Restos de Colecção: A Boa Reguladora

16 de junho de 2011

A Boa Reguladora

A empresa "A Boa Reguladora" resultou de uma sociedade de "capital e indústria" constituída a 14 de Fevereiro de 1892, em Vila Nova de Famalicão, entre João José de São Paulo, negociante e natural do Porto, e José Gomes da Costa Carvalho, proprietário e natural de Mouquim.

Destinada ao comércio de relógios ou de objectos relacionados com relojoaria e particularmente ao seu fabrico, a oficina incorporava o trabalho dos dois sócios como empregados, ganhando de salário o sócio São Paulo, o verdadeiro relojoeiro, 1000 réis diários e José Carvalho 700 réis. A oficina-fábrica foi estabelecida na Rua Gomes Freire (depois Rua Faria Guimarães), no Porto no ano de 1893.

Em 1894 aparecem no mercado os primeiros relógios saídos das oficinas manuais, e no ano seguinte em 1895, conquistam medalha de ouro na Exposição Agrícola e Industrial de Vila Nova de Gaia

Devido a doença do sócio João de São Paulo (que viria a falecer pouco depois), a 11 de Julho d 1895 a sociedade foi reconstituída, cedendo este a quota a José Carvalho associando este seu irmão Lino de Carvalho, relojoeiro e o principal credor de João de São Paulo, Joaquim Martins de Oliveira Rocha. A firma passa a designar-se "Carvalho Irmão & Cª." A fábrica foi logo transferida em 1896, para Vila Nova de Famalicão. Lino de Carvalho, que tinha uma relojoaria comercial e oficina na Rua de Santo António, em Vila Nova de Famalicão, deixa esta actividade, e foi implantar e dirigir a fábrica com o seu irmão ficando as instalações junto à linha férrea, em Calendário.

Em 1897 as suas instalações famalicenses, a fábrica já contava com 34 máquinas de diverso tipo, na sua maioria movidas a vapor, empregando 36 operários, e produzindo uma média mensal d e160 relógios para mesa e parede.

Em 1901, Oliveira Rocha é reembolsado da sua quota, obtida apenas como garantia da dívida contraída por João de São Paulo, pelo que a firma, através de novo pacto social incluiria apenas os dois irmãos, sob nova designação "J. Carvalho & Irmão, Lda.".

Instalações fabris, em S. Julião de Calendário

Numa notícia de 24 de Maio de 1903 no jornal “Estrela do Minho”, é noticiada a intenção dos irmãos Carvalho, proprietários de “A Boa Reguladora”, dotar da cidade de Famalicão de energia eléctrica:

«Está prestes a concluir-se a instalação do grande motor ultimamente adquirido pela fábrica de relógios «A Boa Reguladora» dos activos industriais Carvalho e Irmão desta vila. Ai tem a nossa terra ensejo de primeira ordem implantar aqui o alto melhoramento da luz eléctrica por preço mais económico do que nenhuma outra.Sabemos que os proprietários da grande casa industrial se prestam a fornecer a iluminação desde que se lhes garanta apenas a despesa das instalações nas ruas, que é relativamente pequena, fazendo um preço às lâmpadas bastante económico».

Central eléctrica a vapor, que também fornecia iluminação pública e particular a Famalicão

 

                             Fabricação de caixas e peças                                                    Montagem de relojoaria

 

Em 1907 constrói a sua própria central eléctrica a vapor e a 16 de Outubro do mesmo ano torna-se concessionária do fornecimento de iluminação pública e particular de Vila Nova de Famalicão, num raio de 2 Km e por um prazo de 30 anos. A sua actividade foi-se alargando, explorando as elevadas capacidades energéticas que dispunha , e no início do século XX a "A Boa Reguladora" de "J. Carvalho & Irmão", alargava as suas actividades, além da fábrica de relógios, à carpintaria mecânica, serração e moagem.

A relojoaria Andrade Mello, na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto, foi nomeada agente distribuidor dos produtos da fábrica.

1926

1933

Em 1910 já empregava 112 operários dos quais 92 homens, 6 mulheres, 3 rapazes e 11 raparigas. Em 1914 o seu negócio duplica exponencialmente e a sua força de trabalho passa para 220 operários, e a sua produção de relógios nesse ano cifrou-se em 6.408 unidades.

Em 1923 Constrói  de raiz de um edifício em cimento armado, para ampliação das suas instalações, constituindo, hoje, o mais significativo elemento do património industrial da cidade. Neste mesmo ano “A Boa Reguladora” é premiada com a medalha de ouro, na Exposição Internacional do Rio de Janeiro.

