Situada nos contrafortes da Serra d’Aire, Fátima encontra-se no coração de Portugal. O enriquecimento económico, artístico e cultural proporcionado pelos árabes após a sua ocupação no Séc. VIII, começa a decair o que facilitou a reconquista cristã e a expulsão dos muçulmanos da Europa.
A lenda deste período explica a origem do nome Fátima. Por esta altura, um grupo de damas da corte acompanhadas pelos cavaleiros muçulmanos passeavam, quando foram assaltados por cristãos armados, chefiado por Gonçalo Hermingues, que ao entregá-los a D. Afonso Henriques foi compensado com a mão de uma das donzelas capturadas de nome Fátima, a mais linda e nobre das donzelas casa-se com Gonçalo Hermingues. Infelizmente a jovem morreu cedo. Desesperado o marido procurou consolo no Mosteiro de São Bernardo em Alcobaça. Mais tarde o padre superior do mosteiro mandou levar o corpo da esposa para uma igreja construída ali perto. A partir desse momento o lugar onde surgiu a igreja chamou-se Fátima.
Nos séculos seguintes fala-se pouco sobre Fátima, era pequena de mais para aparecer nos mapas geográficos. Até ao ano de 1917 vivia do trabalho na pastorícia, agricultura e produção de tecidos. Esse ano marcou um ponto crucial na história de Fátima, as aparições de Fátima aos pastorinhos.
Lugar dos Valinhos - local da IV Aparição a 19 de Agosto de 1917 aos três pastorinhos (na foto)
Valinhos - Monumento evocativo da IV Aparição
Primeiras peregrinações ao local das aparições
A cerca de 1 Km de Fátima, fica Aljustrel, a pequena aldeia onde nasceram as crianças. (Lúcia a 22 de Março 1907, Francisco a 11 Março de 1908 e Jacinta a 10 de Março 1910). A 2 quilómetros a oeste de Fátima estende-se uma das muitas depressões chamada Cova-da-Iria, local onde apareceu aos videntes a Nossa Senhora. Era uma propriedade rural pertencente aos pais de Lúcia.
Em 1919 foi construída uma "Capelinha das Aparições" e no local onde se encontra a imagem de Nossa Senhora marca o sítio exacto onde estava a pequena azinheira de um metro e pouco de altura, sobre a qual decorreram as aparições de 13 de Maio, Junho, Julho, Setembro e Outubro de 1917. «A construção desta capelinha foi resposta ao pedido de Nossa Senhora: ‘Quero que façam aqui uma capela em minha honra’».
Capelinha das Aparições em 1922
Peregrinação em 1927
Imagem da Nossa Senhora de Fátima passando junto à Fonte Milagrosa em 13 de Agosto de 1927
Já em 1920, o Vigário de Ourém, em “memorandum” ao recém-nomeado Bispo de Leiria, afirmava que continuava a afluir à Cova da Iria uma grande romaria de fiéis, no dia 13 de cada mês, e que as esmolas aí oferecidas já ascendiam a 1.500 escudos, além de objectos em ouro e prata, e que se afigurava necessário nomear uma comissão para administrar as esmolas, já recebidas e a receber, pedindo ao Bispo orientações precisas sobre o destino a dar a essas esmolas.
O Bispo não perdeu tempo e em 1921 deu instrução para, com essas esmolas, se adquirirem os terrenos onde se tinham dado as aparições e onde se estruturou, depois, o Santuário e o seu recinto. Esta decisão do Bispo de Leiria é paradigmática: os “dinheiros de Nossa Senhora”, devem destinar-se, antes de mais, ao desenvolvimento do Santuário, à sua missão pastoral de acolhimento aos peregrinos. Na medida do possível, deve contribuir para a missão das Igrejas de Portugal e mesmo de Igrejas pobres de outros países.
Pórtico do Santuário em 1928
Capelinha das Aparições e instalações de apoio provisórias
Procissão em 1928
Transporte da imagem nos anos 40 do século XX
A 6 de Março de 1922 a "Capelinha das Aparições" é parcialmente destruída por uma bomba, sendo reconstruída ainda nesse mesmo ano.
Sendo a principal função do Santuário o acolhimento aos peregrinos, sempre se cuidou, com um carinho particular, do acolhimento aos peregrinos doentes. Já em 1924 se iniciou a construção de um albergue para os doentes e em 1926 é instalado um “posto de verificações médicas”. Mas logo em 1927 se pensa na construção de dois “Hospitais-Sanatórios”. O "Hospital do Santuário" foi-se apetrechando para oferecer aos peregrinos doentes os cuidados requeridos pela situação, em estruturas físicas e equipas sanitárias, constituídas por voluntários. Este serviço deu origem à “Associação dos Servitas de Fátima”, e a estrutura de acolhimento aos peregrinos doentes, sobretudo nas grandes peregrinações, é hoje um serviço de grande qualidade.
