Restos de Colecção: A Transportadora Setubalense

10 de novembro de 2016

A Transportadora Setubalense

“A Transportadora Setubalense” foi criada em Setúbal em 1925 por João Cândido Belo, que para tal utilizou as suas economias, amealhadas ao transportar caixas de peixe numa carroça, no porto de Setúbal. Em 28 de Julho de 1928 dá sociedade aos seus dois irmãos e altera a designação para “A Transportadora Setubalense, de João Cândido Belo & Cia. Lda.”, sediada em Vila Fresca de Azeitão no concelho de Setúbal.

                                                                                   João Cândido Belo

Um dos primeiros autocarros

Primeiros condutores

Desenho de autocarro “REO” de 1930

Anúncio de 1931

 

Em 1932,´tem início a expansão da empresa com a compra parte da “Empreza Auto-Cars Setubalense”, pelo valor da dívida que esta tinha com João Cândido Belo. A outra parte foi adquirida, pelo mesmo motivo, por Humberto da Silva Cardoso, proprietário da “Empresa de Auto-Cars Palmelense”.
Em 1938, compra a “Empresa Setúbal-Outão”, de Olimpio Moreira dos Santos.
Em 1940, dá-se a primeira grande expansão para o Alto Alentejo. Nesse ano é-lhe concedida a exploração da carreira Barreiro-Évora, concessão da CP e explorada até então pela “Empreza Auto-Omnibus Eborense”, que apesar do nome, tinha sede no Montijo.
Nesse mesmo ano dá-se a aquisição da “Empresa de Transportes Estremocense” e da “Auto Viação de Vila Viçosa”.
Em 1948, fica com o restante da “Auto-Omnibus Eborense” e compra também a “Auto-Cars Palmelense”.
Em 1951, é a vez da Manuel Martins & Sebastião Martins, de Évora, passar para a Transportadora Setubalense, tendo a “Empresa Martins” continuado a operar no Distrito de Castelo Branco, ficando João Cândido Belo com a carreira Castelo Branco-Évora e todas as que a Martins explorava no Alentejo.
Em 1953, compra a “Empresa de Viação Benaventense, Lda.”, com sede em Benavente, à família Anastácio, que por sua vez, tinha adquirido o alvará à “Empresa de Viação Salvaterrense, Lda.”, Salvaterra de Magos, de José de Sousa Torrães, que posteriormente a cedeu a Anastácio Isidro dos Santos. Em 1955, é adquirida “Abel Figueiredo Luís”, de Lagos.
Em 1957, volta a reforçar a sua presença no Alto Alentejo com a aquisição da “Empresa de Viação Murta”, de Portalegre, e da Inácio Gonçalves Capucho, de Évora. Quatro anos mais tarde, em 1961, é a vez da “Vasco da Conceição Paínho”, de Elvas, passar para a Setubalense.

Autocarro “Ford” da “Empresa de Viação Benaventense, Lda.”

Já na primeira década do século XX a “Empreza Automobilista de S. Thiago do Cacem” fazia carreiras entre Sines e Setúbal

De referir que naquele tempo, as carreiras esgotavam por completo a lotação dos autocarros de passageiros, levando a completar com desdobramentos, especialmente ao Sábado. Os tejadilhos, quer de pequenos volumes de mercadorias, quer das bagagens dos passageiros (onde se incluíam bicicletas), representavam um duro trabalho extra aos cobradores de bilhetes, que contavam com a ajuda preciosa dos motoristas.

2 de Janeiro de 1946

Nesta foto dois primeiros autocarros da "Transportes Beira-Rio", os outros dois da "Transportadora Setubalense" e o último, de cor clara, da "Empresa de Camionetes Piedense”

Praça do Bocage em Setúbal

 

Estrada para o Portinho da Arrábida

                                              Lagos                                                                                  Excursão

 

Com a inauguração da Ponte Marechal Carmona em 30 de Dezembro de 1951, “A Transportadora Setubalense”, investiu na área do Ribatejo, levando-a melhorar os transportes com algumas carreiras diárias para Vila Franca de Xira, vindas de Coruche, passando por Salvaterra de Magos, Benavente e Samora Correia, o que levou todas as terras periféricas, a beneficiarem de uma carreira diária. Fazendo também o percurso inverso, tinha em mente através do Couço e Mora, fazer uma ligação a Évora. Na estação dos caminhos de ferro de Muge, ligava com a “Camionagem Ribatejana, Lda.”, até Santarém, ligação que também se efectuava através de Coruche. Em qualquer dos dois percursos, era feita a passagem por Almeirim.

                  “Camionagem Ribatejana, Lda.”                                                                Grândola

 

Festa da “Batalha das Flores” na Avenida Luiza Todi em Setúbal

1952


Garagens em Vila Fresca de Azeitão em 1952

Com a inauguração da Auto-Estrada Lisboa-Vila Franca de Xira”, em 28 de Maio de 1961, o trânsito passou a ser directo a Lisboa, instalando a sua estação na Avenida 5 de Outubro. O transporte de passageiros, agora para Setúbal e Évora, estava mais facilitado em percurso directo, quer pelo Montijo, quer por Coruche/Mora, utilizando a Ponte Marechal Carmona inaugurada em 30 de Dezembro de 1951.

                                                1957                                                                                       1958

 

Estação Central de camionagem em Setúbal

29 de Dezembro de 1961

1966

Na Avenida de Ceuta, em Lisboa

1969

 

                                      1964                                             Três pinturas diferentes num parque de autocarros em 1966

 

1969

       

Emblema de boné

Em 1971, dá-se a expansão para o Ribatejo com a compra da “Camionagem Ribatejana, Lda.”, de Santarém, e da “Camionagem Vilela, Lda.”, da Marinha Grande. Em 1972, é a vez dos “Serviços Municipalizados de Évora”, e 1973 é o ano das duas últimas aquisições de “A Transportadoora Setubalense”. São elas a “Joaquim Natário”, de Vieira de Leiria, e a “Translagos”, empresa que operava as carreiras urbanas na cidade de Lagos.

As zonas operacionais então usadas pelas empresas adquiridas, foram modernizadas com novas instalações e outras foram criadas, como: Elvas, Estremoz, Beja, Barreiro, Montijo, Benavente/Coruche. Segundo um texto impresso num lápis publicitário, fabricado pela conhecida “Viarco”,  “A Transportadora Setubalense” com os seus autocarros, percorria cerca 25 mil quilómetros por dia, em terras de Portugal.

Autocarro “AEC-UTIC”  U 2055 de 1972

1972

Autocarro “AEC-UTIC”  U 2047


Os desenhos digitais publicados foram gentilmente cedidos por Eugénio Santos via  “Memórias de Empresas e Autocarros Antigos

Autocarro de 2 pisos “Leyland” nos transportes urbanos de Setúbal

Com a nacionalização do sector de transporte de passageiros, pelo Dec. Lei Nº 200-A e C/75, foi criada a “Rodoviária Nacional, E.P.”, tem a sua actividade sido iniciada em 1 de Junho de 1976. Entre as empresas de transporte de passageiros nacionalizadas encontrava-se “A Transportadora Setubalense” de “João Cândido Belo & Cª. Lda.”,com sede em Vila Fresca de Azeitão, ao que se lhe juntaram todas as empresas anteriormente por si adquiridas, mantendo o seu registo primitivo. e possuindo no seu conjunto 577 autocarros, incluindo alguns de turismo. Possuíam licença para explorar 306 carreiras, empregando 2.179 funcionários.

Com a “RN - Rodoviária Nacional, E.P.”, são criados os “Centros de Exploração de Passageiros - CEP”, e os autocarros de “A Transportadora Setubalense”, são renumerados. A numeração dos autocarros passou a ser formada por 4 números, pelo que o primeiro identificava o CEP e os 3 últimos, o número interno do CEP. Assim a “A Transportadora Setubalense”, foi dividida nos seguintes CEP:
 
CEP 4 - Rodoviária do Tejo, S.A. (RT) - com sede em Torres Novas
CEP 7 - Rodoviária do Sul do Tejo, S.A. (RST) - com sede no Laranjeiro
CEP 8 - Rodoviária do Alentejo, S.A. (RA) - com sede em Azeitão

Com o início do processo de privatização da “Rodoviária Nacional, E.P.” em 1990, esta foi transformada em “Rodoviária Nacional, Investimentos e Participações, S.A.”. Pelo que na fase de venda:

- CEP 4 - em 1993 - A “Rodoviária do Tejo”, S.A., é adquirida pela “AVIC” de Viana do Castelo, “Joalto - Rodoviária das Beiras” da Guarda e “Rodoviária do Entre Douro e Minho”.
- CEP 7 - em 1991 - A “Rodoviária Sul do Tejo, S.A.”, pertencia à RN, tendo em 1995, passado a “Transportes Sul do Tejo” (TST). Em 1998, passou a pertencer ao “Grupo Barraqueiro”. Em 2001, os serviços na Península de Tróia, até então da “Belos Transportes, S.A.” ,passa para a TST. Em 2003, passa para o Grupo ARRIVA, e em 2010, é adquirida pela Deutsche Bahn, empresa alemã.
- CEP 8 - “Rodoviária do Alentejo”, é comprada pelo “Grupo Barraqueiro”, aliada à família Belos e à “ETAC - Empresa de Transportes António Cunha, S.A.”, passando em 1994, a “Belos Transportes, S.A.”. Em 31 de Agosto de 1995 a “Rodoviária Nacional, E.P.” e a sua sucessora “Rodoviária Nacional, Investimentos e Participações, S.A.”, estavam extintas, e a fase de privatização que tinha sido iniciada em 1990, foi concluída em 1996.

