Restos de Colecção: janeiro 2013

31 de janeiro de 2013

Café Cristal

O “Café Cristal”, situado na Avenida da Liberdade 131-137, teve um primeiro projecto, em 1940 do arquitecto Cassiano Branco reprovado, sendo aprovado o seguinte apresentado pelo mesmo. Abriu as suas portas em 10 de Novembro de 1941, ficando a gerência a cargo de José Fernandes Fortes.

"Café Cristal" e o seu "Bar-Dancing Cristal"

Este Café veio ocupar o espaço da casa de fados “Café Luso”, que tinha encerrado recentemente, em 31 de Julho de 1940, e se tinha mudado para o Bairro Alto, com a nova designação de “Cervejaria Luso”.

Dentro da elipse, a loja que viria a ser ocupada primeiramente pelo “Café Luso” e posteriormente pelo “Café Cristal”

O interior deste café não foi isento de críticas, pelo facto de «abusar» dos espelhos na sua decoração interior num estilo «modernista».

A decoração deste estabelecimento foi enriquecida com pinturas de esmalte sobre vidro, do mestre Jorge Barradas, em cujo sopé «de tão interessante trabalho, outra maravilhosa obra de arte se realça, de Atriães de Vila Nova de Gaia: os primorosos ferros forjados e filigranados, com um originalíssimo relógio "de cuco", rodeado por abelhas luminosas.»

 

                              

 

«Ao lado do grande salão existe uma dependência tambem toda revestida de espelhos, que é o restaurante privativo.»

Em 23 do mesmo mê e ano, - Novembro de 1941 - o "Café Cristal" inaugurou o "Bar-Dancing "Cristal". Com entrada contígua ao café e pela Travessa do Salitre tinha as suas instalações na cave. Abria a partir das 23 horas  e encerrava às 5 horas da manhã. Às quintas-feiras e Sábados servia chás dançantes entre as 17h e 30m e as 19h e 30m com a sua "Orquestra Caravana" que até então tinha actuado no "Concha Dancing-Bar", na Rua da Glória.

           

Pelo "Bar Cristal", passaram ao longo dos anos várias orquestras e agrupamentos nacionais e estrangeiros. Como se pode observar pelo anúncio da sua inauguração, a primeira foi a "Orquestra Caravana",  contratada para inaugurar o estabelecimento, e que ali actuou nos seus primeiros três meses de actividade. Sucederam-lhe, entre outras, a "Orquestra Sousa Pinto" e Manolo Bel (1945) e, já nos anos 50, a orquestra de Tavares Belo com o vocalista Moniz Trindade, Harlem Jazz, com o cantor Emâni Ribeiro, Night and Day e Blue Skies. As pequenas formações foram também contempladas, nomeadamente com a cantora espanhola Mari Merche, acompanhada pelo "Quarteto Swing", em 1943, o "Quinteto Murilo", com o pianista espanhol Pedro Masmitja, em 1944, e os "Five Swings", em 1944.

Interior do "Bar Cristal"


O Cristal terá entrado em crise a partir de 1954, ano em que a sua publicidade na imprensa da época começou a escassear, num total contraste com a profusão anunciadora dos anteriores 12 anos. Em 15 de Fevereiro de 1958, no seu lugar era inaugurado o "Pasapoga", que já não teve, qualquer relevância, tendo optado por uma programação que privilegiava sobretudo as artistas espanholas de variedades, não obstante a actuação pontual da "Orquestra de Almeida Cruz".


15 de Fevereiro de 1958

Depois do “Café Cristal” ter encerrado, estas instalações viriam a ser ocupadas nos anos 60 do século XX, pela empresa de venda de electrodomésticos “Dardo”.

Bibliografia:

"Roteiro do Jazz na Lisboa doas anos 20-50: guia ilustrado dos 40 espaços históricos dos primórdios do Jazz em Portugal" - João Moreira dos Santos (2012).

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

30 de janeiro de 2013

Palácio Pimenta

A “Casa da Quinta da Pimenta”, “Casa da Madre Paula”, “Palácio Galvão Mexia”, ou simplesmente “Palácio Pimenta”  - actual “Museu da Cidade” de Lisboa - foi construído por iniciativa do Rei João V de Portugal, em meados do século XVIII, para a sua amante Madre Paula, uma freira do Mosteiro de São Dinis, em Odivelas.

O “Palácio Pimenta”, do nome de um dos seus últimos proprietários, Manuel Joaquim Pimenta, ou “Palácio do Campo Grande”, pela sua localização urbana, presume-se que pelas características da construção, residencial barroca, tenha sido projectado por um dos dois grandes arquitectos joaninos, Carlos Mardel ou Ludovice.