Junto à estação ferroviária de Famalicão, é construído um bairro operário para os trabalhadores de “A Boa Reguladora” incluindo, além das residências e seus terrenos (destinados a hortas, etc), uma capela e centro social. Foi o primeiro bairro operário com o tratamento da sua envolvente a ser concebido por um arquitecto paisagista, Francisco Caldeira Cabral, tendo sido percursor de outros construídos nas décadas de 50 e 60.

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A partir de 1955 a empresa evoluiu e alargou o leque das suas actividades, passando também a fabricar contadores de energia eléctrica e de água da marca “Reguladora”. Em 1974 internacionalizou-se, passando uma empresa espanhola a fabricar contadores do modelo “Reguladora”.

Em Dezembro de 1992 “A Boa Reguladora’” foi integrada na Divisão Europa-Sul do grupo Schlumberger e em 2001, pelo grupo Actaris.

Exemplos de relógios fabricados por “A Boa Reguladora”

Algumas páginas do catálogo de “A Boa Reguladora”

Em 2007, José Cunha, José Varela e Filipe Marques, três ex-trabalhadores, adquiriram a patente "A Boa Reguladora", regressando a Vila Nova de Famalicão o fabrico de relógios, sob a nova empresa “Regularfama”, instalada na antiga fábrica. Como curiosidade a média de idades dos funcionários ronda os sessenta anos. Na senda de “A Boa Reguladora”, a nova empresa, além de restaurar e prestar assistência técnica a modelos antigos, continua a fabricar despertadores, relógios de parede, de coluna e outros, com a tecnologia do século XXI. As caixas em madeira são feitas por antigos funcionários, a tecnologia vem da indústria alemã, que fabrica peças de qualidade, em exclusividade para esta empresa e aproveitando e adaptando máquinas de fabrico da “Reguladora”.

“Jornal de Notícias” de 7 de Junho de 2007

2007 Notícia (7-06)

É a mais antiga fábrica de relógios da Península Ibérica. Muitos dos relógios que existem nas estações dos caminhos-de-ferro portugueses, e estações dos CTT, foram construídos por essa empresa e continuam a funcionar.

Relógio-despertador mais recente

Relógio

Bibliografia: blog  HistóriGeo Portugal

fotos in: Estação Cronográfica, Jorge Paulo Oliveira, RelogiosTempo

24 comentários:

Anónimo disse...

Qual os contactos telefónicos e email da Boa Reguladora para pedir orçamentos?

José Leite disse...

Após uma rápida busca na Internet pelo nome da nova empresa "Regularfama", que menciono no post, só consegui obter o contacto telefónico pois o e-mail não é disponibilizado.

Telefone: 252 318 883

Anónimo disse...

Boa tarde

Quanto poderá valer um relógio de parede fabricado em 1933 e em excelente estado?

Agradeço imenso a quem possa ajudar-me, respondendo para o e-mail manuela_vaz@hotmail.com

Obrigada

Manuela

Anónimo disse...

Boa Tarde, Eu pretendia Limpar o mecanismo de um relogio Reguladora modelo Batalha que já não está a funcionar, se alguem puder ajudar com um produto adequado ou tecnica, agradecia. Cumprimentos
Vânia

Anónimo disse...

boa noite
não e recomendavel iniciar a tarefa a que se propõe sem ajuda qualificada por favor contacte 254400857

mc disse...

Boa tarde,

Gostaria de saber se a colónia fabril, com projecto do arquitecto paisagista Francisco Caldeira Cabral, realmente existiu ou se ficou apenas pelo projecto (o qual disponho em formato digital e, pelo que tudo indica, localizar-se-ía no espaço actualmente chamado de Mata da Reguladora). Há tempos passei por lá e, não conseguindo identificar o bairro, falei com alguém que sempre morou por ali muito perto e que desconhecia por completo a existencia de tal bairro de operários.

José Leite disse...

Caro mc

Alem de ter lido noutras fontes referência a esse bairro operário, não lhe posso assegurar se ele foi construído ou não.

Ainda agora recorri a esta fonte:
http://www.cm-lisboa.pt/archive/doc/brochura_caldeira_cabral.pdf

acerca da vida de Francisco Caldeira Cabral, que refere ter contribuído, este arquitecto, para o projecto desse bairro operário.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Boas, será que alguém me poderá dizer qual o ano em que a reguladora incluiu despertadores nos seus relogios?

Anónimo disse...

Existe algum catalogo de todos os modelos produzidos.

Anónimo disse...

