Restos de Colecção: Livraria Sá da Costa

21 de julho de 2013

Livraria Sá da Costa

A “Livraria Augusto Sá da Costa & Cª”, foi fundada no Largo do Poço Novo, em Lisboa, em 10 de Junho de 1913., pelos irmãos Augusto Sá da Costa e José Augusto Sá da CostaNa gerência desta casa ficaria  Augusto Sá da Costa, que, até então, tinha sido gerente e administrador da “Livraria Avellar Machado” - qua ainda hoje se mantem como alferrabista.




Augusto Sá da Costa (1883 - 1960)

11 de Junho de 1913

                      

Recordo que a “Livraria Avellar Machado”, onde Augusto Sá da Costa começando por empregado chegaria a gerente e administrador da mesma, foi fundada na Rua do Poço dos Negros, em Lisboa no ano de 1876 e ainda hoje existe, sendo a livraria alferrabista mais antiga do país.

“Livraria Avellar Machado” em 1942

 

Esta livraria, ficou ligada à  “Livraria Sá da Costa Editora”, que foi responsável pela publicação de textos clássicos da literatura portuguesa, de autores como Sá de Miranda, António Verney, João de Barros, Diogo Couto, Almeida Garrettt, Diogo de Paiva de Andrada, entre outros, a que chamou de “Colecção de Clássicos Sá da Costa”. Também foram publicados ensaios de António Sérgio e de Vitorino Magalhães Godinho, assim como das obras de Hernâni Cidade, de Padre António Vieira, Cavaleiro de Oliveira ou de D. Francisco Manuel de Melo, entre outros.

                      

Em 10 de Junho de 1943 o Presidente da República General Óscar Carmona, e o Ministro da Educação Nacional, Mário de Figueiredo, inauguraram as novas instalações da “Livraria Sá da Costa” na Rua Garrett, passando a ser a sede e mantendo o estabelecimento inicial no Largo do Poço Novo, como sucursal. Tendo aberto ao público no dia 11 de Junho de 1943, a sua decoração em Art Deco, conta com três medalhões em bronze, um de Camões, representando as Humanidades, outro de Garcia da Horta, representando as Ciências, e ao centro o fundador e a divisa da empresa: «instruere:construere».          

 

10 de Junho de 1943

Chefe de Estado General Óscar Carmona e Augusto Sá da Costa no discurso de inauguração

    

O edifício foi sujeito a obras para poder receber a livraria. Nos trabalhos estiveram envolvidos o Eng.º António Faria, o construtor António Rodrigues Januário e o Arq.º António Augusto Sá da Costa, sobrinho de Augusto Sá da Costa.

A “Livraria Sá da Costa”, localizada no mesmo prédio do conhecido “Hotel Borges”, e «paredes meias» com a “Pastelaria Bénard”  fundada em 1868, viria a ocupar as antigas instalações, onde pelo menos até 1875, teria funcionado o famoso “Café Central”, botequim de marialvas, toureiros, escritores e fidalgos, propriedade de Domingos António, conhecido pela casaca impecável e pelo chapéu alto que manteve até ao fim da vida. Foi neste estabelecimento que, pela primeira vez, foi introduzido o serviço de restaurante nos cafés em Portugal. Antero de Quental, Eça de Queirós, Adolfo Coelho e Guerra Junqueiro, entre outros, eram frequentadores assíduos.


                                      

Anos mais tarde e após um período de remodelação, a “Livraria Sá da Costa” abriu de novo as portas aos livros. No primeiro andar aconteceriam tertúlias, lançamentos, e todo o tipo de evento cultural.  Em Junho de 2008, num novo grupo editorial foi criado a partir duma parceria que incluiu a Livraria Buchholz”, e a editora Sá da Costa relançando oficialmente a “Portugália Editora”, fundada em 1942.

 

 

Depois de várias tentativas, em 2010 a “Livraria Sá da Costa” foi posta à venda, sem sucesso, no Portal das Finanças, com uma base de licitação de 175.000 euros incluindo o alvará, direito ao arrendamento e trespasse da loja ocupada, pela livraria no Chiado desde 1943. Em 2011, o tribunal decretou a venda judicial pelo mínimo de 415.498 euros, mediante proposta em carta fechada. Apesar de terem sido recebidas duas propostas, a venda da livraria não foi avante. O Tribunal de Comércio declarou a insolvência da empresa e determinou a venda do património.

100 Anos e 40 dias depois de ter sido fundada, a “Livraria Sá da Costa” encerrou em definitivo, ontem dia 20 de Julho de 2013.