Vistas exteriores do Palácio Pimenta

 

“Illustração Portugueza” em 1907

Religiosa do Mosteiro de São Dinis em Odivelas, Madre Paula, tornou-se a amante mais célebre do rei João V de Portugal, de quem teve vários filhos, entre os quais D. José de Bragança, um dos "Meninos de Palhavã". A expressão deriva do facto destes filhos terem habitado no palácio do marquês de Louriçal, na zona de Palhavã, na altura arredores de Lisboa mas que hoje se situa em plena cidade. Este edifício denominado “Palácio de Palhavã”, situado na actual Praça de Espanha, é hoje a Embaixada de Espanha em Lisboa.

Palácio de Palhavã

Os “Meninos de Palhavã”  foram:

D. António (1704-1800), filho de Luísa Inês Antónia Machado Monteiro. Doutorou-se em Teologia e veio a ser cavaleiro da Ordem de Cristo.
D. Gaspar (1716-1789), filho de uma religiosa, Madalena Máxima de Miranda (Madalena Máxima da Silva de Miranda Henriques). Veio a ser arcebispo primaz de Braga.
D. José (1720-1801), filho da religiosa Madre Paula de Odivelas (Paula Teresa da Silva e Almeida). Exerceu o cargo de Inquisidor-mor.

Estes receberam educação no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra sob o preceptorado de Frei Gaspar da Encarnação, para se fazerem religiosos. Por escrúpulos de consciência do rei, há um «Decreto porque S. Majestade houve por bem declarar três filhos ilegítimos», dado nas Caldas da Rainha em 6 de Agosto de 1742. Considera que eram filhos de «mulheres limpas de todo sangue infecto», pelo que pedia ao príncipe herdeiro para favorecer os irmãos.

Interiores do “Palácio Pimenta”

 

 

Em consequência de um conflito que tiveram com o marquês de Pombal, D. António e D. José foram desterrados para o Buçaco em 1760 de onde só puderam regressar depois da morte de D. José I, em 1777. O traço de escândalo pela paixão que inspirou ao soberano durante a longa relação amorosa foi ampliado pela reputação do luxo que a protecção dele, enriquecido pelo ouro brasileiro, lhe proporcionou. Madre Paula viveu sumptuosamente, mesmo após a morte de D. João V. Veio a falecer com 67 anos, sendo sepultada na Casa do Capítulo do Convento de Odivelas.

 

 

A criação do “Museu da Cidade” de Lisboa a partir da ideia de criar um museu municipal que documentasse a história de Lisboa remonta a 1909 (vereação de Anselmo Braancamp Freire, 1908 - 1912). Foi Criado a 15 de Julho de 1909, data da aprovação da proposta do vereador republicano Tomás Cabreira. Inicialmente instalado nos Paços do Concelho, passou pelo Carmo e pelos palácios Galveia (hoje Bilblioteca Municipal) e Mitra em 1942 até que, em 1979, foi finalmente instalado neste Palácio Pimenta, no Campo Grande após a aquisição deste em 1962 e depois de obras de reconstrução e adaptação dirigidas pelo arquitecto Raul Lino.

Notícia da inauguração do “Museu da Cidade no “Palácio da Mitra”, em 25 de Abril de 1942 na “Revista Municipal”

 

Actual “Museu da Cidade “ de Lisboa, no Campo Grande

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa

29 de janeiro de 2013

O Telefone em Portugal (11)

                               

 

                                                                                        1896

                                   

                                      General Óscar Carmona inaugurando o serviço automático em 1930

                              

foto in: Hemeroteca Digital

28 de janeiro de 2013

Belém e a Expo do Mundo Português

Assim como a zona oriental de Lisboa foi radicalmente transformada, e reabilitada por ocasião da “Expo 98”, a zona ocidental de Lisboa - mais concretamente a zona de Belém - também o foi, por altura da “Exposição do Mundo Português” em 1940.

                              

Recordo o que escrevi no post dedicado à “Exposição do Mundo Português de 1940”:

Para a efectiva execução deste projecto, o "MOPC -Ministério das Obras Públicas e Comunicações" alterou o curso da linha férrea na Avenida da Índia, expropriou terrenos, desalojou habitantes e demoliu considerável número de construções e, em 11 meses, construiu uma cidade histórica feita de estuque, madeira, gesso e papel.

                                

 

 

 

 

                                

Situada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos Jerónimos, ocupava cerca de 560 mil metros quadrados. Na sua construção trabalharam durante 11 meses, 15 engenheiros, 13 arquitectos, 1.000 estucadores, 5.000 operários e 129 serventes. Centrada no grande quadrilátero da Praça do Império, esta era definida lateralmente por dois grandes pavilhões, longitudinais e perpendiculares ao Mosteiro: o "Pavilhão da Honra e da Cidade de Lisboa" (arq. Luís Cristiano da Silva), e do outro lado, o "Pavilhão dos Portugueses no Mundo" (arq. Cottinelli Telmo).

 

 

 

                                 

O evento levou a uma completa renovação urbana da zona ocidental de Lisboa. A sua praça central deu origem à Praça do Império, uma das maiores da Europa. A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu término, restando apenas algumas como o actual "Museu de Arte Popular" e o "Monumento aos Descobrimentos" (reconstrução com base no original de madeira).

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian