Restos de Colecção: outubro 2017

31 de outubro de 2017

Canções Antigas (10)

Capas de partituras de canções, do cinema e teatro de revista, desde o início do século XX.

1928

1935

1938

1938

29 de outubro de 2017

Bar - Dancing “Arcádia”

O Restaurante, Bar e Dancing “Arcádia”, localizado no antigo Palácio dos Condes de Povolide, hoje sede do “Ateneu Comercial de Lisboa”, na, então, Rua Eugénio dos Santos, em Lisboa, foi inaugurado em 5 de Fevereiro de 1932. 

“Arcadia” em 1934

A propósito da sua inauguração o jornal “Diario de Lisbôa” informava no mesmo dia:

«Inaugurou-se  esta tarde, na Rua Eugenio dos Santos, o novo restaurante Dancing “Arcadia”, onde se realizou um chá dansante a favor da Assistencia Nacional aos Tuberculosos, que está decorrendo com grande animação e elegante concorrencia.»

No dia seguinte, o mesmo jornal, complementava esta notícia:

«Como era de esperar, revestiu extraordinario brilhantismo e animação o “chá dansante” de caridade com que foi inaugurado ontem o novo restaurante dancing “Arcadia” na rua Eugenio dos Santos, cujo produto se destina a favor da Assistencia Nacional aos Tuberculosos. Ao som de uma eximia orquestra “jazz-band”, dansou-se, quasi sem interrupção, até perto das 8 horas da noite.»

30 de Dezembro de 1933

2 de Janeiro de 1934


Recordo que este Palácio depois de ter sido propriedade do Conde de Burnay, foi adquirido pela “Sociedade Hoteleira, Lda.” no início do século XX, e em 9 de Outubro de 1926 foi adquirido pelo “Ateneu Comercial de Lisboa”, que tinha sido fundado em 10 de Junho de 1880.

Palácio dos Condes de Povolide, já com o “Ateneu Comercial de Lisboa” instalado

Em 1929 o piso térreo do lado sul do Palácio, foi alugado pela firma “Alexandre de Mendonça Alves, Lda.” que aí instala o seu stand de vendas dos automóveis americanos “Chevrolet”, por si importados, promovendo obras de vulto alterando a fachada do piso térreo do edifício.

Stand da firma “Alexandre de Mendonça Alves, Lda.” , em 1929

Em 1932 esta firma abandona o edifício, quando a representação da “Chevrolet” passa para a firma “Dinis d’Almeida & Freitas, Lda.” na Avenida da Liberdade, e o mesmo espaço é ocupado pelo Restaurante, Bar e Dancing “Arcádia” que, como já foi referido, é inaugurado em 5 de Fevereiro de 1932, com um «chá dançante» de caridade, cuja receita reverteria em favor da “Assistência Nacional aos Tuberculosos”. Este espaço tornar-se-ia um dos lugares mais concorridos da Lisboa nocturna, complementando com os seus chás dançantes entre as 17,00 e as 19,30 horas.

5 de Fevereiro de 1932

 

             Passagem de Modelos em 7 de Abril de 1932                             Chá dançante em 14 de Abril de 1934

  

Em 1943, ano do seu décimo aniversário, o “Arcádia” encerra para importantes obras de transformação e renovação, pelas mãos dos seus gerentes Ângelo Pereira e Manuel José de Carvalho (pastelarias "Benard" e "Marques" e "Padaria Inglesa"), reabrindo em 27 de Dezembro de 1943. A nova decoração ficou a cargo da "Casa Jalco" de João Alcobia.

