Restos de Colecção: Aeroporto de Santana nos Açores

26 de julho de 2013

Aeroporto de Santana nos Açores

Em 1939, foi criado o “Aérodromo Militar de Sant’ana”, o primeiro aeroporto na ilha de São Miguel, no lugar de Santana, em Rabo de Peixe, no Concelho da Ribeira Grande na Ilha de São Miguel. Operou como aeroporto militar, de 1939 a 1945,  a fim de dar apoio aos aliados.

“Aeroródromo de Sant’ana”

Vista aérea das 3 pistas do “Aeroporto de Santana”

Aquele aeródromo serviu inicialmente como base militar de apoio à II Guerra Mundial, ou seja entre 1939 a 1945, e fora então designado de Base Aérea nº 4. O grande contingente de aeronaves registou-se em 4 de Junho de 1941, quando o navio a vapor “Mirandela” saiu de Lisboa para S. Miguel, carregado com 30 aviões britânicos «Gloster Gladiator» e 5 alemães «Junkers» JU-52, bem como todo o material de apoio e pessoal, tendo em vista dotar aquele aeródromo com o equipamento e pessoal indispensável para a sua operacionalização.      

Transporte dos «Junkers» JU.52, por via terrestre, entre Ponta Delgada e Rabo de Peixe, em 1942

    

Em 1941, face à evolução da II Guerra Mundial, o Governo Português destaca para os Açores um Corpo Expedicionário, entre o qual se contam duas esquadrilhas de caça, pertença da da Arma de Aeronáutica Militar da Aeronáutica do Exército equipadas com aviões “Gloster Gladiator”. Uma, a nº 1 e comandada pelo Capitão Piloto Aviador Rodrigues Costa, destinada ao “Aérodromo de Sant’ana”, e a outra a nº 2 comandada pelo Tenente Piloto Aviador Manuel Pinto Machado de Barros, destinada às Lages, na Ilha Terceira.

«Gloster» Gladiator da Arma de Aeronáutica Militar da Aeronáutica do Exército

No dia 04 de Agosto de 1942, segundo narra o artigo 6.° da Ordem de Serviço do Grupo de Esquadrilhas N.° 2, as Forças de Aeronáutica nos Açores passaram a constituir a Base Aérea N.°4, no Aeródromo de  Sant’ana  em  S.  Miguel,  e  a  Base Aérea  N.° 5, no Aeródromo das Lages na Terceira.

Ficaram em Rabo de Peixe os 5 «Junkers» JU-52, conjuntamente com 15 dos «Gloster Gladiator», formando-se a Esquadrilha de Caça Expedicionária nº 1. Os outros 15 «Gloster» Gladiators desembarcaram na ilha Terceira, onde se formou a Esquadrilha de Caça Expedicionária nº 2. Entretanto, a Inglaterra enviou para Rabo de Peixe, naquele mesmo ano, 12 aviões «Curtiss» P-36 Mohawk II que formaram a Esquadrilha de Caça Expedicionária nº 3, pelo que naquela altura aquele aeródromo assumiu uma importância vital no decurso da guerra.

Avião da USAF no “Aérodromo de Sant’ana”

Aerodromo de Santana.15

Já a 1 de Agosto de 1943, no acordo firmado entre Portugal e o Reino Unido, o governo português concedeu facilidades na Base de Emergência de Santana em Rabo de Peixe e nas Lajes da Ilha Terceira. Em troca, o governo inglês cedeu 6 esquadrilhas de aviões de caça «Hurricane» para a Força Aérea Portuguesa.

Chegada de um Fortress Mark IIA da RAF Coastal Command em 1943

Em 1946, finda a II Grande Guerra Mundial, o “Aeródromo de Sant’ana” foi transformado em aeroporto civil, passando a chamar-se “Aeroporto de Santana”, com 2 pistas de aterragem, arrelvadas com respectivamente 1.500 e 1.000 metros de comprimento e assim S. Miguel passou a ter a sua porta de entrada pelo ar, o que viria a suceder até 1969.

