Restos de Colecção: Grandes Armazéns do Chiado

13 de janeiro de 2012

Grandes Armazéns do Chiado

O edifício onde se instalou a “Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado” em 19 de Novembro de 1894, foi construído antes do terramoto de 1755 e foi pertença do Convento do Espírito Santo da Pedreira da Ordem do Oratório de São Filipe Nery, tendo sido sempre um edifício de referência em Lisboa pela sua dimensão.

19 de Novembro de 1894 fundados pela firma "Philipot & C.ª "

Convento do Espírito Santo da Pedreira

Tendo sido parcialmente destruído pelo terramoto de 1755, foi reconstruído e continuou sendo ocupado pela mesma Ordem religiosa até 1834 ano em que foram extintas as ordens religiosas.  Depois deste edifício ter sido vendido e ter tido vários donos, transforma-se então no Palácio dos Barcelinhos residência do Barão de Barcelinhos e primeiro Visconde Ouguella, Carlos Ramiro Coutinho.

Depois de aqui ter estado instalado o "Hotel dos Embaixadores", em 1882 instala-se neste palácio o “Hotel Universal”, sucedendo ao “Hotel Gibraltar” ali instalado desde 1874 e que tinha encerrado pouco tempo antes.

 

Em 3 de Abril de 1888, dois irmãos Joaquim Nunes dos Santos e Abílio Nunes dos Santos fundam a firma “Nunes dos Santos & Cª”, e instalam-se na sobre-loja do número 12 da Travessa de São Nicolau a explorar o negócio de Importação de rendas e bordados. Foi com um insignificante capital de 600$000 réis (seiscentos mil réis) produto das economias das suas vidas, que foi formada esta sociedade.

Após dois anos de actividade, esse capital investido subira a três contos de réis, e devido ao crescente desenvolvimento dos seus negócios tornava-se exígua a sua sede tendo sido esta transferida para a Rua dos Correeiros, 113-1º, que apesar das sucessivas ampliações se tornou acanhada para o desenvolvimento gradual dos negócios da firma.




1895

«Por altura de 1899, encontrando-se uma partr do andar nobre do Palácio de Barcelinhos com escritos, motivados pela falência da firma Philipot & C.ª, proprietária nessa época dos antigos Grandes Armazéns do Chiado, resolveu-se alugá-lo com grande inveja e espanto dos detractores, que perante tal ousadia redobraram na sua campanha de descrédito, afirmando que uma renda de tal importância- um conto e quatrocentos mil réis anuais - produziria a ruina de quem quer que fosse quanto mais de uma firma que se não sabia de onde tinha saído, nem quanto valia!»

Encontrando-se vago parte do andar nobre do "Palácio dos Barcelinhos" a “Nunes dos Santos & C.ª ", alugou-o e aí se instalou em 20 de Novembro de 1894. Esta firma era gerida por dois franceses Louis Boneville e Émile Philipot. Tratava-se de uma loja com variadas secções de retalho distribuídas pelo piso térreo do palácio. O lema desta firma era: «Bien Faire et Laisser Dire». Foram estes armazéns que iniciaram a era da luz eléctrica nos seus interiores.

Um ano mais tarde era alugado, um pequeno barracão na Rua do Bombarda, onde em alguns teares manuais teve início o fabrico de sedas, iniciando assim a actividade industrial da firma “Nunes dos Santos & C.ª ". Em 1945, esse pequeno barracão estava transformado numa verdadeira fábrica ocupando uma área de quinze mil metros quadrados.

Entrada da “Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado”

1895

Entretanto nem tudo foram «rosas» e os franceses trespassaram o estabelecimento à firma “Nunes dos Santos & Cª”, que entretanto prosperava. Em 1904, porém a firma "Companhia dos Grandes Armazéns do Chiado", mudava de designação para “Santos, Cruz e Oliveira, Lda.”, com a entrada dos novos sócios José Nunes de Oliveira e António J. Cotrim da Cruz. A designação de "Grandes Armazéns do Chiado” manteve-se e sob um novo lema: «Ganhar Pouco Servindo Bem». Esta firma seria mais tarde dissolvida e integrada na "Nunes dos Santos & C.ª ", sua única credora acumulando assim nesse ano mais a modalidade de armazenistas e retalhistas, alargando a sua actividade.

