“H. Vaultier & Cª.” foi fundada em 1897, pelo francês Henry Vaultier. Inicialmente com sede na Rua Vasco da Gama, em 1936, já possuía filiais e fábricas na Rua da Alfândega, na Rua da Junqueira (Quinta do Almargem), e ainda na doca de Alcântara.
Instalações no Largo Vitorino Damásio, em Lisboa
A pequena oficina estabelecida por este notável industrial, foi amplamente desenvolvida por seu filho Maxime Vaultier, e em 1937 já possuía três fábricas de correias de couro para transmissões, de puados para cordas e de mangueiras de linho para combate a incêndios, oficinas de silos e aparelhos para moagem, dos mais simples aos mais complexos, secções de borracha industrial, ferro, aço e outros metais. Como representações contavam-se a "Magyruz", todo o material de incêndio da "R.Holl & Cº.”, de sedas para moagens, empanques de "Turrer & Garlock", máscaras contra gases e fumos "Degea" adoptadas pelo BSB. Também já era importadora de óleos e lubrificantes, de entre os quais as marcas "Eagloil" e “Essolube” .
Maxime Vaultier (à direita na foto) recebido pelo Presidente da CML, General França Borges, em 1962
No início dos anos 40 do século XX, esta empresa já tinha filiais e delegações no Porto, Caldas da Rainha, Covilhã, Coimbra, Évora, Estremoz, Luanda, Funchal, Ponta Delgada e S. Vicente de Cabo Verde.
Delegação de Évora, em 1937
1944
Novo edifício na Rua D. Luís I, em 1945
Em 1946 o edifício na Rua D. Luís I, em Lisboa, obra do arquitecto José Simões, datada dos anos 40 do século XX,. e em fase de construção, para o "Instituto Superior Técnico", herdeiro do "Instituto Industrial", foi adquirido, em 1944, pela “H. Vaultier & Cª.”. Esta completou as obras e em 6 de Outubro de 1945, estas novas instalações são inauguradas com a presença do Presidente da República General Óscar Carmona.
Anúncio de 1946 da "Burmeister & Wain"
Aqui instalou um armazém de ferro, fábrica de mangueiras, correias e puxados, uma oficina de viaturas agrícolas e de combate a incêndios, exposição de materiais e um refeitório para os cerca de 150 trabalhadores que aqui exerciam actividade. Em 1969 este edifício foi adquirido pelos CTT funcionando, hoje, a Fundação Portuguesa das Comunicações.
Na foto abaixo e do lado esquerdo, encontram-se rolos de mangueira em lona. Estas mangueiras eram vendidas em lanços com 20 metros ou 25 metros. Tinham de ser aramadas a junções fêmea de 1"1/2 pelos bombeiros que faziam posterior vistoria no local da sua localização, e colocadas, posteriormente, numa caixa vermelha, com as letras “S.I.”, juntamente e ligada a uma boca de incêndio tipo "Teatro" ou tipo "Globo", e na extremidade oposta a uma agulheta de latão. Nesta caixa também existia uma chave de cruzeta em ferro para abrir o fornecimento de água à mangueira. Este tipo de equipamento era muito utilizado nas escadarias de prédios altos, garagens, teatros e cinemas, etc.
Mangueiras com lanços de 20 mts. com três tipos de junções utilizadas actualmente
Ainda hoje são usadas apesar de terem sido substituídas em equipamentos recentes por outro tipo de combate a incêndio de seu nome "Caixa de Carretel" que possui uma mangueira tubular de borracha revestida, em vez desta em lona, não utilizando a boca tipo "Teatro" mas apenas uma válvula, para abastecimento de água.
A área de actuação da “H. Vaultier & Cª.” compreendia o território nacional extendendo-se às ilhas adjacentes e colónias portuguesas. Maxime Vaultier além de importante industrial foi conselheiro da Câmara do Comércio Exterior de França e administrador neste país de empresa “Scipat”.
1947
E só por curiosidade estes autocarros de 2 andares chegariam a Lisboa em 19 de Maio de 1947. Foram entregues as primeiras duas unidades.
Cerimónia da entrega no Porto de Lisboa Primeira carreira nº 201 com autocarro de 2 pisos
Depois de terem sido devidamente testados
1950
1950 1954
1957
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca de Lisboa
26 comentários:
Belo trabalho!
Recordo-me perfeitamente daquele grande letreiro que existia no "LARGO VITORINO DAMÁSIO".
Passava no eléctrico e havia a tendência de olhar para o "H. VAULTIER & Cª.".
Um abraço
APS
Caro Agostinho
Grato pelo seu sempre amável comentário
Abraço
José Leite
Também havia uma filial em Caldas da Rainha...
Gostei de ler.
D. Maria
Agradecido pela sua informação adicional, e pelo seu comentário
Cumprimentos
José Leite
Olá.
Eu tenho uma debulhadora fabricada pala H. Vaultier e Cª de marca VAULTIER. Creio que seja uma raridade. Alguém conhece onde foi fabricada?
Orlando Teixeira
Ficai Comovida por ver este trabalho sobre a H.Vaultier , sou a neta de Maxime Vaultier , e claro Bisneta de Henry Vaultier. Agradeço o seu belíssimo trabalho sobre esta empresa que era a Paixão do meu Avô.
Merci
Florence Vaultier
D. Florence
Não tem que agradecer.
Eu é que agradeço o seu comentário
Cumprimentos
José Leite
Olá,
Nos Bombeiros de Estremoz existe um carro (pronto-socorro) Dodge de 1939 que foi feito na H.Vaultier e está restaurado. Gostava de completar a sua história com mais dados sobre o fabrico.
Se tiverem documentos ou informações que possam facultar
Agradeço
Fernando (fjafa@clix.pt)
Vaultier . morava na s. Domingos à lapa - onde os miudos (eu próprio) jogavam à bola conhecia a familia Vaultier - tinha 2 filhas lindas - era boa gente.
Com muitas saudades da meninice
FPereira
E eu hoje com 60 anos que tenho saudade dessa grande casa e GRANDE nome do Srº,que eu miúdo ia junto com o meu pai á filial de Évora comprar material e havia de tudo que se necessitava e nada mais existe hoje e quando hoje precisamos pensamos que havia tudo nesse tempo e quando se vê estes estabelecimentos fica-se com muita saudade como já foi referido em cima.
Viana do Alentejo
Carlos Horta:
Na foto de 1962, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa já não era o general Salvação Barreto, mas sim o general França Borges.
Caro Heitor
Tem toda a razão já procedi á rectificação.
Com os meus agardecimentos, os meus cumprimentos
Muitos parabéns por esta tão vasta informação sobre a Casa H. Vaultier.
Sou seu neto e fiquei naturalmente muito comovido com os elementos que aqui divulgou no seu blog. São dados preciosos e muito relevantes.
Muito obrigado.
Bem haja.
Marcelo Vaultier Mathias
Belo trabalho acerca da casa Vaultier, como era conhecida. O meu avô Herculano Garcia -Silva foi o Grenteski da filial de Ponta Delgada durante mais de 40 anos, desde finais dos anos 40 até ao início dos anos 80.
Luis Miguel Garcia
Excelente trabalho, que muitos nos ajuda a recordar uma casa que tão importante era há 70 ou há 55 anos e que depois, por ironias do destino, acabou por se desfazer.
Parabens ao autor deste trabalho, com belíssimas imagens de época. O meu Pai trabalhou muitos anos na H.Vaultier & C., onde era “chefe da correspondencia estrangeira” (ele era licenciado em românicas pela faculdade de letras de Lisboa). Por esse motivo, quando eu era criança, o nome Vaultier tornou-se familiar lá em casa. Fiquei sempre com a impressão que se tratava de uma belíssima firma, e que o meu Pai tinha muita consideração e mesmo admiração pelo “Senhor Vaultier”, como Maxime Vaultier era conhecido pelos seus empregados. Recordo dois figmentos das minhas memórias de infância, ambos passados algures na década de sessenta. Uma, foi ter ido ter com o meu Pai “ao Vaultier”, cuja entrada, nessa época se fazia pela Calçada Marquês de Abrantes e não pelo largo Vitorino Damásio. A outra foi ter visto a chegada do Senhor Vaultier à bancada central do Estádio da Luz, numa das noites europeias do grande Benfica dos anos sessenta; como se tratava duma pessoa conhecida e fisicamente corpulenta, essa chegada não passou despercebida a quem lá se encontrava, até porque ele era uma pessoa jovial, “larger than life” como se diz às vezes. E pronto, este é o meu pequeno testemunho sobre uma empresa admirável que marcou uma época, e também - porque não reconhecê-lo? - uma singela e comovida homenagem de um filho a um Pai - Manuel Cartaxo - que trabalhou toda a vida na Casa Vaultier, e que o meu Pai, lá onde estiver, não deixará de ler com um sorriso...