                                       

Lembro que na semana passada encerrou a livraria do “Diário de Notícias” fundada em 1938 no Rossio, depois de outras conhecidas livrarias de Lisboa, terem recentemente encerrado, casos da “Livraria Portugal”, fundada em 1941 na Rua do Carmo,  e da “Livraria Barateira”, fundada em 1914 na Rua Nova da Trindade.

 

 

  

Outras livrarias bem conhecidas, foram já alvo de artigos específicos neste blog, como a Livraria Bertrand”, aLivraria Buchholz e aLivraria Lello & Irmão”.

fotos in: Hemeroteca Digital, Marcas das Ciências e das Técnicas, Nova Casa Portuguesa, Lisboa S.O.S., Ilustração Portuguesa, Hotel Borges Chiado

15 comentários:

Ana Marques Pereira disse...

Os meus parabéns pela oportunidade do post. O encerramento de todas estas livrarias é um sinal dos tempos que correm. Num país pouco dado ao hábito da leitura, são estes "vícios intelectuais" os que mais sofrem. Contrasta bastante com o que acontece com os supermercados que conseguem manter o volume de vendas. Pelo menos por enquanto.
Um abraço

José Leite disse...

D. Ana Marques Pereira

Antes de mais, os meus agradecimentos pelo seu comentário pertinente e cheio de propriedade.

Já estava nas minhas intenções, publicar um artigo acerca desta casa tão importante, no panorama literário português, mas o facto do seu encerramento levou-me a antecipar.

Não será tão generoso como eu desejaria, mas fica a intenção.

Pena tudo ir desaparecendo ...

Um abraço e os meus cumprimentos

José Leite

João Celorico disse...

Em 1951, já não tive oportunidade de conhecer essas instalações da Sá da Costa, no já Largo Dr. António de Sousa Macedo, mas a "Avelar Machado", onde comprei alguns dos meus livros da 4ª classe, mais votada ao alfarrabismo, lá continua. Assim como, ao que parece, a "Livraria Progresso Editora", lá vai tentando sobreviver. É bom lembrar que estas livrarias/papelarias, assim como a "Planeta", viviam muito da actividade escolar envolvente. Além de 3 escolas primárias (a nº 2, a nº8 e uma na calçada do Combro que não sei o nº, bem repletas de miudagem), ainda haviam, o Liceu Passos Manuel e a Escola Comercial D. Maria. Hoje praticamente tudo extinto, ou quase!

Abraço,
João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico

Muito grato pelas suas preciosas recordações.

Abraço

José leite

Manuel Tomaz disse...

Numa conjuntura de encerramento de diversos estabelecimentos, esta das livrarias de Lisboa, bastante nos entristece, especialmente para quem as frequentava.
Os meus cumprimentos,
Manuel Tomaz

José Leite disse...

Caro Manuel Tomaz

Corroboro inteiramente da sua opinião.

Os meus cumprimentos

José Leite

rmg disse...


Este é um fenómeno que tem a ver com os tempos que correm em todo o mundo e não só cá , basta acompanhar o assunto em Espanha , França , Reino Unido , só para citar alguns mais próximos .

Não se lê menos , lê-se de outra maneira e , muito em especial , compra-se de outra maneira pois remeter para os grandes espaços sem remeter para as vendas online é esquecer grande parte das razões .
E esquecer os que "anunciam" o fim dos livros em papel também não ajuda.

De resto confunde-me um pouco esta "choradeira" geral pois , para quem como eu almoça todos os dias na Baixa e entrava todos os dias na Portugal , na Sá da Costa e até na Barateira (alfarrabista) , o único espanto é que ainda estivessem abertas pois tinham positivamente parado no tempo (conhecia pessoalmente as pessoas , não falo por falar).

Alguém lá ía de propósito comprar livros ? Muitíssimo poucos .
Em compensação as pessoas passeiam-se a propósito de tudo (e muito em especial de nada) nos centros comerciais e portanto se é lá que o potencial cliente anda é lá que tem alguma lógica que esteja a loja .
E essas livrarias , que eu saiba , são cada vez mais e maiores .

Verifico frequentemente , quando digo estas coisas , ser "criticado" por pessoas que 5 minutos depois estão a admitir que há 10 anos que não entravam nas livrarias do Chiado (e nem adiantam se nessa altura tinham comprado alguma coisa!).

É pena ? Pois é .
Eu também lamento , tenho 67 anos e comecei a ír lá há mais de 60 anos , com o meu Pai (cliente fiel durante mais de 50 anos) , não há muitos que se possam gabar disso .

Um abraço e parabéns por este blog que considero "de referência"

José Leite disse...

Caro(a) RMG

Muito grato pelo seu comentário, que não deixa de ser, também, pertinente e actual.

Igualmente grato pelas suas amáveis palavras em relação a este blog.

Os meus cumprimentos

José Leite

Anónimo disse...