27 de Dezembro de 1943

       

«O amplo salão do “Arcadia” sofreu profunda transformação, apresentando hoje um aspecto de requintado bom gosto, pela harmoniosa conjugação dos lustres e dos resposteiros á restante decoração. Na verdade, não se pode imaginar, senão vendo e admirando, os benefícios introduzidos no conhecido “bar-dancing” de Lisboa, e que transformaram aquela admiravel casa, de alto a baixo, adaptando-a definitiva e convenientemente ao fim em vista.
(…) Á noite, o “Arcadia” registou extraordinária enchente. Apesar do salão comportar muitas mesas, não havia um lugar vago. Na pista brilhante e feericamente iluminada, bailaram e cantaram as artistas Dorita Serrano, Melly de la Plata, Manolita Piquero e Brazalema. Quere dizer, o “Arcadia” corresponde inteiramente às exigências da vida lisboeta, cotando-se como “bar-dancing” da maior categoria.» in jornal “Diario de Lisbôa”

                               7 de Dezembro de 1949                                                            8 de Novembro de 1950

 

Ângelo Pereira, abriria em 12 de Outubro de 1935 o York-Bar”, na rua Serpa Pinto, e em 5 de Março de 1937 o Restaurante “Negresco”, na Rua Jardim do Regedor. A história de ambos pode ser consultada neste blog no seguinte link: Restaurante “Negresco”.

O “Arcádia” encerraria definitivamente no final de 1952. Em 1954 os irmãos galegos António e Manuel Paramés adquiriram este espaço, e inauguraram em 12 de Dezembro de 1956 o Restaurante-Cervejaria “Solmar”. Acerca da história desta cervejaria consultar neste blog o seguinte link: “Solmar”

Último anúncio do “Arcádia” em 20 de Dezembro de 1952

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Arquivo Nacional da Torre do Tombo

25 de outubro de 2017

Livrarias Portugal e Portugália

A "Livraria Portugal", localizada na Rua do Carmo em Lisboa, foi inaugurada em 5 de Maio de 1941. Este estabelecimento era pertença da firma "Dias & Andrade, Lda." constituída em 24 de Fevereiro de 1941 pelos sócios e gerentes Pedro de Andrade e Raúl Luís Dias também proprietários da “Livraria Portugália” na mesma Rua do Carmo, 75.

5 de Maio de 1941

«A abertura de uma grande livraria em Lisboa, em pleno período de guerra, não é caso que possa passar como facto banal, pois é de enorme interesse para todo o meio intelectual e para o público leitor que, felizmente, aumenta dia para dia no nosso país.
Assim lá fomos procurara os nossos amigos srs. Pedro de Andrade e Raúl dias, que, com êxito fizeram ressurgir a Livraria Portugalia e estão agora á testa da nova empresa.
O aspecto da casa é deslumbrante. Instalações modernissimas, amplas, cheias de luz e bons livros. Secções especializadas, organização cuidada e metodica. Montras fascinadoras que serão tentações para os amadores.»

“Livraria Portugal” dentro da elipse desenhada

 

1958

Quanto á "Livraria Portugália", Pedro Andrade esclarecia:

«A Portugalia continua, com os seus amigos, a ser "cercle". Mas ela já era pequena para ali poderem ser admitidos todos os clientes, e a sua "boite" não podia servir convenientemente todo o publico. Assim a "Portugal" é uma filha da "Portugalia". Mais jovem ampliará e desenvolverá as secções da casa mãe. Pois o seu ambiente será o mesmo, e pouco a pouco transferirá algumas secções tecnicas para a nova casa.» 

A "Livraria Portugália", fundada em 1918 por Heitor Antunes e José António Correia, é adquirida, em 1937, por Pedro de Andrade e Raúl Dias. Mas os livreiros ambicionavam abrir ao público um estabelecimento de maiores dimensões, e com Henrique Pinto, planearam a nova “Livraria Portugal”. Raúl Dias tomou a seu cargo da direcção da "Portugália Editora", - fundada em Setembro de 1942 por Agostinho Fernandes -  e Pedro de Andrade fixou-se na "Livraria Portugal" e a gerência da "Portugália" ramificou-se em secções orientadas por Henrique Arronches, Mário de Sousa, Jorge Pimenta, Luís Gomes da Costa e Justo Serra.
Depois de em 21 de Março de 1945 ter aberto uma sucursal na cidade do Porto, a "Livraria Portugália" é liquidada, em 1954, e Pedro de Andrade passou a orientar com Henrique Pinto a "Portugália Editora", que se tinha desligado por essa altura da "Livraria Portugália".

