Restos de Colecção: Hotel Miramar no Monte Estoril

4 de novembro de 2015

Hotel Miramar no Monte Estoril

O já desaparecido “Hotel Miramar”, localizado no Mont’ Estoril e propriedade da firma “Allen, Lda.”  abriu em Agosto de 1914, tendo sucedido ao “Royal Hotel” que se tinha instalado, em 1906, no primitivo “Chalet Almeida Pinheiro”.

Recordo que o primeiro chalet construído no Mont'Estoril chamava-se "Torresão" adquirido por Carlos Eugénio d'Almeida. Seguiu-se o “Chalet Bastos” e «pouco depois o opulento proprietario sr. Carlos Anjos construia sucessivamente no Monte alguns chalets de madeira, com os nomes de suas filhas».

A construção da via férrea ligando Cascais a Lisboa - primeiramente inaugurada entre Cascais e Pedrouços em 30 de Setembro de 1889 e finalmente entre Cascais e Cais do Sodré em 4 de Setembro de 1895,  em viria a dar um grande impulso a esta zona o que levaria o Conde de Mozer a ter a ideia de criar esta estância de Verão. Assim, seria criada por um grupo de capitalistas  a "Companhia Internacional do Mont'Estoril", com um capital inicial de 225 contos de réis. Foi iniciada a compra de terrenos, abertura de ruas, plantação de palmeiras e magnolias. Seria promovida por esta Companhia a construção do "Grand Hotel" - mais conhecido por "Grand Hotel Estrade" por ser esse o apelido do seu fundador e gerente - e que seria inaugurado em 16 de Agosto de 1898.

«O Estoril está suplantado pelo Mont'Estoril que lhe fica proximo. Aí sim; é que do comboio se vê a montanha transformada n'uma rica estação de verão, coberta de chalets e outras edificações, as mais artisticas, as mais elegantes, que o gosto aprimorado de uma sociedade constituida ad hoc para transformar aquelle lugar, aliado ao de algumas familias da nossa primeira sociedade, tem sabido construir ali» in: "Gazeta dos Caminhos de Ferro” de 1 de Outubro de 1899.

Por esta altura, é mandado construir pelo engenheiro Almeida Pinheiro,  o que viria a ser designado de “Chalet Almeida Pinheiro”, De grandes dimensões e de uma arquitectura arrojada para a época, seria descrita pela revista “Occidente” em 20 de Junho de 1899 do seguinte modo:

«O vasto chalet Almeida Pinheiro, embora lembre pelo gosto da sua construcção uma praça de touros, é digno de menção pela sua grandeza. N'elle em breve se inaugurará um luxuoso casino, verdadeiro modelo no seu genero.»

"Chalet Almeida Pinheiro" e zona circundante em 1895

“Chalet Almeida Pinheiro”, num postal datado de 31 de Janeiro de 1903

O casino a que alude o texto nunca se instalaria neste edifício mas sim no chalet da Viscondessa de Silva Carvalho, bem perto deste na Rua Arcachou, (onde tinha funcionado anteriormente um, restaurant), e chamando-se “Casino do Mont’ Estoril”, e que a propósito deste a mesma revista escrevia: «O Casino, que é não o que se projecta no chalet Almeida Pinheiro, e a que alludimos, mas sim um de proporções mais modestas e onde agradavelmente se passam algumas horas, desfructando da sua larga varanda o mar que se estende até perder de vista.». Depois de terminar a sua actividade como casino viria a funcionar como “Hotel, Restaurant e Club”.

“Casino Mont’Estoril” e anúncio em 1 de Agosto de 1910

 

“Mont’Estoril” - Hotel, restaurant e club

No princípio do século XX seria inaugurado o “Grande Casino Internacional” instalado no chalet do capitão-tenente da Marinha Luís Gonzaga Ribeiro, que ficaria a residir no último piso. Acerca da história deste Casino consultar neste blog o seguinte link: Grande Casino Internacional”.

Grande Casino Internacional”. com o “Hotel Miramar” ao fundo

É neste ano de 1899, que chega a luz eléctrica ao Mont’Estoril, depois de Cascais ter sido a primeira povoação de Portugal a ter, em 28 de Setembro de 1878, por ocasião do aniversário do Rei D. Carlos I.

«Á noite a luz electrica, como nas grandes estações mediterrânicas, ja ilumina aquellas largas estradas; durante o dia, os landeaux, os pequenos carrinhos puxados por poneys passeam sob os frondosos arvoredos. Em pouco tempo o Mont'Estoril sera a nossa principal estação de verão; tem todos os elementos para isso, assim hajam habitações para toda a população flutuante que ali concorrerá.» Raúl Proença in: “Guia de Portugal Generalidades, Lisboa e Arredores”, 1924.

Por volta de 1906 o “Chalet Almeida Pinheiro” é adquirido por J.B.R. Garrido,  que o adapta a hotel com a designação de “Royal Hotel”.

“Royal Hotel”

Enquadramento do “Royal Hotel”  com o “Chalet Barhona” (futuro “Hotel Atlantico”) e postal publicitário

 

1908

 

Monte Estoril (Royal Hotel).1.1

Funcionará como “Royal Hotel” até início de 1914, altura em que é adquirido pela firma “Allen, Lda.” cujos sócios eram os espanhóis Ricardo Allen, Salvador Vilanueva e Ventura Garcia Rodrigues, e o tornam no “Hotel Miramar” de 1ª classe, e que etrá aberto as suas portas em Agosto de 1914, sendo que o primeiro anúncio publicitário que encontrei foi no jornal “A Capital”, de 13 de Agosto de 1914, que publico de seguida.

No jornal “A Capital” de 13 de Agosto de 1914

 

 

1933

                                           1935                                                                                         1945

                  

               

Este hotel, que depois de acrescentado um piso tinha 40 quartos, “resistiu” durante décadas, até que um incêndio em 1975 o destruiu, ficando ao abandono até hoje.

Estado de ruína e abandono em que permaneceu por quase quatro décadas

 

                

Mais recentemente, já quase totalmente demolido numa imagem do “Google Maps”

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa, Câmara Municipal de Cascais (AHM), Real Villa de Cascaes

1 comentário:

jsousa046 disse...

Trabalhei neste Hotel desde Janeiro de 1971 a Setembro de 1976, data em que fui para a Marinha. O incêndio deu-se no verão de 1978 mais propriamente dia do aniversário dos bombeiros de Cascais e não em 1975. Nesta altura o dono ou rendeiro nunca percebi bem, era um Sr. chamado Straford Shine ou Staford Shine. Sei que o incêndio começou nas águas furtadas, os bombeiros do concelho estavam todos na festa em Cascais muitos dos que foram combater o incêndio não estavam "capazes" de subir à escada mágirus motivo pelo qual o incêndio se propagou e também pelo combustivel, na sua maior parte madeira ressequida.