Atendendo ao rápido desenvolvimento foram abertas filiais no Porto e Coimbra, tendo-se seguido outras nas principais capitais de distrito.



1 de Abril de 1905

Em 25 de Dezembro de 1906 o cinematógrafo "Salon Chiado" foi inaugurado, na Rua Nova do Almada, 116 (numa loja do edifício dos "Grandes Armazéns do Chiado"), em Lisboa, tendo sido seu proprietário a firma "Varona & C.ª" de Raul Lopes Freire. Tinha aceesso, pelo interior dos Armazens através do ascensor.

Loja que o "Salão Chiado" tinha ocupado (dentro da área delimitada a vermelho)


                                              1907                                                                                 1910

 

Em 1912 morre um dos fundadores, Joaquim Nunes dos Santos e nessa data entra para a firma um novo sócio, Abílio Nunes dos Santos Júnior, filho do outro sócio fundador Abílio Nunes dos Santos.

Em 1927, a firma “Nunes dos Santos & Cª”, acaba por adquirir o majestoso "Palácio dos Barcelinhos", depois de ter sido única arrendatária, depois co-proprietária, ficando assim única possuidora.

Hall de entrada

 

Árvore de Natal em foto de 19 de Dezembro de 1929


Fotos de 1931



Novas instalações do Grupo Desportivo dos "Grandes Aramzens do Chiado e 1 de Janeiro de 1942

Passagem de modelos em 28 de Abril de 1943, no salão de chá dos Armazéns do Chiado

Em 3 de Abril de 1945 são comemorados o 37º aniversário dos "Grandes Armazéns do Chiado". Na foto seguinte dessa comemoração e da esquerda para a direita:  Augusto da Silva Santos, gerente da filial de Santarém; Isabel da Fonseca, mestra da fabrica de gravatas; José Maria Carvalho de Albuquerque, chefe de secção de sapataria; José Nunes de Oliveira Santos, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; Daniel dos Santos Cruz, director dos "Grandes Armazéns do Chiado"; Abílio Nunes dos Santos, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; António Jacinto Cotrim da Cruz, coproprietário dos Grandes Armazéns do Chiado; Francisco Baltazar, chefe de secção de meias; Jorge dos Anjos, guarda-livros dos Grandes Armazéns do Chiado.


Nesse ano a firma "Nunes dos Santos & C.ª " era uma das maiores empresas tanto no campo comercial como no industrial, assim como os "Grandes Armazéns do Chiado" que tinham 20 filiais, espalhadas pelas principais cidades do País, «constituindo assim a mais perfeita organização mercantil que se encontra no País, onde o seu nome conquistou uma popularidade inexcedível.».

                                                 1905                                                                                1906

 

Ao instalarem-se ao lado do poderoso “Grandella”, recorreram às mesmas técnicas de vendas, como por exemplo: Entrega das compras em casa dos clientes e forte publicidade nos jornais e revistas da época. Como se poderá ler no anúncio seguinte: «todas as compras feitas nos nossos armazéns serão mandadas gratuitamente a casa de todos os freguezes, para o que temos um bem montado serviço de automóveis marca Peugeot».

Anúncio de 1905 digno de ser lido em pormenor

Salão Nobre com a secção de decorações

 


1961


1961

Em 1907, no número 116 da Rua Nova do Almada, abriam o «Salão Chiado», mais conhecido pelo «Animatógrafo dos Armazéns do Chiado». Propriedade de Raul Lopes Freire, distribuidor de filmes e representante de material de projecção. Este animatógrafo era dirigido pelo austríaco, Francisco Stella, e, além das fitas «para todos», com cançonetas e duetos nos intervalos, oferecia, em determinados dias fitas «só para homens». Em 1908 esta sala encerraria e o seu proprietário abriria o «Salão Central» no Palácio Foz na Praça dos Restauradores.

Em 30 de Setembro de 1924, Abílio Nunes dos Santos Júnior, introduz em Portugal a telefonia sem fios (TSF), através de uma estação amadora - “P1AA – Rádio Lisboa” (futura CT1AA). - instalada nos “Armazéns do Chiado” que eram então, representantes em Portugal dos rádios Philips e R.C.A.