Albergue de doentes em fase final de construção em Novembro de 1929
Albergue de doentes já concluído Bênção dos doentes
O "Santuário de Fátima" é composto principalmente pela Capelinha das Aparições, o Recinto/Esplanada do Rosário, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e Colunatas, casa de retiros de Nossa Senhora do Carmo e Reitoria, casa de retiros de Nossa Senhora das Dores e albergue para doentes, praça Pio XII e Centro Pastoral Paulo VI, e também a vasta Igreja da Santíssima Trindade, inaugurada a 13 de Outubro de 2007. Destacam-se ainda a Capela do Lausperene (Laus Perene = Louvor Permanente) (onde está permanentemente exposto o Santíssimo Corpo de Cristo na Hóstia Consagrada) e a Capela da Reconciliação, dedicada à celebração do Sacramento da Reconciliação (Confissão).
Fontanário inicial
Calvário Húngaro Estátua de Pio XXII
O fontanário inicial colocado no centro do Recinto de Oração do Santuário de Fátima era alimentado por poços de água abertos para o efeito. Mais tarde com a terraplanagem para acabar com a chamada cova que originou o nome "Cova da Iria" e endireitar o solo, os poços ficaram debaixo de terra e ainda hoje estão activos e podem ser acessados através de túneis. Uma característica: Nunca estes poços nunca secaram mesmo em anos de seca severa.
A "Igreja de Nossa Senhora do Rosário" , com o lançamento da primeira pedra e benção da mesma pelo arcebispo de Évora, D. Manuel da Conceição Santos em 13 de Maio de 1928 começou a ser construída nesse mesmo ano, em estilo neo-barroco, segundo um projecto do arquitecto neerlandês Gerard Van Krieken. Ergue-se no local onde os Pastorinhos brincavam a fazer uma pequena parede de pedras quando viram o clarão que os fez pensar ser uma trovoada, em 13 de Maio de 1917. A sagração ocorreu a 7 de Outubro de 1953. Em Novembro de 1954 o Papa Pio XII atribuir-lhe-ia o título de "Basílica".
Fase inicial da construção da "Igreja de Nossa Senhora do Rosário"
Igreja, Fontanário e Capelinha das Aparições em 1937
Entretanto a 13 de Maio de 1929 o Presidente da República General Óscar Carmona inaugura o gerador de electricidade, passando este a fornecer energia eléctrica à Capelinha das Aparições e edifícios circundantes..
A "Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima", que mede 70,5 metros de comprimento e 37 de largura, foi construído totalmente com pedra da região (lugar do Moimento) e os altares são de mármore de Estremoz, de Pero Pinheiro e de Fátima. Na frente da Igreja foi instalada uma grande tribuna, com altar, presidência, ambão e bancos para os concelebrantes. A torre sineira tem 65 m de altura, sendo rematada por uma coroa de bronze de 7000 kg, construída na "Fundição do Bolhão", no Porto, encimada por uma cruz, iluminada durante a noite. O carrilhão é composto por 62 sinos, fundidos e temperados em Fátima por José Gonçalves Coutinho, de Braga. O sino maior pesa 3.000 kg e o badalo 90. O relógio é obra de Bento Rodrigues, de Braga. Os anjos da fachada, de mármore, são da autoria de Albano França.
Praçeta S. José
Sagrado Coração de Jesus
Arcada da Basílica Via Sacra na Arcada
Órgão da Basílica
O órgão da Basílica foi construído e montado pela firma italiana "Fratelli Rufatti", de Pádua, em 1952. Os 5 corpos originariamente dispersos, foram reunidos em 1962, no coro. Esses 5 corpos, Grande Orgão, Positivo, Recitativo, Solo e Eco, são accionados por uma consola de 5 teclados e pedaleira. Tem 152 registos e aproximadamente 12.000 tubos, de chumbo, estanho e madeira, o maior dos quais com 11 metros e o menor com 9 milímetros.
Nossa Senhora do Rosário Interior da Basílica de Nossa Senhora do Rosário
No dia 13 de Maio de 1958, foi inaugurada uma grande estátua do Imaculado Coração de Maria, oferta dos católicos americanos e esculpida pelo Padre Thomas McGlynn sob indicação da Irmã Lúcia. Tem a altura de 4,73 m e pesa 13 toneladas. Em 13 de Junho de 1959 foi colocada no nicho da fachada da basílica.
À entrada da Basílica, por cima da porta principal, encontra-se um mosaico que representa a Santíssima Trindade a coroar Nossa Senhora. Foi executado nas oficinas do Vaticano e ali benzido pelo então Secretário de Estado, Cardeal Eugénio Paccelli, futuro Papa Pio XII.
Peregrinação no ano de 1951
1951 1954
Peregrinações diversas
«O Santuário vive das ofertas dos peregrinos, doações a Nossa Senhora, carregadas de fé e de esperança, quase sempre expressão de súplica ou acção de graças. É responsabilidade sagrada do Santuário administrá-los, de acordo com a sua origem e natureza.As contas do Santuário são hoje públicas, e as regras da administração estão fixadas nestes Estatutos do Santuário de Fátima.»
Em Maio de 1960
Fátima e a sua história foram tema para os seguintes documentários e filmes:
1917 - "A Primeira Peregrinação" - documentário mudo
1927 - "Romaria à Fátima" - documentário mudo; "13 de Maio - Fátima" - documentário mudo
1928 - "Fátima Milagrosa" de Rino Luppo - filme mudo
1931 - "Fátima" - documentário
1943 - "Fátima, Terra de Fé" de Jorge Brum do Canto
1946 - "Coroação de Nossa Senhora de Fátima" documentário de Eduardo Garcia Maroto; "Fátima" - documentário
1948 - "Nossa Senhora de Fátima em Madrid" - documentário
1951 - "Fátima e o Ano Santo" - documentário de Gentil Marques; "Senhora de Fátima" - filme de Rafael Gil; "Fátima - Encerramento do Ano Santo" - curta metragem de António Bernardo
1952 - "O Milagre de Fátima" - filme de Gentil Marques (inacabado)
1953 - "Mensagem de Fátima" - documentário de Mateus Júnior
1956 - "Fátima, Altar do Mundo" - documentário de Carlos Marques
1962 - "Oratória de Fátima" - documentário de Carlos Marques
1967- "Fátima, Esperança do Mundo" - documentário de António Lopes Ribeiro; "Fátima das Criançinhas" - documentário de Miguel Spiguel
1968 - "Fátima: Ultreia Jubilar" - documentário de Perdigão Queiroga; "Fátima no Médio Oriente" - documentário de António Lopes Ribeiro
1975 - "Fátima Story" - documentário de António Macedo
1997 - "Fátima" - filme de Fabrízio Costa
2009 - “13º Dia O Milagre em Fátima”, filme britânico realizado pelos irmãos Ian e Dominic Higgins
No extremo oposto à "Basílica da Nossa Senhora do Rosário", fechando o topo sul do "Recinto de Oração" encontra-se a "Basílica da Santíssima Trindade", projectada pelo arquitecto Alexandros Tombazis.
Ocupando uma área de 8.700 m2 oferece 8.633 lugares sentados, e foi inaugurada em 13 de Outubro de 2007 pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, por ocasião do 90.º aniversário das aparições.
Trata-se do quarto maior templo católico do mundo em capacidade, tendo sido integralmente pago com dádivas dos peregrinos ao longo dos anos. A decoração é inspirada na arte bizantina e ortodoxa. A planta é circular por fora e quadrangular por dentro, existindo 12 portas laterais (uma dedicada a cada um dos Apóstolos) e uma grande porta central, a Porta de Cristo.
Perspectivas do actual Santuário de Fátima
fotos in: Auren- Por Ourém e pelos Oureenses, Santuário de Fátima, Delcampe.net, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Old Portugal, Fundação Portuguesa das Comunicações, Centro de Documentação do ACP
11 comentários:
Parabéns por esta reportagem tão completa. Fátima sofreu grandes alterações e, embora reconhecendo essa necessidade, sinto alguma nostalgia do espaço de outrora.
Caro(a) Anónimo(a)
Grato pelo seu comentário
Os meus cumprimentos
José Leite
Adorei a perspectiva filmográfica e a história que a acompanha. Parabéns e Obrigado pelo que nos é transmitido.
Caro(a) F. Deus
Grato pelas suas amáveis palavras
Os meus cumprimentos
José Leite
Ex.mo sr.
parabéns pela reportagem fotográfica.
Pergunto se as fotos podem ser cedidas com maior qualidade/resolução com vista a alguma publicação.
Escuso de dizer que a referência para a fonte e fotografo será colocada.
Com os melhores cumprimentos,
José Carvalho
(josecarvalho79@gmail.com)
Caro José Carvalho
Grato pelo seu comentário.
Todas as fotos foram colhidas nas fontes indicadas no final do artigo.
Sei que para fins não comerciais são de livre utilização, dentro das regras legais.
Para efeitos de "alguma publicação", como refere, aconselho a contactar directamente os legítimos proprietários das mesmas.
Os meus cumprimentos
José Leite
Olá,
Muito datalhado e interessante o artigo de vocês sobre a história de Fátima.
Tomei a liberdade de citá-lo no meu artigo sobre a cidade, espero que não se importe.
http://meusroteiros.com/fatima-santuario-portugal/
Abs, Marlise Vidal
Olá Marlise
Eu é que agradeço a gentileza do seu comentário.
Estive lendo o seu artigo e achei muito bom.
Abraço
José Leite
Meus cumprimentos por seu dedicado, meticuloso e eficiente pesquisa e documentação!! Isto deve ter requerido não pouco tempo, mas valeu MUITISSIMO a pena! Que Nossa Senhora o recompense nesta terra e sobretudo no Céu!!
Pergunto se durante sua pesquisa teria encontrado alguma explicação para o fato de que as fontes (outrora na base da imagem do Sagrado Coração de Jesus, na esplanada) tenham sido cobertas. Até o momento, foi mais fácil ve-las na internet e em um ou outro livro do que no próprio Santuário...
Parabéns mais uma vez, e desde já agradeço pela atenção dispensada.
Nelson - 6 de abril de 2017
Caro Nelson
Não encontrei explicação para o que me questiona.
Agradecendo a amabilidade das suas palavras e comentário, os meus cumprimentos.
José Leite
Obrigado por esse esforço de historiar o Santu+ario de Fátima.
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