Parabens ao autor deste trabalho, com belíssimas imagens de época. O meu Pai trabalhou muitos anos na H.Vaultier & C., onde era “chefe da correspondencia estrangeira” (ele era licenciado em românicas pela faculdade de letras de Lisboa). Por esse motivo, quando eu era criança, o nome Vaultier tornou-se familiar lá em casa. Fiquei sempre com a impressão que se tratava de uma belíssima firma, e que o meu Pai tinha muita consideração e mesmo admiração pelo “Senhor Vaultier”, como Maxime Vaultier era conhecido pelos seus empregados. Recordo dois figmentos das minhas memórias de infância, ambos passados algures na década de sessenta. Uma, foi ter ido ter com o meu Pai “ao Vaultier”, cuja entrada, nessa época se fazia pela Calçada Marquês de Abrantes e não pelo largo Vitorino Damásio. A outra foi ter visto a chegada do Senhor Vaultier à bancada central do Estádio da Luz, numa das noites europeias do grande Benfica dos anos sessenta; como se tratava duma pessoa conhecida e fisicamente corpulenta, essa chegada não passou despercebida a quem lá se encontrava, até porque ele era uma pessoa jovial, “larger than life” como se diz às vezes. E pronto, este é o meu pequeno testemunho sobre uma empresa admirável que marcou uma época, e também - porque não reconhecê-lo? - uma singela e comovida homenagem de um filho a um Pai - Manuel Cartaxo - que trabalhou toda a vida na Casa Vaultier, e que o meu Pai, lá onde estiver, não deixará de ler com um sorriso...
Boa tarde!
Já há algum tempo que ando a pesquisar sobre o secador de arroz de arroz, provavelmente da década de 40, que se encontra no Museu Municipal de Azambuja, onde esta cultura tinha e tem um elevado destaque. A máquina, composta por fornalha e secador, estava montada na Quinta do Valverde, posteriormente adquirida pela autarquia, tendo o espaço sido reconvertido num museu etnográfico. Já contactei com a família do orizicultor que adquiriu a máquina, mas não me conseguiram facultar nada - nem fotografias nem documentação.
A única referência que tenho é o fato da porta da fornalha, que fornecia calor para o secador, ter inscrito - H Vaultier & Companhia. Pela pouca pesquisa que fiz, fiquei a percerber que a empresa também fabricada materiais para secagem e descasque de arroz.
Gostaria de saber onde se encotram os arquivos da empresa para poder consultá-los.
Sou Fernando Néo e fui empregado do H. Vaultier & Cia. desde 1858 até 1971.Primeiramente na Secção de "Filtros" e depois na Secção de "Tratores". A primeira Secção estava sob a supervisão de um
Diretor-Sr. Grizi.A>segunda era autónoma-Tinha a representação dos tratores NUFFIELD-para a agricultura
e os industriais ALLIS CHALMERS (concorrente da CATERPILAR.
Agora uma referência para o Sr Rui Cartaxo,.Só para lhe dizer que contatei alguns anos com o pai. Um cavalheiro baixo, magro mas com genica muito ativa
Estou neste momento com 87 anos os 25 anos e os 38 anos.
Dos empregados com que tenho contato são. O Mário Mendes e o Raul Vaz.
Gostaria de saber se ainda há mais sobreviventes dessa época.M/mail: efeneo@mail.telepac.pt
Gostaria de contatar com a Florence Vaultier
Sou: Fernando Néo .Estou com 87 anos
Fui empregado da firma H. Vaultier & Cia de 1958 a 1971.
Tenho contato com dois ex-empregados da empresa:
Mário Mendes
e, Raul Vaz.
Contatei pessoalmente com o Sr Maxime Vaultier e com, o seu sócio Henry Chatelanaz.
E informação para o Rui Cartaxo- Também tive durante alguns anos contato o seu pai.
Um gentleman no trato -de baixa estatura mas com enorme energia.
