O "Theatro de D. Fernando", foi inaugurado no dia do trigésimo terceiro aniversário do Rei D. Fernando II, 29 de Outubro de 1849, na Rua Nova da Princeza (actual Rua dos Fanqueiros), no Largo de Santa Justa, em Lisboa. Foi seu promotor o homem de negócios da capital Francisco Rodrigues Batalha. O projecto foi da responsabilidade do Arquitecto da Cidade Malaquias Ferreira Leal.
31 de Outubro de 1849
«(...) Não se fizeram rogar os monges, que logo embarcaram. Chegando aqui mandou el-rei depositar o corpo do santo na primitiva egreja de Santa Justa e Rufina Esta foi destruída, pedra a pedra, pelo terramoto de 1755, por cujo motivo se construiu outro templo com a mesma invocação, na rua dos Fanqueiros. Não sabemos o motivo porque este segundo templo foi profanado, e n’elle se edificou o theatro de D. Fernando, de curta duração, vindo afinal a deitar-se tudo abaixo, para se construir o grande prédio em que se installou o hotel Pelicano.» in: "Lisboa Antiga e Lisboa Moderna" (1901)
Este teatro viria a ser construído no terreno onde tinha sido demolida a Igreja de Santa Justa. Já em Dezembro de 1834 a Câmara Municipal de Lisboa, tinha ordenado a demolição do seu adro, depois da paróqui ter sido transferida para a Igreja de S. Domingos, junto ao Rossio. A igreja, entretanto, servirá de aquartelamento do 7º Batalhão da recém criada "Guarda Nacional Republicana" . Este espaço estaria desocupado em 1838 e só em 1848 aparece referência à intenção de compra da Igreja e terreno, por parte de Francisco Rodrigues Batalha com a intenção de aí construir um novo teatro - "Theatro de D. Fernando". A este projecto juntava-se Émile Doux, empresário do "Theatro da Rua dos Condes", que tinha vista a sua pretensão ser recusada.
Localização do "Theatro de D. Fernando" (dentro da elipse desenhada)
Alçado principal
El-Rei D. Fernando II, de seu nome alemão Ferdinand August Franz Anton von Sachsen-Coburg-Koháry, nasceu em Viena em 29 de Outubro de 1816 e faleceu em Lisboa a 15 de Dezembro de 1885. Foi o segundo marido da rainha D. Maria II e Príncipe Consorte de Portugal, de 1836 até 1837, altura em que se tornou Rei de Portugal e dos Algarves por direito da sua esposa.
Rei D. Fernando II (1816-1885)
Na "Revista Popular - Semanario de Literatura e Industria", de de 3 de Novembro de 1849 : «No aniversario d'El-rei teve logar a abertura do theatro novo, que o sr. Batalha fez construir em 200 dias»
O "Novo Guia do Viajante em Lisboa e Seus Arredoras - Cintra, Collares, e Mafra", de 1853, descreveu, deste modo, o "Theatro de D. Fernando":
«D. FERNANDO - Theatro françês - Foi ediíicado sobre as ruínas da parochial igreja de Santa Justa, por Arnould Rertin, architecto françez, e é propriedade do negociante da praça de Lisboa, Francisco Rodrigues Batalha. A fachada deste theatro é de máo gosto pela desparatada mistura de generos architetonicos que apresenta ; o interior é acanhado, mas os seus ornatos simples e elegantes. A sala do expectaculo é elíptica, e tem 38 palmos de largura sobre 52 de comprimento; dividida em 4 ordens de camarotes, sendo 54 públicos, 3 para SS. MM., e 2 para o proprietário; pode conter 636 pessoas, das quaes 324 nos camarotes, 52 nas galerias, 224 na platéa, e 36 no amphitheatro. Tem um salào lateral, e botequim ao nível da ordem nobre; todas as decorações são de Rambois, Cinatti, Ronconi, e Ignacio Caetano. Os preços dos locares tem variado. Abertura em 29 d’Outubro de 1849.»