“Livraria Portugalia” e respectiva publicidade em 30 de Abril de 1921

 

Montras da “Livraria Portugalia” no Porto, inaugurada em 21 de Março de 1945 e encerrada definitivamente em 1951

Interior da “Livraria Portugalia” no Porto

      

Livraria Portugália (Porto).1

                                           1938                                                                                              1944

         

A “Livraria Portugal” não estava especializada em nenhum tipo de literatura em especial. Tudo o que se referisse a livros nacionais e estrangeiros. Livros de arte, medicina, direito, técnicos, história, filosofia, infantil, etc. Em 1943, seria aberto ao público o 1º andar.

                                          1961                                                                                                  1979

                

 

Requisição de 13 de Março de 1965

Encerrou em 29 de Fevereiro de 2012. mas a empresa não irá ser dissolvida, mantendo em sua posse o nome registado de “Livraria Portugal”.

 

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Jornal Público

22 de outubro de 2017

Teatro do Rato

O "Theatro do Rato", teve a sua origem no "Novo Theatro de Variedades", propriedade do Dr. José Maria Couceiro da Costa e inaugurado em 27 de Março de 1880, na quinta do Ferreira, na Rua Direita do Rato, em Lisboa, com a peça "O Crime do Benformoso" de Costa Braga e a peça sacra "Martyrio e Gloria, ou Torquato", o Santo" de Antonio Mendes Leal.

O mesmo arco de entrada para o pátio, em foto de 1944

No dia seguinte, 28 de Março de 1880 o jornal "Diario de Noticias", noticiando a abertura do "Novo Theatro de Variedades", comentava:

«Surgio com alleluia a nova casa de espectaculos do rato, bonita, decente, com uns ares de elegancia despretenciosa, salão de sophás estofados, ouvreuses para abrir os camarotes e obsquiar as senhoras, bôa iluminação dando relevo às alegres decorações, mais de 500 espectadores e razoavel orchestra. (...)
Algumas vistas de emerecimento. Escreve-se isto no meio do espectaculo. Parabens á empreza pelo exito total da inauguração e pelo bom arranjo do sympatico theatro popular. Parabens a todos os que cooperaram neste resulatdo principalmente ao inteligente director e actor macedo, garantia de futuras prosperidades.»

Dentro da elipse desenhada a localização do páteo onde esteve instalado o “Theatro do Rato”. Planta de 1911

Páteo onde esteve instalado o “Theatro do Rato”, por ocasião de um comício republicano em 1 de Maio de 1907

 

Foi empresário deste teatro Dr. José Maria Couceiro da Costa e como director e ensaiador o actor António Augusto Macedo, e como maestro Lagrange. Ao fim de seis récitas, e após ruidosas manifestações de desagrado, a empreza acabou e este Teatro encerra. Já neste mesmo local tinham estado instaladas diferentes barracas de espectáculos da “Feira das Amoreiras”, mas sem o carácter permanente desta.

Um ano depois, em 1881 o Marquês Francisco Palavicini, proprietário do terreno, moveu, uma execução judicial contra o proprietário do Teatro, o Dr. José Maria Couceiro da Costa. Para pagamento dessa execução, foi à praça três vezes, a última das quais em 23 de Março daquele ano com todos os seus pertences e dependências.

Fechado o Teatro em resultado do litígio judicial, reabriria em 22 de Setembro de 1881, já como "Theatro do Rato", com uma Companhia dirigida por Salvador Marques, da qual faziam parte Adelina Abranches e o António Cardoso do "Theatro do Gymnasio".

               Salvador Marques                                                             Gravura da entrada para o páteo

  

Por ocasião da reabertura do “Theatro do Rato” em 23 de Setembro de 1881

1881 Teatro do Rato (23-09)       1881 Teatro do Rato (23-09).1

O jornal "Diario de Noticias" informava, em 21 de Setembro de 1881:

«Reabre amanhã, quinta feira, o theatro do Rato, um theatro popular, de preços economicos e de boas commodidades. A empreza tenciona apresentar um variado e escolhido repertório, começando pela peça de inauguração, o Zé Povinho, escrita pelo sr. António de Menezes, e cheia de situações de magnifico effeito. Em deguida representar-se-ha a Estrella do Norte, escrita pelos srs. Alcantara Chaves e pessoa, e a comedia-drama em 3 actos A Riqueza do Trabalho, escrita pelo sr. Julio Rocha, offerecida á classe operaria. Os preços da plateia são entre 300 réis os mais caros e 100 réis os mais baratos; os camarotes de 1ª ordem 1$500 e 1$200, e frizas 1$200 e 1$000 réis. O Theatro está publico de quinta feira em diante para quem o quizer vêr.»