Caso queiram contatar.me podem faze.lo para o emial. efeneo@mail.telepac.pt
Sr. Fernando Néo, talvez se lembre do meu pai, Renato Reis que também trabalhou toda a vida no H. Vaultier, primeiro na secção auto, na Rua D.Luis, cujo chefe de secção era o Sr. Júlio Gouveia, seguidamente quando essa secção fechou foi para a oficina dos Nuffield e Allis-Chalmers, e terminou como motorista das entregas. E como era bom chegar ao Natal e nós os filhos dos funcionários irmos assistir à festa do natal com diversos artistas nacionais no ginásio que também era salão de festas, no final iamos lanchar ao refeitório e finalmente as crianças até aos 12 anos recebiam uma prenda. Por minha parte lembro-me de receber comboios elétricos e uma coleção de livros. Belos tempos. Abraço, Paulo Reis
Belísismo arito, com muito mais história do que a que conhecia. O meu Pai Francisco António Reis Granadeiro adquiriu a H. Vaultier Co. Lda. em Janeiro de 1974 e infelizmente os ventos da história não lhe foram favoráveis
Passei novamente por esta página e reli vários comentários sobre o meu avô Maxime Vaultier, nomeadamente de familiares de antigos funcionários da casa H. Vaultier, que o conheceram ou com ele trabalharam. Fiquei muito sensibilizado.
Esta página é um belíssimo testemunho de todo esse período.
Bem haja ao seu autor!
Muito obrigado.
Marcelo Vaultier Mathias (neto)
Encontrei dois exemplelares interessantes que foram guardados durante anos, por um ex funcionario da direccao de gestao.
Chamo-me Ana Maria Fuentes das Dores sou filha dum empregado dos armazéns da Junqueira e relembro toda a conversa que se tinha em casa à volta do H. Vaultier com os inúmeros elogios à empresa que para aquela época estava muito à frente fruto da direcção do Sr Máxime Vaultier. Recordo igualmente como já foi referido neste blog as festas de natal no edifício fabril, os lanches no refeitório e a respectiva prenda no natal. Depois infelizmente recordo também o declínio da casa Vaultier o qual causou um grande sofrimento ao meu pai que viria a falecer prematuramente em 1972. Gostei muito de ler todos estes comentários
Estando no final da vida, e já não tendo muito espaço para acolher livros, doseio a compra dos mesmos com a releitura de alguns. Comecei a reler esta semana um livro comprado no início deste século de autoria do Dr. Marcello Duarte Mathias. Antes, porém, quis refrescar a memória sobre o CV deste diplomata, sabendo eu que é filho e irmão de diplomatas. O nome do seu cônjuge chamou-me a atenção – Anne-Marie Vaultier. Sofri um baque. Profissionalmente, na década passada, já me havia cruzado com um familiar seu, membro de um Governo. Falámos sobre o Diplomata e os seus livros, mas desconhecia o nome do cônjuge. Tentando pesquisar na internet se a referida Senhora seria filha do Senhor Maxime Vaultier, deparei-me com esta deliciosa página “Restos de Coleção”.
O meu Pai, Antero Traguelho, seguindo a antiga tradição japonesa, teve na Companhia o seu primeiro e único emprego. Foi melhorando a sua condição profissional à medida que continuava os seus estudos (noturnos), o que permitiu que no final dos anos 60 eu me licenciasse com um difícil curso superior. Devo isso ao meu Pai e à Companhia.
São múltiplas as recordações que possuo, algumas delas coincidentes com as já expressas, designadamente a Festa de Natal, a distribuição de brinquedos que, em alguns anos, era o melhor brinquedo que recebia. Recordo-me uma vez, eu, que era muito tímido, tive coragem de ir agradecer o presente ao Senhor Maxime Vaultier. Recordo-me bem da cena. O Senhor não percebeu o que eu queria, tiveram que lho explicitar.
Era também encanto meu, quando ia visitar o meu Pai à Sede (morávamos perto, melhor, a habitação foi selecionada em função da localização do emprego do meu Pai) pôr as máscaras na cara. Tenho ainda presente o cheiro a borracha.
Alguns nomes aqui citados eram referidos em minha casa, como Granadeiro e Chatelanaz, que eu nunca consegui soletrar…
O meu Pai ia acumulando emblemas da firma representativos de anos de casa, sendo o último de brilhantes. No dia em que saiu, tirou-o da lapela do casaco e ofereceu-o ao seu chefe, cujo nome, será algo como Grize.
A Companhia teve uma pujança e uma representação muito fortes, particularmente nos anos 50 e 60. Perante o que acabo de ler, interrogo-me se não haverá matéria e fontes para tentar fazer um historial da empresa, ilustrativo da sua importância no contexto empresarial. Deve ter sido um dos principais investimentos de origem francesa.
À Família do Senhor Maxime Vaultier, o meu muito obrigado.
Carlos Traguelho
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