Restos de Colecção: Feira da Ladra

26 de setembro de 2014

Feira da Ladra

A origem deste mercado é datável do século XIII, com a possível instalação da Feira, em 1272, na Travessa do Chão da Feira, na Costa do Castelo. A primeira determinação camarária para a mudança de instalações surge no reinado de D. Dinis (1311) e a primeira notícia da realização da Feira no Rossio é de 1552, tal como consta da Estatística Manuscrita de Lisboa.

Depois do terramoto de 1755 instalou-se na Cotovia de Baixo - actual Praça da Alegria -, estendendo-se mesmo pela Rua Ocidental do “Passeio Público”. Em 1823 foi transferida para o Campo de Sant’Ana, onde esteve apenas cinco meses, voltando para a Praça da Alegria.Depois de mais algumas deambulações, por edital de 27 de Abril de 1835, é transferida para o Campo de Sant’Ana. Em 1882 faz-se a última mudança da Feira, para o Campo de Santa Clara.

“Feira da Ladra” na Praça da Alegria

Do seu nome, “Feira da Ladra”,  sabemos as opiniões de Augusto Pinho Leal – em “Portugal Antigo e Moderno” - de Ribeiro Guimarães (“Jornal do Commercio”, 1874) e de Alberto Pimenta (“O Repórter”, 1889) que opinam de diferentes maneiras sobre a questão etimológica, enquanto os primeiros discutem a “Feira da Ribeira” como provável antecessora da “Feira da Ladra”, por se realizar na margem «lada» do Tejo (aquela expressão em português antigo significa margem de um rio). Alberto Pimenta, não encontrando indicações de que a Feira tenha passado por aquela zona ribeirinha, confronta que a designação foi retirada do facto de se venderem objectos roubados, conforme a postura de 1610.

Artigo publicado na revista “Serões”, em Fevereiro de 1909

             

      

Cronologia da “Feira da Ladra” :

- "Chão da Feira"- Castelo de São Jorge, junto à Alcáçova (1185-1223).
- Local que os Alvázis de LISBOA achassem ser mais conveniente (Reinados de D. Afonso II e D. Sancho II, com probabilidade de um recuo no tempo.
- Fora da Alcáçova, no arbítrio do Concelho (por disposição de D. Afonso III, datada de 07.03.1273). Posteriormente a esta Carta Régia e até 1429, ignora-se onde se terá implantado.
- «Rossio» ( A partir de 1430 até ao final desse século, nos séculos XVI e XVII e até ao terceiro quartel do século XVIII. Alternada ou simultâneamente funcionou também.
- «Ribeira» (Até 30.07.1755, data em que foi proibida).
- «Praça da Alegria» (Numa situação de facto, desde 1773 até ao Edital de 27.11.1809 que aí foi fixada - alastrava pela «Rua Ocidental do Passeio», até perto do «Palácio dos Duques de Cadaval» e «Largo do Passeio Público» que chegou a ser conhecido por «Largo da Feira». Daqui foi transferida, por edital de 19.02.1823, logo concretizado em 18.03.1823.
- «Campo de Sant’Ana» (Onde se especializou como feira de fato e trapos, só até 10.07.1823).
- «Praça da Alegria» (Aqui voltou e permaneceu até Abril de 1834).
- «Campo de Sant’Ana» (Tendo a deliberação de 1834 sido suspensa, na sua execução, por motivo de reclamações várias, a transferência apenas se efectuou em virtude do Edital de 27.04.1835).
- «Campo de Santa Clara» (Deliberação de 19.12.1881 e Edital de 23.02.1882, inauguração a 04.04.1882.
- «Campo de Sant’Ana» (Devido a novas reclamações de feirantes, regressa a este lugar, poucos dias depois).
- «Campo de Santa Clara» (A partir de 01.07.1882 até ao presente, realizando-se às terças-feiras e sábados desde 1903, por força de deliberação de 05.11. desse ano e Edital de 12 do corrente mês).
- «São Bento» (Aos sábados, entre 1882 e 1903).
Cronologia in: blog “Ruas de Lisboa Com Alguma História

 

Até 1903, a “Feira da Ladra” realiza-se no Campo de Santa Clara, apenas às terças-feiras, já que aos sábados tinha uma «filial» no “Mercado de S. Bento”. Desde 1903, também aos sábados.

Mercado de Santa Clara, junto ao qual sempre se realizou a “Feira da Ladra” desde 1882

 

 

 

Capa de “O Noticias” Ilustrado de 1929

 

 

 

A “Feira da Ladra” continua, duas vezes por semana, a receber peregrinações de vendedores e compradores de tudo e mais alguma coisa no Campo de Santa Clara, em Lisboa. Todas as terças e todos os sábados, do nascer ao pôr-do-sol, por tendas, bancas ou mesmo por panos espalhados no chão, a especialidade é a segunda mão: móveis, ferro-velho, livros e revistas, roupa, dos discos de vinil mais antigos aos cd’s mais recentes, quadros, etc.

Fotos da “Feira da Ladra” dos anos 50 do século XX em diante

 

 

“Feira da Ladra”, actualmente

 

fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Desenvolturas&Desacatos

2 comentários:

Anónimo disse...

Há também uma tese que diz ter existido ali uma ermida dedicada à Virgem, anterior à ocupação cristã. Não esqueçamos que a população muçulmana vai permanecer séculos em Lisboa. A palavra Ladra terá em árabe o significado de Virgem (confirmei com um arabista). Poderá então esta designação relacionar-se com a tal ermida.
Fernando Lopes

José Leite disse...

Caro Fernando Lopes

Grato pela informação adicional, sempre bem-vinda.

Os meus cumprimentos

José Leite