O "Theatro Gil Vicente", localizado em Cascais e propriedade de Manoel Rodrigues de Lima, foi inaugurado em 15 de Agosto de 1869, com o drama "Ermitão da Cabana" e a comédia "Matheus o Braço de Ferro", interpretada por um grupo que faziam parte da extinta "Sociedade Recreativa Cascaense", fundada em 1844.
Este Teatro foi construído no local onde tinha existido outro pequenino, adaptado dum armazém e adega, na Rua da Victoria. A sua construção começou em 8 de Março de 1868, tendo sido seu construtor José Vicente Costa, o «carpinteiro de Caparide».
Depois da morte do seu primeiro proprietário, Manoel Rodrigues de Lima, o "Theatro Gil Vicente" foi adquirido em hasta pública pelos Condes de Magalhães, que por falecimento destes seria herdado pela Marqueza de Lierta, que, e segundo Souza Bastos, era a proprietária em 1909.
«E' n'este theatro presentemente a séde da "Associação Humanitaria Recreativa Cascaense" com 4 secções: bombeiros voluntarios, phylarmonica, grupo dramatico e socios contribuintes. O theatro aluga-se com iluminação
musica, porteiros, policia, bombeiros e pessoal do movimento do palco por uma percentagem sobre a receita bruta, de 10 a 25% conforme a qualidade do espectaculo e os preços, mas nunca podendo receber menos de 20$000 réis, que devem ser garantidos por deposito no acto do aluguer. Não fornecendo musica, o aluguer nunca será mais de 20%.
(...) Tem o theatro uma friza para a auctoridade, outra para a direcção da sociedade arrendataria e 10 para alugar; na 1ª ordem o camarote da proprietaria, a tribuna real e mais 14 para alugar; 14 camarotes de 2ª ordem, 140 cadeiras e 12 logares de galeria.»
Foi também a inauguração do “Theatro Gil Vicente”, com toda a animação que a envolveu, que motivou o Rei D. Luís I e a Corte Portuguesa, a escolherem Cascais como estância de veraneio a partir de 1870, tendo a Família Real assistido, de forma reiterada, a várias peças de teatro e inúmeros eventos culturais nas cadeiras deste novo espaço de entretenimento.
Pelo “Theatro Gil Vicente”, passaram as maiores figuras do teatro de então, como: Vale, Beatriz Rente, Mercedes Blasco, Pereira da Silva, etc. Ao mesmo tempo, que acolhia récitas de amadores, animadas até pelo Rei D. Luís I, que era espectador habitual. Em 1915, um facto pouco conhecido: a estreia de uma revista composta e cantada pelo então jovem Pedro de Freitas Branco (1896-1963) que se viria destacar na música portuguesa como maestro.
1908
10 de Maio de 1931
Em 1941 o “Theatro Gil Vicente” era propriedade de Francisco del Poso y Pastrana. No dia 2 de Junho de 1942 o Dr. Manuel Ribeiro e o Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva puseram à disposição da “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais” a importância de 20 mil escudos, destinada à aquisição do “Teatro Gil Vicente”, no seguintes moldes: Dois mil escudos oferecidos pelo Dr. Manuel Ribeiro Espírito Santo Silva. Dois mil escudos como oferta do “Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa”; Seis mil escudos oferecidos pelo Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva e os restantes dez mil escudos emprestados sem juro e sem prazo para o seu pagamento. No ano seguinte resolvem oferecer este débito à AHBVC
No dia 4 de Junho de 1942 foi assinada a escritura de compra do “Teatro Gil Vicente”, ficando como sede própria da AHBVC depois de um pleito que durou 13 anos. Intervieram como outorgantes Dr. Francisco Honorato da Costa Ramos, Presidente da Direcção da Associação e o Dr. Luís Forcada, como procurador do vendedor. À tarde, na janela do edifício, foi içada a bandeira da Associação, queimando-se de seguida centenas de morteiros e foguetes em sinal de regozijo.
Em 1952, têm lugar obras de remodelação e adaptação do “Theatro Gil Vicente” a Cinema, com a colocação de uma cabina de projecção na 1ª Ordem. Após vistoria da Inspecção Geral dos Espectáculos, no início de 1953, esta conclui que poderão ser permitidas exibições teatrais e cinematográficas depois de executadas várias modificações, tais como: colocar corrimões nos dois lados de todas as escadas de acesso ao público; colocar letreiros indicativos da saída e do destino das diversas dependências; dotar a plateia com a coxia circundante, com a largura regulamentada; dar aos assentos das cadeiras da plateia e balcão as dimensões regulamentares; dotar o teatro de iluminação suplementar; fixar a lotação em 350 lugares, para teatro, e em 356 lugares, para cinema. Mesmo sem as obras efectuadas, o ”Teatro Gil Vicente” reabriria em 26 de Janeiro de 1953, com a reposição da opereta “Senhora dos Navegantes”. Em 1959 era-lhe retirada a licença de utilização permanente por falta de condições de segurança. A licença viria a ser concedida de novo em 1962, depois de efectuadas as obras exigidas em 1953.
Opereta “Senhora dos Navegantes” em 1944 e Programa da mesma em 1953
É neste “Teatro Gil Vicente” que Carlos Avilez inicia, em 1965, a actividade do “Teatro Experimental de Cascais” (TEC), onde se manteve na direcção da companhia até 1977. Importa ter presente que as versões/encenações de Carlos Avilez no TEC assumiram sempre uma expressão de modernidade, mesmo quando se trata de autores clássicos ou românticos, nacionais ou estrangeiros, como: Gil Vicente, António José da Silva, António Ribeiro Chiado, André Brun, Paço d’Arcos, Bernardo Santareno, Alice Vieira, Norberto Ávila, Shakespeare, Frederico Garcia Lorca, etc.
"Elenco do “Teatro Experimental de Cascais” em 1960
7 de Maio de 1966
Actualmente, o “Teatro Gil Vicente”, no Largo Rodrigues de Lima, em Cascais, e com uma lotação de 273 lugares em plateia e balcão, mantém-se sob gestão da “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais”, sendo a sua Companhia permanente o Grupo Cénico da “A.H.B.V.C.”.
“Teatro Gil Vicente” actualmente
2012 2014 2018
Fotos in: Real Villa de Cascaes, Arquivo Municipal de Cascais, Biblioteca Nacional Digital, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais
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