidas a estudantes da sua aldeia, aparelhos para hospitais, o sistema de intercomunicações da paróquia de Fermoselle, operações pagas a crianças com problemas de vista e a outros doentes, doações várias à Cruz Vermelha, a museus. A decoração do seu escritório atesta-o para quem duvidar. Estão lá vários agradecimentos com a assinatura de D. Juan Carlos, Franco, Salazar. Do presidente da Cruz Vermelha, dos Lions, dos comandantes dos Bombeiros de Leiria, de Lisboa, de associações de deficientes..»

7 comentários:

Manuel Tomaz disse...

Conheci pessoalmente António Regojo Rodriguez na década de 90. Um galego que veio para Portugal quando rapaz e que, como todos os espanhóis, nunca aprendeu a falar português corretamente… Mas foi um filantropo excecional! Ontem, ao passar no Rossio, no quarteirão da sua loja e também da Pastelaria Rossio, senti a grande diferença dos tempos em que etas lojas funcionavam.

Pedro Silva disse...

Eu tive o privilégio de trabalhar na Camisaria Moderna... o Comendador António Rodriguez Regojo foi o meu primeiro Patrão. Um Homem visionário..
Com ideais muito vincados...aprendi muito nesta grande casa... diria até una referência na Baixa Lisbieta... uma casa outrora de Elite e Excelência...

Anónimo disse...

Uma curiosidade: O senhor Regojo não fumava. Condição obrigatoria para trabalhar na Camisaria Moderna era não ser fumador.
José Sousa

Anónimo disse...

Boa tarde,
Gostaria de retificar que o o Comendador António Rejogo não era Galego, mas sim Castelhano. Fermoselle fica situada em Castilla-León, perto da fronteira com Portugal, na zona de Bemposta, Mogadouro.

Anónimo disse...

Fui cliente da Camisaria Moderna durante alguns anos de meados dos anos setenta a meados dos noventa e conheci o dono. Tinha uma paranó
ia qualquer contra os fumadores e, quando os clientes entravam na loja, dava um papel com os malefícios do tabaco. Os empregados topavam que alguns clientes não apreciavam o sermão e sermão e salvavam a situação com com distrações tipo "as sua s bainhas já estão prontas".
Gostava muito da loja e dos funcionários, muito simpáticos e competentes

Unknown disse...

Neste relato histórico, onde fica o papel de D.Ângelo? Sempre de charuto na boca? Em 1962 trabalhei no Armazém e na Engomadoria da fábrica e se bem me lembro o grande patrão era D.Ângelo. o Sr Jaime e o Sr. Velasco, ainda jovens, andavam por lá. Na história falta falar dos antigos Armazéns de S.Paulo e das marcas mais recentes dos herdeiros mais novos. Grandes patrões, beneméritos e pessoas de bem.

Unknown disse...

O meu avô, terá tido algo no decorrer desta história, sei que tinha uma fábrica que produzia camisas em sociedade com outro senhor e que as camisas eram desta ou para esta marca. Não sei mais detalhes, faleceu em 1995 e o pouco que sei foi-me contado por alguém externo á familia que teve negócios na baixa nos anos 70, também dentro do ramo, ainda vivo. O meu avô chamava-se Álvaro Madeira, terá nascido entre 1910 e 1920 e terá tido alguma relação com o grupo entre os anos 60 e 70 suponho eu... é tudo o que sei.