Restos de Colecção: Colégio de Campolide

10 de dezembro de 2012

Colégio de Campolide

A "Companhia de Jesus", expulsa dos territórios portugueses em 1759, sob as ordens do Marquês de Pombal e suprimida pelo Papa Clemente XIV em 1773, foi restaurada no nosso país, pelo padre de ascendência holandesa Carlos João Rademáker (1828 - 1885) com a designação de "Missão Portuguesa", em 1858, e oficialmente restabelecida como "Província Portuguesa" em 25 de Julho de 1880

O padre Rademáker em 1858 compra ao poeta, jornalista e escritor defensor das ideias miguelistas, João de Lemos, a Quinta da Torre por 4.000$000 rèis. Aqui se instalou no mesmo ano, com o intuito de aí organizar "clandestinamente" a sede da "Com­panhia de Jesus", que em 1880 passaria a sede oficial da "Província Portuguesa" (ex- "Missão Portuguesa"). Aí, com a colaboração de outros dois jesuítas, padre Martinho Rodrigues e um irmão espanhol estabeleceu no mesmo ano o célebre "Colégio de Campolide" - de sua designação oficial "Colegio de Maria Santissima Imaculada" -  inaugurado a 28 de Junho de 1858, e que serviu de modelo a todos os outros da "Companhia de Jesus". No decurso da sua actividade, veio a tornar-se, a par do "Colégio de S. Fiel" (1863) em Louriçal do Campo, uma instituição de elite: ensino de qualidade e intensa actividade científica, particularmente na área das ciências da natureza, com destaque para a revista "Brotéria".

                                

                                                           Padre Carlos João Rademáker (1828 - 1885)

                                   

Em 1880: «No princípio do ano lectivo havia no Colégio 7 padres, 11 escolásticos entre professores e perfeitos, e 10 coadjutores, e quasi todos permaneciam mos seus cargos anteriores. Os alunos eram cerca de 156. (…) Estabeleceu-se que a mensalidade dos alunos admitidos de novo aumentasse visto ter aumentado a despesa com a alimentação.
Determinou-se tambêm que ninguem pudesse visitar os alunos senão aos domingos.». in: "História do Colégio de Campolide" (1913)

As deslocações de Lisboa para Campolide viriam a ser facilitadas em 1882 com o estabelecimento de carreiras da "Companhia de Carruagens Antoine Ripert" para as Portas de Campolide.

                                      

Até 1890, o conjunto edificado, aproveitando muito das casas existentes, tinha a forma quase conventual. Depois de 1904, concluíram-se as obras de remodelação que deram ao Colégio um ar de imponência arquitectónica notável, rectangular; equilibrado e majestoso. A Igreja do Colégio foi consagrada em 1884, depois de lançada a primeira pedra a 8 de Dezembro de1879. É fiel à estrutura estilista dos Jesuítas, com elementos clássicos de influência italiana.

Nas fotos seguintes está indicada a ordem cronológica, por anos, das sucessivas ampliações do Colégio.

                                                                                           1884

 

                                                                                            1895

                               

                                                                                    Após 1900

 

                                                                               Pátios de recreios

                              

«No período entre 1858 e 1910, os Jesuítas fundaram e mantiveram em funcionamento instituições de ensino como o "Colégio de Campolide" (1858, Lisboa) e o "Colégio de São Fiel" (1863, Louriçal do Campo) e casas de formação religiosa como o "Noviciado do Barro" (1860, Torres Vedras) e a "Casa de Setúbal" (1878, Setúbal) no antigo Convento de S. Francisco, onde os Jesuítas em formação estudavam Filosofia e Ciências Naturais.

                                                  Colégio de São Fiel (1863-1910) em Louriçal do Campo

                                      

Este colégio teve um grande impacto na cultura portuguesa, a partir de meados do século XIX, particularmente por ter sido a instituição de ensino pré-universitário responsável pela educação dos jovens pertencentes às camadas mais altas da sociedade portuguesa. O "Colégio de Campolide" foi, essencialmente, um colégio de elites. Aliás, este foi um dos argumentos utilizado pelos opositores republicanos da Companhia de Jesus em 1910.» in: Francisco Malta Romeiras (2011)

                                     Refeitório                                                                                 Sala de visitas

 

                             Escadaria nobre (1º lanço)                                                      Entrada para o dormitório principal

 

                             Escadaria nobre (2º lanço)                                                     Corredores das salas de aula

 

                                        Dormitório                                                                             Lavandaria

 

«O "Colégio de Campolide" fomentava a criação de "academias" científicas, indo de encontro às disposições da Ratio Studiorum. Estas academias, constituídas pelos melhores alunos de diversos anos, ofereciam aulas especiais aos seus membros, onde se discutiam assuntos científicos actuais e de particular importância. Por vezes, estas academias organizavam sessões solenes e eram apresentadas várias comunicações científicas para todos os alunos do colégio e suas famílias. Privilegiava-se nestas sessões uma abordagem experimental dos assuntos, em detrimento de um estudo meramente teórico. A primeira sessão científica em Campolide deu-se em 1873 e foram escolhidos 4 alunos para apresentar algumas experiências sobre as propriedades da luz.» in: Francisco Malta Romeiras (2011)

Nas sessões solenes, que decorreram até 1910, os alunos de Campolide apresentaram palestras sobre temas tão diversos como electricidade, magnetismo e propriedades dos líquidos e dos gases

 

                                                                Alunos com instrumentos científicos

                  

 

                               

Logo após a vitória republicana em 5 de Outubro de 1910, tropas e populares empreenderam buscas nos subterrâneos do "Colégio de Campolide", largamente noticiadas na imprensa da época. O colégio jesuíta foi encerrado e serviu muitos anos de depósito da Farmácia Central do Exército. As Irmãzinhas dos Pobres viram-se compelidas a sair, regressando em 1938.

