Dois anos após ter sido elevada à categoria de cidade, a Figueira da Foz inaugurava, a 3 de Setembro de 1884, na Rua da Concórdia (Rua Bernardo Lopes desde 1902) o então denominado "Theatro Circo Saraiva de Carvalho" em homenagem ao ministro das Obras Públicas, do tempo de D Luís I, que concluíra a linha do Beira Alta, ligando assim a jovem cidade a essa importante via de comunicação para a Europa. Tratou-se da maior casa de espectáculos do país até ser construído o "Coliseu dos Recreios" em Lisboa.
"Theatro-Circo Saraiva de Carvalho"
O desenho do edifício foi assinado pelo arquitecto José Luís Monteiro. O teatro, amplo e circular, poderia albergar mais de 3 mil pessoas, apesar da lotação oficial marcar 2.200 espectadores (44 camarotes; 120 fauteils; 500 cadeiras e 900 lugares na designada geral).
O edifício possuía no primeiro andar três grandes salões de apoio à sala principal, e no rés-do-chão existiam bilhares e restaurante. Neste Teatro-Circo actuaram as melhores companhias de Ópera e os nomes mais importantes do espectáculo lírico internacional.
Salão de Inverno
Foi neste Teatro-Circo que em 15 de Agosto de 1896 teve lugar a primeira sessão de cinema. Um espectáculo em duas partes preenchidas pelo Animatógrafo, actuando ainda um grupo de acrobatas japoneses, músicos cómicos, um equilibrista, entre outros. Lembro que foi na Figueira da Foz que em 1897 foi rodado um dos primeiros filmes portugueses: "Os Banhistas da Figueira" um documentário em 35 mm. Até 1897 todos os filmes tinham sido documentários à excepção do filme mudo de ficção "O Senhor Morgado" de Aurélio Paz dos Reis realizado em 1896. A senda dos filmes documentários continuou sendo só inetrrompida com outro filme mudo de ficção em 1905 "A História de D. João IV".
Atendendo à sempre crescente afluência de banhistas e ao facto de ser um local privilegiado ponto de reunião obrigatório das melhores famílias que nessa época visitavam a Figueira o edifício sofreu novas modificações e fez surgir, em 1898, o grande palco do salão nobre. Ao virar do século esta casa de espectáculos foi como Casino, que se tornou no polo de desenvolvimento de todo o Bairro Novo da Figueira da Foz.
Salão Nobre
Sala de Jogo
Em 1909 a empresa construtora e exploradora do edifício arrenda-o ao francês Croisé D´Ancourt. "A Sociedade Teatro-Circo Saraiva de Carvalho, Lda." dá lugar à "Sociedade de Turismo Figueirense, Lda."
Em 1928 é fundada pelo Dr. António Sotero, entre outros, a "Sociedade do Grande Casino Peninsular, S.A.R.L." que adquire o edifício e obtém a primeira concessão da Zona de Jogo. Dificuldades financeiras da empresa levaram que esta, por execução de hipoteca a A. Piano Júnior, viesse a ser englobada pelo Grupo C.U.F.
No início do século XX além do "Grande Casino Peninsular" existiam mais 4 casinos no Bairro Novo:
"Casino Mondego" na Rua Cândido dos Reis
"Casino Oceano" na Rua da Concórdia
"Casino Café Europa" ("Café Europa" a partir de 1927) na Rua Cândido dos Reis
e ainda o "Casino Espanhol", que teve o seu período áureo entre os fins do século XIX e o início do século XX, e que mais tarde mudou o nome para "Café Nicola".
Por não cumprimento da cláusula contratual de construção de um hotel, a concessão de jogo foi, em 1946 rescindida pelo Estado. O Casino abria sazonalmente. Em 20 de Julho de 1948 foi fundada por alguns figueirenses, nomeadamente Arménio Faria, Dr. Ernesto Tomé, Augusto Silva, João Costa, Carlos Mendes e João Simões a "Sociedade Figueira Praia, S.A.R.L.", em substituição da "Sociedade do Grande Casino Peninsular S.A.R.L.", tendo obtido novo contrato de concessão de Jogo.
Exposição de automóveis no Salão Nobre nos anos 50 do século XX
No átrio exterior do "Grande Casino Peninsular" encontrava-se o "Pátio das Galinhas". Espaço gradeado e coberto por uma lona listada, com mesas em ferro brancas e redondas com cadeiras de verga. Nas ruas do Bairro Novo todos os cafés tinham a sua orquestra tocando valsas de Strauss e tangos de Carlos Gardel, apesar do Café Europa ter um quarteto. O mesmo se podia dizer do "Pátio das Galinhas".
"Pátio das Galinhas" Café Europa
As obras do "Grande Hotel da Figueira", para além de outros motivos conduziram a Sociedade a uma situação financeira caótica o que levou à constituição do seu primeiro Conselho de Administração em 1957. Os anos que se seguiram até 1963 foram de recuperação, tendo-se realizado o primeiro aumento de capital em 1967, juntamente com a primeira distribuição de dividendos aos accionistas.
"Grande Hotel da Figueira" inaugurado em 28 de Junho de 1953
O Casino da Figueira era em 1965 um grande complexo multidisciplinar de lazer com vários ambientes:
Salão de Café Salão Nobre
Sala de Chá, mais conhecida como “O Pátio das Galinhas”.
