Restos de Colecção: Teatro Garcia de Rezende

19 de julho de 2013

Teatro Garcia de Rezende

Em 1880 alguns sócios do "Círculo Eborenese" lembraram-se de dotar a cidade de Évora com um teatro, e para esse fim organizou-se uma sociedade com o título de "Companhia Eborense" com o capital de 20.000$000 réis realizável por meio de acções. Para a direcção desta sociedade foram eleitos Thomaz Fiel Gomes Ramalho, José Maria Ramalho Diniz Perdigão, Domingos António Fiuza, Joaquim Esquível e Ignacio Ferreira.

Subscrito o capital começou por ser organizada a comissão técnica que devia dirigir os trabalhos, liderada pelo engenheiro Adriano da Silva Monteiro e por mais quatro engenheiros de obras públicas do distrito de Évora. O terreno escolhido para a construção do teatro foi uma das hortas junto à Praça de D. Pedro, pertença do Conde da Costa, terreno de 3.000 metros quadrados que cedeu a troco duma renda anual de 15$000 réis.

A 16 de Abril de 1881 tiveram início as obras de construção, liderada pelo mestre construtor Manoel de Oliveira e Silva, e contando com a colaboração dos mestres António Joaquim Tabuco e o carpinteiro Olympio de Mira Coelho. Os trabalhos foram seguindo com rapidez até que em finais de 1881 os recursos financeiros da sociedade construtora estavam quase esgotados, o que depois dum abrandamento levou mesmo à paragem das obras.

     

Apesar do reforço de capital de 18.000$000 réis do abastado lavrador José Maria Ramalho Perdigão era necessário reforçar o capital da sociedade com uma segunda emissão de acções no valor de 20.000$000 réis que não foi bem sucedida. Em consequência deste facto as obras estiveram paradas até 1888, ano em que recomeçaram graças ao financiamento ofertado pelo Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e que permitiu concluir as obras. A este facto não foi decerto estranha a influência de sua esposa D. Ignacia Ramalho de Barahona viúva de José Maria Ramalho Perdigão, que como foi dito, principal interveniente e que mais contribuiu da sua bolsa para a construção do Teatro.

                                 

                                 

Os acabamentos seriam, aliás, influenciados pelo seu gosto requintado, pois contrataram, para o efeito, uma equipa de pintores e artífices de grande qualidade. Luigi Manini, cenógrafo titular do "Teatro Nacional de São Carlos", colaborou na dotação do cenário e na realização do pano de boca. A parte decorativa da sala de espectáculos incluindo o pano de boca, foi confiada aos pintores António Ramalho e João Vaz.

       

O tecto da sala foi pintado por António Ramalho e é alegórico, vendo-se por entre as núvens as musas e génios da poesia que cercam a tragédia e a comédia, e no meio do tecto a esfera armilar de El-rei D. Manuel, em que está escrito o nome de Garcia de Rezende, poeta, cronista de D. João II, autor do projecto da "Torre de Belém" e natural de Évora, onde faleceu no seu solar de Selbarosos.

                                

Quando concluído era uma das melhores salas de espectáculos do país.Tinha 3 ordens de camarotes. A plateia tinha 98 lugares na «superior» e 200 na «geral». A lotação total não excedia os 400 lugares distribuídos por plateia, frisas, camarotes de primeira ordem, camarotes de segunda ordem e galinheiro.

                                 

 

Em reunião solene da Câmara Municipal de Évora em 11 de Abril de 1892 é lavrada a seguinte acta:

«A camara municipal d'esta cidade, interpretando o sentimento de subido reconhecimento do povo que representa, para com o exmo. dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e sua exma. esposa D. Ignacia Angelica Fernandes Ramalho de Barahona, pelo acto de notavel bizarria e amor civico a esta cidade demonstrado com a conclusão do theatro Garcia de Rezende, que nos seu genero é um dos primeiros edificios do paiz, resolve consignar na acta d'esta sessão o seu profundo reconhecimento áquelles benemeritos cidadãos pelo donativo feito á cidade de Évora, esperando que se dignarão continuar a auxilia-la em tudo que possa concorrer para o seu engrandecimento moral e material.
Resolve mais esta camara tirar a copia d'esta parte da acta, para officialmente a ir entregar nas mão d'aquelles dignos benemeritos cidadãos.»

A inauguração do "Theatro Garcia de Rezende" teve lugar a 1 de Junho de 1892, á qual assistiu o infante D. Afonso, tendo sido representadas a comédia-drama "O Íntimo" de Eduardo Schwalbach, e a comédia "O Sub Perfeito", pela companhia do "Teatro D. Maria II", que foi especialmente convidada pela municipalidade de Évora para este acontecimento, dando além desta récita mais cinco.

Diário de Évora em 1896

                                                      Interior do "Teatro Garcia de Rezende" actualmente

                                

                   

                                 

                                 

  

                                

Em 1941, um vendaval destelhou o "Teatro Garcia de Rezende", e, tendo permanecido assim durante todo o Inverno, as pinturas foram danificadas. Para além disso, durante os trabalhos de recuperação foi roubado o revestimento interior em chumbo da cobertura, que garantia o isolamento térmico e acústico. Em 1943, a Câmara Municipal de Évora arrendou-o a empresas cinematográficas para cinema, teatro, concertos e bailes , autorizando alterações na plateia, que foi descaracterizada.

                                                

 

Entre 1966 e 1969 são realizadas obras com subsídio da "Fundação Calouste Gulbenkian" em que, baseado num projecto do arquitecto Rui do Couto, se altera profundamente a fachada e quase todo o alçado Norte e Sul. Uma intervenção desastrada alterou irremediavelmente a sua imagem original (fachada principal).

O "Teatro Garcia de Resende" chegou a ser utilizado como depósito de lixo, até que, em 1975, foi ocupado pelo "Centro Cultural de Évora", que a partir dali deu início à primeira experiência de descentralização teatral. Mas depois de profundas reformas levadas a cabo pelo município nos últimos 20 anos, mantém-se hoje como um espaço cultural de referência, gerido pelo "CENDREV – Centro Dramático de Évora".

 

                                    

Aproveito para lembrar que foi propriedade deste benemérito Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso, o chalet no Monte Estoril que mais tarde seria, a partir dele, construído o “Hotel Atlântico”, cuja história pode ser consultada neste blog, no seguinte link: Hotel Atlântico

Chalet Barahona no Monte Estoril

                                

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pelo artigo.

José Leite disse...

Caro(a) Anónimo(a)

Não tem que agradecer. Eu é que agradeço a sua atenção.

Os meus cumprimentos

José Leite