Restos de Colecção: Café Montanha

12 de agosto de 2018

Café Montanha

O “Cafe Montanha”, localizado na esquina da Travessa da Assumpção com a Rua do Arco do Bandeira (actual Rua dos Sapateiros), propriedade de Manuel Nuñes Ribeiro Montanha, abriu as suas portas em 15 de Fevereiro de 1865.

Anúncio, aquando da sua inauguração em 1865

No livro “Lisboa d’Outros Tempos”, de Pinto de Carvalho (Tinop) resume-se deste modo a história do “Café Montanha” :

« Em 1795 já havia á esquina da rua Nova dos Martyres,  defronte do Theatro de S. Carlos, a casa de pasto do Carlos José Piemontez. Ora esta casa, (café  em 1810) tornou-se suspeita por ahi se juntarem francezes e italianos, taes como o Serino, e o rabequista  José Galli, de S. Carlos, o Caetano Milanez, figurante  d’esse theatro, o negociante Traberso, etc. Supponho  ser este o café Genovez, que ainda em 1824 existia no largo de S. Carlos. (Gazeta). O café das Sele Portas ou Minerva das Sete Portas, na travessa d’Àssumpção, n.° 10, antigo, á esquina da rua do Arco do Bandeira, tinha no primeiro andar (em  1810) um bilhar e jogo de banca, pertencentes a Antonio José de Sá. A jogatina era patrocinada pela justiça bairrista. Em 1817 foi preso o caixeiro por ter aquelles jogos e mais os de gamão e  cartas, sem estar munido de licença para tal. Mas o. sugeito allegou que a licença estava em nome d'outros,  que haviam tomado a casa por trespasse a um Francisco Peres.
Em 1818 pertencia a um João Victor, que anumnciava o trespasse do café na Gazeta. Em 1827, anno em que fechou, pertencia a  Joaquim Manuel Coutinho. Este botequim tomara o nome das Sele Porias por ser o numero de portas que  tinha para o Arco do Bandeira.
O prédio foi, mais tarde, occupado nas lojas pela cocheira de trens (Faluguel do Pedro Manhoso, por uma taberna, e pelo estanco d’uma mulhersinha, e no  primeiro andar pela hospedaria da Romana. Eram esses os inquilinos, quando, em 1865, o sr. Manuel Nunes Ribeiro Montanha, arrendou a casa por  espaço de doze annos, e estabeleceu n'ella o café Montanha, que abriu na quarta feira, 15 de fevereiro de  1865. O dono do café comprou depois o prédio, e ambos,  por fallecimento do sr. Montanha em 1881, passaram a seus herdeiros.»

1873


30 de Novembro de 1873

Alguns Cafés de Lisboa no “Guide to Lisbon and its Environs”, de 1874 e da autoria de Joaquim António de Macedo

Localização do “Café Montanha” em duas fotos

 

O “Jornal do Comércio”, em 15 de Novembro de 1865, destacava essa mudança ao afirmar, a propósito da inauguração do “Café Montanha”, um dos mais luxuosos da cidade de Lisboa, e que «a capital, conquanto nos últimos anos tenha progredido muito no desenvolvimento de estabelecimentos luxuosos de todos os géneros, ainda não se achava a este respeito na situação correspondente à sua grandeza e à sua população».

                                        8 de Junho de 1880                                                                 16 de Junho de 1881

 

9 de Junho de 1881

Este Café de «Manuel Nunes Ribeiro Montanha, dandy endinheirado, grande janota da época e estroina», foi frequentado «pela jeunesse dorée do tempo» e pelas colónias francesa, belga e suíça. O «culinotécnico», termo curioso que surge numa crónica de 1956, era um francês de nome Numa Serrière, novo proprietário desta Café a partir de 1899 e criador de um original e famoso bife com rodelas de tutano.

1 de Agosto de 1899

1904


1909

O “Café Montanha”, foi, sempre frequentado por personalidades destacadas das letras, artes, direito, medicina e política. Exemplo disso é que em 3 de Outubro de 1910 … «o Dr. Affonso Costa, trabalhava na revolução no consultório do Arco do Bandeira; João Chagas e José Barbosa, percorriam as ruas da cidade baixa e iam jantar a um restaurant da Baixa frequentado pelos buffos policiaes, o Café Montanha, na rua da Assumpção.»

Foi, igualmente, palco de algumas das mais importantes reuniões do grupo do “Orpheu”. Aliás, foi ai que, em Fevereiro de 1915, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Luís de Montalvor começaram a discutir a possibilidade de publicarem uma revista trimestral que, como referiu Boscaglia, «viria a ser o próprio Orpheu».

Em 10 de Setembro de 1949 …

O “Café Montanha”, segundo li, veio a encerrar em 1952, e o edifício onde estava instalado foi colocado à venda e no jornal “Diario de Lisbôa”, podia-se ler em 14 de Maio de 1953:

«(…) - segundo anuncio publicado pelo sr. dr. Abel Pereira de Andrade - ao edificio em que existiu o Café Montanha, na Rua dos Sapateiros, 146, com esquina para a rua da Assunção - que se vende completamente devoluto, e em condições de poder ser demolido e reconstruido, edifício legado, há alguns anos, ao Patriarcado de Lisboa, pelo seu proprietário, sr. Manuel Nuñez Ribeiro Montanha.»

“Diario de Lisbôa” em 14 de Maio de 1953

Actual edifício no lugar do “Cafe Montanha” , no “Google Maps”

Antes de terminar, recordo que abriu em 1920, na Rua da Glória um club nocturno com o mesmo nome, o Club Montanha. Dizia-se que neste club se experimentava cocaína, sendo uma senhora francesa que ali a introduzia. Este club encerraria em 128. Aqui fica um anúncio na época.

1924

E ainda, “Montanha”, numa designação para outro club nocturno, com uma composição mais elaborada e afrancesada …

9 de Fevereiro de 1928

fotos in:  Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa

Sem comentários: