Restos de Colecção: maio 2016

29 de maio de 2016

Jardim Cinema

O “Jardim Cinema” teve origem na "Esplanada Monumental" inaugurada pelo Presidente da República General Óscar Carmona,  na, Avenida Álvares Cabral, em Lisboa, em 7 de Maio de 1931. Esta sala de espectáculos, fazia parte do conjunto arquitectónico encomendado ao arquitecto Raúl Martins, pelo construtor civil tomarense Clemente Vicente, e que incluía a "Garagem Monumental", sala de projecção e uma "fonte monumental".

Avenida Pedro Alvares Cabral dois anos depois da sua abertura em 1930

Anúncio no “Diario de Lisbôa”, em 6 de Junho de 1931

Em 4 de Junho de 1932, reabriria com cinema sonoro e com a nova designação de “Esplanada Alvares Cabral”

E em 4 de Fevereiro de 1933 ...

Em 22 de Maio de 1933, depois de reformulada, a Esplanada passaria a designar-se por “Jardim-Cinema”, projectando o filme “Pernas ao Ar “, com uma nova sala coberta e com capacidade para 894 espectadores, tornando-se numa das maiores salas de cinema de Lisboa. No final da década de 30 do século XX a sua capacidade viria a ser reduzida para 705 lugares.

Capa de pequeno livro alusivo à inauguração do “Jardim Cinema”

 

      

Sala de espectáculos

Quanto à sua descrição arquitectónica transcrevo um breve texto do “SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico”:
«Desenvolvido em profundidade, o edifício do antigo Jardim-Cinema constitui-se como um volume paralelepipédico quase completamente fechado, com cobertura em terraço. Na fachada (NE), há a registar: no piso térreo, a porta de entrada, flanqueada por envidraçados (antigas bilheteiras, actual tabacaria); num 2º nível, um baixo-relevo decorativo art-déco em betão, acima do qual se destaca a presença do pano murário destinado à colocação de telas publicitárias, em suporte metálico enquadrado pelo friso da platibanda; faixas verticais de janela flanqueiam esta superfície. O interior é um espaço unitário, de triplo pé-direito, em que o salão de jogos ocupa o piso térreo; sobre este espaço central abrem-se 2 níveis de galerias, ligadas entre si por 6 grupos de escadas de lanço recto único.»

Programa

  Programação de 24 a 31 de Maio de 1934                                                         Bilhete

  
                                                                                                          Bilhete gentilmente cedido por Carlos Caria

O “Jardim Cinema” encerraria a 12 de Outubro de 1977 com o filme “O Príncipe Libertino”, e mudava de designação para cinema “Monte Carlo”, abrindo a 4 de Maio de 1979 com o  filme “Aquele Verão” . Viria a encerrar definitivamente a 15 de Outubro de 1985 com o filme “Colégio de Jovens” .

Viria a  tornar-se no “Monumental Salão de Jogos”. Anos mais tarde, em 24 de Outubro de 1986, seria transformado na famosa discoteca “Loucuras” do radialista José Nuno Martins. Foi uma das discotecas e sala de espectáculos que dominou os anos 80, do século XX, de Lisboa com as suas "Quintas-Feiras Tranquilas", animadas pela "Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória", criada em 1986 pelo maestro Jaime Oliveira formada por músicos da banda da GNR.

Propaganda ao “Loucuras”

Pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B. n.º 42 de 19 Fevereiro 2002, o “IGESPAR” considerava este conjunto arquitectónico “Imóvel de Interesse Público”.

Depois desta encerrada, voltaria a salão de jogos que por sua vez encerraria definitivamente em 30 de Junho de 2006, transformando-se mais uma «loja chineza». Hoje este edifício, alberga  uma produtora de programas televisivos e a empresa de leilões “Renascimento - Avaliações e Leilões, S.A.”.

“Monumental Salão de Jogos”

Imagem mais recente do conjunto

fotos in:  Delcampe.net, Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, IÉ-IÉ, O Vôo do Corvo

27 de maio de 2016

Ciclo da Batata por Artur Pastor

Ao fazer a minha visita diária ao belíssimo blog “Artur Pastor”, - que divulga a obra do fotógrafo Artur Pastor (1922-1999)  - deparo-me com várias e  interessantes sequências de fotos.

Hoje, destaco uma sequência de fotos que o blog apelidou de “Ciclo da Batata”, que retrata o processo desde a colheita á sua comercialização, nos anos 50/60 do século XX.

 

 

 

 

fotos in: Artur Pastor

25 de maio de 2016

Teatro Sá de Miranda

O “Theatro Sá de Miranda”, projectado pelo arquitecto José Geraldo da Silva Sardinha, em Março de 1875, foi inaugurado em Vianna do Castelo, a 29 de Abril de 1885. A sua construção deveu-se ao esforço de um grupo de personalidades desta cidade, liderado pelo conselheiro Antonio Alberto da Rocha Paris,  e que constituiriam para esse fim, a “Companhia Fomentadora Vianense”, em Março de 1875, depois de aprovados os estatutos pelos accionistas no ano anterior.

É um Teatro à italiana com a plateia em forma de ferradura e três ordens de camarotes, com capacidade de 400 lugares. O Pano de Boca foi desenhado por Luigi Manini e pintado por Hercole Labertini, cenógrafos do “Teatro Nacional de S. Carlos”, em Lisboa, e o tecto, uma imagem do céu em trompe l´oeil, com retratos de dramaturgos, foi pintado por João Baptista do Rio.

Gravura, aquando da sua inauguração, na revista “Occidente”

No “Diccionario do Theatro Portuguez” de Sousa Bastos, acerca deste teatro pode-se ler:

«O projecto d'este theatro foi elaborado pelo architecto Sardinha, lançando se a primeira pedra em dezembro de 1875. A iniciativa foi devida principalmente ao conselheiro António Alberto da Rocha Paris, José Affonso de Espergueira, Sebastião da Silva Neves, José Alves de Sousa Ferreira, Major José Maria Pareira Vianna e Dr. José Alfredo da Camara Leme. A sala d'espectaculo é em semi-circulo.Tem 20 frizas, 21 camarotes de 1.ª ordem e 16 de 2.ª todos amplos e luxuosos, dando para espaçosos corredores e para um vasto salão. A plateia tem 82 cadeiras e 132 logares de geral. Estes logares estão muito á vontade e podem elevar-se a perto de 300. A decoração é muito bonita e graciosa. O tecto foi muito bem pintado por João B. do Rio.   

O palco é muito espaçoso. O primeiro scenario da caza foi pintado pelo fallecido Lambertini. Por baixo do palco ha 17 magníficos camarins e diversas arrecadações. Bom machinismo, excellente serviço de ventillação, conveniente illuminação a gaz, nada falta ao elegante theatro, um dos melhores das províncias. Teem ali representado quasi todos os nossos primeiros artistas, todas as companhias do Porto e as principaes de Lisboa. É um theatro verdadeiramente commodo e luxuoso e com bello rendimento.»

Por sua vez a revista “Occidente” concluía a notícia da inauguração do “Theatro Sá de Miranda” do seguinte modo:

«Podem pois ufanar-se esses obreiros do progresso de Vianna, a quem hoje toda a cidade civilisada agradece, nomeadamente aos dois sympathicos cavalheiros, o major de infanteria José maria Pereira Vianna e o dr. José Afredo da Camara Leme, o primeiro dos quaes foi substituir na direcção do referido theatro o chorado benemerito da nossa terra, dr. José Affonso de Espregueira, e o quaes, por uma louvavel força de vontade e dedicação, conseguiram que o theatro se inaugurasse no dia 29 de abril, ante uma assistencia numerosa de espectadores enthusiasmados até ao delírio.»

A Câmara Municipal de Viana do Castelo viria a adquirir o “Teatro Sá de Miranda” em 1985, numa altura em que a sua degradação se acentuava. Desde então tem promovido obras de beneficiação, primeiro, em 1993, dando segurança e comodidade ao público e, numa segunda fase, dotando a caixa de palco dos mais modernos equipamentos cénicos, que permitem pôr em cena os mais exigentes espectáculos.

 

 

             

Presentemente a sua lotação está assim distribuída:

Plateia com 190 lugares
14 Frisas com total de 56 lugares
15 Camarotes de 1ª Ordem com um total de 60 lugares
16 Camarotes de 2ª ordem com um total de 64 lugares
Camarote Presidencial com 6 lugares

       

Fotos in: Hemeroteca Digital, Delcampe.net, Olhar Viana do Castelo, Centro Dramático de Viana

24 de maio de 2016

Antigamente (132)

Foto na Feira das Caldas da Rainha, em 1909

Atelier do pintor Veloso Salgado

Navio “Alferrarede” da “SG - Sociedade Geral “, em foto de 1930

Feira de Beneficência da Estrela, em Lisboa no ano de 1960

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa

22 de maio de 2016

Casa de Fados “A Cesária”

O restaurante e casa de fados Casa “A Cesária” situada na rua Gilberto Rola, em Alcântara, teve origem numa tasca existente no século XIX, onde terá cantado pela última vez, em 1877, a célebre fadista Maria Cesaria.

Casa “A Cesária”

 

Acerca da fadista Cesaria, gravura e excerto do livro “Historia do Fado” de Pinto de Carvalho (Tinop), em 1903

Capa e contra-capa da partitura do “Fado da Cesaria”

 

Já no século XX , como possuía dois andares, no rés-do-chão funcionava uma casa típica, que se denominava Casa “A Cesária”, onde se comiam petiscos e se ouvia cantar o fado, funcionando no primeiro andar uma casa de prostituição por onde se entrava por uma porta independente.

Painéis em azulejo da frontaria do edifício da Casa “A Cesária”

  

Com a proibição das casas de prostituição, o seu proprietário Mário Lopes de Oliveira, possuindo alvará de bar consegue licença para ampliar o estabelecimento. O primeiro andar é aberto, ficando com uma varanda com visão para a sala de baixo, que passou a ser o “Pateo das Cantigas”. Era uma casa castiça quer pela construção quer pela sua decoração, dando a sensação de se estar num pátio lisboeta, passando a exibir sessões de Fado diariamente, tendo a lotação esgotada até de madrugada, praticamente sempre.

O fadista Carlos Duarte na Casa “A Cesária”

  

Nos anos sessenta do século XX, passaram pela " A Cesária", quase todos os fadistas da época com principal destaque para Carlos Duarte (filho de Alfredo Marceneiro), que lá ia até à meia-noite, diariamente, cantar o fado, pois no dia seguinte tinha de ir trabalhar, já que não era profissional do fado. A partir de 1967, e após a morte de Carlos Duarte em 1966, Mário de Oliveira contrata Valdemar Duarte, filho de Carlos Duarte, para gerente artístico e fadista desta casa, cargo que viria a abandonar mais tarde.

  

Capa de “LP”

“A Cesária” encerraria definitivamente em 1988. De referir que mesmo ao lado funciona, desde 1963, a casa de fados “O Timpanas” - nome do bolieiro do filme “A Severa” - que em 1970 foi adquirido pelos irmãos Júlio Costa e Carlos Costa do, “Trio Odemira”, que na altura tinham adquirido, também, ao Grupo CUF o restaurante de luxo “Varanda do Chanceler”. Ambos viriam a ser vendidos em 1978, com o último a encerrar definitivamente pouco tempo depois.

Casa de fados “O Timpanas”, com o edifício da antiga Casa “A Cesária” em reconstrução e capa de partitura da canção

Timpanas Timpanas.1

O edifício actualmente, albergando o restaurante “Painel Grill”

fotos in: Arquivo Municipal de LisboaDelcampe.net, Lisboa no Guiness, Museu do Fado