Antiga sede garagem e oficinas da “João Cândido Belo & Cª. Lda.” actualmente da “Rodoviária do Alentejo, S.A.”, em Vila Fresca de Azeitão, via “Google Earth”

 

1944

Bibliografia: "A Transportadora Setubalense de João Cândido Belo & Cª Ldª - Uma Presença no Ribatejo" de José Gameiro (2007)

Nota: Muito agradeço a colaboração do Sr. Pedro Figueira

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Memórias de Empresas e Autocarros Antigos, Fundação Portimagem, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdios Mário Novais)

12 comentários:

Alvaro Pereira disse...

Meu caro José Leite

Os meus maiores agradecimentos por este artigo sobre a empresa "Belos", como era conhecida no Alentejo!

Nem imagina as maravilhosas recordações que eu tenho ao ver as fotos desses autocarros; tantas vezes eu e os meus pais viajámos neles!

Muito obrigado!

Álvaro Pereira

José Leite disse...

Caro Álvaro Pereira

Eu é que agtadeço a amabilidade do seu comentário.

Os meus cumprimentos
José Leite

Anónimo disse...

Em Azeitão, na rotunda próximo da antiga estação rodoviária existe, desde há uns meses, uma réplica do autocarro da primeira foto do seu post.

ruiferreira disse...

Foi com muito agrado que li o artigo e revivi algumas imagens que povoaram o dia a dia na minha infância, já que o meu pai foi motorista dos Belos desde o início dos anos 60 até à nacionalização em 1975, quando a Setubalense foi integrada na Rodoviária Nacional.
Não se justifica a falta de conhecimento público sobre uma das maiores (e melhores) empresas de transporte coletivo de passageiros existentes antes do 25 de Abril, tendo em atenção os padrões de segurança já então existentes na empresa (manutenção rigorosa do material circulante e responsabilidade atribuída aos funcionários no exercício das suas funções), estruturas de apoio ao transporte de passageiros (terminais rodoviários) com um nível muito superior ao das outras empresas daquele tempo e uma base remuneratória acima da média.
Um bem haja pelo contributo.

jose luis covita disse...

Sr José Leite,

Na imagem de Cacilhas em que diz "Autocarros da Transportadora Setubalense e um da Empresa de Transportes Piedense", queira desculpar mas não está correcta a legenda. Os dois primeiros são da "Transportes Beira-Rio", os outros dois da "Transportadora Setubalense" e o último ( mais afastado do fotógrafo) é da "EMPRESA DE CAMIONETES PIEDENSE". Não acontece só consigo chamar-lhe "Transportes Piedense".

Cordialmente,
José Luís COVITA

jose luis covita disse...

Caro Sr José Leite,

Segundo as minhas investigações o fundador da Empresa de Viação Salvaterrense foi o sr José de Sousa Torrães, que posteriormente a cedeu a Anastácio de Sousa Isidro. Sinceramente o nome que refere Alfredo da Trindade Rodrigues,nunca me surgiu em nenhum documento. No entanto gostaria de saber como lá chegou. Pode ser que algo me esteja a faltar.

Antecipadamente agradecido,
José Luís covita

José Leite disse...

Caro José Luís Covita

Muito agradecido pelas suas correcçôes a este artigo, tendo já procedido às devidas alterações.

Os meus cumprimentos
José Leite

jose luis covita disse...

Tenho um horário da Anastácio Isidro dos Santos, de Salvaterra. Se estiver interessado posso enviar-lho com todo o prazer.

Cordialmente,
José Luís COVITA

José Leite disse...

Ficarei grato pela sua gentileza.

Os meus cumprimentos
José Leite

Unknown disse...

EU GOSTARIA DE SABER SE CHEGOU A SER ESCRITO ALGUM LIVRO SOBRE A SETUBALENSE. OIS TEM AQUI TAMANHA INFORMAÇÃO, COM INCONTÁVEIS DETALHES QUE ME PARECE QUE ALGUM LIVRO FOI ESCRITO PARA PERPETUAR A FABULOSA MEMÓRIA. UM GRANDE ABRAÇO À TODOS E PARABÉNS PELA BRILHANTE INFORMAÇÃO.

Espada disse...

Obrigada por publicar uma parte da história da minha cidade Marília Espada

Carmen Zita Monereo disse...

Muitos parabéns pela iniciativa. Sou sobrinha de um dos antigos donos, pertencente à Familia Belo, de Vila Fresca de Azeitão. Boas memorias. Este levantamento merecia um livro em conjunto. Quem aceita o desafio? Att. Carmen Zita Monereo