 

                                 

 

Entretanto, em 21 de Agosto de 1941 foi fundada por alguns ilustres micaelenses a “Sociedade Açoriana de Estudos Aéreos”, a fim de obter a autorização do governo português para a exploração das ligações aéreas entre as ilhas e Lisboa. Contudo, só no dia 15 de Junho de 1947, foi inaugurado o primeiro vôo comercial, entre Santa Maria e São Miguel, com um pequeno avião «Beechcraft» de seu nome “Açor”  daSATA - Serviço Açoriano de Transportes Aéreos”, que tinha sido fundada em 21 de Agosto de 1941.

      Vôo inaugural da SATA entre São Miguel e Santa Maria, e o «Beechcraft» na pista do “Aeroporto de Santana”

 

                                                                                                1947

SATA.1 1947 SATA

«Beechcraft» na pista do “Aeródromo de Sant’ana” depois de efectuado o 2º vôo, entre Terceira e São Miguel

                                 

«De Havilland» DH 104 Dove da SATA junto ao hangar

Pelas dez horas, do dia 5 de Agosto de 1948, ocorreu o primeiro contratempo na história da aviação civil, em que o pequeno «Beechcraft» CS-TAA “Açor” da SATA, que transportava 4 passageiros e 2 tripulantes, falhou na descolagem do “Aeroporto de Santana”, para Santa Maria, despenhando-se no mar. Os tripulantes e os passageiros morreram, e a carga foi perdida.

Entretanto, regista-se uma nova fase de exploração aérea com a chegada a 23 de Maio de 1948, de 2 aviões «De Havilland» DH 104 Dove, entregues à SATA, e que iniciaram a sua operação a 1 de Agosto daquele ano, com a capacidade de 9 passageiros cada e com 700 kg. de carga. Em 21 de Agosto de 1963, a frota da SATA foi aumentada com a aquisição de um «Douglas» DC3 Dakota, com capacidade para 26 lugares. Nos céus de Rabo de Peixe cruzavam-se os aviões da SATA num vai e vem que se tornou familiar, e que faziam as ligações desta ilha, tanto para Lisboa, como para o resto do Mundo.

                       «De Havilland» DH 104 Dove                                                       «Douglas» DC3 Dakota              

 

Amália Rodrigues no Aeroporto de Santana em 20 de Março de 1953

 

Em 10 de Agosto de 1969, enquanto se inaugurava em Ponta Delgada a abertura do novo “Aeroporto de Nordela”, a população de Rabo de Peixe despedia-se com pesar do seu aeroporto, desaparecendo um espaço de grandes potencialidades para o desenvolvimento do Concelho da Ribeira Grande e que tantos e relevantes serviços prestou à aviação militar e civil.

“Aeroporto João Paulo II” em Ponta Delgada

 

                                 

Hoje em dia, percebe-se que muitos não sabem e outros já se esqueceram, que no lugar de Santana, da Vila de Rabo de Peixe funcionou, durante largos anos, o único aeroporto existente da ilha de S. Miguel. A quando das comemorações do 40º aniversário da inauguração do “Aeroporto da Nordela”, em Ponta Delgada, e que depois com a autonomia foi baptizado de “Aeroporto João Paulo II”, foi omitido o facto da existência do “Aeroporto de Santana”, depreciativamente apelidado então de “aerovacas”, dado que as suas pistas de aterragem eram arrelvadas, sendo  no entanto era considerada a porta de entrada pelo ar nesta ilha, fazendo ligação com o aeroporto internacional de Santa Maria e com o aeroporto da Ilha Terceira, tendo funcionado naquele espaço, até ao dia 10 de Agosto, de 1969.

                                            O que resta do “Aeroporto de Santana” em fotos de Luís Rosa

                   

                                

fotos In: Galeria de Filipe Franco no Flickr, Ailiners.net, Altimagem, História dos Açores

Bibliografia: História do Aeroporto de Santana baseado, em parte, no texto histórico disponibilizado pelo jornal “Correio dos Açores”.

15 comentários:

rmg disse...


Meu caro José Leite

Quando fala da passagem a aeroporto civil em 1946 suponho que o texto tenha uma pequena imprecisão no tamanho de uma das pistas .