Salão de Café, redondo, com um pé direito muito alto que culminava em ogiva, com uma grande galeria de 360º, onde se realizavam as Matinées, Garraiadas e os Espectáculos nocturnos durante a semana. Aos Sábados ou nas grandes enchentes servia como segundo Salão de Baile.
Salão Nobre, construído nos anos 20, de forma quadrada, de estética única com magníficas pinturas e lustres imponentes, enormes espelhos verticais em todas as paredes, foi sempre a verdadeira Sala de visitas do Casino que se engalanava para as noites das Estrelas. Ainda hoje tem várias lápides com o nome dos grandes artistas que por ali passaram como Amélia Rey Colaço, Amália Rodrigues e também a Maria Clara que imortalizou a célebre canção da cidade.
Sala de Jogo com roleta americana, banca francesa, black-jack e outros jogos de casino.
Boîte, para adultos, com conjunto e variedades próprias.
Teatro-Cine Peninsular
Sala de Exposições sempre com actividades diversificadas nos temas e nas Artes.
Boite Sala de Jogo
Programa de Baile e Variedades em Agosto de 1965
Programa na época de 1966
Conjunto "Os Tubarões" no Salão de Café em 1968
Este conjunto como o programa na época de 1966 informa, foi finalista do grande Concurso «IÉ-IÉ» cuja final teve lugar no Teatro Monumental de Lisboa, em 30 de Abril de 1966. "Os Tubarões" ficaram no … último lugar (8º) tendo ganho como prémios uma tarola "Sonor", cinco frascos de água de colónia e um par de sapatos.
Em 1970 são instaladas as primeiras 50 "Slot Machines" de 2$50 e 5$00, e em 1972 foram efectuadas obras de remodelação no edifício do Casino, passando a zona de jogo da Figueira a funcionar permanentemente. Com o desaparecimento do "Teatro-Cine Peninsular", surgiram duas novas salas de cinema: Cine-Casino e o Cine-Estúdio.
1973
Após obter a renovação da concessão de jogo em 1980, a "Sociedade Figueira Praia, S.A" é adquirida pelo Grupo Amorim em 1990, e efectua novas obras de remodelação no edifício do "Casino Figueira" em 1995. O Salão Nobre reabre ao público a 17 de Novembro de 1997.
Medalhas da comemoração do 1º Centenário em 1984
Casino Figueira
Em 2005 é inaugurado no Centro Comercial Dolce Vita de Coimbra o "Casino Figueira Caffé". A "Sociedade Figueira Praia, S.A." é a concessionária de jogo mais antiga do país e a única com contratos assinados desde 1948 a 2005. De referir também que é o Casino mais antigo da Península Ibérica.
fotos in: A Rês Pública, Praia da Claridade, Os Tubarões, Viseu, Figueira Nossa, O Palhetas na Foz, Presente, Casino Figueira
Para a elaboração deste artigo foi também consultado a publicação: "Casino da Figueira - Saltando pela História" de António Jorge Lé.
9 comentários:
Gostei imenso do seu post! A Figueira da Foz faz parte da minha memória pois passei as minhas férias grandes durante anos nesta linda cidade. A praia da Figueira e o seu grande areal, o Café Nicola, a gelataria Cassata, a piscina do Grande Hotel e do Parque de Campismo, tudo me trás maravilhosas recordações. Obrigada pela partilha!
Muito agradecido pelo seu amável comentário.
Não tem que agradecer, pois este blogue serve para isso mesmo e não só.
Cumprimentos
Frequento esta casa desde 1960.
Aqui passei os melhores momentos da minha infância...juventude...e até já o começo de uma velhice.
Foi sempre a sala de visitas da nossa cidade, o local onde nos eram proporcionados bonitos momentos de lazer.
É com uma certa tristeza que vou vendo, este que é o mais antigo Casino da Península Ibérica, ir entrando numa decadência, sem limites.
Os tempos mudaram...é certo, mas não destruam o que de tão marcante temos, na nossa cidade!
Excelente poste, como excelente é o imenso espólio que osenhor José Leite vem oferencendo neste es+aço magnífico de Resto de Colecções.
Poderei estar enganado e mal lembrado mas penso que as slots machines foram introduzidas em 1967 ou 68
Recordo que na década de 60 0 Casino organizou torneios de Xadrez e já no século XXI torneios de Bridge
Penso que o nome "Pátio das Galinhas" se deve ao facto das senhoras frequentarem aquela entrada "Salão de Chá" e o som das conversas e os olhareslemgrarem a onomatopeia do cacarejar das galinhas.
Obrigado por tantas recordações
Caro Octávio
Muito grato, não só pelas amáveis palavras em relação ao blog, como pela as informações adicionais.
Os meus cumprimentos
José Leite
Sou seguidor do seu blogue há uns tempos e quero dizer que adoro todos os postes, fotos que muitas vezes me transportam a locais por onde eu tanta vez passei.
Muito obrigada por nos mostrar e muitos parabéns
D. Maria da Cruz
Eu é que agradeço que a senhora siga o meu blog, o que muito me honra.
Os meus cumprimentos
José Leite
Adorei todo este historial sobre a Figueira - Grande Hotel e Casino. Para quem como eu está tão ligada a esta Cidade/Praia desde sempre e continua a frequentá-la agora com os netos e restante Família, é muito interessante percorrer os sítios lindos onde passei pedaços doces de minha juventude. Obrigada!
D. Isabel
Muito agradeço o seu amável comentário.
Os meus cumprimentos
José Leite
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