A plateia tinha três entradas, uma ao centro, com uma pequena escada de cada lado, e duas laterais, junta à orquestra. Os corredores das diferentes ordens confluíam todos numa pequena salinha bem ventilada. As escadas e demais serventias apresentavam elegância e segurança e perfeitamente iluminadas a gás, como todo o teatro. A sala de espectáculos, era igualmente iluminada a gás, com um belo lustre, e o tecto era pintado de azul-pérola e branco, com filets de ouro, pendendo o lustre de um rico florão. Os camarotes eram forrados a carmesim. As decorações forma dirigidas e executadas, simultaneamente, «pelos distinctos artistas» Rambois, Cinati, Ranconi e Ignacio Caetano.
De referir que em 1851, os candeeiros a gás em Lisboa «eram 2000, tendo o Teatro de S. Carlos 300 bicos e o de D. Fernando, 400». E quanto aos camarotes, havia um mensageiro para o botequim donde todos encomendavam chá para beber durante os intervalos.
9 de Janeiro de 1850
António de Sousa Bastos (1844-1911), no seu livro "Diccionario do Theatro Portuguez" de 1908 descrevia assim, o "Theatro de D. Fernando":
O Theatro de D. Fernando era mal construído, de má apparencia e com uma sala defeituosa e mal ornamentada. Foi inaugurado a 29 de Outubro de 1849 com o drama Adriana Lecouvreur, representando o pnncipal papel Emilia das Neves e sendo ensaiador Emílio Doux. Entraram também na peça: Domingos Ferreira, Fortunato Levy, Brêa, Magdalena, Matta, Rouão, Gil pae. Amaro e outros. No intervallo do 3.° para o 4º acto, Garrett foi ao palco abraçar a grande Emilia, dizendo-Ihe : «Não se pôde representar melhor!» Garrett tinha visto em França a sublime Rachel.
Apezar de pouco durar a empreza, Emilia das Neves representou com immenso agrado os dramas : 'Simão o ladrão' e 'Castello de Montluivier' e as comedias : 'Um episodio no reinado de Jacques I' e 'O Ramo de violetas'.
No fim de sete mezes a empreza quebrou. Os artistas quizeram trabalhar em sociedade, explorando o theatro por sua conta ; mas Emilia das Neves não concordou.
Ainda com a direcção de Emilia Doux, o Theatro D. Fernando reabriu a 22 de Julho de 185o, pondo em scena com grande successo a opera-comica 'Barcarola', para o que foram escripturados os artistas : Luiza Persoli, Lisboa, Rorick, Faria, Simões e o Sargedas, que depois foi padre.
N'este theatro trabalharam intercaladamente companhias portuguezas e estrangeiras. D'estas houve uma de comedia franceza, outra de opera cómica também franceza e mais do que uma de zarzuela. Das companhias portuguezas fizeram parte artistas de valor, entre os quaes, os mais notáveis foram : Emilia das Neves, Santos, Faria, Braz Martins, Cezar de Lacerda, Luiza Fialho, Domingos Ferreira, Brêa, Mattn, Anna Cardoso, Sargedas, Rodrigues, Marcolino, etc.
A despeito de todos os attractivos, o publico antipathisou com o theatro e não o frequentava, pelo que houve sempre graves prejuízos.
O Theatro de D. Fernando foi demolido em 1859.
Não ha muitos annos, na rua do Olival, ás Janellas Verdes foi construído um theatro de madeira, a que também deram a denominação de Theatro de D. Fernando. Pouco tempo durou, tendo apenas chamado concorrência uma revista de Jacobetty, intitulada 'No Trinado do Prior'.»
4 comentários:
Interessante.
Não sabia que no prédio da "Polux", com construção diferente da pombalina, teria sido um teatro construído no local da antiga igreja de Sta. Justa.
Cumpts.
E verdade,
Assim como muita gente não imagina que, no edifício dos antigos "Grandes Armazéns do Chiado", Palácio Barcelinhos, funcionaram 4 hotéis, dos Embaixadores, de L'Europe, Gibraltar e Universal e cuja resenha histórica acabei ontem de fazer e que publicarei brevemente.
Cumprimentos
As suas publicações são verdadeiramente e muito interessantes "Restos de Colecção"
Cumpts.
Muito grato, pela gentileza do seu comentário.
Cumprimentos
Enviar um comentário