1883

Pouco tempo depois fechou o Teatro, de novo, e ora aberto ora fechado, - uma das vezes vítima de um incêndio, em Setembro de 1888 - foi sempre arrastando uma vida difícil com raros meses de bons resultados financeiros que lhe proporcionavam as revistas de Baptista Diniz, como "O Livro Proibido", e outras. «Este theatro dava quasi sempre prejuízo por estar longe, por não ter commodidades e por ser edificado dentro d'uma quinta e ao lado de uma casa de comidas e bebidas».

                        24 de Dezembro de 1888                                                           21 de Janeiro de 1892

   

Actor António Manuel dos Santos Junior, proprietário do “Theatro do Rato”


"Diccionario do Theatro Portuguez" de Sousa Bastos, em 1908, descreveu, assim, o "Theatro do Rato":

«Por diversas vezes tem sido reedificado, sempre de madeira. D'uma vez ardeu; mas d'outras tem sido demolido por inútil. 
O que começou em 1880 teve o tiiulo de Novo Theatro de Variedades. Foi emprezario o dr. Couceiro e director ensaiador o velho actor Macedo. Era maestro Lagrange, e a companhia estava assim formada: Alfredo Carvalho, A. Portulez, Correia, J. Portulez, Fernando Lima, Maldonado, Ramos, Assumpção, Maria do Céo e Maria Cândida. O espectáculo
d'abertura, a 27 de março de 1880, constou da comedia ero 1 acto de Costa Braga, O Crime do Bemformoso e da peça sacra de António Mendes Leal, Martírio e Gloria, ou Torquato o Santo. Esta cahiu redondamente na primeira noite, acabando a empreza ao fim de seis recitas. O theatro do Rato que ultimamente existia, foi mandado construir pelo emprezario Barata. Era propriedade do actor Santos Júnior, quando ardeu em 1906. Este theatro dava quasi sempre prejuízo por estar longe, por não ter commodidades e por ser edificado dentro d'uma quinta e ao lado de uma casa de comidas e bebidas

Crítica a uma revista no “Theatro do Rato”, publicada no livro “Impressões de Theatro” de Braz Burity, em 1905

 

Até que em 1906, O “Theatro do Rato”, já propriedade do actor António Manuel dos Santos Junior, sofre um incêndio que o destruíu por completo, «perdendo êste artista, no sinistro, tudo quanto possuía, scenário, guarda-roupa, aderêcos e repertório. O que conseguira alcançar em cinco anos de trabalho lá ficou nos escombros.» textos transcritos anteriormente, retirados do livro “Depois do Terremoto - Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa” de Gustavo de Matos Sequeira, Vol III de 1922.

O incêndio também destruiria uma barraca, chamada de "Bazar-Tourada", que era de um feirante chamado Dias, e que estava instalada junto ao Teatro. Chegou a dizer-se que o fogo não fora acidental, tendo mesmo sido preso o sogro do actor Santos Júnior, mas nada se provou. De referir que já anteriormente tinha havido outro incêndio que danificara esta modesta casa de espectáculos.

Largo do Rato em 1944

Teatro do Rato.4

«Como edificio foi, pois, pequena a perda, mas muitos choraram a destruição do popular teatrinho, porque aquele tablado estreito e modesto representava o ganha-pão de alguns artistas, primeiro degrau de uns para gloriosas carreiras e ultimo asilo dos mais desafortunados.»            

Resta dizer que o actor e proprietário deste Teatro, viria a ser compensado por sua madrinha D. Antónia Bárbara da Cunha, que mandaria construir o “Teatro Moderno” inaugurado em Arroios nos finais de 1909, e no qual o actor Santos Junior viria exercer as funções de actor, empresário e gerente. Acerca deste Teatro publicarei a sua história brevemente.

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Hemeroteca Municipal de Lisboa