RuiMG

José Leite disse...

Caro RuiMG

Certamente foi erro ao escrever.
É uma ligeira diferença ... em vez de 100 metros são ... 1.000 metros.:-).

Realmente numa pista de 100 metros, por muito pequena que fosse a arenonave, quem conseguiria aterrar?

Grato pela sua chamada de atenção.

Os meus cumprimentos

José Leite

almadepoeta disse...

Boa Tarde,

Gostaria de lhe sugerir o Aeroporto de Santa Maria nos Açores.

Descobri o seu blog recentemente e ainda estou a explorá-lo. Os meus sinceros parabéns.

Cumprimentos

José Leite disse...

D. IsaC

Muito grato pelo seu amável comentário.

Terei todo o prazer, assim encontre fotos antigas do Aeroporto de Santa Maria. Só tenho 2 ou 3.

Os meus cumprimentos

José Leite

almadepoeta disse...

Uma informação apenas para si.

Aqui nesta página do facebook há um album muito completo de fotos sobre o aeroporto. São fotos espalhadas por várias pessoas, que as cedem para divulgação.

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.121039754580291.20944.119944921356441&type=3

José Leite disse...

D. IsaC

Muito grato pela informação que me prestou.

Fica prometido um artigo acerca do Aeroporto de Santa Maria.

Vou fazê-lo este mês e publicá-lo-ei em Setembro, já que este mês em blog entrará em semi-férias, como explicada na Notas aos Leitores, na barra de menús.

Mais uma vez muito grato pela sua preciosa informação.

Os meus cumprimentos

José Leite

Paulo Pereira disse...

Boa noite.
Tenho um amigo irlandês que pretende utilizar uma ou duas destas fotos.
Seria possível?
Muito obrigado.
Paulo Pereira

José Leite disse...

Bom dia Sr. Paulo Pereira

Pode utilizar, sem problema.

Cumprimentos
José Leite

Unknown disse...

Caro Sr. José Leite,
Agradeço a pronta resposta.
Nesse caso, e sendo possível, será que consegue as fotos do Ju-52, Fortress, DC-3 e Gladiator com uma maior resolução?
Em meu nome e do Sr. Guy Warner agradeço antecipadamente toda a colaboração.
Cumpts

José Leite disse...

Infelizmente não tenho em maior resolução.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Boas
Seria possivel usar algumas das suas fotos num futuro video meu?
Cumprimentos
Guilherme

José Leite disse...

Boa tarde,
Pode usar, sem problema.
Cumprimentos
José Leite

Anónimo disse...

Em 7 de outubro de 1955 o Governador Civil escrevia ao Ministro do Interior a transmitir o mau estar latente dos proprietários de terrenos na zona do Morro de Santana, que haviam alugado desde 1941", para servir nas emergências que a última guerra mundial provocava" e "na necessidade de dotar esta Ilha com um apeadeiro aéreo capaz e de carácter definitivo, que afastasse o sobressalto de todos aqueles - pilotos e passageiros - que são forçados a utilizar com graves riscos...", este aeroporto necessitava, portanto, de ampliação mas o custo dos terrenos era muito avultado.
Entretanto aquanto da visita de técnicos americanos, acabaram por chegar à conclusão que o Aeroporto de Santana serviria para pequenos aviões e que a a zona da Relva, seria a que oferecia melhores condições e libertava o "Estado das legítimas reclamações dos donos dos terrenos do Morro de Santana e da censura pública"

Fernanda disse...

Bom dia Sr. José Leite,

Estou a organizar uma exposição sobre o aeródromo de Santana 1942-1969 e ao consultar o seu blog vi fotos muito interessantes, como a da torre em madeira e em betão e até das pistas. Gostaria de as poder usar, mas se as retirar daqui ficam sem qualidade e com pouca definição, haverá possibilidade de as digitalizar?

Desde já o meu obrigada.

José Leite disse...

Boa tarde D. Fernanda,

As fotos foram publicadas tal como as encontrei na internet, pelo que não as tenho em maior resolução.

Os meus cumprimentos