 

Por esta altura, desaparece o recheio jesuítico da igreja, incluindo a imagem do antigo orago, Imaculada Conceição. Em 1917, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e Senhor Jesus dos Passos da Santa Via Sacra, da Igreja Conventual de Santa Joana, foi desapossada do seu templo e bens. Como compensação, em 1924 foi-lhe entregue a Igreja da Imaculada Conceição (de que só viria a tomar posse em 1938). A 13 de Outubro de 1938 foi criada a Paróquia de Santo António de Campolide, pelo então Cardeal Patriarca de Lisboa,  D. Manuel Cerejeira, cuja sede se instalou na igreja do antigo Colégio, tendo por esta altura recebido obras de restauro e adaptação.

Mais tarde viria a instalar-se no antigo "Colégio de Campolide" uma unidade militar, o "Batalhão de Caçadores 5" que aqui permaneceria até aos finais dos ano 70 do século XX.

"Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa" fundada em 1978, viria a mudar-se para este edifício no final de 1987. De referir que esta Faculdade de Economia, teve como impulsionador o professor Alfredo de Sousa, Reitor da "Universidade Nova de Lisboa" no período que se seguiu à Revolução do 25 de Abril, em 1974. Na sequência, foi quem presidiu à Comissão Instaladora da Escola, conjuntamente com outros economistas portugueses, como os professores Aníbal Cavaco Silva, Pinto Barbosa, José António Girão e Abel Mateus.

                                                   "Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa"

 

fotos in: Hemeroteca Digital, Archive.org

13 comentários:

Margarida Elias disse...

Gostei imenso deste post. Passei várias vezes pela rua de Campolide, sempre a interrogar-me o que era aquele edifício com uma igreja. E nunca me apercebi que fazia parte da Reitoria da UNL. Interessantíssimo, por tudo: imagens e investigação.

Ricardo Ribeiro disse...

Fascinante, fascinante! Mais um magnifico trabalho de investigação.

José Leite disse...

Caro Ricardo Ribeiro

Grato pelas suas palavras.

Cumprimentos

José leite

José Leite disse...

Cara Margarida Elias

Grato pelo seu comentário

Cumprimentos

José Leite

Anónimo disse...

Esplêndido! Estudo atualmente neste edifício e é mágico saber a história que há naquelas paredes e em cada sala.

Anónimo disse...

Resta hoje desse tempo a escadaria nobre e o fresco no tecto da antiga biblioteca (hoje o salão nobre). Nesse fresco, aparecem Camões e António Vieira à frente da Virgem, com os versos "Sempre, ó Beleza Immaculada inspira / Dos novos, no teu reino, a penna e a lyra".

Unknown disse...

Magnifico edifício que me traz gratas recordações. Ali vivi praticamente durante um ano, pois fiz o serviço militar de Setembro de 1980 a Agosto de 1981 no então Batalhão de Caçadores 5. Sou do norte (Porto) e por motivos vários só o voltei a visitar há 2 anos, agora como Univ. Nova de Lisboa. Com a simpática autorização da referida Universidade, deambulei por tudo o que era sítio, percorrendo com enorme emoção aqueles longos corredores, a escadaria nobre.....
A minha maior tristeza, é ter perdido num incêndio, um pin da Unidade (BC5) que me foi oferecido por um camarada de armas. O que eu não daria para encontrar outro!!!!
Portanto, foi naturalmente com muita emoção que "devorei" as gravuras, fotos e tudo o que escreveu neste post. Bem haja, e muito obrigado.

alvaro silva disse...

Convem salientar que este colégio foi assaltado, vandalizado e incendiado, destruindo o acervo científico e a biblioteca foi sujeita a queima em uma espécie de auto de fé como a relembrar os tempos da inquisição, tendo sido acicatados pelo governo republicano de então ,

Januário Esteves disse...

Magnífica monografia sobre o Colégio e Quartel de caçadores 5 onde Salazar se refugiava no inicio da ditadura!

Luciano FF disse...

Parabens pelo belo artigo, resgatando parte da historia portuguesa...Pergunto se tu conhecerias as medalhas que entregues pelo COlegio, e se ha algum livro contendo os meritos para receber os diferentes tipos. Eu encontrei aqui no Brasil algumas destas medalhas, com diferentes cores ocmo o branco, azul, vermelho verde e amarelo. Havia um fita com faixas verde e branco. Há algum lugar em Portugal onde o acervo do Colegio Campolido foi depositado? ou tudo se perdeu? Tenho e-mail e posso enviar fotos das medalhas. Abraço e obrigado.

José Leite disse...

Caro Luciano

Creio que se contactar a Secretaria de Estado da Cultura, decerto lhe informarão como fazer.

Os meus cumprimentos

Frederico Bernardes Coelho disse...

Caro José Leite

Este publicação é ótima, como todo o seu trabalho.
Sobre este colégio Jesuíta tenho a acrescentar que o seu nome oficial era Colégio de Maria Santíssima Imaculada.

José Leite disse...

Caro Frederico Coelho,
Muito grato pela sua informação adicional, já acrescentada à história.
Os meus cumprimentos