Restos de Colecção: Estúdio Apolo 70

20 de junho de 2021

Estúdio Apolo 70

A sala "Estúdio Apolo 70" foi inaugurado, em conjunto com o "Drugstore Apolo 70", no dia 27 de Maio de 1971, na Avenida Júlio Dinis, 10 em Lisboa. O Drugstore foi construído em 14 meses, nos 8.000 m2 de dois pisos de uma antiga garagem, com projecto do arquitecto Augusto Silva e decoração de Paulo Guilherme.



26 de Maio de 1971



O prédio do "Apolo 70" em finais de construção com andares para venda entre 360 e 460 contos ...


Já agora, uma referência ao grande painel de azulejos no exterior do edifício, da autoria de Ana Lopes de Almeida (1938 - )

À inauguração do "Apolo 70" (Drugstore e Cinema) - terceiro drugstore de Lisboa, depois do "Sol a Sol", na Av. da Liberdade (26 de Dezembro de 1967) e do "Tutti-Mundi", na Avenida de Roma (19 de Dezembro de 1968) - estiveram presentes além dos administradores da empresa proprietária, "Copeve, S.A.R.L." -  Miguel Sotto-Mayor Aires de Campos, Manuel Braamcamp Sobral, Francisco José de Sousa Machado, Nuno Barroso e Lourenço de Almeida e José B. P. Vasconcelos - o secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. César Moreira Baptista e o secretário de Estado do Comércio Dr. Xavier Pintado, os directores-gerais dos Espectáculos e do Turismo Caetano de Carvalho e Álvaro Roquette respectivamente, o governador-civil de Lisboa Dr. Afonso Marchueta, e o comandante-geral de PSP general Tristão de Carvalhais (comandante-geral da PSP).

No dia seguinte à inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" escrevia:

«Uma sala pequena, quase circular. Tudo negro, quando se entra. Só um círculo branco nas costas das poltronas e o rectângulo do écran. O novo cinema, Estúdio Apolo 70 está sóbria e dominadoramente preparado para colocar o espectador na magia da sala escura. Porque nesse ambiente, nesse espaço infinito onde não se vêem as paredes, vão acontecer, estão a acontecer desde 27 de Maio, os fenómenos que transportam as pessoas ás regiões desérticas do Oeste (e em breve a outros mundos reais e irreais).
Ou seja, lisboa tem um novo cinema; pela primeira vez um cinema cuja programação é da responsabilidade de um crítico de cinema, quer dizer, de uma pessoa que ama o cinema e que os nossos leitores conhecem desde há muito: Lauro António. »




Fotogramas do foyer e sala, a partir do arquivo da RTP

«Quando abriu, era uma coisa por demais. Havia porteiros fardados, uma coisa fina. O chão era alcatifado e tinha de haver um bocadinho de restrição na entrada, porque as pessoas eram aos montes» recorda o sr. Joaquim Pinto, cabeleireiro e o mais antigo inquilino do centro.

O "Estúdio Apolo 70" localizado no primeiro piso do Drugstore, era uma excelente sala de cinema, com capacidade para trezentos espectadores. A exemplo do Drugstore também ela projetada pelo arquiteto Augusto Silva e decorada pelo pintor Paulo Guilherme. Foi equipada com uma aparelhagem Philips de projecção para 35 mm (ecrã normal e cinemascope). O filme de estreia foi "O Vale do Fugitivo" ("Tell Them Willie Boy Is Here") de Abraham Polonsky.



Aqui fica o parte do primeiro "programa" do Estúdio "Apolo 70", com um extenso artigo do conhecido crítico de cinema Lauro António (director/programador desta sala).




Lauro António em foto de 1978


Horários: Sessões aos dias de semana: 14:30 - 16:45 - 21:45; aos Sábados e Domingos: 14:30 - 16:45 - 19:00 - 21:15. Sessões especiais: Filmes em retrospectiva: 19:00 (de 2ª a 6ª feira) Meia-Noite Fantástica: 23:30 (Sábados) Manhãs Infantil: 11:00 (Domingos).

