Restos de Colecção: Casa Africana

6 de outubro de 2016

Casa Africana

A “Casa Africana”, propriedade da firma “Raymundo Seixas & Fonseca”, abriu as suas portas em 1872, nos nos. 33 a 37 da rua da Victoria, em Lisboa, nas lojas do prédio onde viria a ser inaugurado, em 23 de Fevereiro de 1879, o Grande Hotel Duas Nações, que fazia gaveto com a Rua Augusta. 

A primitiva “Casa Africana”

                                             14 de Dezembro de 1875                                                               5 de Julho de 1877

        

Anúncio de 12 de Janeiro de 1896, depois de ampliada à Rua Augusta e já propriedade da firma “Loureiro & Paes”

Em 1904, era já propriedade da nova firma “Loureiro, Rumina & Azevedo, Lda.”, da qual era sócio-gerente Antonio Gonçalves d’Azevedo, que tinha adquirido a Manuel Ferreira da Cruz, administrador da massa falida da primitiva sociedade, que entretanto tinha falido. A "Casa Africana" muda de instalações para a Rua Augusta, 154-156, onde se viria a instalar, mais tarde , a "Alfaiataria Rosado & Pires, Lda."

Dois anúncios de 1905 antes da mudança de instalações

 

Crescendo sempre a afluência de clientela e tornando-se necessária satisfaze-la tanto quanto possível, os proprietários da “Casa Africana” mudaram o estabelecimento, então, para as lojas do prédio do outro lado (poente) da Rua Augusta 157-171, igualmente esquina com a Rua da Victoria, 66-80. 

Em 1901 a "Casa Africana" é trespassada à firma "Manuel Freire da Cruz & C.ta", que deu início a um notável desenvolvimento. Desta sociedade faziam parte Manuel Freire da Cruz e seu amigo José Freire Cogumbreiros, comerciante e capitalista de Ponta Delgada, Açores. Sucessivamente a "Casa Africana" foi ocupando todoso os andares do prédio, e após grandes obras de transformação e adaptação,  inaugurou, as renovadas instalações, no dia 14 De Dezembro de 1905.

Manuel Freire da Cruz

A propósito da inauguração das novas instalações, em 14 de Dezembro de 1905, o jornal “Diario Illustrado” noticiava:

«Os novos armazens da Casa Africana, fundada ha 33 annos, na rua Augusta, d'onde passou para o actual edificio, que tambem tem para alli uma fachada, tendo outra para a da Victoria e uma terceira para a do Arco Bandeira, ficaram hontem concluidas e serão hoje abertos ao publico.
O novo estabelecimento occupa todos os baixos da testa do quarteirão, anteriormente occupados pelas casas Gato Preto, Roda, Santos & Cardoso e Verol»

 

25 de Dezembro de 1905

As obras foram projectadas pelo engenheiro Hermenegildo Augusto Blanc. «Todas as installações dos novos armazens são de uma singeleza elegante, estylo inglez, plancados pelo fino gosto do sr. Blanc e executados com esmero pela Marcenaria Portugueza.».


Em 1911, e de comum acordo, José Medeiros Cogumbreiros, abandonou a sociedade, permitindo, assim, que Manuel Freire da Cruz, constituísse com seu irmão José Freire da Cruz, a nova firma "Freire da Cruz & C.ª, Lda.". De referir que Manuel da Cruz, nascido em Coimbra, em 1869, tinha iniciado a sua vida profissional como marçano da casa "Castro Leão".Seu irmão José Freire da Cruz, nascido em Soure, em 1875, também tinha iniciado a sua vida profissional como marçano na sua terra natal, seguindo depois para Coimbra, onde se empregou na casa "Francisco Rodrigues da Cunha, Sucrs." Foi para o Brasil, em 1893, e regressado a Portugal, em 1906, ingressou como empregado na "Casa Africana", de seu irmão, até se tornar seu sócio.


José Freire da Cruz

Manuel Freire da Cruz, em 1933, por motivos de doença abandonou por completo a sua actividade, após o que, a gerência total da casa ficou a cargo de seu irmão José Cruz, que em 1934 daria sociedade a seu filho Racine Freire da Cruz., já seu colaborador havia mais de 20 anos.

Novas obras de renovação e melhoramentos foram empreendidas em 1938.

No "Século Ilustrado" em 1938

Nos painéis das fachadas a famosa imagem de marca deste estabelecimento: o “Preto da Casa Africana”  que transportava os embrulhos e embalagens dos clientes.

O famoso “Preto da Casa Africana”

     

«(...) por todos aquelles mostruarios e prateleiras se veem avalanches de sedas, lãs, velludos e outros tecidos caros.
Nas grandes vitrines destacam-se as mais lindas e finas rendas, os chapéos e confecções modelos, as pelles mais ricas, applicações, passemaneries, fitas , plumas, botões, etc. (…)
O sr. Azevedo estava deveras satisfeito, determinando serviços a uma legião de empregados, verificando que cousa alguma faltasse nos seus respectivos logares e captivando, com a sua comprovada gentileza, os representantes da imprensa, que convidou para visitar a importante Casa Africana, que, sem duvida, fica sendo uma das primeiras do genero no nosso paiz.»