                                                                                                                            Adriano Lopes Vieira (locutor)

 

O negócio floresceu e em 1912, após o encerramento do “Hotel de l’ Europe” as suas instalações expandiram-se para a ala do Rua do Carmo, e inauguraram filiais no Porto e Coimbra e uma fábrica na Rua da Bombarda. Em 1927, depois de já contar com 20 sucursais em Portugal continental e nas ilhas adjacentes, o Palácio dos Barcelinhos é comprado pelos “Grandes Armazéns do Chiado” aos herdeiros do Visconde de Ouguella.

“Hotel de L’ Europe” e “Grandes Armazéns do Chiado”, em 1910

Camioneta de transporte dos "Grandes Armazéns do Chiado" em 1940, na zona dos Olivais

                                               1913                                                                               1947

 

1968

1961

Em 1980 este edifício é vendido a uma sociedade constituída por Manuel Martins Dias, proprietário da extinta rede de supermercados “Paga-Pouco” e José Pereira Dias, dono dos também extintos “Armazéns Conde Barão”.

Em 25 de Agosto de 1988, os “Grandes Armazéns do Chiado” são literalmente «devorados» pelo grande incêndio do Chiado. Restaram a fachada, sacada e o brazão e nada mais.

“Grandes Armazéns do Chiado” em chamas

A recuperação arquitectónica foi delegada a dois arquitectos portugueses de renome internacional, Álvaro Siza Vieira e Souto Moura, para que assegurassem a qualidade e a integridade histórica do edifício. A construção teve início em 1997 e foi concluída em Outubro de 1999 e o novo edifício apresenta hoje uma área de 10.300 m2, distribuída por 6 pisos que integram 41 lojas, entre as quais as designadas âncoras - “Fnac” e “Sportzone” - e 11 restaurantes. Os dois últimos andares estão ocupados pelo “Hotel do Chiado” de 4 estrelas, com 40 quartos.

Maqueta da reconstrução

Em parceria com o IPPAR e considerados Património Cultural pelo Ministério da Cultura, os “Armazéns do Chiado” foram distinguidos com o prémio de melhor Centro Comercial, em 2000, na conferência anual do ICSC (International Council of Shopping Centers), realizada em Berlim.

 

Fases da reconstrução

Entrada actual

Fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, Lisboa Desaparecida, Telefonia Sem Fios, CML - Urbanismo

Foram consultadas também as seguintes fontes:

Bibliografia: “Lisboa Desaparecida” - volume 2, de Marina Tavares Dias - Editora Quimera, 1990
Blogue:  “Ruas de Lisboa com Alguma História”

9 comentários:

Graça Sampaio disse...

Mais uma belíssima reportagem histórica! Parabéns!

José Leite disse...

Cara D. Carolina

Sempre atenta e amável.

Grato pelo seu comentário

Cumprimentos
José Leite

Graça Sampaio disse...

Obrigada. Já agora informo que me chamo Graça, mas assino-me por Carol que era o nome que usei sempre como professora de Inglês.

Acredite que aprecio muito o seu blogue com as suas entrada extremamente cuidadas.

Cumprimentos
Graça Sampaio

José Leite disse...

D. Graça,

Desculpe ter chamado de Carolina, pois como o nome que aparece é Carol... e como tenho uma filha chamada Carolina e lhe chamamos por vezes Carol ...

Grato pelo seu esclarecimento, e mais uma vez pelas suas sempre amáveis palavras

Cumprimentos
José Leite

Anónimo disse...

qual wikipedia qual quê? :) parabéns pelo excelente artigo...

José Leite disse...

Caro(a) Anónimo

Grato pelas suas simpáticas palavras

Cumprimentos

Fatima Lima disse...

Muito legal o texto. Incríveis fotos. E parabéns aos portugueses que não desistem nem diante de terremotos e incêndios. Resgatam e mantém seu patrimonio, sua Históra.

Sofia disse...

Saudades desse tempo .

sofia Nunes dos Santos disse...

Saudades desse tempo