Preços: Tardes de semana: 15$00; Noites de semana: 25$00; Tardes e Noites de Sábados, Domingos, feriados e estreia: 30$00; Filmes em Retrospectiva: 15$00 (estudantes: 10$00); Meia Noite Fantástica: 20$00 e Manhã Infantil: 15$00 (crianças 7$50).

Esta sala vinha inserir-se num conjunto de outras que Pedro Caldas lembra: «O Londres era a casa de Bergman e Woody Allen estreavam-se sempre ali. Íamos ao Londres ver um tipo de cinema, e íamos ao Quarteto ver outro. Era uma década de fidelidades e de circuitos delineados. Alvalade, Avis, Éden, Odeón, Politeama ou Roma passavam cinema europeu, de terror ou popular; Castil, Condes, Império, Monumental, São Jorge, Star, Terminal, Tivoli, Vox tinham cinema popular ou de prestígio; Apolo 70, Cinebloco, Estúdio, Estúdio 444, Londres, Nimas, Quarteto, Satélite eram arte e ensaio.»


8 de Junho de 1972

Nota. à excepção das salas "Cinebloco", "Terminal", "Nimas", todas referidas no parágrafo anterior têm as suas histórias explanadas neste blog. Para mais fácil aceder, consultar a seguinte listagem: "Cinemas de Lisboa (1896-2011)" na barra de menús e clicar nos links respectivos.



O "Drugstore Apolo 70" revolucionou a forma como se ia às compras e ao cinema em Lisboa, neste último ao introduzir as sessões da meia-noite, que o seu programador Lauro António tinha experimentado dias antes noutra sala: o "Vox", nas traseiras do "Teatro Maria Matos", com o filme "Frankestein Criou a Mulher" - «uma sessão à meia-noite completamente esgotada, obrigando a, na mesma noite, fazer mais duas sessões já que o público se recusava a voltar para casa sem ver o filme.» 

Os preços mais baratos disponíveis para estas sessões, com o nome "As Meias-Noites Fantásticas", tornaram-se rapidamente um grande sucesso e um acontecimento na capital. O triunfo desta sala de cinema foi, decerto, ter Lauro António como programador, com os seus fantásticos desdobráveis (programas), repletos de comentários críticos aos filmes em exibição, que eram entregues aos espetadores, o que deixou de acontecer em meados dos anos 80 do século XX. 

Programa comemorativo do 1º aniversário do "Estúdio Apolo 70"

Para além de filmes em estreia o "Apolo 70" dinamizou o seu horário apresentando "Filmes em Retrospectiva", "Meia Noite Fantástica" (reservada ao terror, ao fantástico, à ficção científica e ao maravilhoso) e ainda "Manhãs Infantis", nas quais eram apresentados filmes para maiores de 6 anos.

A seguir ao "Drugstore Apolo 70" abriria o "Centro Comercial Castil", com a  sala de cinema exterior "Castil", em 1 de Novembro de 1973.

Se o "Centro Comercial Apolo 70"chegou aos nossos dias, e continua aberto ao público, o "Estúdio Apolo 70" encerrou definitivamente no final de 1990, tendo sido substituído por um restaurante.

Anúncio em 29 de Novembro de 1990 na véspera do encerramento definitivo do "Diario de Lisbôa"

Foto actual aquando dos seu 50º aniversário (in: revista "Visão")

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Estúdio Apolo 70

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

As fotografias da Av. Júlio Dinis, com o tapume das obras, são de 1966 e 1967.

Cumprimentos
Valdemar Silva

Ricardo Santos disse...

Gostei de revisitar algo da minha juventude. Ia fazer 18 anos quando foi inaugurado. Fui várias vezes ao cinema, jantei por lá, no restaurante da cave, onde se comia bem e tinha algo novo em Lisboa, na altura. Falo do "Irish Coffee", servidos em copos balão, com 4 sabores, se assim se pode dizer: o Licor Beirão, o Whisky e os outros já não me lembro.
O restaurante tinha uns gelados individuais grandes, servidos emn travessas pequenas.
Obrigado pela recordação !