Hola José, primeiro de todo douche as grazas po-lo teu traballo sobre a fabrica de relogios "A BOA REGULADORA".
Interesame saber que e o que está escrito debaixo dun dos relogios xa que non podo leelo po lo pequeno das letras.
Concretamente do que está na paxina inferior dereita, dos da fila superior, o cuarto comenzando a contar po la izquierda ou o terceiro da fila superior si comenzamos a contar po la dereita, e o que ten os números normais, e tres puntos para dar corda.

Grazas e perdonade o meu Portugues - Galego - Español.

Saudos... Antonio

Vitor Costa disse...

Tenho um relogio da Reguladora que era pertença do meu avô, e que tem vindo a funcionar bem. Acontece que ultimamente pára, voltando a normalidade quando empurro o pendula. Saberão de alguem ainda tenha conhecimentos paara me poder ajudar.
Obrigado
Vitor Costa

Unknown disse...

Excelente apontamento!

Parabéns pelo blog!

https://www.facebook.com/portugalautentico

José Leite disse...

Portugal Autentico

Grato pelo vosso comentário

Cumprimentos

José Leite

Anónimo disse...

Boa tarde,
o meu nome é Joao Constantino, sou de Setúbal e sou relojoeiro, tenho disponibilidade p/ arranjar relógios e deixo aqui o meu contacto caso alguém esteja interessado: 966949351.

Cumpts
Joao Constantino

Praça da República, 27 4620-653 Lousada disse...

A Ourivesaria Neto em Lousada (Porto), existe desde 1864, e dispõe de Oficina de Relojoaria que se dedica ao conserto de relógios. Contacto 255912156.

Anónimo disse...

Boa tarde
Herdei um relógio, que foi adquirido por meu avô e que ainda funciona.
Foi fabricado n'A Boa Reguladora, não sei em em que data, mas é do modelo «Graciosa», com o número 233.Alguém me pode informar sobre o seu valor?
Obrigada.
Thomas

HistóriGeo Portugal disse...

Boa tarde
Gostei muito de ver este post sobre "A Boa Reguladora" em Famalicão.
Gostei muito da forma como está apresentado.
Ainda bem que a minha página HistóriGeo Portugal tenha servido para enriquecer o post.

Obrigado!

Eduardo Santos Carneiro

José Leite disse...

Caro Eduardo Carneiro

Eu é que agradeço a sua página que muito me auxiliou neste artigo.

Os meus cumprimentos

José Leite

Unknown disse...

Gostei do post, parabens. Me fez entender um pouco sobre uma peça que tenho em casa. Estou procurando pessoas que se interessem por um relógio Boa Reguladora (Carrilhão, ou de mesa, etc..) de 1940. Contato xkduhx@gmail.com

Obrigado

Anónimo disse...

Bom dia
Meu nome é José Pereira. Tenho um relógio Reguladora, de parede em ferro fundido com duas faces, que se usava nas estações de caminho de ferro. Tem a parte mecânica, mas falta-lhe o motor. Alguém sabe onde possa arranjar um?
Os meus agradecimentos.
José Pereira
PS. O meu contacto é:966091455

Anónimo disse...

Pode contactar o museu do relógio de Serpa ou Évora que restauram todos os relógios antigos...

LuisY disse...

Caro José Leite

O seu blog é sempre tão interessante, que se volta sempre aqui para consultar posts mais antigos.

A Boa Reguladora não se dedicou só aos relógios. Nos papéis da família da minha mãe existe uma factura daquela empresa datada de 1933, fornecendo todas as madeiras para a casa, soalhos, vãos de porta, degraus e balaustres. Na factura indica-se que a Boa Reguladora, além dos relógios tem também por actividades a carpintaria, serração, moagem e uma central de electricidade.

Publiquei a factura e essa informação no meu post https://velhariasdoluis.blogspot.com/2018/09/uma-velha-escada-em-pinho-de-riga.html?showComment=1538044034294#c685405129387752885

Um abraço

José Leite disse...

Caro Luís Y

Grato pela informação adicional.

Abraço

ANTÓNIO MARIA SALDANHA BUSCA MOURATO disse...

Bom dia. Comprei um relógio despertador numa feira de antiguidades por €5, sim €5, eh!. Deverá ter mais de 30 anos e está a trabalhar em pleno. Comprei porque para além de ter ficado surpreendido em ver um, mas também, porque em tempos o meu pai tinha um semelhante, o qual eu destrui, quando criança, desmontando-o com a curiosidade de ver o mecanismo. Estou muito feliz tanto pela compra como também pelo fato de poder ter reposto o dano que hoje sei que tão mal fiz. Este é de cor avermelhada já um pouco gasta, parte de traz latão espelhado (não pintado) sem ferrugem e vou deixar tal como está. Lindo.