A “Leitaria Luso Central” na Praça D. Pedro IV (Rossio), em Lisboa, terá aberto por volta de 1913, aquando da remodelação e transformação deste edifício (entre 1912 e 1913) para Hotel, conforme projecto do construtor civil Frederico Augusto Ribeiro, e cuja fachada seria alterada pela proposta de um desenho de um arquitecto alemão. Este edifício viria a albergar o “Hotel Metrópole”, do empresário hoteleiro Alexandre d’Almeida, e inaugurado em 18 de Novembro de 1914.
A primitiva “Leitaria Luzo Central”, à esquerda do toldo na foto
A “Leitaria Luzo Central”, viria a ocupar o mesmo espaço onde tinha funcionado, primeiramente, o “Botequim das Parras”, no primitivo edifício, e a “Tabacaria Gusmão”. Onde são hoje os números 22-25 e 27-29, ficavam no princípio do século XIX os celebérrimos “Botequim do Nicola” (1787) - actual “Café Nicola” - e o já referido “Botequim das Parras”, onde se reuniam os literatos do tempo, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Nuno Álvares Pato Moniz, Francisco Joaquim Bingre, João Vicente Pimentel Maldonado, etc..
Recordo que o “Botequim das Parras”, desde 1803, era propriedade de José Pedro da Silva, vulgo o José Pedro das Luminarias - assim chamado por iluminar a frontaria do botequim nos dias de gala nacional - que tinha sido administrador do “Botequim do Nicola”. Entre os dois botequins era a porta da escada do prédio. O “Botequim das Parras” era assim chamado pelo facto da pintura dos frisos dos tetos do interior reproduzia cachos de uvas e folhas de videira. Dizia-se, mais tarde, que nas paredes desse botequim havia muitos versos nas paredes, escritos a lápis, por Bocage.
“Botequim do Nicola” na elipse desenhada à esquerda, na foto, e “Botequim das Parras” na elipse desenhada à direita
“Botequim das Parras” na elipse desenhada
Em 1915, a “Leitaria Lvso Central” expande-se à loja de modas, contígua, e transforma-se interiormente e exteriormente sob o risco do Arquitecto Manuel Norte Júnior (1878-1962), reabrindo em 1916.
1930
1940
Mas como nada dura para sempre, em 1950, e para o lugar da “Leitaria Lvso Central” é encomendado um projecto ao gabinete de arquitectura de Víctor Palla e Bento d’Almeida, para a construção do primeiro snack-bar de Lisboa e do país, o “Pique-Nique”, que viria a ser inaugurado em 23 de Outubro de 1954.
Arquitectos Víctor Palla e Bento d’Almeida “Pique-Nique” em construção
23 de Outubro de 1954
Exterior e interior do Snack-Bar “Pique-Nique”
Saco
António Martins Sena da Silva, designer, arquitecto, artista plástico, fotógrafo, cronista, etc., escreveria, a este propósito:
«O Pique-Nique apareceu em Lisboa com a designação inglesa de «Snack-Bar» e uma clientela de formação cinematográfica. Existe agora no Rossio como coisa que faltava e não podemos pôr em dúvida a sua integração perfeita naquela zona nem a justificação da modalidade de refeições rápidas que se propunha fornecer.»
O “Pique-Nique” viria a desaparecer, e actualmente é uma pizzaria e restaurante de comida italiana, tendo adoptado a primitiva designação de “Leitaria Luso Central”.
“Leitaria Luso Central”, actualmente
Vou transcrever o texto do site oficial da actual “Leitaria Central”:
«Em 2014 o Luso-Central ganha uma nova vida, combinando a tradição original com as exigências contemporâneas. Quando passamos a lindíssima fachada do arquiteto Norte Júnior, cuidadosamente recuperada, encontramos um espaço moderno e confortável dedicado às irresistíveis tentações da gastronomia italiana.»
Quanto ao texto anterior resta-me dizer, ou recordar ao autor do mesmo, que a actual fachada nada tem a ver com a primitiva, do arquitecto Manuel Norte Júnior, apesar de referida como «cuidadosamente recuperada», o que não se verificou, infelizmente … bastará comparar as fotos que publico.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Municipal de Lisboa
1 comentário:
Esta propaganda é ridícula. É só fachada.
Gente de dó!
Cumpts.
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