A “Companhia Portuguesa Rádio Marconi” - CPRM, foi uma empresa de telegrafia e de satélite portuguesa, constituída em 18 de Julho de 1925, a partir do contrato de concessão celebrado entre o Governo português e a “Marconi Wireless Telegraph Company Limited”.
A sede e central da “Companhia Portuguesa Rádio Marconi” - CPRM, localizava-se na Rua de São Julião, nº 131, em Lisboa, onde foi instalada a Central Telegráfica e as Estações de Alfragide (emissora) e de Vendas Novas (receptora).
Sede e Central da CPRM na Rua de São Julião Estação de Alfragide em 1926
Em 1895 o inventor italiano Guglielmo Marconi conseguiu, pela primeira vez, estabelecer comunicação à distância por ondas radioeléctricas. Com esta descoberta nasceu a telegrafia sem fios - T.S.F. - que depressa conquistou espaço privilegiado na rede internacional de telecomunicações.
Primeiro emissor de TSF utilizado por Marconi em 1895
Em 1912 foi assinado, entre o governo português e a sociedade Marconi, o primeiro contrato de construção da rede mundial de TSF do País. As dificuldades financeiras da época, somadas à eclosão, dois anos mais tarde, da I Guerra Mundial, fizeram adiar esta construção para a década de 20. Um segundo acordo, obtido em 1922, esteve na origem da instalação da Marconi em Portugal pela constituição de uma empresa nacional.
Artigo na revista “Ilustração Portugueza” em Novembro de 1919
Radiotelegrafistas navais na Casa da Balança em 1912 Guglielmo Marconi no Rossio em 1912
Os Estatutos da “Companhia Portuguesa de Rádio Marconi” foram publicados em 18 de Julho de 1925, dando início à actividade preparatória das comunicações sem fios entre Portugal e o resto do Mundo. Nasceu assim, em 1925, a “Companhia Portuguesa Rádio Marconi”.
No fim de 1926, a Marconi portuguesa abriu os primeiros circuitos mundiais e no ano seguinte já mantinha ligações regulares com múltiplos destinos como Londres, Berlim, Rio de Janeiro ou Paris. Em pouco tempo, a teia de T.S.F. portuguesa chegava a quase todo o globo e com ela a génese da modernização do sector das telecomunicações.
“Diário de Notícias” em 16 de Dezembro de 1926
Inauguração da Central na Rua de São Julião em 1926
Estação transmissora de Alfragide
Em 15 de Dezembro de 1926, entram em funcionamento as estações da CPRM da Madeira e dos Açores, ligando via rádio o triângulo Continente, Açores e Madeira. Alguns meses mais tarde, seria a vez de fazer comunicar Lisboa com Madrid, Paris e Berlim, o Brasil e as colónias portuguesas de Cabo Verde, Angola e Moçambique.
Inauguração pelo Presidente Óscar Carmona do serviço telegráfico com as colónias portuguesas, em 1927
Emissor telegráfico de onda curta em Lourenço Marques, em 1927
Por curiosidade, fotos da Estação de Correios, Telégrafos e Telefones de Lourenço Marques
Estava traçado o caminho para o desenvolvimento da TSF portuguesa, onde à curiosidade científica se aliou o interesse técnico, reunindo cientistas e engenheiros em torno do invento de Marconi. Assim o testemunhou um artigo entusiástico de um jovem estudante de engenharia electrotécnica, que em 1927 notava as potencialidades das radiocomunicações:
«Para se fazer uma ideia da rapidez com que o serviço é feito direi que um telegrama chegou à central Rádio após um percurso de 40 segundos dentro dos tubos pneumáticos, um minuto depois estava registado com determinado número, passado outro minuto estava na devida altura da mesa dos rádios para Londres onde passou imediatamente à máquina perfuradora da fita, a qual se assemelha em tudo a uma vulgar máquina de escrever que perfura uma tira de papel com os traços e pontos dos sinais Morse pelo mesmo sistema que uma máquina vulgar imprime as letras a tinta. Esta fita (...) entra directamente no automático de transmissão que trabalha segundo o princípio do relais polarizado, sendo este que substitui o vulgar manipulador, (...) por intermédio de um simples reóstato pode fazer-se variar a velocidade de transmissão de 20 a 200 palavras por minuto.» in “Técnica” , Morais, Madruga de, em 1927.