Fui também assíduo frequentador dessas livrarias-Portugal,Bertrand,Morais,Sá da Costa,Diário de Notícias.Fraco comprador por razões económicas,mas respondo ao sr. mg dizendo-lhe que há cerca de quatro anos comprei(carote)na Portugal a que considero ser a melhor edição de bolso da Poesia de Pessoa e cia(a de Aliete Galhoz na estrangeira! editora Aguilar)e que nem a Fnac tinha.Enquanto editora a Sá da Costa patrocinava a publicação de clássicos portugueses e de ensaístas como Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho ou Orlando Ribeiro que não veremos nos supermercados.A rasoira dos tempos é sempre abrutalhada.
Obrigado por me recordar tempos da minha juventude.
José

rmg disse...


Meu caro sr. José

Muito obrigado pela atenção que deu ao meu comentário .

Não tem por que me responder pois eu não me propus levantar aqui nenhuma questão mas antes falar do que é (e não do que devia ser).

Tenho o privilégio de ter todos esses clássicos editados pela Sá da Costa nos anos 60 e a que se refere , herdei-os de meu Pai (deve ter notado que o referi como cliente fiel durante cinco décadas , a vida quase toda pois faleceu com 70 anos).

Eu próprio tenho uma biblioteca que considero respeitável e que fui construíndo ao longo dos últimos 50 anos , desde os 15/16.
Como não vejo televisão há 20 anos (zero) imaginará certamente o tempo que me sobra para ler e conversar com os amigos ...

A FNAC não tem e nunca veremos nos supermercados pela simples razão de que se contam pelos dedos de uma mão as pessoas que ainda se interessam por essas coisas e não têm ainda o livro A ou B.
Não havendo quem os compre como é que pode haver quem os edite e os venda ?

A rasoira dos tempos é decerto abrutalhada mas é o que é , aquilo a que se chama "progresso" é bom para umas coisas e menos bom para outras , como sempre foi .
Hoje há sites na net de onde se podem descarregar gratuitamente muitos clássicos , nomeadamente os que caíram no "domínio público" .

Com vários netos adolescentes estou bem colocado para o confirmar mas , se bem repararmos , a maior parte das pessoas da minha geração (acima dos 65 anos) , queixa-se da falta de interesse pela leitura das camadas jovens mas eles próprios não pegam num livro há anos .

Se cada pessoa que se insurgiu nos últimos dias contra o fecho da Sá da Costa lá tivesse comprado um livro de 2 em 2 meses nos últimos anos talvez aquilo se tivesse salvo (e com mais razão ainda a Portugal , considerando a oferta disponível na loja).

Uma boa noite para si

RuiMG

José Leite disse...

Caro Rui

Mais uma vez muito grato pelo seu comentário e por expressar a sua opinião.

O que vai acontecendo últimamente é que, muitas vezes, factos como este do encerramento desta Livraria, são aproveitados para outros fins, e por pessoas que nada têm a ver, com o assunto ...

De qualquer modo, do alto dos meus 54 anos (...), vou assistindo ao facto de irmos perdendo o nosso património, ao longo dos tempos. Novos tempos!

Os meus cumprimentos

José Leite

rmg disse...


Caro José Leite

Não posso estar mais de acordo com o seu 2º parágrafo .

Também aqui “Novos tempos !” , como muito bem diz .
A constante mediatização de tudo e todos , apoiada num “disseram na TV” ou “veio no jornal” que funciona como chancela para um grande número de cidadãos , leva demasiadas vezes a que se ouça só os que têm menos para dizer sobre cada caso .

Resta-nos continuar agarrados à realidade .
Carlos Saura , o realizador espanhol , disse um dia que “são os filhos que nos puxam para a realidade” .
Eu acrescentaria que “e depois deles os netos” .

É o que eu tento fazer sem abdicar de nada do que penso e me formou .
Mas o mundo é outro e é nele que agora vivo .
Há que manter um justo equilíbrio , só assim posso ajudar os netos a respeitarem o passado comum .

Obrigado pela paciência e cumprimentos do

Rui MG

Rosa Machado disse...

Bom dia,

Gosto muito de ler o seu blog.

Conheci e frequentei todas estas livrarias, e só posso acrescentar que felizmente o meu saudoso Pai - José Pedro Machado - já cá não estava, para ver o que aconteceu à Livraria Portugal...

Att,
Rosa Machado

José Leite disse...

D. Rosa Machado

Muito grato pelo seu comentário.

Os meus cumprimentos

Anónimo disse...

A Avelar Machao onde fui imenso também já fechou. A Sá da Costa fechou mas continuam lá livros, o que já não é mau. A Portugal já não existe e a minha saudosa Buchholz também já era. O que sobra é formatado. Sobram os alfarrabistas.
Gonçalo