                Stand na “Exposição Industrial” de 1932                                                        1944

  

“Casa Africana” por altura do concurso de montras da “Semana dos Inválidos do Comércio” em Junho de 1933

 

                             1907                                                                                      1908

  

Cartão de descontos de 1956

Com a necessidade de expansão das suas instalações a “Casa Africana” inaugura em 1 de Outubro de 1932, as novas secções que vieram a ocupar os restantes três andares do edifício.

1963

                                             1941                                                                                        1954

  

1977

Em 1925 já tinha uma sucursal na cidade do Porto, na Rua 31 de Janeiro e em 1956 abre uma filial no Centro Comercial do Cruzeiro (primeiro Centro Comercial do país) no Monte Estoril.

                                            1925                                                                                       1959

 


Sucursal no Porto

A “Casa Africana” viria a encerrar definitivamente nos finais dos anos 90 do século XX. Hoje as lojas do mesmo edifício estão ocupadas pela “Zara”. Foto seguinte obtida a partir do “Google Earth”

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Digital da CML, Delcampe.net

14 comentários:

PNLima disse...

Só ganhei coragem para entrar na Casa Africana já as portas estavam quase a fechar em plenos saldos para fecho. Lá por casa o nível económico não permitia compras por aqui e por isso sempre nos barrámos mentalmente de lá entrar, digo eu. Mas foi muito bom recordar uma loja que associao à meninice/adolescência (os Porfírios faziam mais sucesso a partir de determinada altura, mas aí eram os tamanhos xs que me faziam desistir)

José Leite disse...

D. Paula Lima

Grato pelo seu comentário.

A "Porfírios" era uma loja completamente diferente, mais virada para gente jovem e bem mais pequena.

Os meus cumprimentos

mário matos e lemos disse...

Trabalhei durante pouco mais de um ano nos escritórios da Casa Africana. Foi o meu primeiro emprego mas nem me lembro bem do ano. Talvez 1952, nem vinte anos tinha. Conheci então o principal sócio-gerente, Racine Freire da Cruz, de quem tenho as mais gratas recordações e a quem,infelizmente, nunca soube agradecer, em vida sua, todas as atenções que lhe fiquei a dever. é um remorso que me acompan hará até ao fim. Mário Matos e Lemos

Isabel Jordão disse...

Que descoberta engraçada que eu fiz: o meu antigo emprego.
Um dia li no jornal que precisavam de empregada, eu tinha alguma experiência tanto em sapatos como em roupa. Arrisquei e fui à entrevista. Éramos muitas e, uma a uma, eu viã-as a sair desoladas. Chegou a minha vez. Tremia e estava recatada com a minha timidez. Lembro-me de me perguntarem, se estava disponível no momento e à minha resposta afirmativa, mandarem-me descer e dirigir-me à secção de sapatos. Fiquei logo a trabalhar. O movimento era muito e acabei por vender imensos pares de sapatos. Depois disso, corri as várias secções, sempre com muito êxito nas vendas, o que deixava as mais velhas de sobrolho arreganhado.
Um dia eu, a Teresa e a Valéria, fomos chamadas ao 3º andar (?) ao escritório dos patrões. Pouco conhecia as minhas colegas e pouco conhecia os meus patrões, que eram tão temídos por todos os funcionários. Olhavamos as 3 umas para as outras pensando que era o nosso fim. Mas apenas nos foi informado que no dia seguinte iríamos fazer mudar para a loja do cruzeiro n o Monte do Estoril.
E lá fomos, onde nos aguardavam colegas antigos na casa: o Sr. Morais, o chefe; a Florinda e a Gina, que mais tarde foi minha madrinha de casamento e ainda hoje somos muito amigas, assim como da Valéria.
Passamos bons momentos e alguns muitos engraçados.

Unknown disse...

Tive conhecimento hoje desta página, pela Isabel Santos, minha grande Amiga e ex colega na Casa Africana do Estoril. Fomos selecionadas para inaugurar a Casa Africana no Cruzeiro, depois de ter sido submetida a um rebranding e dividida em três loja - cujo nome não me ocorre - mas que essencialmente serviam o segmento pronto a vestir de homem, de senhora e uma só para sapatos, malas e acessórios. Foi uma época muito engraçada daquelas lojas, entre 1984 e 89 (período em que lá trabalhei). Tivemos como Mestre a Virginia Coutinho (uma amiga inestimável), um elemento emblemático da Casa Africana, quer de Lisboa quer do Estoril, onde passou a última parte da sua vida profissional.
A Casa Africana era uma instituição, quer para os seus fincionários quer para a Sociedade em geral. Há gerações marcadas pela importância daquela loja no seu quotidiano.
Obrigada pela partilha deste acervo histórico tão valioso para nós.

