Restos de Colecção: Lisnave - Estaleiros Navais de Lisboa

6 de junho de 2011

Lisnave - Estaleiros Navais de Lisboa

O industrial Alfredo da Silva, líder do grupo C.U.F., negoceia em 1937 com o Porto de Lisboa a concessão do estaleiro da Rocha Conde de Óbidos, fundando deste modo a primeira empresa do sector, em 1 de Janeiro de 1937, a que foi dado o nome de “CUF – Estaleiros Navais de Lisboa”.

                                                                    CUF - Estaleiros Navais de Lisboa

           

Na 1ª foto, de 1937, construção de 2 lugres o “Creoula” e o “Santa Maria Manuela”, ambos actualmente restaurados e a navegar. Na 2ª foto, navios da Companhia Portuguesa de Pescas.

A empresa prosperou e em 1957 o nome foi alterado para “Navalis - Sociedade de Construção e Reparação Naval, SARL’” sendo 4 anos mais tarde adoptada a denominação social “LISNAVE - Estaleiros Navais de Lisboa, S.A.R.L.”.

          

                                            

A “Lisnave - Estaleiros Navais de Lisboa, S.A.R.L”,  foi oficialmente constituída a 11 de Setembro de 1961 sendo seu Presidente do Conselho de Administração José Manuel de Mello. O objectivo desta nova empresa era o de continuar a realizar o empreendimento da construção e reparação naval que na época estava ainda apenas confinada ao estaleiro da Rocha Conde de Óbidos. Os seus primeiros accionistas foram 6 estaleiros navais (dois portugueses, dois holandeses e dois suecos), e o Banco Fonsecas Santos & Viana.

A nova designação marcou o início de uma era de expansão e de modernização que funcionou em dois sentidos e com dois objectivos: por um lado, trazer para Portugal a tecnologia mais avançada que existia no exterior, com relevo para o Norte da Europa, reforçando a experiência acumulada, por outro, concorrer decididamente no mercado internacional.

Três estaleiros holandeses e dois suecos, juntamente com bancos e companhias de navegação portuguesas, tomaram o capital social da Lisnave em 1963. O objectivo da empresa assim reformulado era o de construir e operar um estaleiro com capacidade suficiente para que pudesse receber os maiores navios que existiam no Mundo, tendo em especial atenção o previsto aumento de tráfego na Europa Ocidental, no Mediterrâneo e no Atlântico.

                                                                                     Anúncio de 1965

                                        

Em 1 de Janeiro de 1963 o estaleiro da Rocha Conde de Óbidos foi desta forma transferido para a “Lisnave - Estaleiros Navais de Lisboa SARL’” que passou a ser a concessionária, juntamente com as 2286 pessoas que ali laboravam.

                                                                        Estaleiros da Rocha em 1972

                                         

O novo Estaleiro da Margueira, em Almada foi inaugurado com a presença do Presidente da República, Almirante Américo Thomaz em 23 de Junho de 1967.

     

Curiosidade: O primeiro navio a entrar neste novo estaleiro, e na inauguração, foi o paquete "Príncipe Perfeito"  seguido do “Índia”  ambos da ‘Companhia Nacional de Navegação’  (fotos anteriores).
No final do ano de 1966 trabalhavam na Lisnave 3918 pessoas, das quais cerca de 900 encontravam-se já na Margueira, envolvidas nos trabalhos de construção e de exploração do estaleiro.

      

Dois anos após a sua fundação, em 1969, a Lisnave detinha 30% da reparação mundial de navios até 300 mil toneladas, um feito histórico, tornando Almada na maior estação de serviço de navios a nível mundial.

       

Em 1971 é inaugurada a maior doca seca do mundo. Seu nome "Doca Alfredo da Silva". Com 520m x 90m para navios até 1 milhão de toneladas. Era a maior doca seca do mundo. Neste ano o capital social  da Lisnave pertencia 49 % a estrangeiros e 51% a portugueses. è neste ano que a CUF começa a elaborar o projecto dos estaleiros navais da Setenave em Setúbal.