Telegrama proveniente da Marconi’s Wireless em 1927 Anúncio em 15 de Outubro de 1929
Em 25 de Setembro de 1929, a primeira página do jornal “O Século” noticiou a terceira visita de Guglielmo Marconi, que se destacava já como reputado cientista e empresário, vindo então visitar as instalações da “Companhia Portuguesa Rádio Marconi”, constituída essencialmente por capital da companhia britânica “Marconi’s Wireless Telegraph Company Ltd.”. O inventor italiano chegou a Lisboa no dia 23 com a intenção de conhecer a sede da nova companhia e a estação de Alfragide, recentemente construída, onde vários operadores portugueses se ocupavam já das comunicações radiotelegráficas com as colónias portuguesas em África, alguns países europeus e do continente americano.
Guglielmo Marconi e esposa durante a sua visita em 1929 Telegrama enviado por Marconi para Londres desde Lisboa
Entretanto o serviço de telegramas entre Portugal e as Américas do Norte, Central e do Sul, Canadá, México, etc já era assegurado pela empresa americana “Commercial Cable Company” fundada em 1884. Os primeiros cabos submarinos desta companhia chegaram à cidade da Horta, nos Açores, em 1904.
Anúncio de 1930, e instalação de cabos telegráficos submarinos na Horta, em 1904, e respectiva Estação Telegráfica
Sala de telégrafos numa Estação dos CTT
Em 1941 enquanto se estabelece o “Serviço Postal Imperial” com taxa única para todo o espaço territorial português, é assinado o convénio “Via Portucale” concedendo à Marconi o exclusivo do serviço telegráfico com as colónias portuguesas.
Stand em 1940
E em 1948 é estabelecido o serviço do telex em Portugal. E em 1950 é instalado pela “APT - Anglo Portuguese Telephone” o telefone 1 milhão
Outra sala de telegrafia numa Estação dos CTT
No início dos anos 50, a rede da CPRM dispunha de 48 emissores telegráficos e telefónicos, sendo 25 no Continente e 23 nas Ilhas Adjacentes e no Ultramar, e 106 unidades receptoras, constituindo 84 receptores telegráficos e telefónicos. O número total de antenas era de 117, das quais 67 no Continente e 50 nas Ilhas e Ultramar.
Interior das instalações da CPRM na Rua de S. Julião no ano de 1941
Nos anos 60 a “Companhia Portuguesa Rádio Marconi” vê renovado o seu contracto de concessão e ampliado o seu âmbito. São lançados novos cabos submarinos: SAT-1 (Africa do Sul), obrigando à construção das Estações de Cabos de Sesimbra e Ilha do Sal em Cabo Verde); e ainda do PORT/UK, que ligava Portugal à Grã-Bretanha. Iniciam-se também os contactos para a instalação de uma rede de telecomunicações via satélite. Em 1961 é atingida a automatização integral das redes de telex e telegráficas nacionais.
Boletineiro
Montras no edifício-sede da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, em 1941
Cartaz alusivo ás comunicações mundiais em 1938
1962 1966
Em 1972 é nacionalizada a totalidade do capital social da “Companhia Portuguesa Rádio Marconi” - CPRM. Depois de inaugurada a central de telex automática de Lisboa em 1973, é iniciado em 1977 o serviço de telex no Arquipélago dos Açores.
Centro operacional de satélites na Ilha de São Miguel nos Açores
Nos anos 80 do século XX, dá-se a internacionalização da CPRM, passando a designar-se como “Marconi Comunicações Internacionais”, e estabelecendo uma joint-venture com a “Embratel - Empresa Brasileira de Telecomunicações”. Entram em funcionamento as Estações de Sintra-3, para o tráfego com o Oriente, e Sintra-4 para a transmissão digital para a Europa.
Centro operacional de satélites em Sintra
Mais recentemente, na década de 90 do século XX, participou no consórcio “TMN - Telecomunicações Móveis Nacionais”, que é hoje a maior rede de telecomunicações móveis de Portugal.
Em 1995 a Portugal Telecom adquiriu integralmente o capital da “Marconi Comunicações Internacionais”, iniciando um processo de fusão que se concluiria no ano de 2002.
fotos in: Fundação PT, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, CT2JKO, DXMichael
13 comentários:
Parabéns pelo belo trabalho sobre a Marconi.