Isaura Duarte Ferreira disse...

Descobri hoje alguns comentários de algumas colegas da Casa Africana e fiquei muito contente porque me fez lembrar momentos felizes que lá vivi. Tenho saudades de todas as colegas, desde o empregado de escritório às de limpeza. Trabalhei lá desde 1981 a 1999. Primeiro trabalhei na caixa com a Rosália e com a Lena que ainda hoje continuam a ser minhardgdfgdgsds amigas. Depois trabalhei no escritório com a Isabel Maria e com a Mariza e ainda a Amélia. Por fim trabalhei na perfumaria e sou amiga da Rosa, e trabalhei também na perfumaria com a Lola e com a Alda. Ainda hoje sou amiga da Paula Cunha, da Conceição Pimenta, Conceição Freitas. Sinto muitas saudades de todas as colegas com quem trabalhei. Peço desculpa se me esqueci de alguém.

Unknown disse...

Eu sou a Conceiçao Freitas trabalhei na casa africana 24 anos até fechar Tenho muitas saudades de tempos muito bem passados ainda hoje me comovo quando la passo à porta ainda Tenho contacto com a Rosalia,Paula cunha,Ana Maria,Paula Silva, o costa,Leocadia, Isaura, bons tempos de amizade e de trabalho

Marta Freire da Cruz disse...

Estou a pesquisar informações sobre a minha família e é bom ver que todos se recordam com carinho da Casa Africana e dos seus funcionários. (O Racine era o meu bisavô, infelizmente eu já não o conheci).

mário matos e lemos disse...

Gostaria que a Senhora D. Marta Freire da Cruz me dissesse quando faleceu o seu bisavô e onde está sepultado pois gostaria de lhe prestar a minha homenagem. Recordo-me também do irmão. o eng. Milton Freire da Cruz, com quem tive pouco contacto. Se a Senhora D. Marta Freire da Cruz estiver interessa, posso ofereceer-lhe um número, de 1956, do Boletim da Casa Africana

Marta Freire da Cruz disse...

Boa tarde, o meu bisavó Racine está no cemitério do alto de São João num jazigo. É uma questão de perguntar à entrada qual o jazigo da família Freire da Cruz que eles saberão responder. Obrigada.

Marta Freire da Cruz disse...

Boa tarde, o meu bisavô e a restante família estão no cemitério do alto de São João, num jazigo. Perguntando qual o jazigo dos Freire da Cruz à entrada eles saberão responder. Obrigada.

Filipe Caetano Ramos disse...

Conheci o Sr. Racine pois era amigo do meu pai e tive o privilégio de contactar com ele na Casa de Repouso da Casa Africana bas Azenhas do Mar, aí passei várias férias quandodeixou de ser para os empregados.Finais dos anos 50, na altura quem utilizava a Mansão era a família, os dois filhos a companheira do Sr. Racine e filha alguns filhos de empregados, tudo orientado pela D. Maria Luisa a sua companheira.Eu e o meu irmão tivemos o privilégio de aí passar férias que recordo com gratidão, criei ⁷amizade com o José Luis e o José Carlos Freire da Cruz, perdi o contacto quando o José Luis foi para o Porto estudar. Gostava imenso de saber algo sobre os dois se for possivel contactar Filipe Caetano Ramos nas redes sociais.

Filipe Caetano Ramos disse...

D.Marta Freire da Cruz provávelmente é neta do José Carlos ou do José Luis Freire da Cruz, eu virei regularmente ao blog mas de qualquer maneira e se fosse possível mandar-me um e-mail para luiscaetanoramos@hotmail.com agradecia.

Anónimo disse...

Trabalhei na Casa Africana em finais da década de 1950 e primeiros meses de 1960, o que para mim foi um Céu.
Grande parte do pessoal fazia a entrada pela Rua dos Sapateiros (Rua do Arco do Bandeira), para estar no seu lugar à hora de abertura do estabelecimento, porta por onde também entravam os empregados da Companhia (ligada à produção e descasque de arroz, nos campos do Rio Sado, administrada pelo Sr. Eng. Milton Freire da Cruz) .
Muito viva a minha memória do Sr. Racine, um homem com perfil de grande Senhor, e do seu filho, de idêntico perfil, o Sr. José Manuel, para mim, ainda jovem, um modelo de bem-vestir, que circulava pelo estabelecimento como uma espécie de cordial anfitrião. O outro filho do Sr. Racine, bem novo ainda, também o vislumbrámos, mas só fugazmente.
Dois apontamentos só:
Quando o Sr. Racine foi submetido a uma delicada intervenção cirúrgica, todos fizemos questão de o visitar. Forma respeitosa de agradecimento por trabalharmos na sua Casa.
Naqueles tempo, muitas das grandes Casas tinham uma colónia de férias para os filhos de seu pessoal, esta nas Azenhas do Mar.
Era ainda o tempo antigo do empresariado com vocação humanista.