      

      

      

A “Lisnave” manteve elos de ligação de formas diversas com estaleiros espalhados pelo Mundo, como são os casos da Setenave, Cabnave, em Cabo Verde, Estalnave, Sorefame e Sayde Mingas, em Angola, Guinave, na Guiné-Bissau, Emana, em Moçambique, Asry , no Bahrain e Isry , na Arábia Saudita.

No fim da década de noventa, a Lisnave, que chegou a ser considerado um dos maiores e melhores estaleiros do mundo, infelizmente encerrou as suas actividades em Almada, deslocalizando para a Setenave os seus equipamentos e parte do pessoal, enquanto a maioria dos trabalhadores acabou por ser dispensada.

                                                            Os estaleiros da Margueira actualmente e abandonados

      

Os estaleiros da “Setenave - Estaleiros Navais de Setúbal’” na Mitrena em Setúbal, sociedade do universo CUF criada em 1971, foram inaugurados em 1973, pouco antes do 25 de Abril. Concebidos e vocacionados para a construção naval.

                                                    1965                                                                                   1975

        

A “Setenave” passou ser a “Gestnave” em 1997 Em 2001 as instalações passaram para a “Lisnave”. Estes estaleiros mudaram para a sua denominação actual: “Lisnave - Estaleiros Navais, S.A.’”

                                                   “Lisnave - Estaleiros Navais, S.A.’” em Setúbal na Mitrena

                                        

                                        

                                        

                                                                  Publicidade na revista da CIP em 2011

                                                     

Fotos in: O Grupo CUF - Elementos para a sua história, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Fotográfico da CML, A Lisnave

4 comentários:

João Celorico disse...

Caro José Leite,
Permita-me que tente fazer, ou não, algumas correcções:
1)Parece-me haver alguma confusão nas datas de formação da Navalis e da Lisnave. Acontece que, em 1957, firmei contrato com o Estaleiro Naval, da empresa CUF. Em Maio de 1962, como todo o pessoal, passei a fazer parte da nova empresa, a NAVALIS. A NAVALIS era uma empresa cujo principal acionista, penso eu, era a Sociedade Geral (por isso, por detrás das letras do logotipo pode ver-se uma faixa com as cores desta companhia).
Poucos meses passados começámos a ouvir falar duma nova empresa, a LISNAVE, desconhecendo eu a data em que se deu a nova transferência mas, seguro, foi depois de Setembro de 1963.
Mas, sabendo nós o tempo que, por vezes, levam estas empresas, desde a ideia da formação até à realização efectiva, tudo é possível...
2)Quanto às empresas a que a LISNAVE estaria ligada, na Arábia Saudita era o JSRY (Jeddah Ship Repair Yard) e acrescento eu o WISL (Western India Shipyard Limited), em Mormugão, Goa, India.

Cumprimentos,
João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico,

Grato pelos seus esclarecimentos.

Quando se recorre a várias fontes por vezes cada um diz a sua coisa.
Já me deparei com casos bem gritantes em que cheguei a recolher 5 diferentes informações para uma data de fundação.
Até os organismos oficiais por vezes falham em informação como no caso do "Hotel Miramar" no Monte Estoril, via Igespar.

Fica o seu comentário que muito agradeço

Cumprimentos,
José Leite

Unknown disse...

Caro José Leite,
é um excelente trabalho de recolha de informação com as mais variadas origens.
Neste artigo sobre a Lisnave, permita-me fazer uma correcção ao texto.
De facto a "Doca Alfredo da Silva" foi inaugurada em 1971, para navios até 1 milhão de toneladas, era a maior doca seca do mundo e tinha 520m x 90m. (os 266m x 42m referidos correspondem ás dimensões da doca 12, a menor das 4 docas da Lisnave).
Cumprimentos,
José Martins

José Leite disse...

Caro José Martins

Alem de lhe agradecer as suas amáveis palavras, muito agradeco igualmente a sua chamada de atenção para o erro nas dimensões da "Doca Alfredo da Silva".

Os meus cumprimentos

José Leite