Restos de Colecção: Palácio das Corporações

10 de julho de 2018

Palácio das Corporações

O “Palácio das Corporações”, sede do, então, Ministério das Corporações e Previdência Social, projectado pelo arquitecto Sérgio Botelho de Andrade Gomes (1913-2002), foi inaugurado em 23 de Setembro de 1966, na esquina da Avenida de Roma com a Praça de Londres, em Lisboa, pelo Chefe de Estado Almirante Américo Thomaz. Neste dia comemorava-se o 33º aniversário da entrada em vigor do “Estatuto do Trabalho Nacional”. 

 

“Estatuto do Trabalho Nacional”, no Diário do Govêrno de 23 de Setembro de 1933 e inauguração do “Palácio das Corporações”

 

O Presidente do Conselho Dr. Oliveira Salazar e o Chefe do Estado Almirante Américo Thomaz na inauguração

 

Este edifício foi construído na esquina da Praça de Londres com a Avenida de Roma, construção que foi iniciada em 1958. No outro lado da Avenida de Roma, outro famoso edifício de Lisboa, fora construído nos anos 1950/1951, projectado pelo arquitecto Cassiano Viriato Branco, promovido pela “Sociedade Industrial de Construções”, e adquirido pela “Companhia de Seguros Império”.

O projecto deste edifício, e como atrás referido, da autoria do arquitecto Sérgio Botelho de Andrade Gomes (1913-2002), foi inicialmente elaborado para ser o “Hotel Vera Cruz”, com 17 pisos acima do solo, tendo sido iniciada a sua construção em 1958 e completada a obra de betão. Por vicissitudes de vária ordem, a obra foi interrompida e esteve parada por um largo período de tempo até que, no "Diário do Governo" de 23 de Setembro de 1960 o, então Ministro das Corporações, Dr. Henrique Veiga de Macedo, anuncia a «aquisição e sua adaptação, de um grande edifício, na Praça de Londres, para sede do Ministério».

Fase de construção em betão concluída do projectado “Hotel Vera Cruz” e em fase de paralisação 

 

O projecto de aumento de 4 pisos acima do solo e adaptação aos serviços do Ministério, foi, igualmente, da responsabilidade do arquitecto Sérgio Gomes, com o cálculo de estruturas do engenheiro Cansado de Carvalho. O arquitecto Frederico George foi encarregado da decoração do andar destinado ao gabinete do ministro e salas anexas ao refeitório, tendo também desenhado e dirigido a construção do respectivo mobiliário.

Depois de adquirido pelo Estado as obras de construção recomeçariam

 


A parte artística, foi confiada a: António Lino, com dois mosaicos artísticos parietais no átrio principal da entrada; a Renato Torres, com tapeçaria mural no gabinete do ministro; a José Farinha, autor do perfil do Presidente do Conselho executado em baixo relevo e da medalha comemorativa da inauguração do edifício.

Mosaicos artísticos parietais no átrio principal da entrada da autoria de António Lino

 

 

O jornal “Diario de Lisbôa”, descrevia assim o ”Palácio das Corporações”, aquando da sua inauguração:

«O edifício tem cerca de sessenta metros de altura e uma superfície coberta de 16.000 metros quadrados, compondo-se de vinte e um pisos, dos quais dezanove ocupando toda área de implantação, e dois recuados, incorporados no respectivo coroamento.
Os dois primeiros pisos, em sub-cave e cave, estão ocupados pelas instalações especiais principais, tais como postos de transformação e seccionamento, instalção de força motriz, centrais de emergência e de ar condicionado, e as restantes áreas disponíveis pelo arquivo geral estático.
No rés-do-chão, no que diz respeito a repartições destinadas a funcionários, ficaram apenas instalados dois serviços: o serviço informativo geral do Ministério e um dependente da Direcção-Geral do Trabalho, com entrada independente pela Avenida de Roma, dado que diáriamente atende muitas dezenas de pessoas. O restante é ocupado pelos acessos principais, do pessoal e de serviço, para as instalações especiais e arquivos.
Nos outros andares, com excepção do décimo sexto e décimo sétimo, ficam instaladas as Direcções-Gerais da Previdência e Habitação Económica e do Trabalho e Corporações, e Inspecção-Geral dos Tribunais do Trabalho, a Secretaria-Geral, o Conselho Superior da Previdência e da Habitação Económica, a Repartição da Contabilidade Pública, a Junta de Acção Social, a Junta Central das Casas do Povo e todos os Centros e Comissões de Estudo,e, ainda, a Biblioteca, a sala de leitura e a sala de posses e conferências.
O décimo sexto piso é ocupado pelo gabinete ministerial, com todos os serviços e dependências a ele anexos, e no décimo sétimo ficam instalados a cozinha, o refeitório em regime de "self-service" e as instalações de convívio do pessoal.»

“Palácio das Corporações” como imagem de fundo de publicações do Ministério das Corporações

        

Este edifício também era apelidado de “Arranha-céus da Praça de Londres”, já que passava a ser o edifício mais alto de Lisboa, só vindo a ser ultrapassado pelo “Edifício Aviz” concluído em 1969, na Avenida Fontes Pereira de Melo, com 70 metros de altura e 23 pisos (20 acima do solo). Ambos viriam ser “destronados” com a inauguração oficial do “Lisboa Sheraton Hotel” em 9 de Novembro de 1972, da autoria do arquitecto Francisco Conceição Silva, com 92 metros de altura, 30 pisos, e 5 caves.

Actual Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

 

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Spes ancora vitae

7 comentários:

J disse...

Bom dia!!
Apenas uma retificação para ficar ainda melhor.. Numa das fotos em vez de Ministério do Trabalho e Solidariedade Nacional, fica melhor Ministério do Trabalho e Solidariedade!
A biblioteca ainda cá está com as estantes originais e muitos livros :)
Obrigada pelo seu blog, é FANTÁSTICO

Luís Pinheiro disse...

Acho o seu Blog simplesmente fantástico
Uma pequena correcção, o Ministério actualmente é da Segurança Social
Cumprimentos,
luís pinheiro


Anónimo disse...

Uma rectificação: o Sheraton, tal como o Imaviz, são projecto do arq. Fernando Silva (Conceição está a mais) autor também do cinema São Jorge. Conceição Silva foi um conhecido arquitecto mas era Francisco.
Cumprimentos
Gonçalo

rmg disse...


Meu caro

Aproveito para o louvar pois é a 1ª vez que encontro alguém que sabe que o edifício em questão tinha sido concebido para ser um hotel e acabou aproveitado deste modo.

Como fui viver ali para aquela zona em 1959 (com 12 anos) lembro-me perfeitamente do "esqueleto" abandonado do hotel durante anos mas tenho lido mais de uma vez - e em blogs dedicados a Lisboa - críticas à concepção do edifício como se tivesse sido construído de raíz para aquele efeito específico.

Cumprimentos

RuiMG

José Leite disse...

Caro Gonçalo

Confusões ....

Grato pela sua rectificação

Os meus cumprimentos

José Leite disse...

Caro Luís Pinheiro

Grato, não só pelas suas palavras em relação ao blog, como pela sua rectificação.

Os meus cumprimentos

José Leite

Jesus disse...

Por revezes financeiros este edifício que tinha sido projectado para ser um hotel acabou por ser comprado pelo Estado que gastou uma fortuna na transformação do que estava ja construído como das casas de banho e respectivas canalizações de água e de esgotos.
Na altura especialistas disseram que sairia mais barato demolir e construir de novo!