José Santos
ex-CPRM, Marconi e PT
Caro José Santos
Muito obrigado pelas suas palavras.
Os meus cumprimentos
José Leite
Enquanto radiotelegrafista na Marinha Portuguesa tive muitas oportunidades de trabalhar com a Marconi, e alguns dos meus colegas mudaram-se para la. Parabens por este belo trabalho.
Caro Domingos Arrojado
Muito grato pelo seu comentário.
Os meus cumprimentos
José Leite
Caro José Leite
A propósito da primeira foto do edifício da Marconi em 1926, um colega da Marconi, comentou que a circulação pela direita só foi introduzida em 1928, tal como o automóvel está estacionado à porta do edifício. Assim, é provável que a data desta foto seja pós 1928, a menos que o carro esteja em transgressão... Abraço. José Santos
Caro José Santos
Quanto à datação da foto apenas segui a legenda da Fundação PT.
Eu sei que a condução pela direita foi instituída em 1 de Junho de 1928, mas ...
Achei por bem , e pelo sei ou pelo não retirar o ano à legenda.
Grato e os meus cumprimentos
José Leite
Caros
Relativamente à estação de satélites de São Miguel, Açores, constatei há poucas semanas que se encontra totalmente abandonada. As antenas estão cobertas de musgo e ervas e o mato invadiu todo o espaço das instalações. Até o portão se encontra parcialmente aberto. Não consegui confirmar desde quando as referidas instalações se encontram nesse estado. Porventura sabem de algo ? Obrigado
Obrigada. Sou a filha mais nova do empregado nº 218 da CPRM, Cipriano Marques Vieira e neta do empregado nº2 Celestino Simões Cortês,. Vi agora aqui uma foto do meu pai que dedicou toda a sua vida a esta empresa. Se tiverem mais fotos dele desta altura agradecia que mas enviassem para mvieira@ualg.pt.
Margarida Vieira
Caríssimo José leite. A Estação de Sintra (Alfouvar) encontra-se ativa nos Feixes hertzianos que recebem e enviam dados de televisão e informáticos. Possivelmente, ainda têm a cargo a gestão da órbitra dos satélites por cima do nosso Espaço Aéreo e Europeu. É o que se depreende da sua multiplicidade (dezenas e dezenas) de antenas e funcionários que ali trabalham. Trata-se de uma atividade de contornos diferentes da História da Marconi original e da CPRM - Companhia Portuguesa Radio Marconi, baseadas na telegrafia morse, seguida dos teleimpressores que imprimiam os textos telegráficos já descodificados, isto é na escrita alfanumérica que todos nós hoje utilizamos. Seguiu-se a telefonia via Marconi entre as geografias que não utilizavam os cabos submarinos ou os fios e cabos terrestres. Hoje em dia estas Estações continuam a ser muito úteis, sobretudo como meios alternativos, quando a transmissão por cabos avaria; em situações de grande densidade de tráfego; em sítios onde só os feixes radioelétricos chegam e nos dados de GPS via satélites. Se estas transmissões radioelétricas estivessem mais disseminadas e ativas per todo o território nacional, não teriam acontecido os mais de cem óbitos que se verificaram só no ano de 2017, em sua maioria, por falha de telecomunicações entre a população e as entidades da Administração Interna: Bombeiros e Forças de Segurança. Um Bom Ano para si e seus próximos.
Por acaso sabe qual eram as cores oficiais da Rádio Marconi, nomeadamente na sua equipa de ciclismo de finais dos anos 40? Obrigado.
Com os melhores cumprimentos,
Eduardo Lopes
o meu pai trabalho na marconi ate 1980. ele era Armando Graca da Costa. amina pergunta e cual era o nome da rua da colonia na praia das macas?
A Marconi não teve a sua colónia de férias na Praia das Maçãs, mas sim a CP.
A colónia de férias da Marconi, esteve localizada na Verdizela.
É verdade! Eu fui monitora nessa Colónia de Férias da Verdizela, durante anos. Bons tempos.
Aproveito para perguntar se alguém tem acesso ao NIF da Empresa nessa época. Obrigada!
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